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terça-feira, 31 de julho de 2012

[Crônica Minuto] Dia do Orgasmo — Especial para Mulheres.

Especial para mulheres. Você, homem, vá assistir outra coisa. ;)

As crônicas faladas passaram para a rádio.
Por isso, gravo aqui a Crônica Minuto, para que você não perca nenhum tema.

domingo, 29 de julho de 2012

AMORÔMETRO: APARELHO PARA MEDIR O AMOR


Arte de Cínthya Verri

“Olá. A relação tem oito meses e ele não quer nada sério, não muda, é fechado, não se abre. Parece que me quer num potinho para ninguém ficar comigo e me ter quando quiser. A gente vai e volta, não avança o compromisso. Termino de vez? Beijo Sissa.”

Querida Sissa,


Só a morte é séria. O amor é para ser divertido. Ele tem todo o direito de ser reservado. Não é do feitio dele se derramar ou fazer retrospectiva. Integra o plantel dos tímidos que amam amar e odeiam falar sobre amor – traumatizados pela conversa séria de porta fechada dos pais e do SOE.

Não significa que ele não se importa com o relacionamento, tampouco que despreza seus conselhos.

Desabafa de outro jeito: talvez saindo com os amigos, vendo futebol, jogando PlayStation, cozinhando ou dançando.

Não é somente num papo que confessamos os problemas. O corpo é sábio o suficiente para encontrar seu próprio modo de exorcizar as tristezas.

Não pode exigir que se comporte à sua imagem e semelhança e tome atitudes definitivas.

O namorado vem sendo honesto, procurando experimentar a alegria e comunicar as descobertas provisórias. Não está lhe enganando: realmente estão se conhecendo. A insatisfação permanente – vive “terminando de terminar” – estraga a convivência. Sequestra os dias exigindo a eternidade como resgate.

Há uma projeção de vontades. É você que deseja colocá-lo no potinho, para não ter que disputá-lo. O medo de ser aprisionado é disfarce do carcereiro. Transformou seu namorado num bonsai, concentrando suas forças para podá-lo e garantir o absoluto controle das raízes, da sombra e da água.  Cautela: bonsai perece pelo excesso de cuidado.

O que ele oferece já é necessário para seguir adiante: a vontade de dar certo. A felicidade é efêmera.  Pense menos, deseje mais.

Abraço com toda ternura,
Fabrício Carpinejar







Querida Sissa,


Era uma vez uma senhora. Ela tinha uma galinha que botava ovos de ouro. Seu neto sempre lhe dizia:
– Vovó, como pode esperar pelos míseros ovos desta galinha? Se põe ovos de ouro é provável que seja toda de ouro por dentro. Vamos matá-la.

A velhinha hesitou, mas por fim, dissuadida, concordou. Morta a galinha, era por dentro normal como todas as galinhas.

Sissa, querida, que bonito ver seu gostar e que insiste com coragem. Oito meses não é pouco: sendo ele sério, fechado, ao lhe procurar, só o faz por querer. Isso precisa ser considerado. Um homem assim não bajula.

Algumas pessoas são derramadas, outras contidas. Não ama menos quem diz menos. Não existe um amorômetro.

Quem é mais falante tende a acreditar que sente mais, e que o outro está em dívida. Espera por ele. Como o ritmo dele é diferente, parece que há constrangimento ou sobreposição. Mas, ao mesmo tempo, será que não quer impor o seu ritmo a ele? Queria ter a batuta e ditar os compassos? Você escreveu uma síntese do jeito dele. É interessante que pense sobre o seu temperamento.

Procure conhecê-lo mais. Pode inventar um diálogo na frente dele onde diz as suas falas e as dele.  Depois pergunte o que acertou e o que errou.

É comum termos medo de sermos generosos e confundir com submissão. É uma paranoia do desperdício. Mas no relacionamento nunca estamos para ganhar: é o momento de doação. A alegria de amar está na oferta.

Você arrebentou os laços que tinha imaginando que na saudade ele seria todo de ouro por dentro. O amor não tolera a ganância.

Beijos meus,
Cínthya Verri


Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 29/07/2012 Edição N° 17145

Preservamos a identidade do remetente com nome fictício.
Nossos palpites amorosos não substituem consulta, terapia, exorcismo e qualquer tratamento técnico.
ESCREVA PARA colunaquaseperfeito@gmail.com

AMORÔMETRO: APARELHO PARA MEDIR O AMOR


Arte de Cínthya Verri

“Olá. A relação tem oito meses e ele não quer nada sério, não muda, é fechado, não se abre. Parece que me quer num potinho para ninguém ficar comigo e me ter quando quiser. A gente vai e volta, não avança o compromisso. Termino de vez? Beijo Sissa.”

Querida Sissa,


Só a morte é séria. O amor é para ser divertido. Ele tem todo o direito de ser reservado. Não é do feitio dele se derramar ou fazer retrospectiva. Integra o plantel dos tímidos que amam amar e odeiam falar sobre amor – traumatizados pela conversa séria de porta fechada dos pais e do SOE.

Não significa que ele não se importa com o relacionamento, tampouco que despreza seus conselhos.

Desabafa de outro jeito: talvez saindo com os amigos, vendo futebol, jogando PlayStation, cozinhando ou dançando.

Não é somente num papo que confessamos os problemas. O corpo é sábio o suficiente para encontrar seu próprio modo de exorcizar as tristezas.

Não pode exigir que se comporte à sua imagem e semelhança e tome atitudes definitivas.

