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domingo, 27 de junho de 2010

Superpoder


Derek Sivers' drawing

Fomos assitir ao Toy Story 3 em 3D. Cinema lotado de crianças, pais e simpatizantes. Um tapete de pipocas. Os novos óculos para garantir o efeito futurista são bárbaros, muito melhores que os pavoros retângulos achatadores de nariz. Diversão garantida. Soltei o cinto de segurança e relaxei com a jornada dos brinquedos de Andy.

O enredo do terceiro filme da série apresenta o drama dos bonecos uma vez que seu dono cresceu e vai para a faculdade. Tudo estava aventuroso e bonito até o momento em que, de fato, Andy precisa passar adiante seus companheiros de brincadeira para outra criança.

A moralidade do enredo fica evidente: você cresceu. Deve deixar para trás seus desejos infantis. Faz parte.

Faz parte?

Enrolei a garganta na interrogação e saí amuada, pensando. Mexeu comigo essa conversa de deixar para trás o que gostamos, afinal, a habilidade de grandes emoções vem da infância. É quando desfrutamos de um superpoder: o de incorporar a imaginação. Lembra a delícia de ser o que quiser?

Pelo prazer é que brincamos: é o que nos interessa. Queremos que a ação nos absorva, temos a ânsia de parar de protagonizar: desapareceremos. Não teremos brinquedos – seremos o brinquedo. São poucos os briquedos que nos brincam.

O que estiver acontecendo será o único que importa: o universo dependerá da jogada de bola de gude. O mundo será resumido ao resgate de Falcon. Não há casa, não há família, não há hora do banho, não há tarefa de casa, não há realidade. É a coragem de abandonar o pensamento. Então, como no sonho, a fantasia ganha vida própria e viramos testemunhas. Quando acaba, podemos contar a nós mesmos o que acabamos de viver.

Há um mês, oito rapazes foram desafiados pela Brinquedos Estrela a fazer o caminho de Santiago de Compostela com um trem. Seria fácil se o trem tivesse mais de 30cm. Foi difícil porque precisaram acordar o superpoder. Para conseguir, tiveram que ser o trem. Os fundadores da comunidade do Orkut Volta Ferrorama (@voltaferrorama), cumpriram a meta e ganharam a aposta: a empresa vai ter que trazer o trenzinho e seus trilhos de novo para o mercado. E os moços não precisam fingir que pretendiam dar essa alegria a seus filhos; querem apenas seguir a infância por toda a vida.

Triste é o adulto que levou a sério a moral da sua história.


Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM. Apresentação @katiasuman. Crônica de @cinthyaverri exibida em 26/06/10.

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