Sylvia Ji's "Señora de las Sombras"
Saí do aeroporto e corri um táxi no Rio de Janeiro. Sol lindo, céu lindo, mar lindo. Não dá pra puxar assunto sobre o tempo com o motorista. Sobram as notícias da semana:
- Que o senhor acha do caso do Bruno, hein?
- Não quero falar sobre esses assuntos. Esses assuntos trazem uma vibração ruim.
Tá bem. Deixei ele fazer as vezes de maestro do diálogo. Saiu-se com um discurso sobre políticos. Emendou em crimes políticos. Espichou com sentenças sobre corrupção e, de repente:
- É, mas a culpa é do pai dessa menina que não criou direito. Não sabe que se envolver com jogador de futebol é assim? Era uma vagabunda. O importante é ter Jesus no coração. Se tivesse Jesus no coração, não tinha terminado assim.
Pronto. Encerrada a conversa. Realmente, trouxe vibrações ruins, ele não devia ter falado sobre isso. Fechou o tempo pra mim. Passei remoendo a afirmação machista daquele representante do trânsito. Generalizei e tive ódio daqueles que acreditam que uma mulher assassinada pode ser culpada da própria violência que sofreu. Raptada, espancada e desacordada. Por fim, mutilada. Virou comida de cachorro. Seus ossos adubaram o concreto. E a culpa foi dela? Ela que escolheu esse destino?
O Brasil mata dez mulheres por dia há dez anos. Sempre por motivos domésticos. Somos o terceiro país no mundo, atrás da Colômbia e da África do Sul. Achamos que somos emergentes, que nosso país cresce a olhos vistos, temos shoppings, hipermercados, rodovias, cidades, gigantes pela própria natureza. Ainda pré-históricos nos relacionamentos.
Mulheres procuram os consultórios por problemas de sexualidade. São reprimidas desde a infância, criadas para a frigidez. Embotadas no afeto do corpo porque isso ta,bém garante sua vida. Como? Porque uma mulher que tem prazer com o próprio marido é perigosa. Ela pode ter prazer também com outros homens. Uma mulher que não se interessa por sexo é uma fonte de prazer para o parceiro. E só.
Em qualquer das camadas socias assistimos a desigualdade como se fosse banal. A capacidade de assombro está fazendo muita falta.
Aqui não estamos precisando de educação para não bater na mulher. Aqui ainda precisamos educar para não matar a mulher.
- Que o senhor acha do caso do Bruno, hein?
- Não quero falar sobre esses assuntos. Esses assuntos trazem uma vibração ruim.
Tá bem. Deixei ele fazer as vezes de maestro do diálogo. Saiu-se com um discurso sobre políticos. Emendou em crimes políticos. Espichou com sentenças sobre corrupção e, de repente:
- É, mas a culpa é do pai dessa menina que não criou direito. Não sabe que se envolver com jogador de futebol é assim? Era uma vagabunda. O importante é ter Jesus no coração. Se tivesse Jesus no coração, não tinha terminado assim.
Pronto. Encerrada a conversa. Realmente, trouxe vibrações ruins, ele não devia ter falado sobre isso. Fechou o tempo pra mim. Passei remoendo a afirmação machista daquele representante do trânsito. Generalizei e tive ódio daqueles que acreditam que uma mulher assassinada pode ser culpada da própria violência que sofreu. Raptada, espancada e desacordada. Por fim, mutilada. Virou comida de cachorro. Seus ossos adubaram o concreto. E a culpa foi dela? Ela que escolheu esse destino?
O Brasil mata dez mulheres por dia há dez anos. Sempre por motivos domésticos. Somos o terceiro país no mundo, atrás da Colômbia e da África do Sul. Achamos que somos emergentes, que nosso país cresce a olhos vistos, temos shoppings, hipermercados, rodovias, cidades, gigantes pela própria natureza. Ainda pré-históricos nos relacionamentos.
Mulheres procuram os consultórios por problemas de sexualidade. São reprimidas desde a infância, criadas para a frigidez. Embotadas no afeto do corpo porque isso ta,bém garante sua vida. Como? Porque uma mulher que tem prazer com o próprio marido é perigosa. Ela pode ter prazer também com outros homens. Uma mulher que não se interessa por sexo é uma fonte de prazer para o parceiro. E só.
Em qualquer das camadas socias assistimos a desigualdade como se fosse banal. A capacidade de assombro está fazendo muita falta.
Aqui não estamos precisando de educação para não bater na mulher. Aqui ainda precisamos educar para não matar a mulher.
Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM.
Apresentação @katiasuman.
Crônica de @cinthyaverri exibida em 07/07/10.
provavelmente o taxista era flamenguista(e doente).
ResponderExcluirÉ incrivel a capacidade de culpar as vítimas pra se livrar do problema.
ResponderExcluirJá vi gente culpando a criança pela pedofilia, a mulher pelo assassinato... É bem mais fácil pra alguns por a culpa no morto, afinal, ele não vai vir se defender.
Linda . PARABÉNS,
ResponderExcluir.estou acompanhando seu Trabalho.
-não sei se
Te convido para entrar na :
"LIGA DA JUSTIÇA".
.ou SE caso com uma doutora e viro "DO.LAR" ... Hé , Hé ...
Estou ENCANTADO... : BEIJOS ...
A violência contra a mulher é uma verdade triste e cruel.. Dá nojo esse povo que diz que mulher é a culpada da vilência que sofre.. Mentes pequenas.. Gente pequena... País pobre e pequeno...
ResponderExcluirE dá no que dá, no que já deu...
egosatira,
ResponderExcluir;)doente e normal.
Alana,
ResponderExcluiré isso. Penso como tu: que é pra gente achar que isso jamais aconteceria conosco.
Beijo
Lobo,
ResponderExcluirvirar do lar não é pra qualquer um, hein?
Déborah,
ResponderExcluira gente precisa falar muuuito sobre isso, a ver se tocamos o pessoal pra gravidade do troço.
Beijoo
Entendo que foi violência gerando violência, num antro de iguais.
ResponderExcluirJosé Joaquim,
ResponderExcluirentendo, mas ela foi assassinada - é como disse antes: não dá pra culpar a mulher pelo que aconteceu com ela. Sei qeu fala como alguém que olha um grupo de pessoas com certa conduta, mas o assassinato de mulheres no Brasil é absurdo e não respeita classe social, entende? Eu acredito que vai além disso.
Beijo!