O namorado vem sendo honesto, procurando experimentar a alegria e comunicar as descobertas provisórias. Não está lhe enganando: realmente estão se conhecendo. A insatisfação permanente – vive “terminando de terminar” – estraga a convivência. Sequestra os dias exigindo a eternidade como resgate.

Há uma projeção de vontades. É você que deseja colocá-lo no potinho, para não ter que disputá-lo. O medo de ser aprisionado é disfarce do carcereiro. Transformou seu namorado num bonsai, concentrando suas forças para podá-lo e garantir o absoluto controle das raízes, da sombra e da água.  Cautela: bonsai perece pelo excesso de cuidado.

O que ele oferece já é necessário para seguir adiante: a vontade de dar certo. A felicidade é efêmera.  Pense menos, deseje mais.

Abraço com toda ternura,
Fabrício Carpinejar







Querida Sissa,


Era uma vez uma senhora. Ela tinha uma galinha que botava ovos de ouro. Seu neto sempre lhe dizia:
– Vovó, como pode esperar pelos míseros ovos desta galinha? Se põe ovos de ouro é provável que seja toda de ouro por dentro. Vamos matá-la.

A velhinha hesitou, mas por fim, dissuadida, concordou. Morta a galinha, era por dentro normal como todas as galinhas.

Sissa, querida, que bonito ver seu gostar e que insiste com coragem. Oito meses não é pouco: sendo ele sério, fechado, ao lhe procurar, só o faz por querer. Isso precisa ser considerado. Um homem assim não bajula.

Algumas pessoas são derramadas, outras contidas. Não ama menos quem diz menos. Não existe um amorômetro.

Quem é mais falante tende a acreditar que sente mais, e que o outro está em dívida. Espera por ele. Como o ritmo dele é diferente, parece que há constrangimento ou sobreposição. Mas, ao mesmo tempo, será que não quer impor o seu ritmo a ele? Queria ter a batuta e ditar os compassos? Você escreveu uma síntese do jeito dele. É interessante que pense sobre o seu temperamento.

Procure conhecê-lo mais. Pode inventar um diálogo na frente dele onde diz as suas falas e as dele.  Depois pergunte o que acertou e o que errou.

É comum termos medo de sermos generosos e confundir com submissão. É uma paranoia do desperdício. Mas no relacionamento nunca estamos para ganhar: é o momento de doação. A alegria de amar está na oferta.

Você arrebentou os laços que tinha imaginando que na saudade ele seria todo de ouro por dentro. O amor não tolera a ganância.

Beijos meus,
Cínthya Verri


Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 29/07/2012 Edição N° 17145

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Ilustra [Quase Perfeito


sexta-feira, 27 de julho de 2012

CVExplica #DiaDoEscritor

O CVExplica solta o verbo no dia do Escritor e presta sua homenagem a alguns artistas da letra.

Jackie Kay assinando o livro da FLIP


CVExplica: sua sessão imperdível de explicações fundamentais na Rádio Elétrica.

do programa de hoje

CVExplica [+ou- 21h], quintas, na Rádio Elétrica
participe ao vivo no msn/email cvexplica@hotmail.com
add Skype CVExplica


domingo, 22 de julho de 2012

ELE NÃO CONTA AONDE VAI


Arte de Cínthya Verri

"Olá! Tenho 41 anos e sou casada com um homem de 62, há cinco anos. Desde que ele se aposentou, passa o dia fora de casa. Quando volta, e pergunto o que ele fez no Centro o dia todo, responde que não tem que dar satisfação e para me colocar no meu lugar. Pergunto: qual é o meu lugar? O que posso fazer para mudar essa situação que está fazendo com que nosso relacionamento termine? Obrigada. Beijo. Vera”.

Querida Vera,

Ele tem a convicção que não vai terminar o relacionamento – este é o segredo da tirania. Acredita que não tem escolha.

Eu colocaria os naipes na mesa: ou você muda e me descreve sua rotina ou eu vou embora e você tampouco saberá meu caminho. Uma chantagem eventual tem seu charme.

Não é uma enfermeira suportando alguém seriamente doente, ele está ofendendo com saúde, e de graça.

Amor não é assistencialismo, no qual amamos pelos dois. Amar pelos dois é egoísmo. Não pode conceder a ele a doação irrestrita dos seus dias.

Impossível seguir permitindo os desmandos caseiros, onde um fala e o outro cala. Ao casar, assumimos o compromisso da explicação. Danou-se a soberba adolescente. Ninguém mais sai de casa sem avisar. É etiqueta amorosa. Há o compromisso de tranquilizar o par, ainda mais se ele é ansioso ou desconfiado. Todos têm o direito de enlouquecer uma hora, só que a loucura deve ser educada. Pode bater a porta, abandonar a cena urrando, porém nunca omita o seu destino.

Mas vou lhe contar algo surpreendente. Com a fachada de machista e autoritário, ele brinca de ser importante. É pura carência. Quer chamar sua atenção.

Adivinha o que ele faz de tarde? Nada. Só que tem vergonha de dizer e cria mistérios para fingir que não envelheceu.

O sádico é um masoquista recalcado. Ele vem sofrendo com o fim do trabalho e não aprendeu a pedir ajuda. Está mentindo, buscando convencer a si mesmo que tem liberdade.

Seu marido padece de tédio, não liberdade. Liberdade é ter o dia ocupado com aquilo que a gente gosta.

Abraço com toda ternura,
Fabrício Carpinejar





Querida Vera,

Era uma vez uma senhora que perdeu seu marido. Inconsolável, a viúva visitava o túmulo todos os dias. Perdera o companheiro leal de sua vida.

