....

domingo, 27 de junho de 2010

Superpoder [Crônica Falada no Camarote TVCOM - 26.06.2010]


Derek Sivers' drawing

Fomos assitir ao Toy Story 3 em 3D. Cinema lotado de crianças, pais e simpatizantes. Um tapete de pipocas. Os novos óculos para garantir o efeito futurista são bárbaros, muito melhores que os pavoros retângulos achatadores de nariz. Diversão garantida. Soltei o cinto de segurança e relaxei com a jornada dos brinquedos de Andy.

O enredo do terceiro filme da série apresenta o drama dos bonecos uma vez que seu dono cresceu e vai para a faculdade. Tudo estava aventuroso e bonito até o momento em que, de fato, Andy precisa passar adiante seus companheiros de brincadeira para outra criança.

A moralidade do enredo fica evidente: você cresceu. Deve deixar para trás seus desejos infantis. Faz parte.

Faz parte?

Enrolei a garganta na interrogação e saí amuada, pensando. Mexeu comigo essa conversa de deixar para trás o que gostamos, afinal, a habilidade de grandes emoções vem da infância. É quando desfrutamos de um superpoder: o de incorporar a imaginação. Lembra a delícia de ser o que quiser?

Pelo prazer é que brincamos: é o que nos interessa. Queremos que a ação nos absorva, temos a ânsia de parar de protagonizar: desapareceremos. Não teremos brinquedos – seremos o brinquedo. São poucos os briquedos que nos brincam.

O que estiver acontecendo será o único que importa: o universo dependerá da jogada de bola de gude. O mundo será resumido ao resgate de Falcon. Não há casa, não há família, não há hora do banho, não há tarefa de casa, não há realidade. É a coragem de abandonar o pensamento. Então, como no sonho, a fantasia ganha vida própria e viramos testemunhas. Quando acaba, podemos contar a nós mesmos o que acabamos de viver.

Há um mês, oito rapazes foram desafiados pela Brinquedos Estrela a fazer o caminho de Santiago de Compostela com um trem. Seria fácil se o trem tivesse mais de 30cm. Foi difícil porque precisaram acordar o superpoder. Para conseguir, tiveram que ser o trem. Os fundadores da comunidade do Orkut Volta Ferrorama (@voltaferrorama), cumpriram a meta e ganharam a aposta: a empresa vai ter que trazer o trenzinho e seus trilhos de novo para o mercado. E os moços não precisam fingir que pretendiam dar essa alegria a seus filhos; querem apenas seguir a infância por toda a vida.

Triste é o adulto que levou a sério a moral da sua história.


Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM. Apresentação @katiasuman. Crônica de @cinthyaverri exibida em 26/06/10.

Superpoder


Derek Sivers' drawing

Fomos assitir ao Toy Story 3 em 3D. Cinema lotado de crianças, pais e simpatizantes. Um tapete de pipocas. Os novos óculos para garantir o efeito futurista são bárbaros, muito melhores que os pavoros retângulos achatadores de nariz. Diversão garantida. Soltei o cinto de segurança e relaxei com a jornada dos brinquedos de Andy.

O enredo do terceiro filme da série apresenta o drama dos bonecos uma vez que seu dono cresceu e vai para a faculdade. Tudo estava aventuroso e bonito até o momento em que, de fato, Andy precisa passar adiante seus companheiros de brincadeira para outra criança.

A moralidade do enredo fica evidente: você cresceu. Deve deixar para trás seus desejos infantis. Faz parte.

Faz parte?

Enrolei a garganta na interrogação e saí amuada, pensando. Mexeu comigo essa conversa de deixar para trás o que gostamos, afinal, a habilidade de grandes emoções vem da infância. É quando desfrutamos de um superpoder: o de incorporar a imaginação. Lembra a delícia de ser o que quiser?

Pelo prazer é que brincamos: é o que nos interessa. Queremos que a ação nos absorva, temos a ânsia de parar de protagonizar: desapareceremos. Não teremos brinquedos – seremos o brinquedo. São poucos os briquedos que nos brincam.

O que estiver acontecendo será o único que importa: o universo dependerá da jogada de bola de gude. O mundo será resumido ao resgate de Falcon. Não há casa, não há família, não há hora do banho, não há tarefa de casa, não há realidade. É a coragem de abandonar o pensamento. Então, como no sonho, a fantasia ganha vida própria e viramos testemunhas. Quando acaba, podemos contar a nós mesmos o que acabamos de viver.

Há um mês, oito rapazes foram desafiados pela Brinquedos Estrela a fazer o caminho de Santiago de Compostela com um trem. Seria fácil se o trem tivesse mais de 30cm. Foi difícil porque precisaram acordar o superpoder. Para conseguir, tiveram que ser o trem. Os fundadores da comunidade do Orkut Volta Ferrorama (@voltaferrorama), cumpriram a meta e ganharam a aposta: a empresa vai ter que trazer o trenzinho e seus trilhos de novo para o mercado. E os moços não precisam fingir que pretendiam dar essa alegria a seus filhos; querem apenas seguir a infância por toda a vida.

Triste é o adulto que levou a sério a moral da sua história.


Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM. Apresentação @katiasuman. Crônica de @cinthyaverri exibida em 26/06/10.

Superpoder


Derek Sivers' drawing

Fomos assitir ao Toy Story 3 em 3D. Cinema lotado de crianças, pais e simpatizantes. Um tapete de pipocas. Os novos óculos para garantir o efeito futurista são bárbaros, muito melhores que os pavoros retângulos achatadores de nariz. Diversão garantida. Soltei o cinto de segurança e relaxei com a jornada dos brinquedos de Andy.

O enredo do terceiro filme da série apresenta o drama dos bonecos uma vez que seu dono cresceu e vai para a faculdade. Tudo estava aventuroso e bonito até o momento em que, de fato, Andy precisa passar adiante seus companheiros de brincadeira para outra criança.

A moralidade do enredo fica evidente: você cresceu. Deve deixar para trás seus desejos infantis. Faz parte.

Faz parte?

Enrolei a garganta na interrogação e saí amuada, pensando. Mexeu comigo essa conversa de deixar para trás o que gostamos, afinal, a habilidade de grandes emoções vem da infância. É quando desfrutamos de um superpoder: o de incorporar a imaginação. Lembra a delícia de ser o que quiser?

Pelo prazer é que brincamos: é o que nos interessa. Queremos que a ação nos absorva, temos a ânsia de parar de protagonizar: desapareceremos. Não teremos brinquedos – seremos o brinquedo. São poucos os briquedos que nos brincam.

O que estiver acontecendo será o único que importa: o universo dependerá da jogada de bola de gude. O mundo será resumido ao resgate de Falcon. Não há casa, não há família, não há hora do banho, não há tarefa de casa, não há realidade. É a coragem de abandonar o pensamento. Então, como no sonho, a fantasia ganha vida própria e viramos testemunhas. Quando acaba, podemos contar a nós mesmos o que acabamos de viver.

Há um mês, oito rapazes foram desafiados pela Brinquedos Estrela a fazer o caminho de Santiago de Compostela com um trem. Seria fácil se o trem tivesse mais de 30cm. Foi difícil porque precisaram acordar o superpoder. Para conseguir, tiveram que ser o trem. Os fundadores da comunidade do Orkut Volta Ferrorama (@voltaferrorama), cumpriram a meta e ganharam a aposta: a empresa vai ter que trazer o trenzinho e seus trilhos de novo para o mercado. E os moços não precisam fingir que pretendiam dar essa alegria a seus filhos; querem apenas seguir a infância por toda a vida.

Triste é o adulto que levou a sério a moral da sua história.


Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM. Apresentação @katiasuman. Crônica de @cinthyaverri exibida em 26/06/10.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Bolão da Nossa Vida [Crônica Falada no TalkRadio]


Conversava com as amigas sobre o bolão na copa do mundo. Bolão de ontem, da manhã, da tarde. Bolão triplo, duplo ou só do Brasil. Bolão do resultado, bolão do campeão. De tudo quanto é jeito.

E torcida. Muita torcida. Na frente da televisão, turmas reunidas festejando, comendo pipoca, soprando cornetas em harmonias desafinadas. E gritos. Gritos da desforra, de desafogar urro encolhido.

Claro que dá alívio, que é divertido, que é gostoso. Mas só na Copa do Mundo? Só no estádio de futebol? Que negócio é esse de vibrar os punhos pelo acaso? É o mesmo que acreditar que a força do pensamento determina a roleta do cassino.

Chamamos de azar quando o acaso não ajuda. Já atribuímos o placar favorável às nossas habilidades em cruzar os dedos. Comemoramos guturalmente. Visceralmente. Bravamente nossos esforços. "Eu sabia" é o que mais se comenta durante a narração entre amigos e familiares.

É quando pensamos que nosso desejo influencia o resultado, que é derivado de uma energia fantástica, uma onda magnética, uma concentração messiânica. Nossa força na frente da televisão é igual a nenhuma, embora a curtição valha a pena.

Mas no dia-a-dia, onde estão os torcedores? Por que não torcemos com o mesmo empenho para nossa vida? Por que não nos tornamos locutores das nossas pequenas alegrias e superações?

Fica difícil viver bem sem reconhecer o milagre que é fazer cada coisa dar certo: consertar a geladeira, concluir o projeto da cozinha, enfrentar a penosa reforma, arredar os móveis e partir pra faxina adiada há meses, finalizar o tratamento dentário ou até mesmo ligar para o amigo no aniversário.

Minúsculas - e tão épicas - cenas da rotina que são desvalorizadas, relegadas ao esquecimento.

Precisamos manter a cantoria desperta, lembrando o quanto é decisivo trabalhar, cuidar das relações, do amor, fazer supermercado e orientar amigos, disciplinar a atividade física e a dieta, manter vistorias regulares da saúde e ainda por cima, lembrar dos aniversários.

Ter uma atitude de quem se comemora e se aproveita, que mantém a bola rolando: aí falamos de responsabilidade. E sorte. Uma responsabilidade sortuda. Diria até que dadivosa.

>>Ouça Esta Crônica Falada
Crônica Falada é um quadro do programa TalkRadio na Rádio Itapema. Apresentação @katiasuman. Crônica de @cinthyaverri exibida em 22.06.2010
(arraste a rolagem para 33'de programa):

Bolão da Nossa Vida [Crônica Falada no TalkRadio]


Conversava com as amigas sobre o bolão na copa do mundo. Bolão de ontem, da manhã, da tarde. Bolão triplo, duplo ou só do Brasil. Bolão do resultado, bolão do campeão. De tudo quanto é jeito.

E torcida. Muita torcida. Na frente da televisão, turmas reunidas festejando, comendo pipoca, soprando cornetas em harmonias desafinadas. E gritos. Gritos da desforra, de desafogar urro encolhido.

Claro que dá alívio, que é divertido, que é gostoso. Mas só na Copa do Mundo? Só no estádio de futebol? Que negócio é esse de vibrar os punhos pelo acaso? É o mesmo que acreditar que a força do pensamento determina a roleta do cassino.

Chamamos de azar quando o acaso não ajuda. Já atribuímos o placar favorável às nossas habilidades em cruzar os dedos. Comemoramos guturalmente. Visceralmente. Bravamente nossos esforços. "Eu sabia" é o que mais se comenta durante a narração entre amigos e familiares.

É quando pensamos que nosso desejo influencia o resultado, que é derivado de uma energia fantástica, uma onda magnética, uma concentração messiânica. Nossa força na frente da televisão é igual a nenhuma, embora a curtição valha a pena.

Mas no dia-a-dia, onde estão os torcedores? Por que não torcemos com o mesmo empenho para nossa vida? Por que não nos tornamos locutores das nossas pequenas alegrias e superações?

Fica difícil viver bem sem reconhecer o milagre que é fazer cada coisa dar certo: consertar a geladeira, concluir o projeto da cozinha, enfrentar a penosa reforma, arredar os móveis e partir pra faxina adiada há meses, finalizar o tratamento dentário ou até mesmo ligar para o amigo no aniversário.

Minúsculas - e tão épicas - cenas da rotina que são desvalorizadas, relegadas ao esquecimento.

Precisamos manter a cantoria desperta, lembrando o quanto é decisivo trabalhar, cuidar das relações, do amor, fazer supermercado e orientar amigos, disciplinar a atividade física e a dieta, manter vistorias regulares da saúde e ainda por cima, lembrar dos aniversários.

Ter uma atitude de quem se comemora e se aproveita, que mantém a bola rolando: aí falamos de responsabilidade. E sorte. Uma responsabilidade sortuda. Diria até que dadivosa.

>>Ouça Esta Crônica Falada
Crônica Falada é um quadro do programa TalkRadio na Rádio Itapema. Apresentação @katiasuman. Crônica de @cinthyaverri exibida em 22.06.2010
(arraste a rolagem para 33'de programa):

Bolão da Nossa Vida [Crônica Falada no TalkRadio]


Conversava com as amigas sobre o bolão na copa do mundo. Bolão de ontem, da manhã, da tarde. Bolão triplo, duplo ou só do Brasil. Bolão do resultado, bolão do campeão. De tudo quanto é jeito.

E torcida. Muita torcida. Na frente da televisão, turmas reunidas festejando, comendo pipoca, soprando cornetas em harmonias desafinadas. E gritos. Gritos da desforra, de desafogar urro encolhido.

Claro que dá alívio, que é divertido, que é gostoso. Mas só na Copa do Mundo? Só no estádio de futebol? Que negócio é esse de vibrar os punhos pelo acaso? É o mesmo que acreditar que a força do pensamento determina a roleta do cassino.

Chamamos de azar quando o acaso não ajuda. Já atribuímos o placar favorável às nossas habilidades em cruzar os dedos. Comemoramos guturalmente. Visceralmente. Bravamente nossos esforços. "Eu sabia" é o que mais se comenta durante a narração entre amigos e familiares.

É quando pensamos que nosso desejo influencia o resultado, que é derivado de uma energia fantástica, uma onda magnética, uma concentração messiânica. Nossa força na frente da televisão é igual a nenhuma, embora a curtição valha a pena.

Mas no dia-a-dia, onde estão os torcedores? Por que não torcemos com o mesmo empenho para nossa vida? Por que não nos tornamos locutores das nossas pequenas alegrias e superações?

Fica difícil viver bem sem reconhecer o milagre que é fazer cada coisa dar certo: consertar a geladeira, concluir o projeto da cozinha, enfrentar a penosa reforma, arredar os móveis e partir pra faxina adiada há meses, finalizar o tratamento dentário ou até mesmo ligar para o amigo no aniversário.

Minúsculas - e tão épicas - cenas da rotina que são desvalorizadas, relegadas ao esquecimento.

Precisamos manter a cantoria desperta, lembrando o quanto é decisivo trabalhar, cuidar das relações, do amor, fazer supermercado e orientar amigos, disciplinar a atividade física e a dieta, manter vistorias regulares da saúde e ainda por cima, lembrar dos aniversários.

Ter uma atitude de quem se comemora e se aproveita, que mantém a bola rolando: aí falamos de responsabilidade. E sorte. Uma responsabilidade sortuda. Diria até que dadivosa.

