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terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Conto das Contas II


Devido ao sucesso do Conto das Contas I, ponho-me a narrar outros detalhes.
A paixão pelas contas, o fervilhar nosso atrás do dinheiro, nossas distrações nos pardais e as lindas multas que recebemos com nossos nomes e foto do bravo instante em que nos impomos à regra do trânsito: como tomam nossos dias: andam às voltas em nossas mentes.
Aproxima-se o imposto de renda. Ah, agora sim! Assunto pra conversar com todos os brasileiros e sentir-se irmandado - a fraternidade dos assolados pelos impostos!
E a sensação de ser herói neste país pulveriza a purpurina...
Ver o pior dos tempos (na economia ou em tudo o mais) é todo um processo. Achar isso tão importante tem uma função.
Nietzsche nos brinda em seu livro ' A Genealogia da Moral':
"Que as ovelhas tenham rancor às grandes aves de rapina não surpreende: mas não é motivo para censurar às aves de rapina o fato de pegarem as ovelhinhas. E se as ovelhas dizem entre si: 'essas aves de rapina são más; e quem for o seu oposto, ovelha, este não deveria ser bom?' (...) Se os oprimidos, pisoteados, uiltrajados exortam uns aos outros, dizendo, com a vingativa astúcia da impotência: 'sejamos outra coisa coisa que não os maus, sejamos bons!"
Assim, encontrarmo-nos ovelha com ovelha a ruminar a maldade das aves de rapina é identificar o irmão passivamente bom.
Imóvel, impotente, mas sentindo o próprio espírito puro, uma boa alma pagadora de impostos e tributos.
Diante do inevitável, sentir a própria impotência como parte desimportante da realidade é raro.
Melhor sentir-se atuante da própria passividade. Assim, amargar-se com ódio ao mau para sentir-se bom é não ir ativamente em busca do valor em si mesmo.
Aguarda-se silenciosamente, no fundo, encolhido em ódio, pela bem-aventurança que há de vir um dia - e com juros! Será então a felicidade aos puros, àqueles que mais sofreram.
Fé e esperança.
Nada faz-se na vida. Nada acontece. Resta a fé e a esperança. E os impostos.
Jesus disse - mas parece que essa parte ninguém estava prestando atenção: pobres sempre existirão, mas eu passarei.
Ao vibrar com as cobranças e com o ódio que vem com elas, pensemos que isso não é particular; isso não é uma escolha pessoal: é uma grande onda que nos assola os corpos quando nos agrupamos aos ovelhaços.

Conto das Contas II


Devido ao sucesso do Conto das Contas I, ponho-me a narrar outros detalhes.
A paixão pelas contas, o fervilhar nosso atrás do dinheiro, nossas distrações nos pardais e as lindas multas que recebemos com nossos nomes e foto do bravo instante em que nos impomos à regra do trânsito: como tomam nossos dias: andam às voltas em nossas mentes.
Aproxima-se o imposto de renda. Ah, agora sim! Assunto pra conversar com todos os brasileiros e sentir-se irmandado - a fraternidade dos assolados pelos impostos!
E a sensação de ser herói neste país pulveriza a purpurina...
Ver o pior dos tempos (na economia ou em tudo o mais) é todo um processo. Achar isso tão importante tem uma função.
Nietzsche nos brinda em seu livro ' A Genealogia da Moral':
"Que as ovelhas tenham rancor às grandes aves de rapina não surpreende: mas não é motivo para censurar às aves de rapina o fato de pegarem as ovelhinhas. E se as ovelhas dizem entre si: 'essas aves de rapina são más; e quem for o seu oposto, ovelha, este não deveria ser bom?' (...) Se os oprimidos, pisoteados, uiltrajados exortam uns aos outros, dizendo, com a vingativa astúcia da impotência: 'sejamos outra coisa coisa que não os maus, sejamos bons!"
Assim, encontrarmo-nos ovelha com ovelha a ruminar a maldade das aves de rapina é identificar o irmão passivamente bom.
Imóvel, impotente, mas sentindo o próprio espírito puro, uma boa alma pagadora de impostos e tributos.
Diante do inevitável, sentir a própria impotência como parte desimportante da realidade é raro.
Melhor sentir-se atuante da própria passividade. Assim, amargar-se com ódio ao mau para sentir-se bom é não ir ativamente em busca do valor em si mesmo.
Aguarda-se silenciosamente, no fundo, encolhido em ódio, pela bem-aventurança que há de vir um dia - e com juros! Será então a felicidade aos puros, àqueles que mais sofreram.
Fé e esperança.
Nada faz-se na vida. Nada acontece. Resta a fé e a esperança. E os impostos.
Jesus disse - mas parece que essa parte ninguém estava prestando atenção: pobres sempre existirão, mas eu passarei.
Ao vibrar com as cobranças e com o ódio que vem com elas, pensemos que isso não é particular; isso não é uma escolha pessoal: é uma grande onda que nos assola os corpos quando nos agrupamos aos ovelhaços.