terça-feira, 25 de dezembro de 2007
Depois do dia de natal
Que Papai Noel assim como é visto
Vermelho e branco (e de toca)
Foi inventado pela Coca-Cola
Numa propaganda em 1931
E olha que duvidei
Mas parece que é verdade
Campanhas publicitárias
Permeiam nossa fantasia
Mais do que eu pensava
(ainda mais do que eu pensava)
Parece que a minha questão sobre
Se é bom ou não
Mentir para as crianças
Sobre Papai Noel
Fica cada vez mais controversa.
Eu até gostava de Papai Noel
(gostava mesmo dos brinquedos)
Mas...
Gostava mais ainda de Coelho da Páscoa
(Que nunca me perguntou
Se eu era uma boa menina)
Depois do dia de natal
Que Papai Noel assim como é visto
Vermelho e branco (e de toca)
Foi inventado pela Coca-Cola
Numa propaganda em 1931
E olha que duvidei
Mas parece que é verdade
Campanhas publicitárias
Permeiam nossa fantasia
Mais do que eu pensava
(ainda mais do que eu pensava)
Parece que a minha questão sobre
Se é bom ou não
Mentir para as crianças
Sobre Papai Noel
Fica cada vez mais controversa.
Eu até gostava de Papai Noel
(gostava mesmo dos brinquedos)
Mas...
Gostava mais ainda de Coelho da Páscoa
(Que nunca me perguntou
Se eu era uma boa menina)
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
Angst
Como se diante da delícia
Existisse uma ante-dor
Uma ante-sala, um abre-alas
Um aviso que o prazer é dor
Rasgando por dentro de si
E já imediatamente saindo.
O prazer
Nada podemos para mantê-lo
Agarrá-lo, prendê-lo, amordaçá-lo;
De imediato ele se esvai
Como se fosse éter
Como se fosse mágica
A paixão se inicia
Etílica, crisálida, florescida
E já doendo em latidas
Já sabemos: é o fim
Já perdemos; já está perdido.
É perdido - compreende?
No que nasce, já é perdido
O Outro
Incorporado já,
Perdeu o corpo
E já se foi
Como a paixão
Que é quase como se não estivesse
Mas não como se nunca tivesse estado.
Abre-se a realidade nova
Tudo criação
Abre-se como quando se aprende a ler
Um mundo que nem se via
A não ser como manchas sobre os papéis entre as fotos.
A poesia, não existia ainda
Nem lua, nem flores, nem bichos
Nem homem, nem fungos, nem nada
A paixão é deus.
Angst
Como se diante da delícia
Existisse uma ante-dor
Uma ante-sala, um abre-alas
Um aviso que o prazer é dor
Rasgando por dentro de si
E já imediatamente saindo.
O prazer
Nada podemos para mantê-lo
Agarrá-lo, prendê-lo, amordaçá-lo;
De imediato ele se esvai
Como se fosse éter
Como se fosse mágica
A paixão se inicia
Etílica, crisálida, florescida
E já doendo em latidas
Já sabemos: é o fim
Já perdemos; já está perdido.
É perdido - compreende?
No que nasce, já é perdido
O Outro
Incorporado já,
Perdeu o corpo
E já se foi
Como a paixão
Que é quase como se não estivesse
Mas não como se nunca tivesse estado.
Abre-se a realidade nova
Tudo criação
Abre-se como quando se aprende a ler
Um mundo que nem se via
A não ser como manchas sobre os papéis entre as fotos.
A poesia, não existia ainda
Nem lua, nem flores, nem bichos
Nem homem, nem fungos, nem nada
A paixão é deus.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
contiguidade
contíguo (essa palavra que tanto tenho feito gosto)
a tanta dor no meu corpo
essas dores infecciosas que eu desconhecia
e que (re)funciono e (re)posiciono de âncora para a sanidade mental minha
essas dores
demarcam, desenham o contorno, recortam do alheio
as atitudes minhas, meus cuidados, minhas atenções
minhas desatenções
são imediatamente respondidas
com latejamento e prostração física
meus abusos
são instantaneamente retribuídos
com cansaço e necessidade de reparação
meu corpo, assim
é doutrina minha
única
mente (é só)
é a destituição derradeira
(dessa vez)
da autodemanda
e a eleição do desejo
como primeiro estado das necessidades que urgem.
(que assim seja, amém)
contiguidade
contíguo (essa palavra que tanto tenho feito gosto)
a tanta dor no meu corpo
essas dores infecciosas que eu desconhecia
e que (re)funciono e (re)posiciono de âncora para a sanidade mental minha
essas dores
demarcam, desenham o contorno, recortam do alheio
as atitudes minhas, meus cuidados, minhas atenções
minhas desatenções
são imediatamente respondidas
com latejamento e prostração física
meus abusos
são instantaneamente retribuídos
com cansaço e necessidade de reparação
meu corpo, assim
é doutrina minha
única
mente (é só)
é a destituição derradeira
(dessa vez)
da autodemanda
e a eleição do desejo
como primeiro estado das necessidades que urgem.
(que assim seja, amém)
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
Jaci Palma Jr
Rua Galeno de Almeida, 235
Perdizes (Jardim América)
São Paulo
Jaci Palma Jr
Rua Galeno de Almeida, 235
Perdizes (Jardim América)
São Paulo
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Roland Barthes
Recebi de meu amigo Fabrício o reconhecimento que ele fez de alguém. Antes, esse alguém era de cada um de nós, agora é um amigo em comum - Roland Barthes:
"MONSTRUOSO. O sujeito se dá conta bruscamente que ele envolve o objeto amado em uma rede de tiranias: ele se sente passar de miserável a monstruoso.
Platão1. No Fedro de Platão, o discurso do sofista Lísias e o primeiro discurso de Sócrates repousam todos dois sobre este mesmo princípio: que o amante é insuportável (pelo peso) ao amado. Segue-se a lista de traços importunos: o amante não pode suportar que alguém lhe seja superior ou igual aos olhos de seu amado, e trabalha para rebaixar todo rival; ele conserva o amado afastado de uma multidão de relações, ele se emprega, por mil astúcias indelicadas, em mantê-lo na ignorância, de modo que o amado só saiba o que lhe chega através de seu apaixonado; ele deseja secretamente que o amado perca aquilo que tem de mais caro: pai mãe, parentes, amigos; ele não quer para o amado nem filhos nem lar; sua assiduidade diária é cansativa; ele não aceita ser abandonado nem de dia nem de noite; apesar de velho, ele age como tirano policial e submete o amado o tempo todo a espionagens maldosamente desconfiadas, enquanto que ele mesmo não se impede absolutamente de ser mais tarde infiel e ingrato. O coração do enamorado fica, pois, cheio de maus sentimentos, o que quer que seja que ele pense: seu amor não é generoso.