>>Ouça Esta Crônica Falada
Crônica Falada é um quadro do programa TalkRadio na Rádio Itapema. Apresentação @katiasuman. Crônica de @cinthyaverri exibida em 22.06.2010
(arraste a rolagem para 33'de programa):

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Vai pra balança ou não vai? [Crônica Falada no Camarote TVCOM -



Chacrinha oferecia um abacaxi para quem desafinava em seu programa.

Os calouros disputavam pelo trono de melhor voz, jamais a coroa da fruta.

Lembrei do programa de minha infância, no momento em que um amigo comentou suas táticas para aproveitar o almoço:

- Quando me sirvo em bufê por quilo, não coloco fruta ou verdura. Não comerei banana a preço de carne!

Pisquei duas vezes para entender. Naturalmente escolho o verde e o sumo para contrabalançar os nutrientes. Não questionava: pagava a minha saúde.

A lógica dele era diferente. Tanto faz o que pega, paga-se o prato igual. O peso não pode ser desperdiçado com o lazer. Sim, fruta é vista como um supérfluo, que deveria estar à disposição numa cesta para qualquer um mordiscar à vontade. Não podia ser cobrada.

Fui conferir com o irmão: batata. Batata, não, carne!, prefere também encher a guarnição com uma costela suculenta. Com o pai, o mesmo. Com o namorado, mesma sina.

Não é avareza, é outro pânico. Um medo de ser traído pela malandragem alheia.

Explico: estamos permanentemente com a sensação de que alguém quer tirar vantagem em cima de nossa ingenuidade e nos antecipamos. Certos ou errados, pensamos o pior.

É um golpe para anular um golpe. Um truque para ludibriar a balança, uma lei para tirar a melhor vantagem.

No restaurante, paira sobre a cabeça a nuvem do malandro, a aura do esperto. Suspeitamos todo o tempo, com fobia de ser passado pra trás. Simples arrogância, feita pra disfarçar a desvalia: não nasci ontem, eu não sou qualquer um para ser enganado.

Como se fosse possível controlar a eficácia da armadilha. Quando não quero ser enganado, engano. Eu passo a perna, primeiro, para garantir que não serei a vítima.

Proponho chamar engodo profilático o ato de sacanear por medo de ser tirado pra palhaço.
Quem engana por segundo, mesmo que supostamente segundo, não está enganando propriamente. É uma imunidade diplomática.

Isso não passa de ardil para gozar em cima do outro. Temos um golpista dentro da gente esperando para dar o bote.

Não aceitaremos o preço do técnico de informática - ele é novo mecânico - com o estigma de enrolador. O mesmo com o taxista, supondo que encontrará um jeito de tomar o caminho mais longo e acelerar o taxímetro.

Somos infinitamente mais saqueados em imaginação do que na realidade. Que diferença faz quando a imaginação já está no poder? O paranóico sempre está certo.

Paranóia não cura paranóia: só aumenta.

O trono do Chacrinha hoje é a balança.

Confira a Crônica Falada exibida no Camarote TVCOM:

Vai pra balança ou não vai? [Crônica Falada no Camarote TVCOM -

Chacrinha oferecia um abacaxi para quem desafinava em seu programa.

Os calouros disputavam pelo trono de melhor voz, jamais a coroa da fruta.

Lembrei do programa de minha infância, no momento em que um amigo comentou suas táticas para aproveitar o almoço:

- Quando me sirvo em bufê por quilo, não coloco fruta ou verdura. Não comerei banana a preço de carne!

Pisquei duas vezes para entender. Naturalmente escolho o verde e o sumo para contrabalançar os nutrientes. Não questionava: pagava a minha saúde.

A lógica dele era diferente. Tanto faz o que pega, paga-se o prato igual. O peso não pode ser desperdiçado com o lazer. Sim, fruta é vista como um supérfluo, que deveria estar à disposição numa cesta para qualquer um mordiscar à vontade. Não podia ser cobrada.

Fui conferir com o irmão: batata. Batata, não, carne!, prefere também encher a guarnição com uma costela suculenta. Com o pai, o mesmo. Com o namorado, mesma sina.

Não é avareza, é outro pânico. Um medo de ser traído pela malandragem alheia.

Explico: estamos permanentemente com a sensação de que alguém quer tirar vantagem em cima de nossa ingenuidade e nos antecipamos. Certos ou errados, pensamos o pior.

É um golpe para anular um golpe. Um truque para ludibriar a balança, uma lei para tirar a melhor vantagem.

No restaurante, paira sobre a cabeça a nuvem do malandro, a aura do esperto. Suspeitamos todo o tempo, com fobia de ser passado pra trás. Simples arrogância, feita pra disfarçar a desvalia: não nasci ontem, eu não sou qualquer um para ser enganado.

Como se fosse possível controlar a eficácia da armadilha. Quando não quero ser enganado, engano. Eu passo a perna, primeiro, para garantir que não serei a vítima.

Proponho chamar engodo profilático o ato de sacanear por medo de ser tirado pra palhaço.
Quem engana por segundo, mesmo que supostamente segundo, não está enganando propriamente. É uma imunidade diplomática.

Isso não passa de ardil para gozar em cima do outro. Temos um golpista dentro da gente esperando para dar o bote.

Não aceitaremos o preço do técnico de informática - ele é novo mecânico - com o estigma de enrolador. O mesmo com o taxista, supondo que encontrará um jeito de tomar o caminho mais longo e acelerar o taxímetro.

Somos infinitamente mais saqueados em imaginação do que na realidade. Que diferença faz quando a imaginação já está no poder? O paranóico sempre está certo.

Paranóia não cura paranóia: só aumenta.

O trono do Chacrinha hoje é a balança.

Confira a Crônica Falada exibida no Camarote TVCOM:

Vai pra balança ou não vai? [Crônica Falada no Camarote TVCOM -

Chacrinha oferecia um abacaxi para quem desafinava em seu programa.

Os calouros disputavam pelo trono de melhor voz, jamais a coroa da fruta.

Lembrei do programa de minha infância, no momento em que um amigo comentou suas táticas para aproveitar o almoço:

- Quando me sirvo em bufê por quilo, não coloco fruta ou verdura. Não comerei banana a preço de carne!

Pisquei duas vezes para entender. Naturalmente escolho o verde e o sumo para contrabalançar os nutrientes. Não questionava: pagava a minha saúde.

A lógica dele era diferente. Tanto faz o que pega, paga-se o prato igual. O peso não pode ser desperdiçado com o lazer. Sim, fruta é vista como um supérfluo, que deveria estar à disposição numa cesta para qualquer um mordiscar à vontade. Não podia ser cobrada.

Fui conferir com o irmão: batata. Batata, não, carne!, prefere também encher a guarnição com uma costela suculenta. Com o pai, o mesmo. Com o namorado, mesma sina.

Não é avareza, é outro pânico. Um medo de ser traído pela malandragem alheia.

Explico: estamos permanentemente com a sensação de que alguém quer tirar vantagem em cima de nossa ingenuidade e nos antecipamos. Certos ou errados, pensamos o pior.

É um golpe para anular um golpe. Um truque para ludibriar a balança, uma lei para tirar a melhor vantagem.

No restaurante, paira sobre a cabeça a nuvem do malandro, a aura do esperto. Suspeitamos todo o tempo, com fobia de ser passado pra trás. Simples arrogância, feita pra disfarçar a desvalia: não nasci ontem, eu não sou qualquer um para ser enganado.

Como se fosse possível controlar a eficácia da armadilha. Quando não quero ser enganado, engano. Eu passo a perna, primeiro, para garantir que não serei a vítima.

Proponho chamar engodo profilático o ato de sacanear por medo de ser tirado pra palhaço.
Quem engana por segundo, mesmo que supostamente segundo, não está enganando propriamente. É uma imunidade diplomática.

