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terça-feira, 8 de junho de 2010

É só o amor. [Crônica Falada no Talk Radio - 08.06.2010]

Todo dia dos namorados a cidade fica cheia de coraçõezinhos, há batom nas vitrines estampando “eu te amo”, os restaurantes lotam e os motéis ganham filas.

Todo dia dos namorados, os caixas fazem hora-extra, as embalagens chiam celofanes mundo afora, milhões de cartõezinhos são manufaturados de livre e espontânea vontade e sem vontade nenhuma também.

Todo dia dos namorados, as moças rezam pelo inusitado, os rapazes penam ou apelam à maternidade. Minha mãe uma vez comprou dois conjuntos de lingerie iguais, apenas trocava a cor, para as duas namoradas do meu irmão. A ilusão de uma data romântica e infalível, pra mim, durou menos que Papai Noel.

Mas essa semana eu vi uma novidade: uma grande rede de lojas se fazendo de alcoviteira e criando agência de namoro na internet. Assustadora estratégia de vendas: se quiser se curar da solteirice, eu arranjo alguém pra você comprar presente.

Não basta a gravação no estacionamento do shopping, os comerciais de rádio e TV esmagadores, os lembretes onde quer que ande? Tudo empurrando a individualidade para o espaço. Se é solteiro, logo, é encalhado. Tem alguma coisa errada com você.

Me pus a pensar sobre o preconceito e a confusão entre solidão e estar solteiro. Solidão é sofrer ausência. Estar solteiro é gozar das possibilidades.

Há muitos anos provaram que o segredo está nos olhos. Talvez a dificuldade de quem sente solidão seja se posicionar como um derrotado. Quantos namoros surgem na véspera da data por absoluta carência? Ser solteiro não é não estar casado. Veja só.

As prostitutas parisienses usavam um colírio à base de Beladona e antes disso, mulheres aplicavam extrato de atropa nos olhos. Isso para dilatar as pupilas e imitar o desejo. Desejar nos torna mais belos. Dizemos que sim, queremos alguém, com o olhar. E o parceiro pressente essa abertura.

O Dia dos Namorados é o colírio em nossos olhos. Fantasiamos um querer imenso, de tirar o ar, próprio da paixão e, por isso mesmo, absolutamente incontrolável: ele é que se impõe sobre a gente.

Querer e não querer são ciclos tão naturais quanto as estações do ano. Ao que o próprio corpo determina, não cabe crítica. Solidão é a arrogância de julgar que não está na hora do inverno. Quer reclamar? Escreve pro SAC do @ocriador. Ao menos será divertido.

Quem está sozinho, que se ame ainda mais. Tenha paciência com as pupilas, procure o sentido da pausa, perca o medo do egoísmo e aproveite para criar o hábito.

Confira aqui esta Crônica Falada.
Apresentação: Katia Suman (@katiasuman).
Crônica de Cínthya Verri (@cinthyaverri) no Talk Radio, todas às terças, ao meio-dia
(Arraste a rolagem para os 32 minutos de programa).

6 comentários:

  1. Não consegui ouvir.Mas li a crônica e adorei o blog.Tô seguindo no Twitter,pra ficar por dentro das novidades daqui.Abraços.

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  2. Oi Cíntia! Interessante esse lance do colírio, não sabia. E é bem ruim 'datas' gerais, quando não se tem o devido valor, ou o devido 'presente' seja qual for.

    bjo

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  3. Após 20 e poucos torturantes 12 de junho's, vou passar um dia dos namorados acompanhada. Não acho que mudou muita coisa, além de não poder comprar meu habitual presente do mês de junho, pq devo compra-lo para outra pessoa...parando pra pensar, agora, fiquei até meio chateada...

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  4. Sole,
    o lance do colírio é muito bom de saber. Tá certo que o amor é cego, mas vamos combinar... né?
    Beijo!

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  5. Elaine,
    mas voltou a ser torturante...?
    Aproveita!!
    =)
    Compra dois presentes, então.
    beijo!

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