Quando me convidaram para morar na Amazônia, eu fui. Pensei que, se não ousasse, jamais saberia o gosto da costela de tambaqui e a alegria de não ter uma profissão definida e experimentar talentos. Quando me chamaram de volta ao Rio Grande do Sul, eu voltei. Se ficasse lá, jamais saberia o que é abrir e gerenciar uma clínica médica.
Se não é por dentro do movimento, não estamos. É claro que toda decisão tem particularidades. Mas conjecturar e nunca definir um lado significa que tentamos ser perfeitos. É porque acreditamos que a premeditação pode nos salvar de errar, embora o perfeccionismo somente aprisione.
A natureza tem um ciclo a ser cumprido. Toda idade termina, a escola modifica, as relações influenciam, o corpo transgride a forma. A única permanência é a da mudança.
Ninguém consegue ficar parado. Na verdade, nem a dor que vive chantageando novas lembranças.
Quando uma coisa trágica acontece, queríamos que isso fosse diferente e nos mantemos imóveis cuidando da ferida. Não arredamos o pé para continuar desfrutando da autoridade do sofrimento.
Estamos no terreno da loucura. Uma ideia de que o tempo para e espera por nós. Nada pode continuar antes que o impasse se resolva. Ficamos congelados.
O pensamento como um disco riscado, um labirinto, um cachorro atrás do rabo.
O rancor e o mal-estar permanentes, a certeza de que amanhã também estaremos mal. Dá até uma esperança a própria desesperança.
Junto e de lambuja sentiremos a ilusão de comandar os eventos: não concordamos com o que aconteceu, não poderia ter acontecido. Portanto não podemos abandoná-lo. O ressentimento é trancar-se numa desculpa.
É esse o tempo da doença: quando tudo está cristalizado, como se a memória esperasse nossa decisão e, com isso, garantimos a ilusão de não enfrentar o fim e de imortalizar a dúvida.
Não é uma questão de rotina; é a repetição do sofrimento. É por dentro desse emaranhado que vamos evitando de encarar e perder de vez o que é para ser perdido, a perda necessária. Sem abrir mão, não podemos ir adiante.
Trauma dá muito trabalho. Perder custa, mas muito mais custa manter-se contra a corrente.
Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM.
Apresentação @katiasuman.
Crônica de @cinthyaverri exibida em 30/06/10.
Não é nada agradável participarmos de perdas, mas fazem parte da vida, e essa, só passa.
ResponderExcluirJefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com
Necessário era alguém ter conversado comigo isso antes!
ResponderExcluirAdorei o comentário do filme. Vou assistir o filme novamente. Eu gostaria de ter um CINETERAPIA aqui na minha cidade :( !!!! Beijos
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