Isso não passa de ardil para gozar em cima do outro. Temos um golpista dentro da gente esperando para dar o bote.

Não aceitaremos o preço do técnico de informática - ele é novo mecânico - com o estigma de enrolador. O mesmo com o taxista, supondo que encontrará um jeito de tomar o caminho mais longo e acelerar o taxímetro.

Somos infinitamente mais saqueados em imaginação do que na realidade. Que diferença faz quando a imaginação já está no poder? O paranóico sempre está certo.

Paranóia não cura paranóia: só aumenta.

O trono do Chacrinha hoje é a balança.

Confira a Crônica Falada exibida no Camarote TVCOM:

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O ovo ou a galinha. [Crônica Falada na Rádio Itapema FM - 15.06.2010]

No vestiário da academia todo mundo faz de conta que é íntimo. Não sei se é intimidade ou embaraço. Seja porque porque dividimos a pia, seja porque é preciso cuidado para não escorrer no piso úmido. São flashbacks do banheiro da família. Um chuveiro estragado então, e já somos amigas de infância.

As conversas costumam ser forçosamente partilhadas, como o parabéns a você do restaurante - é um desrespeito não participar.

Subitamente somos dragados à piada do momento. Não dá pra ficar imparcial. Ou fingir que não é com a gente. A nudez cria uma atenção extrema.

Nesse ambiente de pressa e timidez, colocava pomada na tatuagem nova. Louca para fechar a mochila e me ver inteira. A vizinha de armário não deixou, já saiu confessando:

- Não tenho coragem de fazer uma dessas.
- Ah, é? Tem medo da dor?
- Não, é que eu tenho um filho adolescente. Não quero que ele pense que está liberado.
- Tudo que disser será usado contra você no tribunal?
- Hahaha. Certamente. Sabe, eu nem bebo.
- Nunca?
- Não é isso, eu bebo com as amigas, mas nunca na frente dele.

Levar a sério a questão do exemplo na frente de um filho é ferir o DNA. Passamos a ser o modelo de grande mentiroso. Pensa que o filho não descobre? Não vê? Aprende que a verdade é injusta. Importante é aparentar. A naturalidade não serve, é inútil. Não ouse ser espontâneo. Não ouse abrir seus defeitos.

O moralismo asfixia. Nada como a perfeição para criar traumas. O filho vai pedir distância para cometer suas gafes e crises longe do lar.

A criança viverá em cárcere privado nos próprios pensamentos, indecisa entre o fingimento e a felicidade.

A relação desgasta. E mais ainda se ela se impuser um papel, uma imagem a ser perseguida e cumprida. Será desagradável, como participar de evento social permanente, como se nem em casa fosse permitido remover a maquiagem e permitir a pele respirar.

A conduta da mãe não tem tanta importância assim como ela gostaria que tivesse. Pensar assim empresta grandeza, imaginamos que depende de nós para que tudo vá bem com o filho.

Dizemos que o adolescente mente, nós é que começamos mentindo antes.

Mas não era eu quem diria tudo isso para ela. Que ela vista a carapuça sozinha. Faz frio lá fora.

Ouça esta Crônica Falada no rádio,
programa Talk Radio, da Katia Suman
(arraste a rolagem para os 35'50")

O ovo ou a galinha. [Crônica Falada na Rádio Itapema FM - 15.06.2010]

No vestiário da academia todo mundo faz de conta que é íntimo. Não sei se é intimidade ou embaraço. Seja porque porque dividimos a pia, seja porque é preciso cuidado para não escorrer no piso úmido. São flashbacks do banheiro da família. Um chuveiro estragado então, e já somos amigas de infância.

As conversas costumam ser forçosamente partilhadas, como o parabéns a você do restaurante - é um desrespeito não participar.

Subitamente somos dragados à piada do momento. Não dá pra ficar imparcial. Ou fingir que não é com a gente. A nudez cria uma atenção extrema.

Nesse ambiente de pressa e timidez, colocava pomada na tatuagem nova. Louca para fechar a mochila e me ver inteira. A vizinha de armário não deixou, já saiu confessando:

- Não tenho coragem de fazer uma dessas.
- Ah, é? Tem medo da dor?
- Não, é que eu tenho um filho adolescente. Não quero que ele pense que está liberado.
- Tudo que disser será usado contra você no tribunal?
- Hahaha. Certamente. Sabe, eu nem bebo.
- Nunca?
- Não é isso, eu bebo com as amigas, mas nunca na frente dele.

Levar a sério a questão do exemplo na frente de um filho é ferir o DNA. Passamos a ser o modelo de grande mentiroso. Pensa que o filho não descobre? Não vê? Aprende que a verdade é injusta. Importante é aparentar. A naturalidade não serve, é inútil. Não ouse ser espontâneo. Não ouse abrir seus defeitos.

O moralismo asfixia. Nada como a perfeição para criar traumas. O filho vai pedir distância para cometer suas gafes e crises longe do lar.

A criança viverá em cárcere privado nos próprios pensamentos, indecisa entre o fingimento e a felicidade.

A relação desgasta. E mais ainda se ela se impuser um papel, uma imagem a ser perseguida e cumprida. Será desagradável, como participar de evento social permanente, como se nem em casa fosse permitido remover a maquiagem e permitir a pele respirar.

A conduta da mãe não tem tanta importância assim como ela gostaria que tivesse. Pensar assim empresta grandeza, imaginamos que depende de nós para que tudo vá bem com o filho.

Dizemos que o adolescente mente, nós é que começamos mentindo antes.

Mas não era eu quem diria tudo isso para ela. Que ela vista a carapuça sozinha. Faz frio lá fora.

Ouça esta Crônica Falada no rádio,
programa Talk Radio, da Katia Suman
(arraste a rolagem para os 35'50")

O ovo ou a galinha. [Crônica Falada na Rádio Itapema FM - 15.06.2010]

No vestiário da academia todo mundo faz de conta que é íntimo. Não sei se é intimidade ou embaraço. Seja porque porque dividimos a pia, seja porque é preciso cuidado para não escorrer no piso úmido. São flashbacks do banheiro da família. Um chuveiro estragado então, e já somos amigas de infância.

As conversas costumam ser forçosamente partilhadas, como o parabéns a você do restaurante - é um desrespeito não participar.

Subitamente somos dragados à piada do momento. Não dá pra ficar imparcial. Ou fingir que não é com a gente. A nudez cria uma atenção extrema.

Nesse ambiente de pressa e timidez, colocava pomada na tatuagem nova. Louca para fechar a mochila e me ver inteira. A vizinha de armário não deixou, já saiu confessando:

- Não tenho coragem de fazer uma dessas.
- Ah, é? Tem medo da dor?
- Não, é que eu tenho um filho adolescente. Não quero que ele pense que está liberado.
- Tudo que disser será usado contra você no tribunal?
- Hahaha. Certamente. Sabe, eu nem bebo.
- Nunca?
- Não é isso, eu bebo com as amigas, mas nunca na frente dele.

Levar a sério a questão do exemplo na frente de um filho é ferir o DNA. Passamos a ser o modelo de grande mentiroso. Pensa que o filho não descobre? Não vê? Aprende que a verdade é injusta. Importante é aparentar. A naturalidade não serve, é inútil. Não ouse ser espontâneo. Não ouse abrir seus defeitos.

O moralismo asfixia. Nada como a perfeição para criar traumas. O filho vai pedir distância para cometer suas gafes e crises longe do lar.

A criança viverá em cárcere privado nos próprios pensamentos, indecisa entre o fingimento e a felicidade.

