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domingo, 10 de julho de 2011

Magrelinha



Participei da campanha a favor de mais bicicletas na cidade.
Iniciativa da Vivo e do Pátio Ivo Rizzo.
Confere a galera de duas rodas no blog: http://www.bicicletasnopatio.com.br/

Brincava de pipoqueira na infância.

Empinava pipa e bicicleta.

Dentro do gradil costal fica o coração.

Magrelinha



Participei da campanha a favor de mais bicicletas na cidade.
Iniciativa da Vivo e do Pátio Ivo Rizzo.
Confere a galera de duas rodas no blog: http://www.bicicletasnopatio.com.br/

Brincava de pipoqueira na infância.

Empinava pipa e bicicleta.

Dentro do gradil costal fica o coração.

domingo, 3 de julho de 2011

Pouco

Para Bito, Miguel e Fernando Malheiros




O pai levou os meninos para visitar Jacinto. O doutor vivia em magnífica residência no bairro Petrópolis. A arquitetura exterior, eficiente e didática, informava ao público a boa saúde bancária da família: portas de madeira maciça eram sobriamente entalhadas e guardavam quatro metros de altura; pontas nas grades largas enfrentavam o céu e pousavam gárgulas sobre as esquinas. Sim, até gárgulas havia. Uma mansão.

Bito e Migue pequenos, mais mirrados que os cães do pátio, entreolharam-se no banco de trás do Monza azul tilintante de novo: os portões abriram sozinhos! Melhor, abriram mecanicamente. Um espanto.

Uma entrada, no mínimo, triunfal: o caso era que a casa mais parecia uma fábula. Uma fábula terrível de vampiros ou zumbis ou monstros. Sim, uma monstruosidade de construção assusta a gente.

Os pais grandões e sabidos de leis e do universo deixaram seus guris à solta: partiram para a biblioteca, evidentemente — local apropriado para conversas grandes e sérias.

Fernando viu-se encarregado de ensinar a propriedade aos convidados. O meninote riu simpático aos já amigos. Foram-se correndo de fome para aventuras.

O terreno emparelhava em grandeza: campo de futebol, quadra multiesportiva e jardins. Não bastasse o país de terra e grama, a piscina tomava banho de sol feito uma rainha. O deck, feito trono, erguia a majestade: coroada com cascata de pedras e folhas largas como a amazônia. Mas o esplendor iluminado doía porque era maio. Quem suportaria ficar molhado quando as nuvens piscassem o sol?

Foi quando o anfitrião alcançou a santa de todos os meninos, a bola de futebol. Reverenciaram a redonda mater e então se foram a gastar as horas da tarde.

Jogaram e bufaram tanto que venceram o outono friaco do sul e suas correntes ardidas. Bito e Miguel tinham telepatia e a única sede que contava agora era a da água infinita e azul da piscina, com seus diamantes líquidos.

Voaram como quem plana ao suor do vento rumo ao banho redentor. Lançaram-se como porcos magros, era de se estranhar a cena.

Parado ficou Fernando: fitando. Bito batia os braços e pernas e dava gritinhos contentíssimos. Migue, ao contrário, silente como farol, duro, reto, vertical. Foi-se afundando e não voltou.

Bito nada viu, mas Fernando parece que entendeu, quem sabe a piscina sussurrou. Jogou-se atrás de Migue e resgatou seu corpinho até a margem.

— Não viu que era funda? — berrou o salva-vidas.

— Vi.

— E então? É louco?

E mais gritando uns tantos palavrões enquanto o miúdo tremia e Bito se apagava.

De volta ao Monza, encharcados de revolta paterna, viajaram mudos. Bito triste da pouca vida. Migue decepcionado da pouca morte.

Pouco

Para Bito, Miguel e Fernando Malheiros




O pai levou os meninos para visitar Jacinto. O doutor vivia em magnífica residência no bairro Petrópolis. A arquitetura exterior, eficiente e didática, informava ao público a boa saúde bancária da família: portas de madeira maciça eram sobriamente entalhadas e guardavam quatro metros de altura; pontas nas grades largas enfrentavam o céu e pousavam gárgulas sobre as esquinas. Sim, até gárgulas havia. Uma mansão.

Bito e Migue pequenos, mais mirrados que os cães do pátio, entreolharam-se no banco de trás do Monza azul tilintante de novo: os portões abriram sozinhos! Melhor, abriram mecanicamente. Um espanto.

Uma entrada, no mínimo, triunfal: o caso era que a casa mais parecia uma fábula. Uma fábula terrível de vampiros ou zumbis ou monstros. Sim, uma monstruosidade de construção assusta a gente.

Os pais grandões e sabidos de leis e do universo deixaram seus guris à solta: partiram para a biblioteca, evidentemente — local apropriado para conversas grandes e sérias.

Fernando viu-se encarregado de ensinar a propriedade aos convidados. O meninote riu simpático aos já amigos. Foram-se correndo de fome para aventuras.

O terreno emparelhava em grandeza: campo de futebol, quadra multiesportiva e jardins. Não bastasse o país de terra e grama, a piscina tomava banho de sol feito uma rainha. O deck, feito trono, erguia a majestade: coroada com cascata de pedras e folhas largas como a amazônia. Mas o esplendor iluminado doía porque era maio. Quem suportaria ficar molhado quando as nuvens piscassem o sol?

Foi quando o anfitrião alcançou a santa de todos os meninos, a bola de futebol. Reverenciaram a redonda mater e então se foram a gastar as horas da tarde.

Jogaram e bufaram tanto que venceram o outono friaco do sul e suas correntes ardidas. Bito e Miguel tinham telepatia e a única sede que contava agora era a da água infinita e azul da piscina, com seus diamantes líquidos.

Voaram como quem plana ao suor do vento rumo ao banho redentor. Lançaram-se como porcos magros, era de se estranhar a cena.

Parado ficou Fernando: fitando. Bito batia os braços e pernas e dava gritinhos contentíssimos. Migue, ao contrário, silente como farol, duro, reto, vertical. Foi-se afundando e não voltou.

Bito nada viu, mas Fernando parece que entendeu, quem sabe a piscina sussurrou. Jogou-se atrás de Migue e resgatou seu corpinho até a margem.

— Não viu que era funda? — berrou o salva-vidas.

— Vi.

— E então? É louco?

E mais gritando uns tantos palavrões enquanto o miúdo tremia e Bito se apagava.

De volta ao Monza, encharcados de revolta paterna, viajaram mudos. Bito triste da pouca vida. Migue decepcionado da pouca morte.