Certo dia encontrou uma outra pessoa chorando sobre a lápide dele. Aproximou-se e verificou: sim, uma mulher estava de luto fechado. A viúva perguntou:

– Desculpe, mas eu não posso imaginar como isso seja possível. Meu marido nunca deixava a casa, apenas para o trabalho. A rotina era total: das oito às seis, sempre, sem faltas. Funcionário exemplar.

Não vejo como ele poderia ter uma amante! Deve haver algum engano.

– Não há, infelizmente, nenhum engano! – respondeu a outra soluçando – Sabe o intervalo do cafezinho?

Nossas vidas são imprevisíveis, variadas, por mais que se pareçam muitas vezes na superfície.

Casados há cinco anos: é uma titulação a ser respeitada. Significa que nos últimos 1,8 mil dias vocês fizeram por merecer, ajeitaram as diferenças. Fica nítida a capacidade que tiveram para construir um cotidiano que funcionava para ambos.

Mas algo mudou: chegou a aposentadoria. As coisas não são mais como antes. Ele passa o dia fora em lugares desconhecidos. E você se sente perdida.

Por quê? Será que tinha planos para a aposentadoria dele? Sonhava que ele teria mais tempo para se dedicar ao casal, uma alegria mansa, um café da manhã sem pressa, a tarde inteira lhe fazendo companhia enquanto corria a máquina de costuras, viagens sem destino, aventuras? Será que almejava um descanso largo para dois?

Não será este o maior choque – entender que nunca soube o paradeiro dele, apenas que imaginava conhecê-lo. Verdade seja dita: ele poderia mentir. Isso a deixaria mais calma?

Beijos meus,
Cínthya Verri

Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 22/07/2012 Edição N° 17138

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ELE NÃO CONTA AONDE VAI


Arte de Cínthya Verri

"Olá! Tenho 41 anos e sou casada com um homem de 62, há cinco anos. Desde que ele se aposentou, passa o dia fora de casa. Quando volta, e pergunto o que ele fez no Centro o dia todo, responde que não tem que dar satisfação e para me colocar no meu lugar. Pergunto: qual é o meu lugar? O que posso fazer para mudar essa situação que está fazendo com que nosso relacionamento termine? Obrigada. Beijo. Vera”.

Querida Vera,

Ele tem a convicção que não vai terminar o relacionamento – este é o segredo da tirania. Acredita que não tem escolha.

Eu colocaria os naipes na mesa: ou você muda e me descreve sua rotina ou eu vou embora e você tampouco saberá meu caminho. Uma chantagem eventual tem seu charme.

Não é uma enfermeira suportando alguém seriamente doente, ele está ofendendo com saúde, e de graça.

Amor não é assistencialismo, no qual amamos pelos dois. Amar pelos dois é egoísmo. Não pode conceder a ele a doação irrestrita dos seus dias.

Impossível seguir permitindo os desmandos caseiros, onde um fala e o outro cala. Ao casar, assumimos o compromisso da explicação. Danou-se a soberba adolescente. Ninguém mais sai de casa sem avisar. É etiqueta amorosa. Há o compromisso de tranquilizar o par, ainda mais se ele é ansioso ou desconfiado. Todos têm o direito de enlouquecer uma hora, só que a loucura deve ser educada. Pode bater a porta, abandonar a cena urrando, porém nunca omita o seu destino.

Mas vou lhe contar algo surpreendente. Com a fachada de machista e autoritário, ele brinca de ser importante. É pura carência. Quer chamar sua atenção.

Adivinha o que ele faz de tarde? Nada. Só que tem vergonha de dizer e cria mistérios para fingir que não envelheceu.

O sádico é um masoquista recalcado. Ele vem sofrendo com o fim do trabalho e não aprendeu a pedir ajuda. Está mentindo, buscando convencer a si mesmo que tem liberdade.

Seu marido padece de tédio, não liberdade. Liberdade é ter o dia ocupado com aquilo que a gente gosta.

Abraço com toda ternura,
Fabrício Carpinejar





Querida Vera,

Era uma vez uma senhora que perdeu seu marido. Inconsolável, a viúva visitava o túmulo todos os dias. Perdera o companheiro leal de sua vida.

Certo dia encontrou uma outra pessoa chorando sobre a lápide dele. Aproximou-se e verificou: sim, uma mulher estava de luto fechado. A viúva perguntou:

– Desculpe, mas eu não posso imaginar como isso seja possível. Meu marido nunca deixava a casa, apenas para o trabalho. A rotina era total: das oito às seis, sempre, sem faltas. Funcionário exemplar.

Não vejo como ele poderia ter uma amante! Deve haver algum engano.

– Não há, infelizmente, nenhum engano! – respondeu a outra soluçando – Sabe o intervalo do cafezinho?

Nossas vidas são imprevisíveis, variadas, por mais que se pareçam muitas vezes na superfície.

Casados há cinco anos: é uma titulação a ser respeitada. Significa que nos últimos 1,8 mil dias vocês fizeram por merecer, ajeitaram as diferenças. Fica nítida a capacidade que tiveram para construir um cotidiano que funcionava para ambos.

Mas algo mudou: chegou a aposentadoria. As coisas não são mais como antes. Ele passa o dia fora em lugares desconhecidos. E você se sente perdida.

Por quê? Será que tinha planos para a aposentadoria dele? Sonhava que ele teria mais tempo para se dedicar ao casal, uma alegria mansa, um café da manhã sem pressa, a tarde inteira lhe fazendo companhia enquanto corria a máquina de costuras, viagens sem destino, aventuras? Será que almejava um descanso largo para dois?

Não será este o maior choque – entender que nunca soube o paradeiro dele, apenas que imaginava conhecê-lo. Verdade seja dita: ele poderia mentir. Isso a deixaria mais calma?