2. O discurso amoroso sufoca o outro, que não encontra lugar algum para sua própria fala nesse dizer maciço. Não é que eu o impeça de falar, mas sei como fazer deslizar os pronomes: “Eu falo e você me ouve, logo nós somos” (Ponge). Às vezes, com terror, me conscientizo dessa inversão: eu que me acreditava puro sujeito (sujeito submisso: frágil, delicado, miserável), me vejo transformar em coisa obtusa, coisa que avança cegamente, que esmaga tudo sob seu discurso: eu que amo, sou indesejável, faço parte do rol dos importunos: aqueles que pesam, atrapalham, abusam, complicam, pedem, intimidam (ou apenas simplesmente: aqueles que falam).
Me enganei, monumentalmente".
Roland Barthes
Recebi de meu amigo Fabrício o reconhecimento que ele fez de alguém. Antes, esse alguém era de cada um de nós, agora é um amigo em comum - Roland Barthes:
"MONSTRUOSO. O sujeito se dá conta bruscamente que ele envolve o objeto amado em uma rede de tiranias: ele se sente passar de miserável a monstruoso.
Platão1. No Fedro de Platão, o discurso do sofista Lísias e o primeiro discurso de Sócrates repousam todos dois sobre este mesmo princípio: que o amante é insuportável (pelo peso) ao amado. Segue-se a lista de traços importunos: o amante não pode suportar que alguém lhe seja superior ou igual aos olhos de seu amado, e trabalha para rebaixar todo rival; ele conserva o amado afastado de uma multidão de relações, ele se emprega, por mil astúcias indelicadas, em mantê-lo na ignorância, de modo que o amado só saiba o que lhe chega através de seu apaixonado; ele deseja secretamente que o amado perca aquilo que tem de mais caro: pai mãe, parentes, amigos; ele não quer para o amado nem filhos nem lar; sua assiduidade diária é cansativa; ele não aceita ser abandonado nem de dia nem de noite; apesar de velho, ele age como tirano policial e submete o amado o tempo todo a espionagens maldosamente desconfiadas, enquanto que ele mesmo não se impede absolutamente de ser mais tarde infiel e ingrato. O coração do enamorado fica, pois, cheio de maus sentimentos, o que quer que seja que ele pense: seu amor não é generoso.
2. O discurso amoroso sufoca o outro, que não encontra lugar algum para sua própria fala nesse dizer maciço. Não é que eu o impeça de falar, mas sei como fazer deslizar os pronomes: “Eu falo e você me ouve, logo nós somos” (Ponge). Às vezes, com terror, me conscientizo dessa inversão: eu que me acreditava puro sujeito (sujeito submisso: frágil, delicado, miserável), me vejo transformar em coisa obtusa, coisa que avança cegamente, que esmaga tudo sob seu discurso: eu que amo, sou indesejável, faço parte do rol dos importunos: aqueles que pesam, atrapalham, abusam, complicam, pedem, intimidam (ou apenas simplesmente: aqueles que falam).
Me enganei, monumentalmente".
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Ele
Desde pequena, falava mal.
Escreveu poesias sobre seu mau caráter;
sobre como seduzia conhecidos seus, familiares, independentemente do sexo, a serem diferentes do que eram em alma.
Achava tudo que circundava sua presença repulsivo.
Ela pensava nele o inimigo dos bons costumes, o anti-cristo.
E pensava em como tudo seria melhor sem ele.
Mas pensava nele - assim, de canto.
Uma época negou sua existência.
Durante alguns anos, viveu como se ele nem existisse.
Deu-lhe sua indiferença porque pensou que esse seria o pior castigo.
Mas acreditava que o estava castigando - assim, de ladinho, mas junto dele sempre.
Depois disso, teve cólera.
Repugnância, raiva e dor.
Por que a presença dele era tão contínua em sua vida?
Por que ele existia!? Por quê!?
Mas ele ia ver (pensava ela), ele ia ver só com quem estava se metendo.
Pois iria dominá-lo!
Iria controlar suas idas e vindas, por onde andava, com quem andava... Iria observar seu comportamento e catalogar tudo! Fez um diário e uma planilha.
Pois fez de tudo.
Até que um dia...
Como o despertar silencioso e morno do sol daquele dia - sentiu.
Não era mais raiva, nem ódio, nem nojo. Era um sentimento suave de companhia.
Olhou, simplesmente e viu.
Ali estava ele, exatamente onde ela o deixara - onde o tinha vigiado:
- melhor que guardado embaixo do colchão - ela pensou na época.
Colorido, singelo - uma paixão.
E ele esperava quieto, como sempre,
na cabeceira da cama,
debaixo do velho buda de gesso.
Ele
Desde pequena, falava mal.
Escreveu poesias sobre seu mau caráter;
sobre como seduzia conhecidos seus, familiares, independentemente do sexo, a serem diferentes do que eram em alma.
Achava tudo que circundava sua presença repulsivo.
Ela pensava nele o inimigo dos bons costumes, o anti-cristo.
E pensava em como tudo seria melhor sem ele.
Mas pensava nele - assim, de canto.
Uma época negou sua existência.
Durante alguns anos, viveu como se ele nem existisse.
Deu-lhe sua indiferença porque pensou que esse seria o pior castigo.
Mas acreditava que o estava castigando - assim, de ladinho, mas junto dele sempre.
Depois disso, teve cólera.
Repugnância, raiva e dor.
Por que a presença dele era tão contínua em sua vida?
Por que ele existia!? Por quê!?
Mas ele ia ver (pensava ela), ele ia ver só com quem estava se metendo.
Pois iria dominá-lo!
Iria controlar suas idas e vindas, por onde andava, com quem andava... Iria observar seu comportamento e catalogar tudo! Fez um diário e uma planilha.
Pois fez de tudo.
Até que um dia...
Como o despertar silencioso e morno do sol daquele dia - sentiu.
Não era mais raiva, nem ódio, nem nojo. Era um sentimento suave de companhia.
Olhou, simplesmente e viu.
Ali estava ele, exatamente onde ela o deixara - onde o tinha vigiado:
- melhor que guardado embaixo do colchão - ela pensou na época.
Colorido, singelo - uma paixão.
E ele esperava quieto, como sempre,
na cabeceira da cama,
debaixo do velho buda de gesso.
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
sábado, 17 de novembro de 2007
Infância
Não fica de pé descalço
Tem que comer alguma coisa!
Fez teus tema?
Não, não pode
Sai daí
Eu te avisei
Não é hora de comer doce
É aniversário do teu primo
(Oifelizaniversáiroperaíqueamãevaifalarcontigobeijotchau)
Chega de brincar
Não, não pode
Não vai te atrasar
Escova esses cabelos - Parece uma Maria Mijona
Leva a japona
Te comporta na aula! Olha pros dois lados
Senta ali
Cola algodão no Papai Noel, no Coelho da Páscoa
(professora, posso ir ao banheiro?)
Só depois que voltar teu colega
Desenha em cima do tracejado (e não fora)
Já não te disse que o céu é azul?
Tira o uniforme
não, não pode
Tem que comer alguma coisa!
Arruma teu quarto
Junta tuas coisas
Shhhh, tua mãe tá com dor de cabeça
Vai brincar lá fora
Não, não pode
Desce daí
Não é pra jogar bola aí
Tá frio pra piscina
Dá tchau pra tua amiga e
Vai pro Banho
Não, não pode
É pro teu bem
Teu pai tá chegando
Prova antes de dizer que não gosta de
Brócolis, couve, rabanete, espinafre,
Berinjela, mondongo, tutu de feijão
Como é que não gosta de côco
Não, não pode
Deu: vai pra cama
Vai dormir
Dá boa noite
E como é que a gente diz?
(muitoobrigada)
Infância
Não fica de pé descalço
Tem que comer alguma coisa!
Fez teus tema?
Não, não pode
Sai daí
Eu te avisei
Não é hora de comer doce
É aniversário do teu primo
(Oifelizaniversáiroperaíqueamãevaifalarcontigobeijotchau)
Chega de brincar
Não, não pode
Não vai te atrasar
Escova esses cabelos - Parece uma Maria Mijona
Leva a japona
Te comporta na aula! Olha pros dois lados
Senta ali
Cola algodão no Papai Noel, no Coelho da Páscoa
(professora, posso ir ao banheiro?)
Só depois que voltar teu colega
Desenha em cima do tracejado (e não fora)
Já não te disse que o céu é azul?
Tira o uniforme
não, não pode
Tem que comer alguma coisa!
Arruma teu quarto
Junta tuas coisas
Shhhh, tua mãe tá com dor de cabeça
Vai brincar lá fora
Não, não pode
Desce daí
Não é pra jogar bola aí
Tá frio pra piscina
Dá tchau pra tua amiga e
Vai pro Banho
Não, não pode
É pro teu bem
Teu pai tá chegando
Prova antes de dizer que não gosta de
Brócolis, couve, rabanete, espinafre,
Berinjela, mondongo, tutu de feijão
Como é que não gosta de côco
Não, não pode
Deu: vai pra cama
Vai dormir
Dá boa noite
E como é que a gente diz?
(muitoobrigada)
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Vôo em mim
Lá depois de tanto mar
Tanto mar
Acenou desde lá alguém
Que também é dessa matéria
Viva de viver acaso
(porque o acaso aviva)
Foi tão feliz
Ver aceno: Olá!
Que acenei daqui
Pra lá
AlÔÔÔÔÔÔ...
Um beijo para você
Desde aqui de Bouche Ville
Para a praia de MariaMar
Vôo em mim
Lá depois de tanto mar
Tanto mar
Acenou desde lá alguém
Que também é dessa matéria
Viva de viver acaso
(porque o acaso aviva)
Foi tão feliz
Ver aceno: Olá!
Que acenei daqui
Pra lá
AlÔÔÔÔÔÔ...
Um beijo para você
Desde aqui de Bouche Ville
Para a praia de MariaMar
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Mateus Alves
Mateus Alves
Coluna
Especialmente
Porque tudo o que escrevo aparece
Imediatamente
E logo mais ali, dobra a esquina e
Se vai da mente
Vai pelos arquivos
Coerentemente
Organizados
Na coluna virtual
Tem audiência alheia mínima
Ou no mínimo silenciosa
Mas tem sobretudo
O testemunho de mim
Que guarda os arquivos
Com incoerência
Desorganizados
Na coluna maestra da alma.
Coluna
Especialmente
Porque tudo o que escrevo aparece
Imediatamente
E logo mais ali, dobra a esquina e
Se vai da mente
Vai pelos arquivos
Coerentemente
Organizados
Na coluna virtual
Tem audiência alheia mínima
Ou no mínimo silenciosa
Mas tem sobretudo
O testemunho de mim
Que guarda os arquivos
Com incoerência
Desorganizados
Na coluna maestra da alma.
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Reveio (saudade da amiga Ida com bons ventos)
Depois de algum certo período onde esteve
Lá dentro do lugar para onde vão os corajosos
Aqueles que se unem
Apesar do desgosto familiar
(porque a família desgosta quando acontece)
Ela veio
Lá de onde ficam aqueles cujo tímpano dilata
Aqueles que conhecem ouvido seletivo
(seletividade máxima)
Para as coisas do amor
Aqueles que percebem a pressão interna
E despressurizam para ouvir quotidianos
Ela veio
Lá de longe
Acenar para mim.
Olá, querida.
Um beijo de amor, de mim para ti.
Reveio (saudade da amiga Ida com bons ventos)
Depois de algum certo período onde esteve
Lá dentro do lugar para onde vão os corajosos
Aqueles que se unem
Apesar do desgosto familiar
(porque a família desgosta quando acontece)
Ela veio
Lá de onde ficam aqueles cujo tímpano dilata
Aqueles que conhecem ouvido seletivo
(seletividade máxima)
Para as coisas do amor
Aqueles que percebem a pressão interna
E despressurizam para ouvir quotidianos
Ela veio
Lá de longe
Acenar para mim.
Olá, querida.
Um beijo de amor, de mim para ti.
domingo, 11 de novembro de 2007
Gigante (e saudações coloradas)
"...perna esquerda do Índio buscando Adriano; Adriano para Luís Adriano; Luís Adriano para Iarley - Contragolpe do time do Internacional; é numa dessas que pode acontecer o gol do título; girou na esquerda, pra área Adriano; bateu... gol! A 36 minutos de partida!"
Pra mim, a beleza do filme esteve em chorar junto com outros entregues à paixão.
E nada é maior que isso.
O filme mostra, não como o Inter conquistou o mundo: revela como a paixão se agiganta em nós, quando permitimos.
Gigante (e saudações coloradas)
"...perna esquerda do Índio buscando Adriano; Adriano para Luís Adriano; Luís Adriano para Iarley - Contragolpe do time do Internacional; é numa dessas que pode acontecer o gol do título; girou na esquerda, pra área Adriano; bateu... gol! A 36 minutos de partida!"
Pra mim, a beleza do filme esteve em chorar junto com outros entregues à paixão.
E nada é maior que isso.
O filme mostra, não como o Inter conquistou o mundo: revela como a paixão se agiganta em nós, quando permitimos.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
De Novo
Costuro uns pensamentos
Arquiteto planos para dominar o mundo
Enquanto espero
Sou a mesma no nome
Só no nome
Eu preciso: lembra-me dele
Chama por mim, pelo nome
Porque eu mudo tanto
(mas tanto)
Que não me reconheço:
Eu me conheço de novo.
De Novo
Costuro uns pensamentos
Arquiteto planos para dominar o mundo
Enquanto espero
Sou a mesma no nome
Só no nome
Eu preciso: lembra-me dele
Chama por mim, pelo nome
Porque eu mudo tanto
(mas tanto)
Que não me reconheço:
Eu me conheço de novo.
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Olha aí - Novembro de novo!
Faz a conta do tempo que passa
Paga a conta do tempo a tempo.]
Dentro de cada coisa corre um tempo
Do armário, do carro, do fogão
Do tapete, do fio e do violão
Da lâmpada, do interruptor
Do aluno, lousa e apagador
Do bronze, do ouro, da prata,
Da laje, do rio serenata
Da pasta de dente, do dente
Da lata, de falta e excedente
(Assim se é alabastro
de torno liso e desalçado
Que fundo nu faz o lastro
Com tempo curto e passado
Dentro do um desigual
Lá no ímpar, lado par
Vai tão junta e frugal
Cadência de mim e do amar
É o parceiro do outro lado
Compadre adversário
Com bom jeito ao carteado
Do baralho aniversário)
Dentro embora corra mínima
Marcada de métrica íntima
A regência do tempo em si mesmo
Que é caos, é acaso, é a esmo.
Olha aí - Novembro de novo!
Faz a conta do tempo que passa
Paga a conta do tempo a tempo.]
Dentro de cada coisa corre um tempo
Do armário, do carro, do fogão
Do tapete, do fio e do violão
Da lâmpada, do interruptor
Do aluno, lousa e apagador
Do bronze, do ouro, da prata,
Da laje, do rio serenata
Da pasta de dente, do dente
Da lata, de falta e excedente
(Assim se é alabastro
de torno liso e desalçado
Que fundo nu faz o lastro
Com tempo curto e passado
Dentro do um desigual
Lá no ímpar, lado par
Vai tão junta e frugal
Cadência de mim e do amar
É o parceiro do outro lado
Compadre adversário
Com bom jeito ao carteado
Do baralho aniversário)
Dentro embora corra mínima
Marcada de métrica íntima
A regência do tempo em si mesmo
Que é caos, é acaso, é a esmo.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Porque (entre outros porquês) amo a Clarice Lispector
"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...
Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo.
Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força.
Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver.
Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão.
Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma.
Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma".
Porque (entre outros porquês) amo a Clarice Lispector
"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...
Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo.
Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força.
Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver.
Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão.
Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma.
Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma".
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Colorética
Tanto faz a cor
Interessa é estar a meu lado [no meu time]
(como gosto tanto de dizer)
Sou meu apoio
E suporto muito pouco o resto
De tanto suporte a mim que sou.
E sou, antes de tudo, amiga mia e gaiata.
Sou aquarela
Bordeaux ventre mênstruo
Branco lunar, amarelo solar
Ciano, gris e anil do céu
Prata estelar
e todas tonalidades mais
Que se fizerem necessárias.
Sou eu
cardíaca colérica retorcida
passional pacífica e pessoal
Sou eu
polimorfomulticolorida (e nucleada).
Colorética
Tanto faz a cor
Interessa é estar a meu lado [no meu time]
(como gosto tanto de dizer)
Sou meu apoio
E suporto muito pouco o resto
De tanto suporte a mim que sou.
E sou, antes de tudo, amiga mia e gaiata.
Sou aquarela
Bordeaux ventre mênstruo
Branco lunar, amarelo solar
Ciano, gris e anil do céu
Prata estelar
e todas tonalidades mais
Que se fizerem necessárias.
Sou eu
cardíaca colérica retorcida
passional pacífica e pessoal
Sou eu
polimorfomulticolorida (e nucleada).
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Caminhoneira
Começou a chorar. Pensou que era um caminhoneiro.
Caminhoneiros, segundo sua própria concepção, eram pessoas românticas, sensíveis, que choravam sozinhas na estrada - como ela, caminhoneira.
Depois achou que era mesmo caminho-neira: a dirigir seu sem-fim.
Sem-fim porque ela não morreria - é que, para quem morre, a morte não acontece. Ela acontece para quem não morreu.
Pensou tudo isso e chorando ligou para ele.
Ele disse que estava fazendo isso e aquilo, mas que estava disposto a ouvi-la.
Ali, já se sentiu reconfortada e nova.
Pensou, depois de desligar, se aquilo de ser recebida por ele era uma bênção. Pensou na palavra "bênção". Achou útil ter feito catequese (uma rara ocasião esta).
Então, "bênção", na catequese, lembrava algo dado por deus a cada um.
Então achou que não era bênção coisíssima nenhuma ( e de novo a catequese perdera a fugaz utilidade).
Ser recebida por ele era amor. Direto. Simples assim.
Caminhoneira
Começou a chorar. Pensou que era um caminhoneiro.
Caminhoneiros, segundo sua própria concepção, eram pessoas românticas, sensíveis, que choravam sozinhas na estrada - como ela, caminhoneira.
Depois achou que era mesmo caminho-neira: a dirigir seu sem-fim.
Sem-fim porque ela não morreria - é que, para quem morre, a morte não acontece. Ela acontece para quem não morreu.
Pensou tudo isso e chorando ligou para ele.
Ele disse que estava fazendo isso e aquilo, mas que estava disposto a ouvi-la.
Ali, já se sentiu reconfortada e nova.
Pensou, depois de desligar, se aquilo de ser recebida por ele era uma bênção. Pensou na palavra "bênção". Achou útil ter feito catequese (uma rara ocasião esta).
Então, "bênção", na catequese, lembrava algo dado por deus a cada um.
Então achou que não era bênção coisíssima nenhuma ( e de novo a catequese perdera a fugaz utilidade).
Ser recebida por ele era amor. Direto. Simples assim.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Tarde, que seja!
- A moça devia ter uns 5 anos. Eu estava lavando a louça quando ela passou. Pedi pra ela: "ei, mocinha! Não quer varrer, pra vovó, a cozinha?" ao que ela respondeu: "ai, vovó, eu queria te ajudar, mas não posso varrer porque eu sofro da coluna!".
A avozinha ria muito quando contava a história, imitando a moça, na época mocinha, colocando a mão sobre a lombar e fazendo expressão de dor.
A moça não lembrava desse episódio, mas acreditava nele, tantas foram as vezes que a avó contara.
A moça acha, como os outros, que tem mesmo tendência a ser servil. Talvez apenas para se desocupar de si e ocupar-se de qualquer outra coisa. Quando faz isso, sente-se fazendo o necessário, fazendo algo de útil de sua existência - dando sentido ao que não tem sentido.
O que a moça não sabe é que a vida só tem mesmo o sentido que damos.
Outro sentido, um sentido em si, a vida não tem.
Melhor que a moça reencontre a mocinha, antes tarde do que nunca.
Tarde, que seja!
- A moça devia ter uns 5 anos. Eu estava lavando a louça quando ela passou. Pedi pra ela: "ei, mocinha! Não quer varrer, pra vovó, a cozinha?" ao que ela respondeu: "ai, vovó, eu queria te ajudar, mas não posso varrer porque eu sofro da coluna!".
