quinta-feira, 27 de setembro de 2007
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
Carta
Escreveu-lhe, então, uma carta que dizia assim:
"Amor,
não queria que tivesses me conhecido dessa maneira - não assim, entregue à minha condição de mulher. Porque, por dentro, sou a mulher de Vinícius (com algo além da beleza, com essa coisa que chora: uma tristeza de se saber mulher - feita apenas para amar e para sofrer pelo seu amor).
Por dentro, amor, sou Chico Buarque, também eu atrás da porta, reclamando e chorando baixinho.
Sou essa, amor, além das outras. Não te assustes tu também; porque eu mesma estou apavorada da falta tanta que sinto e da dor no coração.
E ainda por cima esse medo. Esse medo horrível e real, tão real, do fim que é imprevisível, ainda que certo.
O medo é tanto, que eu, na contra-fobia, me afasto e tomo as devidas providências - te perco de vez: eu me lanço no mundo de novo. Sem ti, é verdade. Mas, também sem a espera tão doída por ti ou por teu amor mais honesto, mais entregue.
Planejo uma retirada estratégica, à francesa - e tenho medo de fazer amor contigo.
Não quero que me vejas pela última vez, como quem vai ao velório. Não, essa não é a imagem de mim (embora também seja).
Ficas com minha saída elegante, pela porta da frente.
Fico-me pura saudade".
"Amor,
não queria que tivesses me conhecido dessa maneira - não assim, entregue à minha condição de mulher. Porque, por dentro, sou a mulher de Vinícius (com algo além da beleza, com essa coisa que chora: uma tristeza de se saber mulher - feita apenas para amar e para sofrer pelo seu amor).
Por dentro, amor, sou Chico Buarque, também eu atrás da porta, reclamando e chorando baixinho.
Sou essa, amor, além das outras. Não te assustes tu também; porque eu mesma estou apavorada da falta tanta que sinto e da dor no coração.
E ainda por cima esse medo. Esse medo horrível e real, tão real, do fim que é imprevisível, ainda que certo.
O medo é tanto, que eu, na contra-fobia, me afasto e tomo as devidas providências - te perco de vez: eu me lanço no mundo de novo. Sem ti, é verdade. Mas, também sem a espera tão doída por ti ou por teu amor mais honesto, mais entregue.
Planejo uma retirada estratégica, à francesa - e tenho medo de fazer amor contigo.
Não quero que me vejas pela última vez, como quem vai ao velório. Não, essa não é a imagem de mim (embora também seja).
Ficas com minha saída elegante, pela porta da frente.
Fico-me pura saudade".
Carta
Escreveu-lhe, então, uma carta que dizia assim:
"Amor,
não queria que tivesses me conhecido dessa maneira - não assim, entregue à minha condição de mulher. Porque, por dentro, sou a mulher de Vinícius (com algo além da beleza, com essa coisa que chora: uma tristeza de se saber mulher - feita apenas para amar e para sofrer pelo seu amor).
Por dentro, amor, sou Chico Buarque, também eu atrás da porta, reclamando e chorando baixinho.
Sou essa, amor, além das outras. Não te assustes tu também; porque eu mesma estou apavorada da falta tanta que sinto e da dor no coração.
E ainda por cima esse medo. Esse medo horrível e real, tão real, do fim que é imprevisível, ainda que certo.
O medo é tanto, que eu, na contra-fobia, me afasto e tomo as devidas providências - te perco de vez: eu me lanço no mundo de novo. Sem ti, é verdade. Mas, também sem a espera tão doída por ti ou por teu amor mais honesto, mais entregue.
Planejo uma retirada estratégica, à francesa - e tenho medo de fazer amor contigo.
Não quero que me vejas pela última vez, como quem vai ao velório. Não, essa não é a imagem de mim (embora também seja).
Ficas com minha saída elegante, pela porta da frente.
Fico-me pura saudade".
"Amor,
não queria que tivesses me conhecido dessa maneira - não assim, entregue à minha condição de mulher. Porque, por dentro, sou a mulher de Vinícius (com algo além da beleza, com essa coisa que chora: uma tristeza de se saber mulher - feita apenas para amar e para sofrer pelo seu amor).
Por dentro, amor, sou Chico Buarque, também eu atrás da porta, reclamando e chorando baixinho.
Sou essa, amor, além das outras. Não te assustes tu também; porque eu mesma estou apavorada da falta tanta que sinto e da dor no coração.
E ainda por cima esse medo. Esse medo horrível e real, tão real, do fim que é imprevisível, ainda que certo.
O medo é tanto, que eu, na contra-fobia, me afasto e tomo as devidas providências - te perco de vez: eu me lanço no mundo de novo. Sem ti, é verdade. Mas, também sem a espera tão doída por ti ou por teu amor mais honesto, mais entregue.
