Gisela Sparremberger — foto: Cinthya Verri |
“Que mulher não gostaria de voltar dez quilos atrás? Basta manter o mesmo peso que tenho agora. Quando o bebê nascer, lá se vai o peso que ele representava. Essa fantasia de que grávida precisa de mais comida é discurso de baleia”.
Diz Biafra, minha personagem fictícia. Ela é uma jovem médica que sofre com a Pregorexia — o transtorno alimentar durante a gestação.
PREGORÉXICA é a gestante que dispensa a fila preferencial, como um orgulhoso aposentado; que sente vergonha de sentir necessidades especiais; que não quer mudar nada em sua vida “apenas” porque está grávida; que luta contra a mudança natural do corpo; que questiona o corpo abaulado como sendo natural.
“Mas, e a barriga? Porque se a atriz não usar uma barriga, o público vai achar que precisa imaginar uma”. Questionou Ismael Caneppele, meu amigo que lia o texto enquanto preparávamos a peça.
Pois é. E a barriga? Precisei explicar ao Isma que as pregoréxicas não têm barriga, mas uma barricada de músculos abdominais.
O fenômeno das grávidas sem barriga se dissemina. Basta uma pesquisa rápida na internet e surgem modelos já famosas por seu corpo contendo bebês invisíveis de oito meses de idade. Estão estampadas em campanhas publicitárias, ovacionadas ao exibirem seus corpos construídos com esmero. É o Ultimate Fighting da mulher: barriga sarada durante os nove meses. O útero subindo por trás das paredes; a musculatura túrgida no biquíni, nenhuma caloria a mais.
Especialistas afirmam que a saúde do bebê pode ser acompanhada através dos parâmetros da ecografia. Isso explica porque o bebê de Sarah Stage, modelo que exibiu a ausência da barriga nas redes sociais durante toda a gestação, nasceu com mais de três quilos e saúde aparentemente perfeita.
De fato, o desenvolvimento físico dos bebês não parece ser prejudicado, exceto nos casos extremos de restrição alimentar. Mas como medir o desenvolvimento psíquico e afetivo dos filhos da pregorexia? Qual é o preço da gravidez invisível?
O bebê precisa ser reconhecido, deve ser tornado plenamente visível, especialmente aos olhos da mãe.
A grávida não precisa ser gorda. A grávida precisa ser ampla, infinita no espaço que cria para seu bebê. Deixar-se ser uma grávida não é essencial para a sobrevivência do embrião, mas é essencial para tudo o mais que é invisível. O bebê não existe sem a mãe e a mãe não existe sem o bebê.
Quem dera Biafra fosse um estranho fruto de minha imaginação que vivesse somente no palco.
Diz Biafra, minha personagem fictícia. Ela é uma jovem médica que sofre com a Pregorexia — o transtorno alimentar durante a gestação.
PREGORÉXICA é a gestante que dispensa a fila preferencial, como um orgulhoso aposentado; que sente vergonha de sentir necessidades especiais; que não quer mudar nada em sua vida “apenas” porque está grávida; que luta contra a mudança natural do corpo; que questiona o corpo abaulado como sendo natural.
“Mas, e a barriga? Porque se a atriz não usar uma barriga, o público vai achar que precisa imaginar uma”. Questionou Ismael Caneppele, meu amigo que lia o texto enquanto preparávamos a peça.
Pois é. E a barriga? Precisei explicar ao Isma que as pregoréxicas não têm barriga, mas uma barricada de músculos abdominais.
O fenômeno das grávidas sem barriga se dissemina. Basta uma pesquisa rápida na internet e surgem modelos já famosas por seu corpo contendo bebês invisíveis de oito meses de idade. Estão estampadas em campanhas publicitárias, ovacionadas ao exibirem seus corpos construídos com esmero. É o Ultimate Fighting da mulher: barriga sarada durante os nove meses. O útero subindo por trás das paredes; a musculatura túrgida no biquíni, nenhuma caloria a mais.
Especialistas afirmam que a saúde do bebê pode ser acompanhada através dos parâmetros da ecografia. Isso explica porque o bebê de Sarah Stage, modelo que exibiu a ausência da barriga nas redes sociais durante toda a gestação, nasceu com mais de três quilos e saúde aparentemente perfeita.
De fato, o desenvolvimento físico dos bebês não parece ser prejudicado, exceto nos casos extremos de restrição alimentar. Mas como medir o desenvolvimento psíquico e afetivo dos filhos da pregorexia? Qual é o preço da gravidez invisível?
O bebê precisa ser reconhecido, deve ser tornado plenamente visível, especialmente aos olhos da mãe.
A grávida não precisa ser gorda. A grávida precisa ser ampla, infinita no espaço que cria para seu bebê. Deixar-se ser uma grávida não é essencial para a sobrevivência do embrião, mas é essencial para tudo o mais que é invisível. O bebê não existe sem a mãe e a mãe não existe sem o bebê.
Quem dera Biafra fosse um estranho fruto de minha imaginação que vivesse somente no palco.
[Publicado no Jornal do Comércio, 12/05/2015]
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