Bati meu joelho no painel ao descer do carro. Doeu tanto que ligou minha memória. Há quanto tempo não me machucava?
Quando criança, era até famosa pelas feridas e ranhuras nas pernas. Agora, nem consigo lembrar qual foi a última casquinha que assisti crescer na pele.
Conforme o tempo passa, cada vez menos nos ferimos. Seja porque melhora a coordenação motora, seja porque nos arriscamos menos. Canso de testemunhar amigos que abandonam o futebol, o tênis, o montanhismo em nome das mãos que sustentam a casa. E porque o seguro de vida fica mais barato.
Um jovem, quando se cuida bem é elogiado pela vitalidade. Um velho, quando zeloso, é visto como dependente e quase senil. Um jovem é vistoso usando proteção solar e cuidando de beber muito líquido no verão; na mesma estação, os postos de saúde transbordam de idosos desidratados passando a tarde com soro pingando nas veias. Quanta experiência de vida é necessária para compreender que a sede diminui com a distância da data de nascimento?
A fragilidade sempre é um aviso. Um sábio recado.
Nunca deixamos de ser responsáveis por nosso corpo e conforme a idade avança, precisamos lidar com as limitações que aumentam.
Perdi a conta do número de fraturas de colo de fêmur que atendi na época da faculdade. 90% delas aconteceram em senhoras que subiram em banquinhos ou mesas para trocar lâmpadas ou tropeçaram no chão encerado.
Porque é tão simples tapar as tomadas quando temos bebês e tão difícil usar um tapete antiderrapante?
A charada é lidar com a onipotência. A onipotência não tem idade, nosso corpo tem.
Confira a Crônica Falada de @cinthyaverri exibida no Programa Camarote TVCOM.
Apresentação (@katiasuman).
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