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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Vai pra balança ou não vai? [Crônica Falada no Camarote TVCOM -



Chacrinha oferecia um abacaxi para quem desafinava em seu programa.

Os calouros disputavam pelo trono de melhor voz, jamais a coroa da fruta.

Lembrei do programa de minha infância, no momento em que um amigo comentou suas táticas para aproveitar o almoço:

- Quando me sirvo em bufê por quilo, não coloco fruta ou verdura. Não comerei banana a preço de carne!

Pisquei duas vezes para entender. Naturalmente escolho o verde e o sumo para contrabalançar os nutrientes. Não questionava: pagava a minha saúde.

A lógica dele era diferente. Tanto faz o que pega, paga-se o prato igual. O peso não pode ser desperdiçado com o lazer. Sim, fruta é vista como um supérfluo, que deveria estar à disposição numa cesta para qualquer um mordiscar à vontade. Não podia ser cobrada.

Fui conferir com o irmão: batata. Batata, não, carne!, prefere também encher a guarnição com uma costela suculenta. Com o pai, o mesmo. Com o namorado, mesma sina.

Não é avareza, é outro pânico. Um medo de ser traído pela malandragem alheia.

Explico: estamos permanentemente com a sensação de que alguém quer tirar vantagem em cima de nossa ingenuidade e nos antecipamos. Certos ou errados, pensamos o pior.

É um golpe para anular um golpe. Um truque para ludibriar a balança, uma lei para tirar a melhor vantagem.

No restaurante, paira sobre a cabeça a nuvem do malandro, a aura do esperto. Suspeitamos todo o tempo, com fobia de ser passado pra trás. Simples arrogância, feita pra disfarçar a desvalia: não nasci ontem, eu não sou qualquer um para ser enganado.

Como se fosse possível controlar a eficácia da armadilha. Quando não quero ser enganado, engano. Eu passo a perna, primeiro, para garantir que não serei a vítima.

Proponho chamar engodo profilático o ato de sacanear por medo de ser tirado pra palhaço.
Quem engana por segundo, mesmo que supostamente segundo, não está enganando propriamente. É uma imunidade diplomática.

Isso não passa de ardil para gozar em cima do outro. Temos um golpista dentro da gente esperando para dar o bote.

Não aceitaremos o preço do técnico de informática - ele é novo mecânico - com o estigma de enrolador. O mesmo com o taxista, supondo que encontrará um jeito de tomar o caminho mais longo e acelerar o taxímetro.

Somos infinitamente mais saqueados em imaginação do que na realidade. Que diferença faz quando a imaginação já está no poder? O paranóico sempre está certo.

Paranóia não cura paranóia: só aumenta.

O trono do Chacrinha hoje é a balança.

Confira a Crônica Falada exibida no Camarote TVCOM:

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