A relação desgasta. E mais ainda se ela se impuser um papel, uma imagem a ser perseguida e cumprida. Será desagradável, como participar de evento social permanente, como se nem em casa fosse permitido remover a maquiagem e permitir a pele respirar.

A conduta da mãe não tem tanta importância assim como ela gostaria que tivesse. Pensar assim empresta grandeza, imaginamos que depende de nós para que tudo vá bem com o filho.

Dizemos que o adolescente mente, nós é que começamos mentindo antes.

Mas não era eu quem diria tudo isso para ela. Que ela vista a carapuça sozinha. Faz frio lá fora.

Ouça esta Crônica Falada no rádio,
programa Talk Radio, da Katia Suman
(arraste a rolagem para os 35'50")

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cada história é outra história. [Crônica Falada no Camarote TVCOM - 09.06.2010]

Conversava com uma amiga que reinaugurou o nome de solteira. Ela desabafou:

- Vai ver que esse casamento veio pra me ensinar o que eu não quero de uma relação.

Achei graça. Bem que a gente deseja uma sabedoria preventiva, mas relacionamento não é aula particular. Não é ENEM, não há como aproveitar o histórico escolar. Não existe linha reta, conhecimento acumulado, não partimos em degraus, da 1ª à 4ª série. Pensar que temos condições de evitar enfrentamentos e brigas dobra as possibilidades de separação.

Ao antecipar frustrações de relacionamentos anteriores, apenas criamos uma fórmula e intensificamos a fiscalização. Já entramos armados de pedras e lições dizendo o que o outro deve ou não fazer. Ficamos insatisfeitos antes mesmo de começar. A ânsia em recuperar o tempo nos condicionar a arriscar menos. No lugar da coragem, desenvolvemos fobias e paranóias.
Cobramos resultados iguais à meta de vendas. Acreditamos que, através da prática, podemos antecipar os problemas. Isso funciona no comércio e olhe lá.

Ainda que o par seja conhecido, a convivência não se repete. Não existe jeito de cometer os mesmos erros, já que nunca somos os mesmos.

O amor nada tem que ver com nosso gosto pessoal. É assim que uma patricinha namora um hardcore e um sannyasin de Osho casa com uma militante de esquerda.

A emoção não se refina, não evolui, não amadurece. Voltaremos ao início, desmemoriados. Regressamos ao estado embrionário de fragilidade, insegurança, sensibilidade. E com o volume ao máximo.

Ah, como queríamos não sofrer! Supomos que é um desperdício sofrer por uma coisa que era previsível. Gostar e querer alguém não corresponde a um jogo de adivinhação. O precioso não está no amor em si, no que desfrutamos como casal, mas no que ele empresta: as lembranças ganham sentido, o caos importa menos, os problemas não nos atingem, somos menos arrogantes, mais descompromissados. O amor rouba o controle e devolve o desequilíbrio da infância.

Quer saber como vai ser? Experimenta. E não repete a receita.

Confira esta Crônica Falada, no Camarote TVCOM.
Apresentação @katiasuman




Cada história é outra história. [Crônica Falada no Camarote TVCOM - 09.06.2010]

Conversava com uma amiga que reinaugurou o nome de solteira. Ela desabafou:

- Vai ver que esse casamento veio pra me ensinar o que eu não quero de uma relação.

Achei graça. Bem que a gente deseja uma sabedoria preventiva, mas relacionamento não é aula particular. Não é ENEM, não há como aproveitar o histórico escolar. Não existe linha reta, conhecimento acumulado, não partimos em degraus, da 1ª à 4ª série. Pensar que temos condições de evitar enfrentamentos e brigas dobra as possibilidades de separação.

Ao antecipar frustrações de relacionamentos anteriores, apenas criamos uma fórmula e intensificamos a fiscalização. Já entramos armados de pedras e lições dizendo o que o outro deve ou não fazer. Ficamos insatisfeitos antes mesmo de começar. A ânsia em recuperar o tempo nos condicionar a arriscar menos. No lugar da coragem, desenvolvemos fobias e paranóias.
Cobramos resultados iguais à meta de vendas. Acreditamos que, através da prática, podemos antecipar os problemas. Isso funciona no comércio e olhe lá.

Ainda que o par seja conhecido, a convivência não se repete. Não existe jeito de cometer os mesmos erros, já que nunca somos os mesmos.

O amor nada tem que ver com nosso gosto pessoal. É assim que uma patricinha namora um hardcore e um sannyasin de Osho casa com uma militante de esquerda.

A emoção não se refina, não evolui, não amadurece. Voltaremos ao início, desmemoriados. Regressamos ao estado embrionário de fragilidade, insegurança, sensibilidade. E com o volume ao máximo.

Ah, como queríamos não sofrer! Supomos que é um desperdício sofrer por uma coisa que era previsível. Gostar e querer alguém não corresponde a um jogo de adivinhação. O precioso não está no amor em si, no que desfrutamos como casal, mas no que ele empresta: as lembranças ganham sentido, o caos importa menos, os problemas não nos atingem, somos menos arrogantes, mais descompromissados. O amor rouba o controle e devolve o desequilíbrio da infância.

Quer saber como vai ser? Experimenta. E não repete a receita.

Confira esta Crônica Falada, no Camarote TVCOM.
Apresentação @katiasuman




Cada história é outra história. [Crônica Falada no Camarote TVCOM - 09.06.2010]

Conversava com uma amiga que reinaugurou o nome de solteira. Ela desabafou:

- Vai ver que esse casamento veio pra me ensinar o que eu não quero de uma relação.

Achei graça. Bem que a gente deseja uma sabedoria preventiva, mas relacionamento não é aula particular. Não é ENEM, não há como aproveitar o histórico escolar. Não existe linha reta, conhecimento acumulado, não partimos em degraus, da 1ª à 4ª série. Pensar que temos condições de evitar enfrentamentos e brigas dobra as possibilidades de separação.

Ao antecipar frustrações de relacionamentos anteriores, apenas criamos uma fórmula e intensificamos a fiscalização. Já entramos armados de pedras e lições dizendo o que o outro deve ou não fazer. Ficamos insatisfeitos antes mesmo de começar. A ânsia em recuperar o tempo nos condicionar a arriscar menos. No lugar da coragem, desenvolvemos fobias e paranóias.
Cobramos resultados iguais à meta de vendas. Acreditamos que, através da prática, podemos antecipar os problemas. Isso funciona no comércio e olhe lá.

Ainda que o par seja conhecido, a convivência não se repete. Não existe jeito de cometer os mesmos erros, já que nunca somos os mesmos.

O amor nada tem que ver com nosso gosto pessoal. É assim que uma patricinha namora um hardcore e um sannyasin de Osho casa com uma militante de esquerda.

A emoção não se refina, não evolui, não amadurece. Voltaremos ao início, desmemoriados. Regressamos ao estado embrionário de fragilidade, insegurança, sensibilidade. E com o volume ao máximo.

Ah, como queríamos não sofrer! Supomos que é um desperdício sofrer por uma coisa que era previsível. Gostar e querer alguém não corresponde a um jogo de adivinhação. O precioso não está no amor em si, no que desfrutamos como casal, mas no que ele empresta: as lembranças ganham sentido, o caos importa menos, os problemas não nos atingem, somos menos arrogantes, mais descompromissados. O amor rouba o controle e devolve o desequilíbrio da infância.

Quer saber como vai ser? Experimenta. E não repete a receita.

Confira esta Crônica Falada, no Camarote TVCOM.
Apresentação @katiasuman




quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mágoa


Martin O'Neil's artwork


Não é uma fralda branca de algodão
Não é uma compressa para secar o sangue
Não é aprender a limpar os olhos
Não é remover o rímel com leite de aveia
É a aveia que engrossa o magro leite de minha mãe.

Mágoa


Martin O'Neil's artwork


Não é uma fralda branca de algodão
Não é uma compressa para secar o sangue
Não é aprender a limpar os olhos
Não é remover o rímel com leite de aveia
É a aveia que engrossa o magro leite de minha mãe.

Twitcam - Live do Camarote TVCOM [09.06.2010]

terça-feira, 8 de junho de 2010

É só o amor. [Crônica Falada no Talkradio - 08.06.10]

Todo dia dos namorados a cidade fica cheia de coraçõezinhos, há batom nas vitrines estampando “eu te amo”, os restaurantes lotam e os motéis ganham filas.

Todo dia dos namorados, os caixas fazem hora-extra, as embalagens chiam celofanes mundo afora, milhões de cartõezinhos são manufaturados de livre e espontânea vontade e sem vontade nenhuma também.

Todo dia dos namorados, as moças rezam pelo inusitado, os rapazes penam ou apelam à maternidade. Minha mãe uma vez comprou dois conjuntos de lingerie iguais, apenas trocava a cor, para as duas namoradas do meu irmão. A ilusão de uma data romântica e infalível, pra mim, durou menos que Papai Noel.

Mas essa semana eu vi uma novidade: uma grande rede de lojas se fazendo de alcoviteira e criando agência de namoro na internet. Assustadora estratégia de vendas: se quiser se curar da solteirice, eu arranjo alguém pra você comprar presente.

Não basta a gravação no estacionamento do shopping, os comerciais de rádio e TV esmagadores, os lembretes onde quer que ande? Tudo empurrando a individualidade para o espaço. Se é solteiro, logo, é encalhado. Tem alguma coisa errada com você.

Me pus a pensar sobre o preconceito e a confusão entre solidão e estar solteiro. Solidão é sofrer ausência. Estar solteiro é gozar das possibilidades.

Há muitos anos provaram que o segredo está nos olhos. Talvez a dificuldade de quem sente solidão seja se posicionar como um derrotado. Quantos namoros surgem na véspera da data por absoluta carência? Ser solteiro não é não estar casado. Veja só.

As prostitutas parisienses usavam um colírio à base de Beladona e antes disso, mulheres aplicavam extrato de atropa nos olhos. Isso para dilatar as pupilas e imitar o desejo. Desejar nos torna mais belos. Dizemos que sim, queremos alguém, com o olhar. E o parceiro pressente essa abertura.

O Dia dos Namorados é o colírio em nossos olhos. Fantasiamos um querer imenso, de tirar o ar, próprio da paixão e, por isso mesmo, absolutamente incontrolável: ele é que se impõe sobre a gente.

Querer e não querer são ciclos tão naturais quanto as estações do ano. Ao que o próprio corpo determina, não cabe crítica. Solidão é a arrogância de julgar que não está na hora do inverno. Quer reclamar? Escreve pro SAC do @ocriador. Ao menos será divertido.

Quem está sozinho, que se ame ainda mais. Tenha paciência com as pupilas, procure o sentido da pausa, perca o medo do egoísmo e aproveite para criar o hábito.

Confira aqui esta Crônica Falada.
Apresentação: Katia Suman (@katiasuman).
Crônica de Cínthya Verri (@cinthyaverri) no Talk Radio, todas às terças, ao meio-dia
(Arraste a rolagem para os 32 minutos de programa).

É só o amor. [Crônica Falada no Talk Radio - 08.06.2010]

Todo dia dos namorados a cidade fica cheia de coraçõezinhos, há batom nas vitrines estampando “eu te amo”, os restaurantes lotam e os motéis ganham filas.

Todo dia dos namorados, os caixas fazem hora-extra, as embalagens chiam celofanes mundo afora, milhões de cartõezinhos são manufaturados de livre e espontânea vontade e sem vontade nenhuma também.

Todo dia dos namorados, as moças rezam pelo inusitado, os rapazes penam ou apelam à maternidade. Minha mãe uma vez comprou dois conjuntos de lingerie iguais, apenas trocava a cor, para as duas namoradas do meu irmão. A ilusão de uma data romântica e infalível, pra mim, durou menos que Papai Noel.

Mas essa semana eu vi uma novidade: uma grande rede de lojas se fazendo de alcoviteira e criando agência de namoro na internet. Assustadora estratégia de vendas: se quiser se curar da solteirice, eu arranjo alguém pra você comprar presente.

Não basta a gravação no estacionamento do shopping, os comerciais de rádio e TV esmagadores, os lembretes onde quer que ande? Tudo empurrando a individualidade para o espaço. Se é solteiro, logo, é encalhado. Tem alguma coisa errada com você.

Me pus a pensar sobre o preconceito e a confusão entre solidão e estar solteiro. Solidão é sofrer ausência. Estar solteiro é gozar das possibilidades.

Há muitos anos provaram que o segredo está nos olhos. Talvez a dificuldade de quem sente solidão seja se posicionar como um derrotado. Quantos namoros surgem na véspera da data por absoluta carência? Ser solteiro não é não estar casado. Veja só.

As prostitutas parisienses usavam um colírio à base de Beladona e antes disso, mulheres aplicavam extrato de atropa nos olhos. Isso para dilatar as pupilas e imitar o desejo. Desejar nos torna mais belos. Dizemos que sim, queremos alguém, com o olhar. E o parceiro pressente essa abertura.

O Dia dos Namorados é o colírio em nossos olhos. Fantasiamos um querer imenso, de tirar o ar, próprio da paixão e, por isso mesmo, absolutamente incontrolável: ele é que se impõe sobre a gente.

Querer e não querer são ciclos tão naturais quanto as estações do ano. Ao que o próprio corpo determina, não cabe crítica. Solidão é a arrogância de julgar que não está na hora do inverno. Quer reclamar? Escreve pro SAC do @ocriador. Ao menos será divertido.

Quem está sozinho, que se ame ainda mais. Tenha paciência com as pupilas, procure o sentido da pausa, perca o medo do egoísmo e aproveite para criar o hábito.

Confira aqui esta Crônica Falada.
Apresentação: Katia Suman (@katiasuman).
Crônica de Cínthya Verri (@cinthyaverri) no Talk Radio, todas às terças, ao meio-dia
(Arraste a rolagem para os 32 minutos de programa).

É só o amor. [Crônica Falada no Talk Radio - 08.06.2010]

Todo dia dos namorados a cidade fica cheia de coraçõezinhos, há batom nas vitrines estampando “eu te amo”, os restaurantes lotam e os motéis ganham filas.

Todo dia dos namorados, os caixas fazem hora-extra, as embalagens chiam celofanes mundo afora, milhões de cartõezinhos são manufaturados de livre e espontânea vontade e sem vontade nenhuma também.

Todo dia dos namorados, as moças rezam pelo inusitado, os rapazes penam ou apelam à maternidade. Minha mãe uma vez comprou dois conjuntos de lingerie iguais, apenas trocava a cor, para as duas namoradas do meu irmão. A ilusão de uma data romântica e infalível, pra mim, durou menos que Papai Noel.

Mas essa semana eu vi uma novidade: uma grande rede de lojas se fazendo de alcoviteira e criando agência de namoro na internet. Assustadora estratégia de vendas: se quiser se curar da solteirice, eu arranjo alguém pra você comprar presente.

Não basta a gravação no estacionamento do shopping, os comerciais de rádio e TV esmagadores, os lembretes onde quer que ande? Tudo empurrando a individualidade para o espaço. Se é solteiro, logo, é encalhado. Tem alguma coisa errada com você.

Me pus a pensar sobre o preconceito e a confusão entre solidão e estar solteiro. Solidão é sofrer ausência. Estar solteiro é gozar das possibilidades.

Há muitos anos provaram que o segredo está nos olhos. Talvez a dificuldade de quem sente solidão seja se posicionar como um derrotado. Quantos namoros surgem na véspera da data por absoluta carência? Ser solteiro não é não estar casado. Veja só.

As prostitutas parisienses usavam um colírio à base de Beladona e antes disso, mulheres aplicavam extrato de atropa nos olhos. Isso para dilatar as pupilas e imitar o desejo. Desejar nos torna mais belos. Dizemos que sim, queremos alguém, com o olhar. E o parceiro pressente essa abertura.

O Dia dos Namorados é o colírio em nossos olhos. Fantasiamos um querer imenso, de tirar o ar, próprio da paixão e, por isso mesmo, absolutamente incontrolável: ele é que se impõe sobre a gente.

Querer e não querer são ciclos tão naturais quanto as estações do ano. Ao que o próprio corpo determina, não cabe crítica. Solidão é a arrogância de julgar que não está na hora do inverno. Quer reclamar? Escreve pro SAC do @ocriador. Ao menos será divertido.

Quem está sozinho, que se ame ainda mais. Tenha paciência com as pupilas, procure o sentido da pausa, perca o medo do egoísmo e aproveite para criar o hábito.

Confira aqui esta Crônica Falada.
Apresentação: Katia Suman (@katiasuman).
Crônica de Cínthya Verri (@cinthyaverri) no Talk Radio, todas às terças, ao meio-dia
(Arraste a rolagem para os 32 minutos de programa).

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Ossos do Ofício [Crônica Falada - 02.06.2010]


Fratura do Colo do Fêmur

Bati meu joelho no painel ao descer do carro. Doeu tanto que ligou minha memória. Há quanto tempo não me machucava?

Quando criança, era até famosa pelas feridas e ranhuras nas pernas. Agora, nem consigo lembrar qual foi a última casquinha que assisti crescer na pele.

Conforme o tempo passa, cada vez menos nos ferimos. Seja porque melhora a coordenação motora, seja porque nos arriscamos menos. Canso de testemunhar amigos que abandonam o futebol, o tênis, o montanhismo em nome das mãos que sustentam a casa. E porque o seguro de vida fica mais barato.

Um jovem, quando se cuida bem é elogiado pela vitalidade. Um velho, quando zeloso, é visto como dependente e quase senil. Um jovem é vistoso usando proteção solar e cuidando de beber muito líquido no verão; na mesma estação, os postos de saúde transbordam de idosos desidratados passando a tarde com soro pingando nas veias. Quanta experiência de vida é necessária para compreender que a sede diminui com a distância da data de nascimento?

A fragilidade sempre é um aviso. Um sábio recado.

Nunca deixamos de ser responsáveis por nosso corpo e conforme a idade avança, precisamos lidar com as limitações que aumentam.

Perdi a conta do número de fraturas de colo de fêmur que atendi na época da faculdade. 90% delas aconteceram em senhoras que subiram em banquinhos ou mesas para trocar lâmpadas ou tropeçaram no chão encerado.

Porque é tão simples tapar as tomadas quando temos bebês e tão difícil usar um tapete antiderrapante?

A charada é lidar com a onipotência. A onipotência não tem idade, nosso corpo tem.

Confira a Crônica Falada de @cinthyaverri exibida no Programa Camarote TVCOM.
Apresentação (@katiasuman).



Ossos do Ofício [Crônica Falada - 02.06.2010]


Fratura do Colo do Fêmur

Bati meu joelho no painel ao descer do carro. Doeu tanto que ligou minha memória. Há quanto tempo não me machucava?

Quando criança, era até famosa pelas feridas e ranhuras nas pernas. Agora, nem consigo lembrar qual foi a última casquinha que assisti crescer na pele.

Conforme o tempo passa, cada vez menos nos ferimos. Seja porque melhora a coordenação motora, seja porque nos arriscamos menos. Canso de testemunhar amigos que abandonam o futebol, o tênis, o montanhismo em nome das mãos que sustentam a casa. E porque o seguro de vida fica mais barato.

Um jovem, quando se cuida bem é elogiado pela vitalidade. Um velho, quando zeloso, é visto como dependente e quase senil. Um jovem é vistoso usando proteção solar e cuidando de beber muito líquido no verão; na mesma estação, os postos de saúde transbordam de idosos desidratados passando a tarde com soro pingando nas veias. Quanta experiência de vida é necessária para compreender que a sede diminui com a distância da data de nascimento?

A fragilidade sempre é um aviso. Um sábio recado.

Nunca deixamos de ser responsáveis por nosso corpo e conforme a idade avança, precisamos lidar com as limitações que aumentam.

Perdi a conta do número de fraturas de colo de fêmur que atendi na época da faculdade. 90% delas aconteceram em senhoras que subiram em banquinhos ou mesas para trocar lâmpadas ou tropeçaram no chão encerado.

Porque é tão simples tapar as tomadas quando temos bebês e tão difícil usar um tapete antiderrapante?

A charada é lidar com a onipotência. A onipotência não tem idade, nosso corpo tem.

Confira a Crônica Falada de @cinthyaverri exibida no Programa Camarote TVCOM.
Apresentação (@katiasuman).



Ossos do Ofício [Crônica Falada - 02.06.2010]


Fratura do Colo do Fêmur

Bati meu joelho no painel ao descer do carro. Doeu tanto que ligou minha memória. Há quanto tempo não me machucava?

Quando criança, era até famosa pelas feridas e ranhuras nas pernas. Agora, nem consigo lembrar qual foi a última casquinha que assisti crescer na pele.

Conforme o tempo passa, cada vez menos nos ferimos. Seja porque melhora a coordenação motora, seja porque nos arriscamos menos. Canso de testemunhar amigos que abandonam o futebol, o tênis, o montanhismo em nome das mãos que sustentam a casa. E porque o seguro de vida fica mais barato.

Um jovem, quando se cuida bem é elogiado pela vitalidade. Um velho, quando zeloso, é visto como dependente e quase senil. Um jovem é vistoso usando proteção solar e cuidando de beber muito líquido no verão; na mesma estação, os postos de saúde transbordam de idosos desidratados passando a tarde com soro pingando nas veias. Quanta experiência de vida é necessária para compreender que a sede diminui com a distância da data de nascimento?

A fragilidade sempre é um aviso. Um sábio recado.

Nunca deixamos de ser responsáveis por nosso corpo e conforme a idade avança, precisamos lidar com as limitações que aumentam.

Perdi a conta do número de fraturas de colo de fêmur que atendi na época da faculdade. 90% delas aconteceram em senhoras que subiram em banquinhos ou mesas para trocar lâmpadas ou tropeçaram no chão encerado.

Porque é tão simples tapar as tomadas quando temos bebês e tão difícil usar um tapete antiderrapante?

A charada é lidar com a onipotência. A onipotência não tem idade, nosso corpo tem.

Confira a Crônica Falada de @cinthyaverri exibida no Programa Camarote TVCOM.
Apresentação (@katiasuman).



Porque até o Polanski encarou o presídio (mas fez um Escritor Fantasma).

EPITÁFIO
Matou o namorado
e foi ao cinema.



Toda última segunda-feira do mês, fazemos o Cineterapia. Fico sempre nervosa. É uma delícia, mas eu experimento o pânico das mãos molhadas e da boca seca.

O Bitols sempre ajuda. Faz a assessoria de imprensa, põe no twitter dele e ainda se presta a ser bilheteiro.

A cada um, ele sorri, faz uma piada do momento e se despede solene:

-Boa noite, boa sessão.

É divertido, logo, alivia a tensão. Correção: aliviava.

No último Cineterapia, eu, ansiosa como de costume. O Bitols, brincando como de costume.

