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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Esse teu olhar

EPITÁFIO
Tinha orgulho de seus olhos
porque mudavam de cor.


- Amor, eu estou tão envergonhada.

Confesso chorando dentro do carro.

Gosto de falar coisas importantes dentro do meu Twingo estacionado, com motor rosnando, ar condicionado zunindo e vidros fumê selados. É como instalar um confessionário moderno, uma namoradeira com vedação sonora, uma câmara acústica. Em nenhum outro lugar me sinto tão resguardada.

Enfim, chorava e confessava minha vergonha por ter mexido no celular dele.

Sim, eu mexi no celular dele. Aconteceu uma única vez, não irá se repetir. É simples: não espero não achar nada. Sempre haverá alguma coisinha naquele blackshitberry dele. Essas coisas estarão em qualquer blackbosta, de qualquer um: (já disse Tom Zé) é somente requentar e usar.

Foi uma madrugada insone, um lapso. Doeu demais. Levei dois dias me contorcendo até explodir:

- Quem é Julia?

- Que Julia?

- Uma de quem tu guarda os olhos no céu da boca. E manda beijo. E chama de mulher maravilhosa. E no aniversário manda os lábios embrulhados para viagem!! (Uááááááá)

- Ah, essa Julia. Amor. A Julia é atriz, minha amiga de São Paulo. Sabe como eu sou carinhoso nas mensagens.

- Eu sei, mas é que...
(uáááááá)(uáááááá)(uáááááá)

Centenas de Uááás depois, passou a tristeza.

Veio o ódio estratosférico. A vontade de esmagar aquela cabeça sedutora dos infernos.

Carinhosos são os meus amigos. Aquilo é ser passado, safado, Canalha! Que ódio.

Morte com uma marretada. O sangue banhando suas pupilas anisocóricas (uma dilatada e outra contraída): que é para ter certeza de que morreu com o cérebro pifado.

E com jabuticabas sortidas nas órbitas.

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