Minha mãe não me ensinou a ser mulher para um homem.
Meu pai só me atrapalhou.
Quando nasci, publicaram nota no jornal de Constantina:
"A Panterinha dos Pampas, que chegou para ser a companheirinha da mamãe".
Não há como ser feliz. Conseguiram afastar os candidatos das duas próximas gerações.
Recebi instrução Maiko da pior qualidade. Digo da pior qualidade e Maiko porque nasci gueixa ocidental. E isso não se escolhe.
No tempo de doutoranda, estreando no hospital, os colegas me reconheciam: "Inadequada para Mais". Foi o único concurso que ganhei. Também se recebesse o título de Miss Constantina, não faria muita diferença.
Eu sobrava. Em competência, em agilidade, em persistência. Inadequada para o amor. Porque tinha muita informação, muito zelo, muita dedicação. Inadequada para mais.
Mais um motivo para desejar ser gueigi: por aquilo que sofri e por aquilo que não deixei de sofrer. Poderia até dormir com madeiras ao pescoço para proteger o penteado. Tudo o que produzo e tudo no que me produzo é para eu-outro. Sem outro a quem amar, perco o sentido, não existo, não sou eu
Eu vejo acontecendo uma emancipação feminina às avessas, com destino à solitude. A tentativa triste de independência, com desvalia de ser junto, de atender, de servir a quem se ama, de somar ao diferente, de apaziguar-se na diligência. Diligens é latim e significa aquele que ama. É a disposição de não se economizar.
Teorizo que é uma compensação feita pelas filhas de pais queixosos que não tiveram coragem de se divorciar. Meninas que nunca tentaram, mas 'viver junto não dá'.
Ouço lamentos sobre a falta de cuidado de parceiros desatentos, sem uma nesga de cavalheirismo ou um grauzinho de quentura masculina. Mas se isso não é oferecido, se o feminino clássico não é desenvolvido, não há convite. Ficam dois andrógenos se faltando. E culpar não resolve nada.
On the other hand, eu me habilito em muito do que eu preciso - abro potes, troco lâmpadas, gás, programo qualquer equipamento eletrônico, troco pneus, resistência de chuveiro, spots de luz, faço furos com furadeira, monto móveis, dirijo. Uma vez instalei uma torneira.
Isso não tem rigorosamente nada que ver com o quanto preciso de um homem.
(cantando Fitzgerald: A house is just a house. A house is not a home without a man around the house.)
Meu pai só me atrapalhou.
Quando nasci, publicaram nota no jornal de Constantina:
"A Panterinha dos Pampas, que chegou para ser a companheirinha da mamãe".
Não há como ser feliz. Conseguiram afastar os candidatos das duas próximas gerações.
Recebi instrução Maiko da pior qualidade. Digo da pior qualidade e Maiko porque nasci gueixa ocidental. E isso não se escolhe.
No tempo de doutoranda, estreando no hospital, os colegas me reconheciam: "Inadequada para Mais". Foi o único concurso que ganhei. Também se recebesse o título de Miss Constantina, não faria muita diferença.
Eu sobrava. Em competência, em agilidade, em persistência. Inadequada para o amor. Porque tinha muita informação, muito zelo, muita dedicação. Inadequada para mais.
Mais um motivo para desejar ser gueigi: por aquilo que sofri e por aquilo que não deixei de sofrer. Poderia até dormir com madeiras ao pescoço para proteger o penteado. Tudo o que produzo e tudo no que me produzo é para eu-outro. Sem outro a quem amar, perco o sentido, não existo, não sou eu
Eu vejo acontecendo uma emancipação feminina às avessas, com destino à solitude. A tentativa triste de independência, com desvalia de ser junto, de atender, de servir a quem se ama, de somar ao diferente, de apaziguar-se na diligência. Diligens é latim e significa aquele que ama. É a disposição de não se economizar.
Teorizo que é uma compensação feita pelas filhas de pais queixosos que não tiveram coragem de se divorciar. Meninas que nunca tentaram, mas 'viver junto não dá'.
Ouço lamentos sobre a falta de cuidado de parceiros desatentos, sem uma nesga de cavalheirismo ou um grauzinho de quentura masculina. Mas se isso não é oferecido, se o feminino clássico não é desenvolvido, não há convite. Ficam dois andrógenos se faltando. E culpar não resolve nada.
On the other hand, eu me habilito em muito do que eu preciso - abro potes, troco lâmpadas, gás, programo qualquer equipamento eletrônico, troco pneus, resistência de chuveiro, spots de luz, faço furos com furadeira, monto móveis, dirijo. Uma vez instalei uma torneira.
Isso não tem rigorosamente nada que ver com o quanto preciso de um homem.
(cantando Fitzgerald: A house is just a house. A house is not a home without a man around the house.)
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