Beijos meus,
Cínthya Verri

Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
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sábado, 21 de julho de 2012

À la Yoki

EPITÁFIO
No voo noturno todos
Os gatos são pardos






O envio de malas no avião está cada vez mais assustador. Quando a bagagem é maiorzinha, não tem saída. A moça com voz forçosamente gentil avisará que será necessário despachar. Pode tentar levar junto, mas não tem jeito.

O massacre é certo: os pertences chegarão azucrinados, detonados; o zíper pousará desdentado; as rodinhas, aleijadas. Não há container que resista aos carregadores.

E o Bitols viaja muito, muito. Ano passado calculamos mais de 300 palestras. Ainda por cima, é difícil para ele ser econômico nas roupas: não sabe que estilo vai fazer. Punk-rock-lírico, provavelmente. Com adereços diversos.

Tem a questão das fotos, das filmagens. O figurino precisa variar. Se a valise é larga, o homem empilha cacarecos até abarrotar.

A solução seria uma malinha mais contida. Algo que, mesmo esturricado, pudesse passar entre as poltronas justíssimas da aeronave.

Aliás, quanto mede aquilo, por onde a gente se estreita entre as pessoas, que chamam corredor?

Algumas vezes, o muambeiro tentou levar a minha, claro. Catou minha bolsa grande de couro, socou tudo lá para dentro e já se ia passeando. Ei, que é isso? Onde tu pensa que vai com meu bolsão? Já puxei o seis e dei o para-te-quieto.

Passei semanas avisando: você precisa comprar a mala nova. E nada.  Coisa de homem, fingir que é leitão para mamar deitado. Não ia comprar para ele, mas de jeito nenhum.

Um dia, anunciou Bitols pelo telefone:

—    Achei! Comprei a mala nova!
—    Que ótimo!
—    Você vai amar, é uma graça!

Gelei a espinha. “Você vai amar” é o presságio do horror. Toda mulher sabe que qualquer anúncio é uma inversão.

Aparece finalmente com seu troféu: um quadradinho módico com alça e rodinhas. E com um gatinho na frente. Sim, a foto de um gatinho brincando com um novelinho. Juro. Vou explicar melhor: a tampa era a imagem de um filhote de felino branco com a patinha tocando numa bolinha de linhas de tricô!

Se tem mulher que passeia com o cachorrinho no parque, Bitols catou um equivalente aéreo.

E lá vai ele para suas intermináveis viagens com o bichinho de estimação a tiracolo. Ui, que ódio.

Ilustra [Quase Perfeito]


quinta-feira, 19 de julho de 2012

CVExplica: #REJEIÇÃO



Por que incomoda tanto? Por que a gente tem tanto medo? 
O que fazemos pelo medo de desagradar? Qual o pior fora que você já levou? 

E mais: Boletins dos adorados Tarso Fortes e Eduardo Nasi!

CVExplica: sua sessão imperdível de explicações fundamentais na Rádio Elétrica.

do programa de hoje

CVExplica [+ou- 21h], quintas, na Rádio Elétrica
participe ao vivo no msn/email cvexplica@hotmail.com
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[DRnaTV] 18.07.12




Programa exibido na TVCOM dia 18.07.2012.

Os brejeiros Cinthya Verri e Fabrício Carpinejar libertam o verbo no TVCOM Tudo Mais

Acompanhe ao vivo nas terças-feiras | 21h | canal 36 UHF/NET ou online http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?contentID=1636&channel=41&uf=1&tipoVivo=1

Saiba das novidades curtindo
http://www.facebook.com/drnatv

JÔ SOARES ENTREVISTA CINTHYA VERRI

Entrevista exibida em 18.07.2012

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Blog do Editor [ClicRBS]

Jô Soares recebe colunista de ZH
18 de julho de 2012

A colunista do caderno Donna, Cinthya Verri, é a entrevistada desta quarta-feira do Programa do Jô. Ela ocupa dois blocos do programa que vai ao ar após o Jornal da Globo, pela RBSTV.

Cinthya foi acompanhada do marido, o escritor Fabrício Carpinejar.

— Foi a minha estreia na plateia. Fui entrevistado três vezes e agora fiquei como uma miss, abanando da plateia. Foi divertido e ela foi muito aplaudida — contou.

Escritora, cantora, ilustradora e artista plástica, Cinthya contou que aos 16 anos, “por excesso de alternativas”, decidiu ser médica. Aos 23 anos, formou-se médica psiquiatra. Na entrevista, ela falou de ciume, acaso e o quanto é preciso trabalhar para manter um relacionamento.

Autora do blog Matando Carpinejar, a colunista também cantou para o público.
— Ela fez uma fusão do Norte com o Sul, cantando a música Dança da Mata, de Beto Paixão, de Santarém, e Semeadura, de Fogaça e Vitor Ramil — adiantou Carpinejar por telefone, desde São Paulo.

[Ilustração] Vida Breve


Ilustra para texto de Carpinejar no Vida Breve:

AMIZADE É UM TRAVESSEIRO

Não sou preguiçoso, mas exigente. Os esportes me cansam fácil. Não me prendem a atenção.

Eu me inscrevo na musculação, e desisto no segundo mês. E me inscrevo na plataforma, e já não apareço na quarta semana. E foi igual com tênis, rapel, remo.