Cheguei a ver de relance: uma morena no celular. Sim, chamou a atenção porque ficou de lado todo o tempo em que estivemos ali entregando os folders e as entradas como se esperasse alguém. E botava o celular na orelha. E bufava. E abria de novo o telefone. E bufava.

Fui revisar as poltronas para o debate dentro da sala. Quase todos já tinham tomado seus lugares. Ia no caminho de volta para o saguão, quando meu irmão me interpelou:

- Ele não fez nada que eu vi.

Parecia anúncio de desgraça: um tom algo sóbrio, o olhar certeiro, conheço meu mano. Pisei no tablado e dei de cara com a Bruaca de quatro patas em cima do Bitols. Celular na mão abaixada, encostadinha no caixote da bilheteria. Bitols de cenho franzido, encolhido, constrangido.
Ela tinha atacado, a Espertinha da Estrela.

Eu fui até lá, fiz a volta, pus a mão na nuca dele e ela, nada. Fez de conta que não me viu e continuou: que ia ao lançamento no Rio, que era su-ú-per-amiga da Ana (sim, a “Ana” é Ana Carolina, A Cantora) e que iari-iari-iari-iari. E eu parada feito um dois de paus.

Ui, que ódio!

Tive que sair dali e ir fazer a abertura no microfone. Tremendo de braba. Não posso negar que o nervosismo sumiu. Terminei a abertura e voltei.

Ela ainda estava lá! Cê acredita? Continuava miando que isso e aquilo.

- E aí? Vamos?

Me dirigi ao bilheteiro dos infernos.

- Vamos!

Ele respondeu saltando e recolhendo as coisas, igual criança saindo do castigo. E a Bruaca falou:

- Ai, acho que minha irmã não vem mesmo!

Ahan, irmã. Ainda largou essa. Cê acredita?

Entramos todos.

Depois do debate, eu me encaminhei tranquila para um jantar redentor.

Na calçada, adivinhe?

Cê acredita?

A Bruaca esperava na saída e ainda foi iari-iari-iari até o estacionamento, o carro dela veio antes e era três, não, cinco vezes o meu. E com bancos de couro. Vou te dizer: o terror.
Mais magra que eu, muuuuito mais rica que eu e amiga da Ana Carolina?

Ui, que ódio!

Fiquei em dúvida entre demitir e matar, mas achei que matar dava mais bilheteria.

PS: tá se perguntando o que o Bitols fez pra merecer um tiro? Vai ler o Canalha!; depois volta aqui e diz se não me dá razão.

sábado, 5 de junho de 2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Não li e não gostei. [Crônica Falada] no TalkRadio



Andrea Franco escreveu o livro Por Que Toda Mulher Precisa de um Gay em Sua Vida.

Relata em entrevista à Ciça Vallerio, repórter de O Estado de São Paulo, que sequer usou a própria experiência: foi motivada pela curiosidade que ela registrou o tema.

A autora defende a tese dizendo que há milhares de comunidades no Orkut de mulheres que amam e preferem seus amigos gays.

É uma nova facção? Uma seção entre as amizades? Um partido dos conhecidos?

Afirma que o gay não compete e não exige sexualmente sua companheira, é divertido, atencioso, ambos desfrutarão de cumplicidade autêntica.

Essa teoria soa absurda: reforça estereótipos, questiona a força de uma relação natural entre gente de qualquer preferência sexual, desqualifica com pretenso reconhecimento de classe e pior – posiciona os gays como o próximo objeto de consumo da mulher: é o must have da estação.

Um pet, um bichinho, um companheirinho, um personal stylist grátis, um amiguinho para dançar que conversará com a mulher sobre o mundo dela. Virou o boneco inflável.

Ela acredita que o preconceito cura a hipocrisia.

Estigmatizadora e reducionista, a parábola do amigo gay merece um outro olhar:

é o mesmo que dizer que temos que ter uma mulata para ir ao pagode, uma negrinha na cozinha e um judeu chefiando o departamento financeiro. Nada de novo, nada de bonito e nem um pouco engraçado.

Ser gay não é uma novidade. Não podemos deixar a segregação voltar à moda.


Confira a Crônica Falada de Cínthya Verri
no Talk Radio da Katia Suman; Rádio Itapema FM
(arraste a rolagem para 22 minutos do programa)

Não li e não gostei. [Crônica Falada] no TalkRadio



Andrea Franco escreveu o livro Por Que Toda Mulher Precisa de um Gay em Sua Vida.

Relata em entrevista à Ciça Vallerio, repórter de O Estado de São Paulo, que sequer usou a própria experiência: foi motivada pela curiosidade que ela registrou o tema.

A autora defende a tese dizendo que há milhares de comunidades no Orkut de mulheres que amam e preferem seus amigos gays.

É uma nova facção? Uma seção entre as amizades? Um partido dos conhecidos?

Afirma que o gay não compete e não exige sexualmente sua companheira, é divertido, atencioso, ambos desfrutarão de cumplicidade autêntica.

Essa teoria soa absurda: reforça estereótipos, questiona a força de uma relação natural entre gente de qualquer preferência sexual, desqualifica com pretenso reconhecimento de classe e pior – posiciona os gays como o próximo objeto de consumo da mulher: é o must have da estação.

Um pet, um bichinho, um companheirinho, um personal stylist grátis, um amiguinho para dançar que conversará com a mulher sobre o mundo dela. Virou o boneco inflável.

Ela acredita que o preconceito cura a hipocrisia.

Estigmatizadora e reducionista, a parábola do amigo gay merece um outro olhar:

é o mesmo que dizer que temos que ter uma mulata para ir ao pagode, uma negrinha na cozinha e um judeu chefiando o departamento financeiro. Nada de novo, nada de bonito e nem um pouco engraçado.

Ser gay não é uma novidade. Não podemos deixar a segregação voltar à moda.


Confira a Crônica Falada de Cínthya Verri
no Talk Radio da Katia Suman; Rádio Itapema FM
(arraste a rolagem para 22 minutos do programa)

Não li e não gostei. [Crônica Falada] no TalkRadio



A escritora Andrea Franco escreveu o livro Por Que Toda Mulher Precisa de um Gay em Sua Vida.

Relata em entrevista à Ciça Vallerio, repórter de O Estado de São Paulo, que sequer usou a própria experiência: foi motivada pela curiosidade que ela registrou o tema.

A autora defende a tese dizendo que há milhares de comunidades no Orkut de mulheres que amam e preferem seus amigos gays.

É uma nova facção? Uma seção entre as amizades? Um partido dos conhecidos?

Afirma que o gay não compete e não exige sexualmente sua companheira, é divertido, atencioso, ambos desfrutarão de cumplicidade autêntica.

Essa teoria soa absurda: reforça estereótipos, questiona a força de uma relação natural entre gente de qualquer preferência sexual, desqualifica com pretenso reconhecimento de classe e pior – posiciona os gays como o próximo objeto de consumo da mulher: é o must have da estação.

Um pet, um bichinho, um companheirinho, um personal stylist grátis, um amiguinho para dançar que conversará com a mulher sobre o mundo dela. Virou o boneco inflável.

Ela acredita que o preconceito cura a hipocrisia.

Estigmatizadora e reducionista, a parábola do amigo gay merece um outro olhar:

é o mesmo que dizer que temos que ter uma mulata para ir ao pagode, uma negrinha na cozinha e um judeu chefiando o departamento financeiro. Nada de novo, nada de bonito e nem um pouco engraçado.

Ser gay não é uma novidade. Não podemos deixar a segregação voltar à moda.


Confira a Crônica Falada de Cínthya Verri
no Talk Radio da Katia Suman; Rádio Itapema FM
(arraste a rolagem para 22 minutos do programa)