A avozinha ria muito quando contava a história, imitando a moça, na época mocinha, colocando a mão sobre a lombar e fazendo expressão de dor.
A moça não lembrava desse episódio, mas acreditava nele, tantas foram as vezes que a avó contara.
A moça acha, como os outros, que tem mesmo tendência a ser servil. Talvez apenas para se desocupar de si e ocupar-se de qualquer outra coisa. Quando faz isso, sente-se fazendo o necessário, fazendo algo de útil de sua existência - dando sentido ao que não tem sentido.
O que a moça não sabe é que a vida só tem mesmo o sentido que damos.
Outro sentido, um sentido em si, a vida não tem.
Melhor que a moça reencontre a mocinha, antes tarde do que nunca.
sábado, 13 de outubro de 2007
Paulo Paquet Autran
Paulo Paquet Autran
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Ensinamento Vs Aprendizagem
Não, ela mais que pede: implora.
Não, não. Não é bem 'implora'. É mais um 'explora' (a si mesma, a buscar o outro).
(O que é mais bem que implorar - em geral)
Mas o que ela pede, ele não entende.
Ele diz que não tem (Ela afirma que ele tem - impossível não).
Ele diz que quer, mas não consegue.
Ela suspira... Ele não entende mesmo.
Ela insiste;
ele se retorce e contorce (doloridíssimo da vida que não tem cura).
Ela explica, replica, triplica.
Piorou.
Ele se afasta, se fecha, se encerra.
Porra (pensa ela).
'Mas não existe mandar no querer' - pensa (e diz) ela.
E não pensa em mandar no dele - pensa em mandar no seu (no seu só, ela quer, nem precisa ser no dele).
Francamente.
Ah, mas é assim mesmo. Ou compreendemos, ou não.
Ninguém ensina que estar também é dar.
Ensinamento Vs Aprendizagem
Não, ela mais que pede: implora.
Não, não. Não é bem 'implora'. É mais um 'explora' (a si mesma, a buscar o outro).
(O que é mais bem que implorar - em geral)
Mas o que ela pede, ele não entende.
Ele diz que não tem (Ela afirma que ele tem - impossível não).
Ele diz que quer, mas não consegue.
Ela suspira... Ele não entende mesmo.
Ela insiste;
ele se retorce e contorce (doloridíssimo da vida que não tem cura).
Ela explica, replica, triplica.
Piorou.
Ele se afasta, se fecha, se encerra.
Porra (pensa ela).
'Mas não existe mandar no querer' - pensa (e diz) ela.
E não pensa em mandar no dele - pensa em mandar no seu (no seu só, ela quer, nem precisa ser no dele).
Francamente.
Ah, mas é assim mesmo. Ou compreendemos, ou não.
Ninguém ensina que estar também é dar.
amovx
(xussurro, no máximo)
Exas coijas todas
xujas,
delíxias de puquear.
Num revelo, não.
Num faxo popaganda.
amovx
(xussurro, no máximo)
Exas coijas todas
xujas,
delíxias de puquear.
Num revelo, não.
Num faxo popaganda.
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Oi amor,
Mas, mais que a falta tua hoje, senti mesmo falta de ti quando me deu a primeira revista.
Acho que ainda procuro esse cara, talvez porque ele se preocupasse em me surpreender com coisas, enfim. Vai saber. Também sinto falta dos teus alôs, um qualquer assim que me lembrasse da paixão.
Aí me viro pra isso e vejo que a gente não devia estar suportando essa mesma paixão.
Pouco importa o que houve. Importa que nos vejo tão tranquilos em relação a nós...
Isso não é bom presságio. Cadê o frio na barriga?
...
Ah... Achei. Bem aqui. Agora.
(e penso com medo que tu não goste mais de mim)
Um beijo tristefeliz de mim para ti.
Oi amor,
Mas, mais que a falta tua hoje, senti mesmo falta de ti quando me deu a primeira revista.
Acho que ainda procuro esse cara, talvez porque ele se preocupasse em me surpreender com coisas, enfim. Vai saber. Também sinto falta dos teus alôs, um qualquer assim que me lembrasse da paixão.
Aí me viro pra isso e vejo que a gente não devia estar suportando essa mesma paixão.
Pouco importa o que houve. Importa que nos vejo tão tranquilos em relação a nós...
Isso não é bom presságio. Cadê o frio na barriga?
...
Ah... Achei. Bem aqui. Agora.
(e penso com medo que tu não goste mais de mim)
Um beijo tristefeliz de mim para ti.
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
Carta
"Amor,
não queria que tivesses me conhecido dessa maneira - não assim, entregue à minha condição de mulher. Porque, por dentro, sou a mulher de Vinícius (com algo além da beleza, com essa coisa que chora: uma tristeza de se saber mulher - feita apenas para amar e para sofrer pelo seu amor).
Por dentro, amor, sou Chico Buarque, também eu atrás da porta, reclamando e chorando baixinho.
Sou essa, amor, além das outras. Não te assustes tu também; porque eu mesma estou apavorada da falta tanta que sinto e da dor no coração.
E ainda por cima esse medo. Esse medo horrível e real, tão real, do fim que é imprevisível, ainda que certo.
O medo é tanto, que eu, na contra-fobia, me afasto e tomo as devidas providências - te perco de vez: eu me lanço no mundo de novo. Sem ti, é verdade. Mas, também sem a espera tão doída por ti ou por teu amor mais honesto, mais entregue.
Planejo uma retirada estratégica, à francesa - e tenho medo de fazer amor contigo.
Não quero que me vejas pela última vez, como quem vai ao velório. Não, essa não é a imagem de mim (embora também seja).
Ficas com minha saída elegante, pela porta da frente.
Fico-me pura saudade".
Carta
"Amor,
não queria que tivesses me conhecido dessa maneira - não assim, entregue à minha condição de mulher. Porque, por dentro, sou a mulher de Vinícius (com algo além da beleza, com essa coisa que chora: uma tristeza de se saber mulher - feita apenas para amar e para sofrer pelo seu amor).
Por dentro, amor, sou Chico Buarque, também eu atrás da porta, reclamando e chorando baixinho.
Sou essa, amor, além das outras. Não te assustes tu também; porque eu mesma estou apavorada da falta tanta que sinto e da dor no coração.
E ainda por cima esse medo. Esse medo horrível e real, tão real, do fim que é imprevisível, ainda que certo.
O medo é tanto, que eu, na contra-fobia, me afasto e tomo as devidas providências - te perco de vez: eu me lanço no mundo de novo. Sem ti, é verdade. Mas, também sem a espera tão doída por ti ou por teu amor mais honesto, mais entregue.
Planejo uma retirada estratégica, à francesa - e tenho medo de fazer amor contigo.
Não quero que me vejas pela última vez, como quem vai ao velório. Não, essa não é a imagem de mim (embora também seja).
Ficas com minha saída elegante, pela porta da frente.
Fico-me pura saudade".
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Pedido de Casamento
Ela se sentia em retalhos – os retalhos mais bonitos, todos reconfigurados em um patchwork delicado e gentil.
Mas, ela, rasgando peito adentro, incisura do amor, ouviu o chorar do homem.
Ela viu. Viu seu próprio intento.
E disse a si mesma:
Que é isso? Que fazes?
E respondeu a ela:
Me deixa viver.
A outra disse muitas justificativas, todas muito coerentes, todas elas razoáveis, avisava que aquilo não ia dar certo. Mas ela respondia:
E daí? E daí se não der certo?
A outra alertava:
Humilhação! Não vês!? Vai nos fazer humilhadas!
E ela, firme:
Nada. Vais ver só.
Foi assim que aconteceu, estou contando o que aconteceu – foi bem assim:
propôs a ele, então, casamento. Ofereceu-lhe seu pouco que era seu tudo. Disse a ele, diante de si mesma, que se abria para recebê-lo.
Disse-lhe:
Olha, vamos fazer uma vida nós dois.
Ele não quis.
Disse a ela que esperasse (a hora, a grana, a grama verde ficar amarela, as folhas caírem todas roxas, as veias fraquejarem, a menstruação vir, tartaruga brotar na areia, Alice crescer de novo, a limpeza do aquário – enfim, todas aquelas garantias de que daria certo).
A outra de dentro se retorcia de tanto rir. Ela chorava orgulhosa de ter sido si mesma – apesar de todos, tantos, claríssimos sinais de contramão. Mas, ela tinha ido. E isso era uma nova fronteira para si mesma.
Vencer uma fronteira não pode ser humilhante, pensava – a aninhar-se.
Mas o consolo não vinha. Porque colo, não tinha.
E a tristeza que dá, ela sabia de antemão. E já esperava por ela.
O outro não entrou, mas entrou a tristeza, faminta, loguinho, por dentro das frestas do peito. A tristeza a encheu toda, todinha, de lágrima. Então chorou. E falou bem alto na poesia.
A outra? Calou-se.
Quando fala a tristeza poética, todas restam emudecidas de tanto respeito.
Pedido de Casamento
Ela se sentia em retalhos – os retalhos mais bonitos, todos reconfigurados em um patchwork delicado e gentil.
Mas, ela, rasgando peito adentro, incisura do amor, ouviu o chorar do homem.
Ela viu. Viu seu próprio intento.
E disse a si mesma:
Que é isso? Que fazes?
E respondeu a ela:
Me deixa viver.
A outra disse muitas justificativas, todas muito coerentes, todas elas razoáveis, avisava que aquilo não ia dar certo. Mas ela respondia:
E daí? E daí se não der certo?
A outra alertava:
Humilhação! Não vês!? Vai nos fazer humilhadas!
E ela, firme:
Nada. Vais ver só.
Foi assim que aconteceu, estou contando o que aconteceu – foi bem assim:
propôs a ele, então, casamento. Ofereceu-lhe seu pouco que era seu tudo. Disse a ele, diante de si mesma, que se abria para recebê-lo.
Disse-lhe:
Olha, vamos fazer uma vida nós dois.
Ele não quis.
Disse a ela que esperasse (a hora, a grana, a grama verde ficar amarela, as folhas caírem todas roxas, as veias fraquejarem, a menstruação vir, tartaruga brotar na areia, Alice crescer de novo, a limpeza do aquário – enfim, todas aquelas garantias de que daria certo).
A outra de dentro se retorcia de tanto rir. Ela chorava orgulhosa de ter sido si mesma – apesar de todos, tantos, claríssimos sinais de contramão. Mas, ela tinha ido. E isso era uma nova fronteira para si mesma.
Vencer uma fronteira não pode ser humilhante, pensava – a aninhar-se.
Mas o consolo não vinha. Porque colo, não tinha.
E a tristeza que dá, ela sabia de antemão. E já esperava por ela.
O outro não entrou, mas entrou a tristeza, faminta, loguinho, por dentro das frestas do peito. A tristeza a encheu toda, todinha, de lágrima. Então chorou. E falou bem alto na poesia.
A outra? Calou-se.
Quando fala a tristeza poética, todas restam emudecidas de tanto respeito.
Pedido de Casamento2
Respirava aliviada aquela
(Aquela bem do canto)
Que tinha medo
(Mas muito medo)
De ser feliz.
Pedido de Casamento2
Respirava aliviada aquela
(Aquela bem do canto)
Que tinha medo
(Mas muito medo)
De ser feliz.
domingo, 23 de setembro de 2007
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Data de Validade
Como pão com manteiga, que aprendi que pode ser guardada fora da geladeira.
Fazemos isso constantemente - o costume é de guardar as coisas resfriadas para que durem mais.
Ora, as coisas duram o tempo que valem. Depois de validadas, trocamos por outras.
Dentro de cada coisa corre o tempo. Não o Tempo - o tempo de cada coisa.
Mesmo que os produtos venham com datas de validade expressas na embalagem, insistimos em esquecer que nossa data de validade também expira e nós expiraremos com ela (pela última vez).
Pois que durem menos as minhas coisas!
Vou mantê-las à temperatura ambiente. Ficam mesmo mais saborosas e fáceis.
Durarão menos?
Com tanto sabor, eu provavelmente as consumirei antes do tempo.
Data de Validade
Como pão com manteiga, que aprendi que pode ser guardada fora da geladeira.
Fazemos isso constantemente - o costume é de guardar as coisas resfriadas para que durem mais.
Ora, as coisas duram o tempo que valem. Depois de validadas, trocamos por outras.
Dentro de cada coisa corre o tempo. Não o Tempo - o tempo de cada coisa.
Mesmo que os produtos venham com datas de validade expressas na embalagem, insistimos em esquecer que nossa data de validade também expira e nós expiraremos com ela (pela última vez).
Pois que durem menos as minhas coisas!
Vou mantê-las à temperatura ambiente. Ficam mesmo mais saborosas e fáceis.
Durarão menos?
Com tanto sabor, eu provavelmente as consumirei antes do tempo.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Paixão sem Remédio
A primeira vez que busquei ajuda, fui à psicanalista. Já me acompanhava dela há cinco ou seis anos; e ela me recomendava mais e mais encontros com ela para poder ter mais espaço para ver e elaborar todas aquelas coisas.
Depois de eu estar totalmente reformada, organizada, nutrida macrobioticamente, ter deixado o cigarro há mais de dois anos, estar trabalhando ininterruptamente e estudando como uma viciada (e andando em um manequim 36), eu tinha apenas um sintoma restante: chorava. E não sabia o porquê. Chorava a qualquer hora, sem razão aparente. E aquilo não podia continuar assim.
