- O valor em mim, quem dá sou eu.
Pensava ela, no mundo dela.
É que ela viu que o valor em si não existe. É de cada um a possibilidade de reconhecer-se em alguém.
- A paixão que tenho, faz o outro em mim. São minhas também todas essas coisas.
Pensava ela, no mundo dela.
Já que ela não podia ser outra; se os seus desenhos não eram como os de Picasso (eram como os dela eram); se a sua dança não era como a de ninguém (era como a dança dela era); então sobrava ela, dentro da realidade que ela podia reconhecer (era como a realidade dela era).
Então sobrava pouco.
E ela aceitou seu pouco - e tratou de versificá-lo em prosa des-rimada (que era como a prosa dela era).
Vestiu seu corpo, com a roupa que tinha ( e que era como a roupa dela era) e pensou que havia muitas outras opções de ser quem ela era.
Depois duvidou que realmente existissem essas opções - umas tais escolhas, sem razão nenhuma.
Então não eram escolhas: era como ela era.
Então seu pensamento encolheu-se, perdeu a garbosidade. Ele não era mais pensamento dela - era pensamento que vinha de uma outra ela, uma que também era ela. Mas que ela desconhecia. E, naquele momento, viu que ela era quem ela era, seja lá quem fosse ela - e por menos que se conhecesse.
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