Compro as roupas, os acessórios, espalho minha mudança de espírito aos quatros ventos, posto fotos nas redes sociais e abandono o projeto logo que perde a novidade.


domingo, 15 de julho de 2012

HIPNOSE [Quase Perfeito]



"Nossas ações não têm roteiro claro e o grande farol ainda é o desejo."
Confira minha resposta e de Fabrício Carpinejar na coluna Quase Perfeito deste domingo:
http://bouchevilleporescrito.blogspot.com.br/2012/07/serasa-do-amor.html

SERASA DO AMOR


Arte de Cínthya Verri

“Casal amigo, voltei sob a promessa de que ele havia amadurecido. Mas vejo os mesmos erros do passado. Não sou de xeretar, mas descobri conversas secretas na internet, inapropriadas a ponto de me decepcionar, e olha que sou bem pouco ciumenta. Mente que parou de fumar. Até onde o defeito do outro é tolerável, e a mentira inofensiva? Beijo. Eva”

Querida Eva,
Você também deve ter conversas secretas na internet, e-mails duvidosos, mensagens ambíguas. Se ele varresse seu HD, não iria entender metade de seus pensamentos e diálogos. Porque estão fora de contexto.

Tudo soa como traição para quem se sente ludibriado. Um mero registro de floricultura na fatura já pode iniciar exaustiva investigação. Se ele falar a verdade, que foi para uma colega de trabalho, todos da empresa dividiram a conta, não vai acreditar. Não vai confiar, pois ele tem erros no passado. O mínimo tropeço é reincidência. É a confirmação do vício.

O lema “quem procura acha” pode ser alterado para “quem procura tem que achar”. Seu raciocínio é: descubro sem xeretar, logo, se eu explorasse os dados a fundo, ele seria liquidado.
Você colocou seu namorado no SPC da Fidelidade, no SERASA do Amor. É ele lançar uma promessa que faz questão de vetar. É ele ensaiar uma recuperação que reprisa suas falhas. As palavras dele não têm crédito para você.

Não está disposta a recomeçar, mas a se vingar, oficializar ao mundo que o tipo não presta. Já sabe que ele trai, apenas quer o flagrante. Sua aritmética é letal. Trata-se de um fumante que sonega que fuma, portanto é um infiel que esconde suas cantadas.

Eu me posiciono a favor da ingenuidade. Melhor ser enganada uma vez do que viver assim com ciúme, imaginando o que não existe, sendo enganada a todo instante. Não volte nunca a um relacionamento se é para cobrar dívidas. Reconciliar significa esquecer.
Aliás, respondendo sua pergunta: o ressentimento é um defeito imperdoável.

Abraço com toda ternura,

Fabrício Carpinejar




Querida Eva,


A primeira descoberta dos médicos em técnicas de hipnose, há um século, foi impressionante: atendemos aos comandos que não recordamos haver recebido; cumprimos mandados aparentemente esquecidos. Em resumo: agimos sem saber por quê.

Um exemplo: depois de hipnotizá-la, um médico poderia sugerir que nos escrevesse esta carta na quinta-feira, às 13h. Despertaria do transe sem lembrar da ordem. Na quinta-feira, o dia transcorreria normalmente, mas depois do almoço, num impulso, digitaria sua mensagem. E aqui estaríamos nós, na aparente fluidez natural do dia-a-dia.

Grande parte das nossas decisões acontece de modo parecido: sem controle racional. Não sabemos por que agimos desta ou daquela maneira. Assim, Eva, querida, você também não sabe, na verdade, porque voltou com ele. Promessas de mudança são a tábua que usamos como desculpa. Ele é quem ele é, e você se engana até mesmo sobre si própria. Cria fachadas: que não é ciumenta, por exemplo, que não é de mexer nas coisas dele.

Mas, ao retirar todo esse seu pensamento da superfície, tem forte ciúme e penetra sempre na intimidade do computador dele. Nada disso é demérito. Nossas ações não têm roteiro claro e o grande farol ainda é o desejo. Está confusa porque é inteligente: vê que ele ainda é o mesmo e mesmo assim não o deixou. Então você se questiona que tipo de mulher é você? Do tipo humana, garanto.

Esqueça a convenção moral: ela está exigindo atitudes drásticas. Não há pressa. Terminar precocemente um relacionamento implicará em idas e vindas, é um desgastante ioiô. Apenas se pergunte se ainda gosta dele todas as manhãs.

Beijos meus,

Cínthya Verri
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 15/07/2012 Edição N° 17131

Preservamos a identidade do remetente com nome fictício.
Nossos palpites amorosos não substituem consulta, terapia, exorcismo e qualquer tratamento técnico.
ESCREVA PARA colunaquaseperfeito@gmail.com

SERASA DO AMOR


Arte de Cínthya Verri

“Casal amigo, voltei sob a promessa de que ele havia amadurecido. Mas vejo os mesmos erros do passado. Não sou de xeretar, mas descobri conversas secretas na internet, inapropriadas a ponto de me decepcionar, e olha que sou bem pouco ciumenta. Mente que parou de fumar. Até onde o defeito do outro é tolerável, e a mentira inofensiva? Beijo. Eva”

Querida Eva,
Você também deve ter conversas secretas na internet, e-mails duvidosos, mensagens ambíguas. Se ele varresse seu HD, não iria entender metade de seus pensamentos e diálogos. Porque estão fora de contexto.

Tudo soa como traição para quem se sente ludibriado. Um mero registro de floricultura na fatura já pode iniciar exaustiva investigação. Se ele falar a verdade, que foi para uma colega de trabalho, todos da empresa dividiram a conta, não vai acreditar. Não vai confiar, pois ele tem erros no passado. O mínimo tropeço é reincidência. É a confirmação do vício.

O lema “quem procura acha” pode ser alterado para “quem procura tem que achar”. Seu raciocínio é: descubro sem xeretar, logo, se eu explorasse os dados a fundo, ele seria liquidado.
Você colocou seu namorado no SPC da Fidelidade, no SERASA do Amor. É ele lançar uma promessa que faz questão de vetar. É ele ensaiar uma recuperação que reprisa suas falhas. As palavras dele não têm crédito para você.

Não está disposta a recomeçar, mas a se vingar, oficializar ao mundo que o tipo não presta. Já sabe que ele trai, apenas quer o flagrante. Sua aritmética é letal. Trata-se de um fumante que sonega que fuma, portanto é um infiel que esconde suas cantadas.

Eu me posiciono a favor da ingenuidade. Melhor ser enganada uma vez do que viver assim com ciúme, imaginando o que não existe, sendo enganada a todo instante. Não volte nunca a um relacionamento se é para cobrar dívidas. Reconciliar significa esquecer.
Aliás, respondendo sua pergunta: o ressentimento é um defeito imperdoável.

Abraço com toda ternura,

Fabrício Carpinejar




Querida Eva,


A primeira descoberta dos médicos em técnicas de hipnose, há um século, foi impressionante: atendemos aos comandos que não recordamos haver recebido; cumprimos mandados aparentemente esquecidos. Em resumo: agimos sem saber por quê.

Um exemplo: depois de hipnotizá-la, um médico poderia sugerir que nos escrevesse esta carta na quinta-feira, às 13h. Despertaria do transe sem lembrar da ordem. Na quinta-feira, o dia transcorreria normalmente, mas depois do almoço, num impulso, digitaria sua mensagem. E aqui estaríamos nós, na aparente fluidez natural do dia-a-dia.

Grande parte das nossas decisões acontece de modo parecido: sem controle racional. Não sabemos por que agimos desta ou daquela maneira. Assim, Eva, querida, você também não sabe, na verdade, porque voltou com ele. Promessas de mudança são a tábua que usamos como desculpa. Ele é quem ele é, e você se engana até mesmo sobre si própria. Cria fachadas: que não é ciumenta, por exemplo, que não é de mexer nas coisas dele.

Mas, ao retirar todo esse seu pensamento da superfície, tem forte ciúme e penetra sempre na intimidade do computador dele. Nada disso é demérito. Nossas ações não têm roteiro claro e o grande farol ainda é o desejo. Está confusa porque é inteligente: vê que ele ainda é o mesmo e mesmo assim não o deixou. Então você se questiona que tipo de mulher é você? Do tipo humana, garanto.

Esqueça a convenção moral: ela está exigindo atitudes drásticas. Não há pressa. Terminar precocemente um relacionamento implicará em idas e vindas, é um desgastante ioiô. Apenas se pergunte se ainda gosta dele todas as manhãs.

Beijos meus,

Cínthya Verri
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 15/07/2012 Edição N° 17131

Preservamos a identidade do remetente com nome fictício.
Nossos palpites amorosos não substituem consulta, terapia, exorcismo e qualquer tratamento técnico.
ESCREVA PARA colunaquaseperfeito@gmail.com

sábado, 14 de julho de 2012

Lançamento de Constantina + Bate papo com Carpinejar&Cinthya em São Paulo


Lançamento de Constantina,
estreia na literatura de Cinthya Verri
[São Paulo]

Curta http://facebook.com/constantinaolivro saiba mais sobre a obra e receba os feeds com as novidades.


Sábado (28 de julho), das 15h às 18h 
Debate com Fabrício Carpinejar e Cínthya Verri


Livraria da Vila 
Espaço de autógrafos 
Fradique Coutinho, 963 | São Paulo - SP 
Tel: (11) 3096-4493 
site: www.livrariadavila.com.br

Detalhes no evento do Facebook: https://www.facebook.com/events/341573239258399/

Lançamento de Constantina + Bate papo com Carpinejar&Cinthya em São Paulo


Lançamento de Constantina,
estreia na literatura de Cinthya Verri
[São Paulo]

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Sábado (28 de julho), das 15h às 18h 
Debate com Fabrício Carpinejar e Cínthya Verri


Livraria da Vila 
Espaço de autógrafos 
Fradique Coutinho, 963 | São Paulo - SP 
Tel: (11) 3096-4493 
site: www.livrariadavila.com.br

Detalhes no evento do Facebook: https://www.facebook.com/events/341573239258399/

quinta-feira, 12 de julho de 2012

CVExplica a FLIP


Carpinejar e Jackie Kay

CVExplica: sua sessão imperdível de explicações fundamentais na Rádio Elétrica.

OUÇA o audio do programa.

Veja minhas fotos da FLIP no FB: http://facebook.com/cinthyaverri

CVExplica [+ou- 21h], quintas, na Rádio Elétrica
participe ao vivo no msn/email cvexplica@hotmail.com
add Skype CVExplica

quarta-feira, 11 de julho de 2012

domingo, 8 de julho de 2012

[Ilustra]


[Quase Perfeito] MEUS NAMOROS DURAM APENAS DOIS ANOS, É MALDIÇÃO?


Arte de Cínthya Verri


“Fisioterapeuta, 32 anos, moro com meus pais, o que me deixa incomodada. Sou de aquário, vivo de amor: pelo próximo, pelos amigos, pais, namorados... Dizer que meus namoros não dão certo é mentira, mas eles nunca passam de dois anos! Sou carente, vivo à procura ou à espera de um grande amor. Josi”.

Querida Josi,
Morar com os pais infantiliza seus namoros – este é o seu grande problema.