Planejo uma retirada estratégica, à francesa - e tenho medo de fazer amor contigo.
Não quero que me vejas pela última vez, como quem vai ao velório. Não, essa não é a imagem de mim (embora também seja).
Ficas com minha saída elegante, pela porta da frente.
Fico-me pura saudade".
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Pedido de Casamento
Cansada estava.
Ela se sentia em retalhos – os retalhos mais bonitos, todos reconfigurados em um patchwork delicado e gentil.
Mas, ela, rasgando peito adentro, incisura do amor, ouviu o chorar do homem.
Ela viu. Viu seu próprio intento.
E disse a si mesma:
Que é isso? Que fazes?
E respondeu a ela:
Me deixa viver.
A outra disse muitas justificativas, todas muito coerentes, todas elas razoáveis, avisava que aquilo não ia dar certo. Mas ela respondia:
E daí? E daí se não der certo?
A outra alertava:
Humilhação! Não vês!? Vai nos fazer humilhadas!
E ela, firme:
Nada. Vais ver só.
Foi assim que aconteceu, estou contando o que aconteceu – foi bem assim:
propôs a ele, então, casamento. Ofereceu-lhe seu pouco que era seu tudo. Disse a ele, diante de si mesma, que se abria para recebê-lo.
Disse-lhe:
Olha, vamos fazer uma vida nós dois.
Ele não quis.
Disse a ela que esperasse (a hora, a grana, a grama verde ficar amarela, as folhas caírem todas roxas, as veias fraquejarem, a menstruação vir, tartaruga brotar na areia, Alice crescer de novo, a limpeza do aquário – enfim, todas aquelas garantias de que daria certo).
A outra de dentro se retorcia de tanto rir. Ela chorava orgulhosa de ter sido si mesma – apesar de todos, tantos, claríssimos sinais de contramão. Mas, ela tinha ido. E isso era uma nova fronteira para si mesma.
Vencer uma fronteira não pode ser humilhante, pensava – a aninhar-se.
Mas o consolo não vinha. Porque colo, não tinha.
E a tristeza que dá, ela sabia de antemão. E já esperava por ela.
O outro não entrou, mas entrou a tristeza, faminta, loguinho, por dentro das frestas do peito. A tristeza a encheu toda, todinha, de lágrima. Então chorou. E falou bem alto na poesia.
A outra? Calou-se.
Quando fala a tristeza poética, todas restam emudecidas de tanto respeito.
Ela se sentia em retalhos – os retalhos mais bonitos, todos reconfigurados em um patchwork delicado e gentil.
Mas, ela, rasgando peito adentro, incisura do amor, ouviu o chorar do homem.
Ela viu. Viu seu próprio intento.
E disse a si mesma:
Que é isso? Que fazes?
E respondeu a ela:
Me deixa viver.
A outra disse muitas justificativas, todas muito coerentes, todas elas razoáveis, avisava que aquilo não ia dar certo. Mas ela respondia:
E daí? E daí se não der certo?
A outra alertava:
Humilhação! Não vês!? Vai nos fazer humilhadas!
E ela, firme:
Nada. Vais ver só.
Foi assim que aconteceu, estou contando o que aconteceu – foi bem assim:
propôs a ele, então, casamento. Ofereceu-lhe seu pouco que era seu tudo. Disse a ele, diante de si mesma, que se abria para recebê-lo.
Disse-lhe:
Olha, vamos fazer uma vida nós dois.
Ele não quis.
Disse a ela que esperasse (a hora, a grana, a grama verde ficar amarela, as folhas caírem todas roxas, as veias fraquejarem, a menstruação vir, tartaruga brotar na areia, Alice crescer de novo, a limpeza do aquário – enfim, todas aquelas garantias de que daria certo).
A outra de dentro se retorcia de tanto rir. Ela chorava orgulhosa de ter sido si mesma – apesar de todos, tantos, claríssimos sinais de contramão. Mas, ela tinha ido. E isso era uma nova fronteira para si mesma.
Vencer uma fronteira não pode ser humilhante, pensava – a aninhar-se.
Mas o consolo não vinha. Porque colo, não tinha.
E a tristeza que dá, ela sabia de antemão. E já esperava por ela.
O outro não entrou, mas entrou a tristeza, faminta, loguinho, por dentro das frestas do peito. A tristeza a encheu toda, todinha, de lágrima. Então chorou. E falou bem alto na poesia.
A outra? Calou-se.
Quando fala a tristeza poética, todas restam emudecidas de tanto respeito.
Pedido de Casamento
Cansada estava.
Ela se sentia em retalhos – os retalhos mais bonitos, todos reconfigurados em um patchwork delicado e gentil.
Mas, ela, rasgando peito adentro, incisura do amor, ouviu o chorar do homem.
Ela viu. Viu seu próprio intento.
E disse a si mesma:
Que é isso? Que fazes?
E respondeu a ela:
Me deixa viver.
A outra disse muitas justificativas, todas muito coerentes, todas elas razoáveis, avisava que aquilo não ia dar certo. Mas ela respondia:
E daí? E daí se não der certo?
A outra alertava:
Humilhação! Não vês!? Vai nos fazer humilhadas!
E ela, firme:
Nada. Vais ver só.
Foi assim que aconteceu, estou contando o que aconteceu – foi bem assim:
propôs a ele, então, casamento. Ofereceu-lhe seu pouco que era seu tudo. Disse a ele, diante de si mesma, que se abria para recebê-lo.
Disse-lhe:
Olha, vamos fazer uma vida nós dois.
Ele não quis.
Disse a ela que esperasse (a hora, a grana, a grama verde ficar amarela, as folhas caírem todas roxas, as veias fraquejarem, a menstruação vir, tartaruga brotar na areia, Alice crescer de novo, a limpeza do aquário – enfim, todas aquelas garantias de que daria certo).
A outra de dentro se retorcia de tanto rir. Ela chorava orgulhosa de ter sido si mesma – apesar de todos, tantos, claríssimos sinais de contramão. Mas, ela tinha ido. E isso era uma nova fronteira para si mesma.
Vencer uma fronteira não pode ser humilhante, pensava – a aninhar-se.
Mas o consolo não vinha. Porque colo, não tinha.
E a tristeza que dá, ela sabia de antemão. E já esperava por ela.
O outro não entrou, mas entrou a tristeza, faminta, loguinho, por dentro das frestas do peito. A tristeza a encheu toda, todinha, de lágrima. Então chorou. E falou bem alto na poesia.
A outra? Calou-se.
Quando fala a tristeza poética, todas restam emudecidas de tanto respeito.
Ela se sentia em retalhos – os retalhos mais bonitos, todos reconfigurados em um patchwork delicado e gentil.
Mas, ela, rasgando peito adentro, incisura do amor, ouviu o chorar do homem.
Ela viu. Viu seu próprio intento.
E disse a si mesma:
Que é isso? Que fazes?
E respondeu a ela:
Me deixa viver.
A outra disse muitas justificativas, todas muito coerentes, todas elas razoáveis, avisava que aquilo não ia dar certo. Mas ela respondia:
E daí? E daí se não der certo?
A outra alertava:
Humilhação! Não vês!? Vai nos fazer humilhadas!
E ela, firme:
Nada. Vais ver só.
Foi assim que aconteceu, estou contando o que aconteceu – foi bem assim:
propôs a ele, então, casamento. Ofereceu-lhe seu pouco que era seu tudo. Disse a ele, diante de si mesma, que se abria para recebê-lo.
Disse-lhe:
Olha, vamos fazer uma vida nós dois.
Ele não quis.
Disse a ela que esperasse (a hora, a grana, a grama verde ficar amarela, as folhas caírem todas roxas, as veias fraquejarem, a menstruação vir, tartaruga brotar na areia, Alice crescer de novo, a limpeza do aquário – enfim, todas aquelas garantias de que daria certo).
A outra de dentro se retorcia de tanto rir. Ela chorava orgulhosa de ter sido si mesma – apesar de todos, tantos, claríssimos sinais de contramão. Mas, ela tinha ido. E isso era uma nova fronteira para si mesma.
Vencer uma fronteira não pode ser humilhante, pensava – a aninhar-se.
Mas o consolo não vinha. Porque colo, não tinha.
E a tristeza que dá, ela sabia de antemão. E já esperava por ela.
O outro não entrou, mas entrou a tristeza, faminta, loguinho, por dentro das frestas do peito. A tristeza a encheu toda, todinha, de lágrima. Então chorou. E falou bem alto na poesia.
A outra? Calou-se.
Quando fala a tristeza poética, todas restam emudecidas de tanto respeito.
Pedido de Casamento2
E dentro, mais lá dentro ainda,
Respirava aliviada aquela
(Aquela bem do canto)
Que tinha medo
(Mas muito medo)
De ser feliz.
Respirava aliviada aquela
(Aquela bem do canto)
Que tinha medo
(Mas muito medo)
De ser feliz.
Pedido de Casamento2
E dentro, mais lá dentro ainda,
Respirava aliviada aquela
(Aquela bem do canto)
Que tinha medo
(Mas muito medo)
De ser feliz.
Respirava aliviada aquela
(Aquela bem do canto)
Que tinha medo
(Mas muito medo)
De ser feliz.
domingo, 23 de setembro de 2007
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
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