Estava na festa de 50 anos da Diana Corso, um jantar entre amigos. Todas as mulheres sentadas no sofá; os homens, em pé ao redor da mesa. Até hoje não entendo o motivo destes clubes do Bolinha e da Luluzinha, mas sempre acho graça. A conversa girava mais para comentários evasivos, não havia engatado, o pessoal se estudando e se conhecendo. Até que uma delas disse que não
usava salto pelo desequilíbrio:
- Eu caio, sou desengonçada.
Ali, naquele momento, acendeu a cumplicidade feminina. Como?
- Quanto você calça?
- 37.
- Eu também.
Logo tirei meu salto para que experimentasse. Ela desfilou. Gostou. As outras perderam o pudor para também testar o meu par. Começamos a rir, abriu-se o sinal verde da confidência. A mulher usa a aparência para encontrar a verdade. Para ajudar a verdade.
É pela superfície que entendemos o fundo.
Não apenas somos próximas: somos acessíveis fisicamente uma para a outra. A amizade entre mulheres permite carinho, dividir a cama, fazer cafuné, andar de mãos dadas.
Quando fiz treze anos, meu pai me chamou para um solene diálogo:
- Pode confessar. Já sei que está namorando aquela Mírian.
Namorando a Mírian? Que comédia. Eu e minha melhor amiga gastávamos horas e horas ao telefone, escrevíamos cartas, trocávamos segredos. A maior parte sobre meninos. Quem não conhece o grau de entrega, pode desconfiar e achar que é amasso.
Há uma espontaneidade que a ala masculina não conhece e não tenta. Imagine um bando de marmanjos no vestiário calçando a chuteira do colega? Ou numa festa, repassando um sapato italiano?
É recente a abertura de alguns meninos, dados à carícia e à sentimentalidade. Alguns recriminam as atitudes, mas pode ser que sejam uma resposta a tanta falta de contato. Carência nunca foi questão de gênero.
ASSISTA ESTA CRÔNICA FALADA
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Crônica Falada é um quadro do Programa Camarote TVCOM
Apresentação: @katiasuman
Crônica exibida em 27.10.2010
Essa divisão em caixas me lembra um livro do Graham Greene...
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