Achamos que um bom negociante aprendeu com o pai. Não é verdade. Um bom negociante é aquele que põe a mãe no meio.
É com a mãe que aprendemos a nos traduzir. Lá nos primórdios, quando éramos um bebê, chorávamos. A mãe distinguia e avisava:
- Ah, você está com fome.
A gente não sabia. A gente só gritava. E a mãe conversava:
- Ah, você está com sede.
- Ah, você está com cólica.
- Ah, você está com sono.
Sono? A gente ainda duvidava, lá na fase dos porquês. Chatíssimos, deambulando pela sala:
- Não estou com sono!
Mas ao pousar no travesseiro, a infalível verdade caía sobre nossas pálpebras. Dormíamos profundamente.
Esse modo dicionário é prerrogativa da mãe. Na hora de negociar, quem teve uma professora de linguagem corporal suficientemente boa conseguirá melhores resultados. Caso contrário, a irritação chegará aos nossos ouvidos quando a voz já estiver alterada, quando o estrago já avermelhar o extrato do banco.
É comum atribuir ao outro a origem da briga, declarar que não havia outra saída a não ser partir para o desaforo. A verdade é que, a qualquer momento, o sujeito pode avisar de que está a ponto de explodir; sentir um frio na barriga e comunicar, igual sua mama fazia:
- Ah, você está ficando nervoso.
Ligar o alerta é fundamental, questão de prática e de senso. Antecipar minutos antes de perder a linha é decisivo. Não é à toa que italianos e judeus ganharam fama de grandes negociantes. Saem fácil da cena, adoram conversar com sua maternidade.
É gente que desiste do orgulho, troca o tacape pelo rolo de massa e jamais deixa o sono levar a paciência embora.
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Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM.
Apresentação @katiasuman
Crônica de @cinthyaverri exibida em 29/09/10
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