Adam Beane´s Paolo di Canio
Na infância, meu pai tinha um aparelho de som onde acoplava um microfone. Temos registros de nossas vozes em formação cantando, falando e disputando a vaga. Ele gravou uma fita cassete para a posteridade. É possível ouvir cada um de meus irmãos respondendo em escadinha para que time torciam: Sport Club Internacional. A seguir, chega minha vez:
- Filha, de que time tu é? Falava a voz de trovão do pai.
- Do Mazzaropi – cantarolei
- De que time tu é?, insistiu o pai, mais tenso.
- Do Mazzaropi.
- Minha filha, de que time tu é? Afirmou o pai, em tom elevado, com a ameaça nas sílabas.
-Ah! Do Inter, do Inter.
O goleiro do Grêmio exercia um fascínio inexplicável. Riam e acusavam a farsa de que era o único nome que eu sabia. Sei que tinha pouca idade, mas assim como Ritchie, o cantor, eu tinha paixões bem definidas. E a fixação vingou porque o pai, cônsul do Internacional na minha cidade, encontrou Mazzaropi em um vôo. Não sei se pesou mais a culpa ou o amor, mas engoliu o asco, pediu o autógrafo e me trouxe.
Depois do Mazza, não me apaixonei por outro profissional da bola. Nem pela televisão.
Nunca namorei goleiro nem boleiro de outra posição. Se bem que, homem que não tem tara por futebol, para mim, ainda é meio homem. Eu perderia a força de vontade para exercitar as séries para glúteo em quatro apoios. Porque homem que não ama futebol, não olha bunda.
Uma vez eu me relacionei com ex-futuro jogador profissional. Isso conta? Quando menino, chegou ao Juvenil do colorado de meu coração.
Tínhamos uma vida sexual plena e feliz. Até que o futebol reinventou a rotina. Não é que eu perdesse o namorado porque saía de casa para assistir os jogos e voltava na alta madrugada. Não é que meu namorado ficou alcoólatra de tanto chopinho da vitória. Não é que ele disputava campeonatos intermináveis com os amigos
Foi fruto do acaso. Uma noite, depois do jogo, começamos um longo beijo na cozinha. As coisas foram se intensificando e rolou ali mesmo, na bancada, ele devidamente fardado com a camisa do Internacional.
É incrível como o aleatório rege nossa vida. Se não usasse a camisa, se não tivesse bancada, se não houvesse o passado de atleta promissor que trocou a chuteira por outra vocação, se não fosse domingo.
O fato é que o futebolista amador achou um novo campo de batalha. Teve a ideia de me comer com toda sua coleção de camisas de clube. Não é divertido? É, sim, amor.
Claro que era.
Apareceu com a camisa da Seleção Camaronesa de Futebol, toda pano verde com rubra gola em vê. Teve um desempenho à altura de primeiro time africano. Eu ouvi tambores, quis pintar o rosto e me perder na savana. Enxerguei zebras, hipopótamos, hienas. Encarnou o clima de habilidade e alegria no jogo. Comecei a acreditar que a geografia poderia ter alguma influência na inspiração dele.
Experimentamos a cor-de-rosa do Parma FC. Desde a queda da multinacional de laticínios que sustentava as finanças, o time sobrevive às dificuldades. Anda pela série B. A cidade está resumida ao parmesão. Não foi diferente no campo de lençóis. Dos rugidos de leões africanos da noite anterior, decaímos para a pelúcia dos mamíferos Parmalat. Aquele vudu das fardas começou a me arrepiar.
O Manchester United é o atual campeão da Premier League, um dos mais bem sucedidos da história do futebol inglês. Assisti a performance digna de red devil. Os demônios vermelhos urravam nas arquibancadas de nosso quarto. A pressão estonteante ao ganhar o jogo de virada. Um esplêndido 6X9.
Ampliamos o armário para acolher os troféus: azulão do Boca Juniores, com letra amarelo ovo em destaque. Terno do Caxias, estilo retrô, bordô com brasão em forma de engrenagem inaugurando a ala nacional: São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Botafogo, Fluminense, Flamengo e Avaí.
Voltamos às escalas internacionais e na rixa Barcelona versus Real Madrid, deu Real Madrid, para minha alegria. Fiz até uma loteria esportiva íntima. Não largava o vestiário.
Até que um dia ele veio de peito nu, querendo amistoso. Achei quase ofensivo. Fiz escândalo.
- Lá sou mulher de confundir de que lado estou?
- Mas amor, está um calorão...
- O quê? Não tem jogo acima de trinta graus? E tem mais, é um desperdício de oportunidade, daria problema com as estatísticas. E a tabela do campeonato? Como fica?
- Está bem, ele se resignou.
Partiu para as gavetas e sacou a brilhante e laranjérrima camisa da Holanda.
Afinal de contas jogo é jogo. Treino é treino.
Meu artilheiro só não permaneceu porque não quis pagar a multa contratual. Terminou o empréstimo e o passe era do Paraná.
- Filha, de que time tu é? Falava a voz de trovão do pai.
- Do Mazzaropi – cantarolei
- De que time tu é?, insistiu o pai, mais tenso.
- Do Mazzaropi.
- Minha filha, de que time tu é? Afirmou o pai, em tom elevado, com a ameaça nas sílabas.
-Ah! Do Inter, do Inter.
O goleiro do Grêmio exercia um fascínio inexplicável. Riam e acusavam a farsa de que era o único nome que eu sabia. Sei que tinha pouca idade, mas assim como Ritchie, o cantor, eu tinha paixões bem definidas. E a fixação vingou porque o pai, cônsul do Internacional na minha cidade, encontrou Mazzaropi em um vôo. Não sei se pesou mais a culpa ou o amor, mas engoliu o asco, pediu o autógrafo e me trouxe.
Depois do Mazza, não me apaixonei por outro profissional da bola. Nem pela televisão.
Nunca namorei goleiro nem boleiro de outra posição. Se bem que, homem que não tem tara por futebol, para mim, ainda é meio homem. Eu perderia a força de vontade para exercitar as séries para glúteo em quatro apoios. Porque homem que não ama futebol, não olha bunda.
Uma vez eu me relacionei com ex-futuro jogador profissional. Isso conta? Quando menino, chegou ao Juvenil do colorado de meu coração.
Tínhamos uma vida sexual plena e feliz. Até que o futebol reinventou a rotina. Não é que eu perdesse o namorado porque saía de casa para assistir os jogos e voltava na alta madrugada. Não é que meu namorado ficou alcoólatra de tanto chopinho da vitória. Não é que ele disputava campeonatos intermináveis com os amigos
Foi fruto do acaso. Uma noite, depois do jogo, começamos um longo beijo na cozinha. As coisas foram se intensificando e rolou ali mesmo, na bancada, ele devidamente fardado com a camisa do Internacional.
É incrível como o aleatório rege nossa vida. Se não usasse a camisa, se não tivesse bancada, se não houvesse o passado de atleta promissor que trocou a chuteira por outra vocação, se não fosse domingo.
O fato é que o futebolista amador achou um novo campo de batalha. Teve a ideia de me comer com toda sua coleção de camisas de clube. Não é divertido? É, sim, amor.
Claro que era.
Apareceu com a camisa da Seleção Camaronesa de Futebol, toda pano verde com rubra gola em vê. Teve um desempenho à altura de primeiro time africano. Eu ouvi tambores, quis pintar o rosto e me perder na savana. Enxerguei zebras, hipopótamos, hienas. Encarnou o clima de habilidade e alegria no jogo. Comecei a acreditar que a geografia poderia ter alguma influência na inspiração dele.
Experimentamos a cor-de-rosa do Parma FC. Desde a queda da multinacional de laticínios que sustentava as finanças, o time sobrevive às dificuldades. Anda pela série B. A cidade está resumida ao parmesão. Não foi diferente no campo de lençóis. Dos rugidos de leões africanos da noite anterior, decaímos para a pelúcia dos mamíferos Parmalat. Aquele vudu das fardas começou a me arrepiar.
O Manchester United é o atual campeão da Premier League, um dos mais bem sucedidos da história do futebol inglês. Assisti a performance digna de red devil. Os demônios vermelhos urravam nas arquibancadas de nosso quarto. A pressão estonteante ao ganhar o jogo de virada. Um esplêndido 6X9.
Ampliamos o armário para acolher os troféus: azulão do Boca Juniores, com letra amarelo ovo em destaque. Terno do Caxias, estilo retrô, bordô com brasão em forma de engrenagem inaugurando a ala nacional: São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Botafogo, Fluminense, Flamengo e Avaí.
Voltamos às escalas internacionais e na rixa Barcelona versus Real Madrid, deu Real Madrid, para minha alegria. Fiz até uma loteria esportiva íntima. Não largava o vestiário.
Até que um dia ele veio de peito nu, querendo amistoso. Achei quase ofensivo. Fiz escândalo.
- Lá sou mulher de confundir de que lado estou?
- Mas amor, está um calorão...
- O quê? Não tem jogo acima de trinta graus? E tem mais, é um desperdício de oportunidade, daria problema com as estatísticas. E a tabela do campeonato? Como fica?
- Está bem, ele se resignou.
Partiu para as gavetas e sacou a brilhante e laranjérrima camisa da Holanda.
Afinal de contas jogo é jogo. Treino é treino.
Meu artilheiro só não permaneceu porque não quis pagar a multa contratual. Terminou o empréstimo e o passe era do Paraná.
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