Ainda pede permissão, no inconsciente, para a família. Não tem atmosfera para expor as frustrações e os desejos súbitos, uma sala com sua decoração e modos, para se apresentar inteiramente. Um lugar para amar com liberdade e até brigar. Brigas sufocadas aniquilam o relacionamento mais do que as declaradas.

Todo instante requer delicada diplomacia para agradar os parentes e, ao mesmo tempo, demonstrar arrebatamento nas histórias particulares. Servir o passado e o futuro é impossível – cabe escolher seu destino.

A família sempre está perto olhando seus passos, analisando quem chega. Sua residência é superpovoada de curiosidade, quase uma romaria a uma santa, idêntica a uma torre de Rapunzel, cheia de provas e desafios.

Jogue-me suas tranças, Josi. Ou apague as velas do bolo. Está próxima de realizar o sonho da Disney, não da festa de casamento, compreende?

Seu espaço afetivo é um cativeiro de virtudes, limitado para sua idade. Vive questionada, e deve aceitar a invasão familiar nos seus assuntos porque não resta outra opção. Não há namoro que perdure. Os companheiros aguentam os dois anos do estágio probatório da paixão. E, pelo jeito, são bem esforçados e aplicados. Mas terminam obrigados a conviver com sogro e sogra. Não enxergam perspectiva de emancipação. Temem que o relacionamento seja a sombra eterna de uma mesada.

Você coloca sua felicidade nas mãos paterna e materna. Não procura o amor, espera um amor. Não pretende nem sair de casa. É muita moleza.

Que tal tirar seu título amoroso e votar em seu próprio candidato?

Abraço com toda ternura,
Fabrício Carpinejar









Querida Josi,

Era uma vez um viajante que, por acidente, sentou para repousar embaixo de Kalpataru, a árvore dos desejos. E estava com fome, por isso pensou: “Como eu queria comer!”.

No momento em que a ideia de comida surgiu na mente dele, o alimento imediatamente apareceu, e o homem estava tão faminto que nem pensou a respeito. Comeu tudo. Então sentiu sono.

Quando deitou na grama, o pensamento surgiu: “O que está acontecendo? Não vejo ninguém aqui. A comida simplesmente apareceu - talvez haja fantasmas fazendo isso comigo!”.

De repente, apareceram fantasmas. Ele ficou com medo e pensou: “Agora eles vão me matar!”. E eles o mataram.

Josi, talvez você veja aquilo que pensa. E, por isso mesmo, talvez seja o que faz acontecer.

Você tem grande percepção sobre o que precisa fazer para interromper o ciclo, mas não age. Afirma que percebe abandonar as próprias necessidades e deixá-las para o outro se responsabilizar sabendo que isso não funciona.

O amor não é feliz. O amor é o amor: uma geografia complicada, desordenada e que não obedece a comandos. Não tem data de validade, não tem período de expiração. É um terreno duro, que exige conversa e recuperação todos os dias.

O amor aposta no resgate, não tem nenhuma sobrevida. É um paciente terminal, um corpo dependente de cuidados para suas atividades mais corriqueiras. Ele não anda sozinho.

Viver junto com alguém não é esporte: é fisioterapia. Todo cuidado é pouco. Qualquer movimento brusco e perderemos todo o trabalho de meses. Amar é para artesãos.

Você já sabe cuidar de seus amores mais autônomos. Se quiser mais, será preciso deixar os pensamentos de lado e cumprir com o que você sente.

Beijos meus e coragem sempre,
Cinthya Verri


Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 08/07/2012 Edição N° 17124

Preservamos a identidade do remetente com nome fictício.
Nossos palpites amorosos não substituem consulta, terapia, exorcismo e qualquer tratamento técnico.
ESCREVA PARA colunaquaseperfeito@gmail.com

[Quase Perfeito] MEUS NAMOROS DURAM APENAS DOIS ANOS, É MALDIÇÃO?


Arte de Cínthya Verri


“Fisioterapeuta, 32 anos, moro com meus pais, o que me deixa incomodada. Sou de aquário, vivo de amor: pelo próximo, pelos amigos, pais, namorados... Dizer que meus namoros não dão certo é mentira, mas eles nunca passam de dois anos! Sou carente, vivo à procura ou à espera de um grande amor. Josi”.

Querida Josi,
Morar com os pais infantiliza seus namoros – este é o seu grande problema.

Ainda pede permissão, no inconsciente, para a família. Não tem atmosfera para expor as frustrações e os desejos súbitos, uma sala com sua decoração e modos, para se apresentar inteiramente. Um lugar para amar com liberdade e até brigar. Brigas sufocadas aniquilam o relacionamento mais do que as declaradas.

Todo instante requer delicada diplomacia para agradar os parentes e, ao mesmo tempo, demonstrar arrebatamento nas histórias particulares. Servir o passado e o futuro é impossível – cabe escolher seu destino.

A família sempre está perto olhando seus passos, analisando quem chega. Sua residência é superpovoada de curiosidade, quase uma romaria a uma santa, idêntica a uma torre de Rapunzel, cheia de provas e desafios.

Jogue-me suas tranças, Josi. Ou apague as velas do bolo. Está próxima de realizar o sonho da Disney, não da festa de casamento, compreende?

Seu espaço afetivo é um cativeiro de virtudes, limitado para sua idade. Vive questionada, e deve aceitar a invasão familiar nos seus assuntos porque não resta outra opção. Não há namoro que perdure. Os companheiros aguentam os dois anos do estágio probatório da paixão. E, pelo jeito, são bem esforçados e aplicados. Mas terminam obrigados a conviver com sogro e sogra. Não enxergam perspectiva de emancipação. Temem que o relacionamento seja a sombra eterna de uma mesada.

