EPITÁFIO
Tinha orgulho de seus olhos
porque mudavam de cor.
Tinha orgulho de seus olhos
porque mudavam de cor.
- Amor, eu estou tão envergonhada.
Confesso chorando dentro do carro.
Gosto de falar coisas importantes dentro do meu Twingo estacionado, com motor rosnando, ar condicionado zunindo e vidros fumê selados. É como instalar um confessionário moderno, uma namoradeira com vedação sonora, uma câmara acústica. Em nenhum outro lugar me sinto tão resguardada.
Enfim, chorava e confessava minha vergonha por ter mexido no celular dele.
Sim, eu mexi no celular dele. Aconteceu uma única vez, não irá se repetir. É simples: não espero não achar nada. Sempre haverá alguma coisinha naquele blackshitberry dele. Essas coisas estarão em qualquer blackbosta, de qualquer um: (já disse Tom Zé) é somente requentar e usar.
Foi uma madrugada insone, um lapso. Doeu demais. Levei dois dias me contorcendo até explodir:
- Quem é Julia?
- Que Julia?
- Uma de quem tu guarda os olhos no céu da boca. E manda beijo. E chama de mulher maravilhosa. E no aniversário manda os lábios embrulhados para viagem!! (Uááááááá)
- Ah, essa Julia. Amor. A Julia é atriz, minha amiga de São Paulo. Sabe como eu sou carinhoso nas mensagens.
- Eu sei, mas é que...
(uáááááá)(uáááááá)(uáááááá)
Centenas de Uááás depois, passou a tristeza.
Veio o ódio estratosférico. A vontade de esmagar aquela cabeça sedutora dos infernos.
Carinhosos são os meus amigos. Aquilo é ser passado, safado, Canalha! Que ódio.
Morte com uma marretada. O sangue banhando suas pupilas anisocóricas (uma dilatada e outra contraída): que é para ter certeza de que morreu com o cérebro pifado.
E com jabuticabas sortidas nas órbitas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário