....

sábado, 8 de janeiro de 2011

Quem me dera ser um peixe.



EPITÁFIO
Último dia de aquário,
Primeiro dia de peixes.


Entrei no banheiro, a porta aberta. Lá estava Bitols, em pé, de frente ao vaso.

- Opa! Tava aberta.

- Tudo bem, terminando aqui.

A cena natural, tranquila. Intimidade tem seus flagrantes.

Seria passageira não fosse o detalhezinho sobre a louça branca. O disco alvejado, o donut das nádegas, o mal-falado suporte de rabo repousava sobre a base.

Claro que em geral nos queixamos de que o esquecem em guarda, feito descolorido sentinela londrino, e, desavisadas, acabamos com a bunda na friaca, gelando as dobras de carne na fina borda da patente. Especialmente na madrugada.

Não era o caso.

Mais de uma vez já tinha me perguntado o que eu fiz para merecer essa maravilha de companheiro que jamais esquece o sanitário careca?

Justo ele que está sempre tonto de pressa e compromissos, abandona o zíper arreganhado, as cuecas ao vento, correndo como lebre da Alice: como é que lembra de garantir meu pedestal?

Ali estava a resposta: ele mijava com o treco abaixado. Não sentado, mas ortostático, feito Fontana di Trevi, mirando no alvo reduzido. E eu duvidando da capacidade da hidra, chamando técnico para revisar a descarga que vazava, mas só de vez em quando. Não se descobria o defeito.

Elementar, minha cara: aqueles pinguinhos não eram água.

Desci o sarrafo em forma de discurso eloquente para demonstrar a gravidade da situação.

Fui-me berrando de dedo em riste e perguntando se não bastavam as danceterias e seus toiletes públicos, para onde marchamos com saltos e plataformas monumentais.

Imagina que o banheiro feminino é mais organizado e sanitizado que o masculino? Nunca! Porque mal sabem vocês, os cabras, que nossos sapatos não apenas elevam os traseiros à lua contrariando a gravidade, mas também são galochas para atravessar o pântano que respira no Water Closet. Eu te explico, já que está com cara de interessado. O habitat natural nasce graças ao efeito borboleta de nosso hábito urinário.

Funciona assim: a primeira moça entra no quadradinho, desveste as calças justas que mal permitem mover as pernas uma vez deprimidas à altura das coxas; ela não se apóia em nenhum lugar com asco da latrina; inicia a descida com o quadril e pára a 45 graus; numa festa, bêbada, a mulher quase faz xixi de pé; e começa a tremer durante o agachamento prolongado; então ela tenta, em vão, jorrar o líquido áureo com algum controle; a seguir, livra-se do papel higiênico porcamente, pois está louca para sair dali. A segunda senhorita, precisará vencer os obstáculos herdados da primeira; à terceira miss caberá a árdua tarefa de desviar dos destroços da segunda e assim por diante. Às três da manhã, tcharans: eis o atoleiro.

Não chega para você que tenhamos a uretra mais curta, a bexiga mais cheia, a insalubridade dos absorventes descartados, os canos entupidos pelos ob’s arremessados, o excesso de líquido que bebemos para diminuir o apetite, as filas intermináveis, os trocadores com bebês e fraldas feito brejos nos shoppings, nos supermercados e até nas igrejas.

Nãããão. Que sorte a minha contar com você para garantir que a saga se perpetue dentro de casa.

Pois foi assim. Jurou que era a única vez, era inédito. Foi apelar ao filho, pediu confirmação do Vicente que saiu dizendo que ele faz isso só umas cinco a cada dez vezes.

Ok. No Vicente eu acredito. Afogo só metade. 50%. É justo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário