No oco ficou-se vácuo
Do súbito arrancar-se teu
E eu nas entrelinhas
Perdida como após uma tempestade
O navio em frangalhos
Os farrapos, eu juntando
Meu coração espicaçado, esmiuçado, esmigalhado
Sensível que eu sou
Por isso preciso tantos cuidados
Tive reações duvidosas
(Até eu duvidava)
Apenas uma histeria tímida
E com ela compreendi melhor a mulher
Aquela que rasga e quebra as coisas da casa.
É o que sobra fazer
Quando o outro se faz passivo
De voz branda a destruir o mundo
Com silêncios a esmagar o dito
Que me senti ridícula a debater
Contra as paredes geladas mudas
Indiferença que alheia tudo
Que me exilou.
Palavras, venho buscar as minhas
A ver se converso comigo
Se deixo meu pensar mais bonito
Depois de ter lavado a louça, a roupa e o chão.
Quem sabe depois do domingo de sol
Um banho de mar semana que vem
Quem sabe em alguns dias, sei lá
Eu fico de novo nova.
Já sou eu nova agora
Sou outra mesmo assim, agora
Porque essas coisas malcompreendíveis
Que aturtulham a alma
São da vida e tristes, mas não injustas.
Venho explicar-me a mim
Para entender o inexplicável
Porque não tem ninguém para fazer
Tem gente muda lá fora
E barulhos incognoscíveis
Pássaros entoando hinos
E sinos na minha cabeça
Que nasci sendo tão frágil
E disposta a amar tanto
Que sou um disparate.
Não me arrependo das dores de amar
Compreendi desde sempre
Que amar era doendo (e não diferente disso)
Já entrei sabendo disso
E mesmo assim fui
E me dá alegrias que eu seja assim.
Não que isso seja uma escolha, não.
Não é isso que estou dizendo.
Estou candizendo para mim-menina
(Com voz de Chico Buarque)
Olha, florzinha,
Já passa da hora, está lindo lá fora
Larga dessa mão...
Solta as unhas do teu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
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