Tinha certa tendência à servilidade, diziam da moça. Mas não desde sempre, sabe? Quem dizia o contrário, era a vó. A avozinha contava uma história que era assim:
- A moça devia ter uns 5 anos. Eu estava lavando a louça quando ela passou. Pedi pra ela: "ei, mocinha! Não quer varrer, pra vovó, a cozinha?" ao que ela respondeu: "ai, vovó, eu queria te ajudar, mas não posso varrer porque eu sofro da coluna!".
A avozinha ria muito quando contava a história, imitando a moça, na época mocinha, colocando a mão sobre a lombar e fazendo expressão de dor.
A moça não lembrava desse episódio, mas acreditava nele, tantas foram as vezes que a avó contara.
A moça acha, como os outros, que tem mesmo tendência a ser servil. Talvez apenas para se desocupar de si e ocupar-se de qualquer outra coisa. Quando faz isso, sente-se fazendo o necessário, fazendo algo de útil de sua existência - dando sentido ao que não tem sentido.
O que a moça não sabe é que a vida só tem mesmo o sentido que damos.
Outro sentido, um sentido em si, a vida não tem.
Melhor que a moça reencontre a mocinha, antes tarde do que nunca.
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