Recomendou-me ao psiquiatra. Isso muito antes de eu tentar me tornar uma. O psiquiatra, muito gentil e afável, recomendou-me pílulas coloridas, de manhã e à noite. Isso interromperia o choro, com o efeito colateral de aniquilar-me a capacidade criativa. Perda mínima, naquele caso. Apenas não escrevi uma única linha poética e não mais toquei em meu violão e também não compus uma única música nos três anos que se seguiram. Passou o choro, a análise seguia profunda, nunca questionei ou interrompi a medicação. Depois, ele me prescreveu comprimidos brancos, bem pequenos, porque eu não mais chorava (por motivo nenhum e por nenhum motivo) mas não conseguia me concentrar – a atenção estava se dispersando. Com os branquinhos, passei a render mais ainda! A atividade física intensificou-se, sentia-me disposta a correr às 4h da manhã, a alimentação, cada vez mais rígida. Passei a usar manequim 34 e desenvolvi um sistema controlador da minha alimentação chamado anorexia. Esse sistema perdurou comigo por dois anos. Eu perguntava para minha analista quando é que a vida começava. Para que eu fazia tanta preparação...?
Na terapia de família ouvi, pela primeira vez, que o violão podia ter sido uma habilidade lúdica de elaboração. Primeiros ‘glimps’ que tive da vida inconsciente.
Depois encontrei a instituição total. Como trabalhar lá era absolutamente insuportável, penetrante e patológico, eu adoeci mais. E continuava perguntando para minha analista, quando é que eu começaria a viver?
Um dia, ouvi de um tal curso em psico-análise, que passei a freqüentar com o acaso. E foi por ali, que me distraí e caí na vida. Não sei bem se foi o clima, a cor do tapete, o sentar-me no chão, o livro das mulheres que corriam com os lobos, a meditação dinâmica de Osho, os grupos com a Christiane e o amor que ela e sua família me deram. Não sei se foram as conversas com o Paulo Sérgio, com a Neneca ou a Eli. Não sei se foi morar um tempo com meu melhor amigo. Mas um dia, eu larguei a medicação. Pintei uma camisa branca, com a frase: “ser melhor o que se é, é melhor do que ser melhor do que se é”. E mesmo a frase estando ‘errada’, porque era: “ser melhor o que se é, vale mais que ser melhor do que se é”, aconteceu daquilo ter ficado muito bonito. Depois, arrisquei-me ao violão. Então, já nem sei mais. Eu me fui vida adentro, com música, poesia, literatura e paixão – muita paixão. Apaixonei-me perdidamente, sangrei de verdade. Foi lindo viver Vinícius de Moraes, Fernando Pessoa, Caio Fernando Abreu e Clarice (ah) Lispector. Ficou lindo de viver.
Como é que se faz para se curar de doença mental? Não sei. Para cada um é um processo diferente. Incluiu, para mim, gozar de verdade e muito; ter coragem de ter prazer; aceitar a presença contínua da morte e minha polegarice diante do mundo e da galáxia (sou um pixel); tocar meu violão e cantar; pintar de vez em quando; escrever muito; desenhar no paintbrush; falar bobagem e rir das bobagens todas e de mim mesma. Também, descobrir que sou viável no mundo como sou porque sou muito desimportante; acompanhar as pessoas e me envolver diretamente com elas e, com cada uma, ter uma vida.
E de viver dentro da vida, de atender ao chamado da minha alma e vir escrever agora, seis da manhã, de ir ao teatro e ao cinema e realmente ir lá sentir as coisas, de chorar com e à vontade (pelo menos uma vez por dia, quando dá) e de ir criando a minha vida só para mim, eu fui gostando cada vez mais desse troço de viver.
Prescrevo aos meus pacientes medicação, meditação, desenhos, trabalhos com argila, chiclete, balas e pirulitos, brincar de roda, cantar no chuveiro e expor-se amorosamente. Prescrevo que acreditem em si mesmos e que tentem se tornar quem são continuamente. Amo-os incondicionalmente, como a todos que consigo. Odeio também e sinto raiva às vezes de esperar, de ficar com fome quando não dá tempo de comer ou de dormir, de outras coisas e das injustiças. Depois passa e eu acho que é da vida (é a pimenta). Quando saio de mim, busco-me de volta. Especializei-me na minha arte de viver bem e algumas pessoas se ajudam através de mim.
Louca, eu? Pois digam o que quiserem. Isso passa. Também eu vou passar. E logo, como tudo o mais. Vou seguir tocando as gentes e as coisas. É que, viver com paixão, para mim, ficou imprescindível.
Paixão sem Remédio
A primeira vez que busquei ajuda, fui à psicanalista. Já me acompanhava dela há cinco ou seis anos; e ela me recomendava mais e mais encontros com ela para poder ter mais espaço para ver e elaborar todas aquelas coisas.
Depois de eu estar totalmente reformada, organizada, nutrida macrobioticamente, ter deixado o cigarro há mais de dois anos, estar trabalhando ininterruptamente e estudando como uma viciada (e andando em um manequim 36), eu tinha apenas um sintoma restante: chorava. E não sabia o porquê. Chorava a qualquer hora, sem razão aparente. E aquilo não podia continuar assim.
Recomendou-me ao psiquiatra. Isso muito antes de eu tentar me tornar uma. O psiquiatra, muito gentil e afável, recomendou-me pílulas coloridas, de manhã e à noite. Isso interromperia o choro, com o efeito colateral de aniquilar-me a capacidade criativa. Perda mínima, naquele caso. Apenas não escrevi uma única linha poética e não mais toquei em meu violão e também não compus uma única música nos três anos que se seguiram. Passou o choro, a análise seguia profunda, nunca questionei ou interrompi a medicação. Depois, ele me prescreveu comprimidos brancos, bem pequenos, porque eu não mais chorava (por motivo nenhum e por nenhum motivo) mas não conseguia me concentrar – a atenção estava se dispersando. Com os branquinhos, passei a render mais ainda! A atividade física intensificou-se, sentia-me disposta a correr às 4h da manhã, a alimentação, cada vez mais rígida. Passei a usar manequim 34 e desenvolvi um sistema controlador da minha alimentação chamado anorexia. Esse sistema perdurou comigo por dois anos. Eu perguntava para minha analista quando é que a vida começava. Para que eu fazia tanta preparação...?
Na terapia de família ouvi, pela primeira vez, que o violão podia ter sido uma habilidade lúdica de elaboração. Primeiros ‘glimps’ que tive da vida inconsciente.
Depois encontrei a instituição total. Como trabalhar lá era absolutamente insuportável, penetrante e patológico, eu adoeci mais. E continuava perguntando para minha analista, quando é que eu começaria a viver?
