Sentei-me para tomar café.
Senti-me realmente estúpida. Não a princípio. A princípio, senti-me realmente elegante, na cafeteria:
- Dê-me um capuccino, por favor. Posso sentar lá fora?
- Claro!
Respondeu a balconista, de avental negro, que poderia ser qualquer outra, tão pouco individual que era.
Sentei-me para tomar o café.
Uma mulher de olhos tristonhos, cheia de neblina por dentro, com camisa branca de botões.
Adoro usar camisa branca de botões. Não sei porque tenho apenas uma. Talvez porque fique ocupada escolhendo o dia para usá-la. Penso: ‘não, hoje não é o dia. Quem sabe mais à noite, se formos na casa de alguém, passear ou sair para jantar. Mas, na maioria das vezes, não saímos ou então faz frio para a camisa que tem mangas curtas. Ou é calor e a camisa tem, mesmo que curtas, mangas.
Então, esperamos o dia. Eu e a camisa.
Hoje, depois que estivemos abraçados, derretidos na cama, vesti a camisa sem pensar. Abotoei-a na frente do espelho e achei elegante.
Agora, na vitrine da loja de cafés, vejo-me. Sentada, a mulher tristonha que insiste em escrever coisas.
Às vezes, acho fruto da minha arrogância isso de querer escrever.
Esperança. Alguém irá ler e se identificar. Esse alguém, ao final do lido, molhará os olhos e sentirá a volúpia agradecida por minha grande capacidade de tradução. E, claro, irá amar a autora.
Escondo de mim meu desejo grandioso de furor curandis. Ora, não o escondo tanto. Vejo-o logo, em dias como hoje, com a camisa branca. Especialmente se me encorajo a escrever.
E, por fim, o meu furor é de curar a mim.
São meus os olhos que se molham ao final do escrito. É a mim que visito quando escrevo. E sou eu a leitora que vê tradução e sente amor pela autora.
Igual à mulher de avental negro, sou a mulher de camisa branca. Que poderia ser qualquer outra, tão pouco individual que sou.
Sou mais um agrupamento.
Senti-me realmente estúpida. Não a princípio. A princípio, senti-me realmente elegante, na cafeteria:
- Dê-me um capuccino, por favor. Posso sentar lá fora?
- Claro!
Respondeu a balconista, de avental negro, que poderia ser qualquer outra, tão pouco individual que era.
Sentei-me para tomar o café.
Uma mulher de olhos tristonhos, cheia de neblina por dentro, com camisa branca de botões.
Adoro usar camisa branca de botões. Não sei porque tenho apenas uma. Talvez porque fique ocupada escolhendo o dia para usá-la. Penso: ‘não, hoje não é o dia. Quem sabe mais à noite, se formos na casa de alguém, passear ou sair para jantar. Mas, na maioria das vezes, não saímos ou então faz frio para a camisa que tem mangas curtas. Ou é calor e a camisa tem, mesmo que curtas, mangas.
Então, esperamos o dia. Eu e a camisa.
Hoje, depois que estivemos abraçados, derretidos na cama, vesti a camisa sem pensar. Abotoei-a na frente do espelho e achei elegante.
Agora, na vitrine da loja de cafés, vejo-me. Sentada, a mulher tristonha que insiste em escrever coisas.
Às vezes, acho fruto da minha arrogância isso de querer escrever.
Esperança. Alguém irá ler e se identificar. Esse alguém, ao final do lido, molhará os olhos e sentirá a volúpia agradecida por minha grande capacidade de tradução. E, claro, irá amar a autora.
Escondo de mim meu desejo grandioso de furor curandis. Ora, não o escondo tanto. Vejo-o logo, em dias como hoje, com a camisa branca. Especialmente se me encorajo a escrever.
E, por fim, o meu furor é de curar a mim.
São meus os olhos que se molham ao final do escrito. É a mim que visito quando escrevo. E sou eu a leitora que vê tradução e sente amor pela autora.
Igual à mulher de avental negro, sou a mulher de camisa branca. Que poderia ser qualquer outra, tão pouco individual que sou.
Sou mais um agrupamento.