Você coloca sua felicidade nas mãos paterna e materna. Não procura o amor, espera um amor. Não pretende nem sair de casa. É muita moleza.

Que tal tirar seu título amoroso e votar em seu próprio candidato?

Abraço com toda ternura,
Fabrício Carpinejar









Querida Josi,

Era uma vez um viajante que, por acidente, sentou para repousar embaixo de Kalpataru, a árvore dos desejos. E estava com fome, por isso pensou: “Como eu queria comer!”.

No momento em que a ideia de comida surgiu na mente dele, o alimento imediatamente apareceu, e o homem estava tão faminto que nem pensou a respeito. Comeu tudo. Então sentiu sono.

Quando deitou na grama, o pensamento surgiu: “O que está acontecendo? Não vejo ninguém aqui. A comida simplesmente apareceu - talvez haja fantasmas fazendo isso comigo!”.

De repente, apareceram fantasmas. Ele ficou com medo e pensou: “Agora eles vão me matar!”. E eles o mataram.

Josi, talvez você veja aquilo que pensa. E, por isso mesmo, talvez seja o que faz acontecer.

Você tem grande percepção sobre o que precisa fazer para interromper o ciclo, mas não age. Afirma que percebe abandonar as próprias necessidades e deixá-las para o outro se responsabilizar sabendo que isso não funciona.

O amor não é feliz. O amor é o amor: uma geografia complicada, desordenada e que não obedece a comandos. Não tem data de validade, não tem período de expiração. É um terreno duro, que exige conversa e recuperação todos os dias.

O amor aposta no resgate, não tem nenhuma sobrevida. É um paciente terminal, um corpo dependente de cuidados para suas atividades mais corriqueiras. Ele não anda sozinho.

Viver junto com alguém não é esporte: é fisioterapia. Todo cuidado é pouco. Qualquer movimento brusco e perderemos todo o trabalho de meses. Amar é para artesãos.

Você já sabe cuidar de seus amores mais autônomos. Se quiser mais, será preciso deixar os pensamentos de lado e cumprir com o que você sente.

Beijos meus e coragem sempre,
Cinthya Verri


Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 08/07/2012 Edição N° 17124

Preservamos a identidade do remetente com nome fictício.
Nossos palpites amorosos não substituem consulta, terapia, exorcismo e qualquer tratamento técnico.
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sábado, 7 de julho de 2012

Cobertura da FLIP


Diário06/07/2012 | 23h54

Carpinejar trolando na Flip - Sexta, 6/7/2012

Relatos de Fabrício Carpinejar diretamente da 10ª Flip, em Paraty

Carpinejar trolando na Flip - Sexta, 6/7/2012 Cínthya Verri/Especial
Carpinejar com Eduardo 'Peninha' Bueno e Paula TaitelbaumFoto: Cínthya Verri / Especial
Fabrício Carpinejar
SEXTA, 6/7/2012
Nos arredores da Flip, existe todo tipo de manifestação poética. Há um jovem com cardápio de versos – recebe um R$ 1 por autor lido. Há um liquidificador humano de rimas, onde os poemas são triturados pelos dentes e remontados de acordo com a mordida. Há seresteiros, trovadores, estátuas vivas.

(Foto: Cínthya Verri)
Diante do imenso manancial de intervenção urbana, uma senhora lamentou:
– Que saudade do poema no livro.
* * *
– Menos glamour, mais conteúdo.
Esta é a definição do evento feita pelo proprietário da Livraria Cultura, Pedro Herz.

Pedro Herz (Foto: Cínthya Verri)
Ele participou das dez edições. Guarda os canhotos dos ingressos das palestras que ele mais gostou ao longo da década.
Tem um maço na carteira.
Assim como os jovens conservam os bilhetes dos shows prediletos na agenda, Herz coleciona os melhores momentos do festival.
– São minhas relíquias.
* * *
Sensação dos bastidores, Jonathan Franzen subiu ao palco da arena na noite de sexta. Premiado com o National Boook Award, saudado por Philip Roth como um dos maiores nomes da nova geração, ele entrou em cena atrapalhado, meio que pulando, com uma mochila preta, tal estudante tímido levado para a sala da direção.

Jonathan Franzen (Foto: Cínthya Verri)
Jonathan foi o primeiro sex symbol do festival, arrancando suspiros das Marias-prefácio. Teve leitora que o comparou a um Brad Pitt mais alto.
* * *
Exageros à parte, Franzen não estava confortável na posição de celebridade. Com caras e bocas, demorava um tempo para responder. Deixava o auditório indeciso se a pausa era ensaiada ou espontânea. Alguns saíram com a impressão de que ele foi prepotente, economizando seu fôlego; outros, que o suspense vinha do acanhamento.
* * *
O best-seller americano confessou que pensa sempre em desistir da ficção. Ideia que vai e volta no intervalo de 48h.
– É cansativo analisar minha experiência instante a instante para ver se vai virar uma história.
* * *
O autor dos calhamaços Liberdade e Correções destacou três escritores brasileiros de sua preferência:
– Chico Buarque, Bernardo Carvalho e Milton Hatoum.
Percebendo a ausência feminina em sua lista, ele se desculpou:
– Sei que falta uma escritora, aceito sugestões.
* * *
Num dos raros momentos descontraídos, Jonathan recitou canção de Jennifer Lopez, para justificar que se sente ainda o mesmo nerd, apesar da fama e de ter sido capa da Times:
Used to have a little, now I have a lot
I'm still, I'm still Jenny from the block
Eu costumava ter um pouco 
Agora eu tenho muito.
Eu ainda sou, 
Jenny do bairro

 (Foto: Cínthya Verri)
* * *