Um dia, ouvi de um tal curso em psico-análise, que passei a freqüentar com o acaso. E foi por ali, que me distraí e caí na vida. Não sei bem se foi o clima, a cor do tapete, o sentar-me no chão, o livro das mulheres que corriam com os lobos, a meditação dinâmica de Osho, os grupos com a Christiane e o amor que ela e sua família me deram. Não sei se foram as conversas com o Paulo Sérgio, com a Neneca ou a Eli. Não sei se foi morar um tempo com meu melhor amigo. Mas um dia, eu larguei a medicação. Pintei uma camisa branca, com a frase: “ser melhor o que se é, é melhor do que ser melhor do que se é”. E mesmo a frase estando ‘errada’, porque era: “ser melhor o que se é, vale mais que ser melhor do que se é”, aconteceu daquilo ter ficado muito bonito. Depois, arrisquei-me ao violão. Então, já nem sei mais. Eu me fui vida adentro, com música, poesia, literatura e paixão – muita paixão. Apaixonei-me perdidamente, sangrei de verdade. Foi lindo viver Vinícius de Moraes, Fernando Pessoa, Caio Fernando Abreu e Clarice (ah) Lispector. Ficou lindo de viver.
Como é que se faz para se curar de doença mental? Não sei. Para cada um é um processo diferente. Incluiu, para mim, gozar de verdade e muito; ter coragem de ter prazer; aceitar a presença contínua da morte e minha polegarice diante do mundo e da galáxia (sou um pixel); tocar meu violão e cantar; pintar de vez em quando; escrever muito; desenhar no paintbrush; falar bobagem e rir das bobagens todas e de mim mesma. Também, descobrir que sou viável no mundo como sou porque sou muito desimportante; acompanhar as pessoas e me envolver diretamente com elas e, com cada uma, ter uma vida.
E de viver dentro da vida, de atender ao chamado da minha alma e vir escrever agora, seis da manhã, de ir ao teatro e ao cinema e realmente ir lá sentir as coisas, de chorar com e à vontade (pelo menos uma vez por dia, quando dá) e de ir criando a minha vida só para mim, eu fui gostando cada vez mais desse troço de viver.
Prescrevo aos meus pacientes medicação, meditação, desenhos, trabalhos com argila, chiclete, balas e pirulitos, brincar de roda, cantar no chuveiro e expor-se amorosamente. Prescrevo que acreditem em si mesmos e que tentem se tornar quem são continuamente. Amo-os incondicionalmente, como a todos que consigo. Odeio também e sinto raiva às vezes de esperar, de ficar com fome quando não dá tempo de comer ou de dormir, de outras coisas e das injustiças. Depois passa e eu acho que é da vida (é a pimenta). Quando saio de mim, busco-me de volta. Especializei-me na minha arte de viver bem e algumas pessoas se ajudam através de mim.
Louca, eu? Pois digam o que quiserem. Isso passa. Também eu vou passar. E logo, como tudo o mais. Vou seguir tocando as gentes e as coisas. É que, viver com paixão, para mim, ficou imprescindível.
domingo, 9 de setembro de 2007
De Todas as Maneiras
No oco ficou-se vácuo
Do súbito arrancar-se teu
E eu nas entrelinhas
Perdida como após uma tempestade
O navio em frangalhos
Os farrapos, eu juntando
Meu coração espicaçado, esmiuçado, esmigalhado
Sensível que eu sou
Por isso preciso tantos cuidados
Tive reações duvidosas
(Até eu duvidava)
Apenas uma histeria tímida
E com ela compreendi melhor a mulher
Aquela que rasga e quebra as coisas da casa.
É o que sobra fazer
Quando o outro se faz passivo
De voz branda a destruir o mundo
Com silêncios a esmagar o dito
Que me senti ridícula a debater
Contra as paredes geladas mudas
Indiferença que alheia tudo
Que me exilou.
Palavras, venho buscar as minhas
A ver se converso comigo
Se deixo meu pensar mais bonito
Depois de ter lavado a louça, a roupa e o chão.
Quem sabe depois do domingo de sol
Um banho de mar semana que vem
Quem sabe em alguns dias, sei lá
Eu fico de novo nova.
Já sou eu nova agora
Sou outra mesmo assim, agora
Porque essas coisas malcompreendíveis
Que aturtulham a alma
São da vida e tristes, mas não injustas.
Venho explicar-me a mim
Para entender o inexplicável
Porque não tem ninguém para fazer
Tem gente muda lá fora
E barulhos incognoscíveis
Pássaros entoando hinos
E sinos na minha cabeça
Que nasci sendo tão frágil
E disposta a amar tanto
Que sou um disparate.
Não me arrependo das dores de amar
Compreendi desde sempre
Que amar era doendo (e não diferente disso)
Já entrei sabendo disso
E mesmo assim fui
E me dá alegrias que eu seja assim.
Não que isso seja uma escolha, não.
Não é isso que estou dizendo.
Estou candizendo para mim-menina
(Com voz de Chico Buarque)
Olha, florzinha,
Já passa da hora, está lindo lá fora
Larga dessa mão...
Solta as unhas do teu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
De Todas as Maneiras
No oco ficou-se vácuo
Do súbito arrancar-se teu
E eu nas entrelinhas
Perdida como após uma tempestade
O navio em frangalhos
Os farrapos, eu juntando
Meu coração espicaçado, esmiuçado, esmigalhado
Sensível que eu sou
Por isso preciso tantos cuidados
Tive reações duvidosas
(Até eu duvidava)
Apenas uma histeria tímida
E com ela compreendi melhor a mulher
Aquela que rasga e quebra as coisas da casa.
É o que sobra fazer
Quando o outro se faz passivo
De voz branda a destruir o mundo
Com silêncios a esmagar o dito
Que me senti ridícula a debater
Contra as paredes geladas mudas
Indiferença que alheia tudo
Que me exilou.
Palavras, venho buscar as minhas
A ver se converso comigo
Se deixo meu pensar mais bonito
Depois de ter lavado a louça, a roupa e o chão.
Quem sabe depois do domingo de sol
Um banho de mar semana que vem
Quem sabe em alguns dias, sei lá
Eu fico de novo nova.
Já sou eu nova agora
Sou outra mesmo assim, agora
Porque essas coisas malcompreendíveis
Que aturtulham a alma
São da vida e tristes, mas não injustas.
Venho explicar-me a mim
Para entender o inexplicável
Porque não tem ninguém para fazer
Tem gente muda lá fora
E barulhos incognoscíveis
Pássaros entoando hinos
E sinos na minha cabeça
Que nasci sendo tão frágil
E disposta a amar tanto
Que sou um disparate.
Não me arrependo das dores de amar
Compreendi desde sempre
Que amar era doendo (e não diferente disso)
Já entrei sabendo disso
E mesmo assim fui
E me dá alegrias que eu seja assim.
Não que isso seja uma escolha, não.
Não é isso que estou dizendo.
Estou candizendo para mim-menina
(Com voz de Chico Buarque)
Olha, florzinha,
Já passa da hora, está lindo lá fora
Larga dessa mão...
Solta as unhas do teu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado