quinta-feira, 27 de setembro de 2007
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
Carta
"Amor,
não queria que tivesses me conhecido dessa maneira - não assim, entregue à minha condição de mulher. Porque, por dentro, sou a mulher de Vinícius (com algo além da beleza, com essa coisa que chora: uma tristeza de se saber mulher - feita apenas para amar e para sofrer pelo seu amor).
Por dentro, amor, sou Chico Buarque, também eu atrás da porta, reclamando e chorando baixinho.
Sou essa, amor, além das outras. Não te assustes tu também; porque eu mesma estou apavorada da falta tanta que sinto e da dor no coração.
E ainda por cima esse medo. Esse medo horrível e real, tão real, do fim que é imprevisível, ainda que certo.
O medo é tanto, que eu, na contra-fobia, me afasto e tomo as devidas providências - te perco de vez: eu me lanço no mundo de novo. Sem ti, é verdade. Mas, também sem a espera tão doída por ti ou por teu amor mais honesto, mais entregue.
Planejo uma retirada estratégica, à francesa - e tenho medo de fazer amor contigo.
Não quero que me vejas pela última vez, como quem vai ao velório. Não, essa não é a imagem de mim (embora também seja).
Ficas com minha saída elegante, pela porta da frente.
Fico-me pura saudade".
Carta
"Amor,
não queria que tivesses me conhecido dessa maneira - não assim, entregue à minha condição de mulher. Porque, por dentro, sou a mulher de Vinícius (com algo além da beleza, com essa coisa que chora: uma tristeza de se saber mulher - feita apenas para amar e para sofrer pelo seu amor).
Por dentro, amor, sou Chico Buarque, também eu atrás da porta, reclamando e chorando baixinho.
Sou essa, amor, além das outras. Não te assustes tu também; porque eu mesma estou apavorada da falta tanta que sinto e da dor no coração.
E ainda por cima esse medo. Esse medo horrível e real, tão real, do fim que é imprevisível, ainda que certo.
O medo é tanto, que eu, na contra-fobia, me afasto e tomo as devidas providências - te perco de vez: eu me lanço no mundo de novo. Sem ti, é verdade. Mas, também sem a espera tão doída por ti ou por teu amor mais honesto, mais entregue.
Planejo uma retirada estratégica, à francesa - e tenho medo de fazer amor contigo.
Não quero que me vejas pela última vez, como quem vai ao velório. Não, essa não é a imagem de mim (embora também seja).
Ficas com minha saída elegante, pela porta da frente.
Fico-me pura saudade".
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Pedido de Casamento
Ela se sentia em retalhos – os retalhos mais bonitos, todos reconfigurados em um patchwork delicado e gentil.
Mas, ela, rasgando peito adentro, incisura do amor, ouviu o chorar do homem.
Ela viu. Viu seu próprio intento.
E disse a si mesma:
Que é isso? Que fazes?
E respondeu a ela:
Me deixa viver.
A outra disse muitas justificativas, todas muito coerentes, todas elas razoáveis, avisava que aquilo não ia dar certo. Mas ela respondia:
E daí? E daí se não der certo?
A outra alertava:
Humilhação! Não vês!? Vai nos fazer humilhadas!
E ela, firme:
Nada. Vais ver só.
Foi assim que aconteceu, estou contando o que aconteceu – foi bem assim:
propôs a ele, então, casamento. Ofereceu-lhe seu pouco que era seu tudo. Disse a ele, diante de si mesma, que se abria para recebê-lo.
Disse-lhe:
Olha, vamos fazer uma vida nós dois.
Ele não quis.
Disse a ela que esperasse (a hora, a grana, a grama verde ficar amarela, as folhas caírem todas roxas, as veias fraquejarem, a menstruação vir, tartaruga brotar na areia, Alice crescer de novo, a limpeza do aquário – enfim, todas aquelas garantias de que daria certo).
A outra de dentro se retorcia de tanto rir. Ela chorava orgulhosa de ter sido si mesma – apesar de todos, tantos, claríssimos sinais de contramão. Mas, ela tinha ido. E isso era uma nova fronteira para si mesma.
Vencer uma fronteira não pode ser humilhante, pensava – a aninhar-se.
Mas o consolo não vinha. Porque colo, não tinha.
E a tristeza que dá, ela sabia de antemão. E já esperava por ela.
O outro não entrou, mas entrou a tristeza, faminta, loguinho, por dentro das frestas do peito. A tristeza a encheu toda, todinha, de lágrima. Então chorou. E falou bem alto na poesia.
A outra? Calou-se.
Quando fala a tristeza poética, todas restam emudecidas de tanto respeito.
Pedido de Casamento
Ela se sentia em retalhos – os retalhos mais bonitos, todos reconfigurados em um patchwork delicado e gentil.
Mas, ela, rasgando peito adentro, incisura do amor, ouviu o chorar do homem.
Ela viu. Viu seu próprio intento.
E disse a si mesma:
Que é isso? Que fazes?
E respondeu a ela:
Me deixa viver.
A outra disse muitas justificativas, todas muito coerentes, todas elas razoáveis, avisava que aquilo não ia dar certo. Mas ela respondia:
E daí? E daí se não der certo?
A outra alertava:
Humilhação! Não vês!? Vai nos fazer humilhadas!
E ela, firme:
Nada. Vais ver só.
Foi assim que aconteceu, estou contando o que aconteceu – foi bem assim:
propôs a ele, então, casamento. Ofereceu-lhe seu pouco que era seu tudo. Disse a ele, diante de si mesma, que se abria para recebê-lo.
Disse-lhe:
Olha, vamos fazer uma vida nós dois.
Ele não quis.
Disse a ela que esperasse (a hora, a grana, a grama verde ficar amarela, as folhas caírem todas roxas, as veias fraquejarem, a menstruação vir, tartaruga brotar na areia, Alice crescer de novo, a limpeza do aquário – enfim, todas aquelas garantias de que daria certo).
A outra de dentro se retorcia de tanto rir. Ela chorava orgulhosa de ter sido si mesma – apesar de todos, tantos, claríssimos sinais de contramão. Mas, ela tinha ido. E isso era uma nova fronteira para si mesma.
Vencer uma fronteira não pode ser humilhante, pensava – a aninhar-se.
Mas o consolo não vinha. Porque colo, não tinha.
E a tristeza que dá, ela sabia de antemão. E já esperava por ela.
O outro não entrou, mas entrou a tristeza, faminta, loguinho, por dentro das frestas do peito. A tristeza a encheu toda, todinha, de lágrima. Então chorou. E falou bem alto na poesia.
A outra? Calou-se.
Quando fala a tristeza poética, todas restam emudecidas de tanto respeito.
Pedido de Casamento2
Respirava aliviada aquela
(Aquela bem do canto)
Que tinha medo
(Mas muito medo)
De ser feliz.
Pedido de Casamento2
Respirava aliviada aquela
(Aquela bem do canto)
Que tinha medo
(Mas muito medo)
De ser feliz.
domingo, 23 de setembro de 2007
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Data de Validade
Como pão com manteiga, que aprendi que pode ser guardada fora da geladeira.
Fazemos isso constantemente - o costume é de guardar as coisas resfriadas para que durem mais.
Ora, as coisas duram o tempo que valem. Depois de validadas, trocamos por outras.
Dentro de cada coisa corre o tempo. Não o Tempo - o tempo de cada coisa.
Mesmo que os produtos venham com datas de validade expressas na embalagem, insistimos em esquecer que nossa data de validade também expira e nós expiraremos com ela (pela última vez).
Pois que durem menos as minhas coisas!
Vou mantê-las à temperatura ambiente. Ficam mesmo mais saborosas e fáceis.
Durarão menos?
Com tanto sabor, eu provavelmente as consumirei antes do tempo.
Data de Validade
Como pão com manteiga, que aprendi que pode ser guardada fora da geladeira.
Fazemos isso constantemente - o costume é de guardar as coisas resfriadas para que durem mais.
Ora, as coisas duram o tempo que valem. Depois de validadas, trocamos por outras.
Dentro de cada coisa corre o tempo. Não o Tempo - o tempo de cada coisa.
Mesmo que os produtos venham com datas de validade expressas na embalagem, insistimos em esquecer que nossa data de validade também expira e nós expiraremos com ela (pela última vez).
Pois que durem menos as minhas coisas!
Vou mantê-las à temperatura ambiente. Ficam mesmo mais saborosas e fáceis.
Durarão menos?
Com tanto sabor, eu provavelmente as consumirei antes do tempo.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Paixão sem Remédio
A primeira vez que busquei ajuda, fui à psicanalista. Já me acompanhava dela há cinco ou seis anos; e ela me recomendava mais e mais encontros com ela para poder ter mais espaço para ver e elaborar todas aquelas coisas.
Depois de eu estar totalmente reformada, organizada, nutrida macrobioticamente, ter deixado o cigarro há mais de dois anos, estar trabalhando ininterruptamente e estudando como uma viciada (e andando em um manequim 36), eu tinha apenas um sintoma restante: chorava. E não sabia o porquê. Chorava a qualquer hora, sem razão aparente. E aquilo não podia continuar assim.
Recomendou-me ao psiquiatra. Isso muito antes de eu tentar me tornar uma. O psiquiatra, muito gentil e afável, recomendou-me pílulas coloridas, de manhã e à noite. Isso interromperia o choro, com o efeito colateral de aniquilar-me a capacidade criativa. Perda mínima, naquele caso. Apenas não escrevi uma única linha poética e não mais toquei em meu violão e também não compus uma única música nos três anos que se seguiram. Passou o choro, a análise seguia profunda, nunca questionei ou interrompi a medicação. Depois, ele me prescreveu comprimidos brancos, bem pequenos, porque eu não mais chorava (por motivo nenhum e por nenhum motivo) mas não conseguia me concentrar – a atenção estava se dispersando. Com os branquinhos, passei a render mais ainda! A atividade física intensificou-se, sentia-me disposta a correr às 4h da manhã, a alimentação, cada vez mais rígida. Passei a usar manequim 34 e desenvolvi um sistema controlador da minha alimentação chamado anorexia. Esse sistema perdurou comigo por dois anos. Eu perguntava para minha analista quando é que a vida começava. Para que eu fazia tanta preparação...?
Na terapia de família ouvi, pela primeira vez, que o violão podia ter sido uma habilidade lúdica de elaboração. Primeiros ‘glimps’ que tive da vida inconsciente.
Depois encontrei a instituição total. Como trabalhar lá era absolutamente insuportável, penetrante e patológico, eu adoeci mais. E continuava perguntando para minha analista, quando é que eu começaria a viver?
Um dia, ouvi de um tal curso em psico-análise, que passei a freqüentar com o acaso. E foi por ali, que me distraí e caí na vida. Não sei bem se foi o clima, a cor do tapete, o sentar-me no chão, o livro das mulheres que corriam com os lobos, a meditação dinâmica de Osho, os grupos com a Christiane e o amor que ela e sua família me deram. Não sei se foram as conversas com o Paulo Sérgio, com a Neneca ou a Eli. Não sei se foi morar um tempo com meu melhor amigo. Mas um dia, eu larguei a medicação. Pintei uma camisa branca, com a frase: “ser melhor o que se é, é melhor do que ser melhor do que se é”. E mesmo a frase estando ‘errada’, porque era: “ser melhor o que se é, vale mais que ser melhor do que se é”, aconteceu daquilo ter ficado muito bonito. Depois, arrisquei-me ao violão. Então, já nem sei mais. Eu me fui vida adentro, com música, poesia, literatura e paixão – muita paixão. Apaixonei-me perdidamente, sangrei de verdade. Foi lindo viver Vinícius de Moraes, Fernando Pessoa, Caio Fernando Abreu e Clarice (ah) Lispector. Ficou lindo de viver.
Como é que se faz para se curar de doença mental? Não sei. Para cada um é um processo diferente. Incluiu, para mim, gozar de verdade e muito; ter coragem de ter prazer; aceitar a presença contínua da morte e minha polegarice diante do mundo e da galáxia (sou um pixel); tocar meu violão e cantar; pintar de vez em quando; escrever muito; desenhar no paintbrush; falar bobagem e rir das bobagens todas e de mim mesma. Também, descobrir que sou viável no mundo como sou porque sou muito desimportante; acompanhar as pessoas e me envolver diretamente com elas e, com cada uma, ter uma vida.
E de viver dentro da vida, de atender ao chamado da minha alma e vir escrever agora, seis da manhã, de ir ao teatro e ao cinema e realmente ir lá sentir as coisas, de chorar com e à vontade (pelo menos uma vez por dia, quando dá) e de ir criando a minha vida só para mim, eu fui gostando cada vez mais desse troço de viver.
Prescrevo aos meus pacientes medicação, meditação, desenhos, trabalhos com argila, chiclete, balas e pirulitos, brincar de roda, cantar no chuveiro e expor-se amorosamente. Prescrevo que acreditem em si mesmos e que tentem se tornar quem são continuamente. Amo-os incondicionalmente, como a todos que consigo. Odeio também e sinto raiva às vezes de esperar, de ficar com fome quando não dá tempo de comer ou de dormir, de outras coisas e das injustiças. Depois passa e eu acho que é da vida (é a pimenta). Quando saio de mim, busco-me de volta. Especializei-me na minha arte de viver bem e algumas pessoas se ajudam através de mim.
Louca, eu? Pois digam o que quiserem. Isso passa. Também eu vou passar. E logo, como tudo o mais. Vou seguir tocando as gentes e as coisas. É que, viver com paixão, para mim, ficou imprescindível.
Paixão sem Remédio
A primeira vez que busquei ajuda, fui à psicanalista. Já me acompanhava dela há cinco ou seis anos; e ela me recomendava mais e mais encontros com ela para poder ter mais espaço para ver e elaborar todas aquelas coisas.
Depois de eu estar totalmente reformada, organizada, nutrida macrobioticamente, ter deixado o cigarro há mais de dois anos, estar trabalhando ininterruptamente e estudando como uma viciada (e andando em um manequim 36), eu tinha apenas um sintoma restante: chorava. E não sabia o porquê. Chorava a qualquer hora, sem razão aparente. E aquilo não podia continuar assim.
Recomendou-me ao psiquiatra. Isso muito antes de eu tentar me tornar uma. O psiquiatra, muito gentil e afável, recomendou-me pílulas coloridas, de manhã e à noite. Isso interromperia o choro, com o efeito colateral de aniquilar-me a capacidade criativa. Perda mínima, naquele caso. Apenas não escrevi uma única linha poética e não mais toquei em meu violão e também não compus uma única música nos três anos que se seguiram. Passou o choro, a análise seguia profunda, nunca questionei ou interrompi a medicação. Depois, ele me prescreveu comprimidos brancos, bem pequenos, porque eu não mais chorava (por motivo nenhum e por nenhum motivo) mas não conseguia me concentrar – a atenção estava se dispersando. Com os branquinhos, passei a render mais ainda! A atividade física intensificou-se, sentia-me disposta a correr às 4h da manhã, a alimentação, cada vez mais rígida. Passei a usar manequim 34 e desenvolvi um sistema controlador da minha alimentação chamado anorexia. Esse sistema perdurou comigo por dois anos. Eu perguntava para minha analista quando é que a vida começava. Para que eu fazia tanta preparação...?
Na terapia de família ouvi, pela primeira vez, que o violão podia ter sido uma habilidade lúdica de elaboração. Primeiros ‘glimps’ que tive da vida inconsciente.
Depois encontrei a instituição total. Como trabalhar lá era absolutamente insuportável, penetrante e patológico, eu adoeci mais. E continuava perguntando para minha analista, quando é que eu começaria a viver?
Um dia, ouvi de um tal curso em psico-análise, que passei a freqüentar com o acaso. E foi por ali, que me distraí e caí na vida. Não sei bem se foi o clima, a cor do tapete, o sentar-me no chão, o livro das mulheres que corriam com os lobos, a meditação dinâmica de Osho, os grupos com a Christiane e o amor que ela e sua família me deram. Não sei se foram as conversas com o Paulo Sérgio, com a Neneca ou a Eli. Não sei se foi morar um tempo com meu melhor amigo. Mas um dia, eu larguei a medicação. Pintei uma camisa branca, com a frase: “ser melhor o que se é, é melhor do que ser melhor do que se é”. E mesmo a frase estando ‘errada’, porque era: “ser melhor o que se é, vale mais que ser melhor do que se é”, aconteceu daquilo ter ficado muito bonito. Depois, arrisquei-me ao violão. Então, já nem sei mais. Eu me fui vida adentro, com música, poesia, literatura e paixão – muita paixão. Apaixonei-me perdidamente, sangrei de verdade. Foi lindo viver Vinícius de Moraes, Fernando Pessoa, Caio Fernando Abreu e Clarice (ah) Lispector. Ficou lindo de viver.
Como é que se faz para se curar de doença mental? Não sei. Para cada um é um processo diferente. Incluiu, para mim, gozar de verdade e muito; ter coragem de ter prazer; aceitar a presença contínua da morte e minha polegarice diante do mundo e da galáxia (sou um pixel); tocar meu violão e cantar; pintar de vez em quando; escrever muito; desenhar no paintbrush; falar bobagem e rir das bobagens todas e de mim mesma. Também, descobrir que sou viável no mundo como sou porque sou muito desimportante; acompanhar as pessoas e me envolver diretamente com elas e, com cada uma, ter uma vida.
E de viver dentro da vida, de atender ao chamado da minha alma e vir escrever agora, seis da manhã, de ir ao teatro e ao cinema e realmente ir lá sentir as coisas, de chorar com e à vontade (pelo menos uma vez por dia, quando dá) e de ir criando a minha vida só para mim, eu fui gostando cada vez mais desse troço de viver.
Prescrevo aos meus pacientes medicação, meditação, desenhos, trabalhos com argila, chiclete, balas e pirulitos, brincar de roda, cantar no chuveiro e expor-se amorosamente. Prescrevo que acreditem em si mesmos e que tentem se tornar quem são continuamente. Amo-os incondicionalmente, como a todos que consigo. Odeio também e sinto raiva às vezes de esperar, de ficar com fome quando não dá tempo de comer ou de dormir, de outras coisas e das injustiças. Depois passa e eu acho que é da vida (é a pimenta). Quando saio de mim, busco-me de volta. Especializei-me na minha arte de viver bem e algumas pessoas se ajudam através de mim.
Louca, eu? Pois digam o que quiserem. Isso passa. Também eu vou passar. E logo, como tudo o mais. Vou seguir tocando as gentes e as coisas. É que, viver com paixão, para mim, ficou imprescindível.
domingo, 9 de setembro de 2007
De Todas as Maneiras
No oco ficou-se vácuo
Do súbito arrancar-se teu
E eu nas entrelinhas
Perdida como após uma tempestade
O navio em frangalhos
Os farrapos, eu juntando
Meu coração espicaçado, esmiuçado, esmigalhado
Sensível que eu sou
Por isso preciso tantos cuidados
Tive reações duvidosas
(Até eu duvidava)
Apenas uma histeria tímida
E com ela compreendi melhor a mulher
Aquela que rasga e quebra as coisas da casa.
É o que sobra fazer
Quando o outro se faz passivo
De voz branda a destruir o mundo
Com silêncios a esmagar o dito
Que me senti ridícula a debater
Contra as paredes geladas mudas
Indiferença que alheia tudo
Que me exilou.
Palavras, venho buscar as minhas
A ver se converso comigo
Se deixo meu pensar mais bonito
Depois de ter lavado a louça, a roupa e o chão.
Quem sabe depois do domingo de sol
Um banho de mar semana que vem
Quem sabe em alguns dias, sei lá
Eu fico de novo nova.
Já sou eu nova agora
Sou outra mesmo assim, agora
Porque essas coisas malcompreendíveis
Que aturtulham a alma
São da vida e tristes, mas não injustas.
Venho explicar-me a mim
Para entender o inexplicável
Porque não tem ninguém para fazer
Tem gente muda lá fora
E barulhos incognoscíveis
Pássaros entoando hinos
E sinos na minha cabeça
Que nasci sendo tão frágil
E disposta a amar tanto
Que sou um disparate.
Não me arrependo das dores de amar
Compreendi desde sempre
Que amar era doendo (e não diferente disso)
Já entrei sabendo disso
E mesmo assim fui
E me dá alegrias que eu seja assim.
Não que isso seja uma escolha, não.
Não é isso que estou dizendo.
Estou candizendo para mim-menina
(Com voz de Chico Buarque)
Olha, florzinha,
Já passa da hora, está lindo lá fora
Larga dessa mão...
Solta as unhas do teu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
De Todas as Maneiras
No oco ficou-se vácuo
Do súbito arrancar-se teu
E eu nas entrelinhas
Perdida como após uma tempestade
O navio em frangalhos
Os farrapos, eu juntando
Meu coração espicaçado, esmiuçado, esmigalhado
Sensível que eu sou
Por isso preciso tantos cuidados
Tive reações duvidosas
(Até eu duvidava)
Apenas uma histeria tímida
E com ela compreendi melhor a mulher
Aquela que rasga e quebra as coisas da casa.
É o que sobra fazer
Quando o outro se faz passivo
De voz branda a destruir o mundo
Com silêncios a esmagar o dito
Que me senti ridícula a debater
Contra as paredes geladas mudas
Indiferença que alheia tudo
Que me exilou.
Palavras, venho buscar as minhas
A ver se converso comigo
Se deixo meu pensar mais bonito
Depois de ter lavado a louça, a roupa e o chão.
Quem sabe depois do domingo de sol
Um banho de mar semana que vem
Quem sabe em alguns dias, sei lá
Eu fico de novo nova.
Já sou eu nova agora
Sou outra mesmo assim, agora
Porque essas coisas malcompreendíveis
Que aturtulham a alma
São da vida e tristes, mas não injustas.
Venho explicar-me a mim
Para entender o inexplicável
Porque não tem ninguém para fazer
Tem gente muda lá fora
E barulhos incognoscíveis
Pássaros entoando hinos
E sinos na minha cabeça
Que nasci sendo tão frágil
E disposta a amar tanto
Que sou um disparate.
Não me arrependo das dores de amar
Compreendi desde sempre
Que amar era doendo (e não diferente disso)
Já entrei sabendo disso
E mesmo assim fui
E me dá alegrias que eu seja assim.
Não que isso seja uma escolha, não.
Não é isso que estou dizendo.
Estou candizendo para mim-menina
(Com voz de Chico Buarque)
Olha, florzinha,
Já passa da hora, está lindo lá fora
Larga dessa mão...
Solta as unhas do teu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Os ET´s Levaram meu Amigo
ET´s abduziram meu mais amantíssimo amigo
Devolveram um tipo muito diferente,
Que sequer era meu amigo (e o que se quer era o amigo)
Devolveram um outro:
Um alguém ocupado com a manutenção da integridade (Porque amar é misturar-se)
Um alguém ocupado com as perdas (Porque amar é fazer trocas)
Um alguém preocupado em resguardar-se (Porque amar é entrega)
Um alguém ocupado em ferir-me (Porque amar dói muito)
Um alguém ocupado, lotado de si mesmo (Porque amar é ocupar-se de outro também)
Um alguém que me culpava (Porque amar é responsabilizar-se)
Com esse um, não pude.
Fiquei-me toda retorcida
Com colchas a forrar o chão da sala
Porque na cama não pude dormir.
Rondam-me os fantasmas de tudo que não seremos.
Porque ET´s levaram meu amigo.
E quando eles o fazem,
não devolvem nunca mais.
Os ET´s Levaram meu Amigo
ET´s abduziram meu mais amantíssimo amigo
Devolveram um tipo muito diferente,
Que sequer era meu amigo (e o que se quer era o amigo)
Devolveram um outro:
Um alguém ocupado com a manutenção da integridade (Porque amar é misturar-se)
Um alguém ocupado com as perdas (Porque amar é fazer trocas)
Um alguém preocupado em resguardar-se (Porque amar é entrega)
Um alguém ocupado em ferir-me (Porque amar dói muito)
Um alguém ocupado, lotado de si mesmo (Porque amar é ocupar-se de outro também)
Um alguém que me culpava (Porque amar é responsabilizar-se)
Com esse um, não pude.
Fiquei-me toda retorcida
Com colchas a forrar o chão da sala
Porque na cama não pude dormir.
Rondam-me os fantasmas de tudo que não seremos.
Porque ET´s levaram meu amigo.
E quando eles o fazem,
não devolvem nunca mais.
Ain´t it something?
Fui assistir a peça
As Lágrimas Amargas de de Petra Von Kant
Texto de Rainer Werner Fassbinder:
Homem que sequer acreditava possível que uma relação amorosa fosse norteada por uma ética que não a do poder.
Jogos de dominação são apresentados com resultados dramáticos intensos de dor.
É o único resultado possível - esse da dor - em se tratando de gangorras entre as pessoas.
Outra noite conversávamos sobre a retaliação que ouvimos quando nosso pensamento se vai autônomo durante o cenário de um encontro. Ou seja, quando estávamos ouvindo alguém e nosso pensamento trouxe outra imagem. Vendo isso, o locutor reage com fúria porque não estávamos mais prestando a atenção que ele julgava necessária - sentindo-se menosprezado.
Ora, muito pouco tem que ver com o amor que sentimos. Isso fala somente da vaidade.
Mostra que é desejada uma posição supra-humana de quem escuta, como se isso fosse possível. Não comandamos o pensamento e isso não é denegridor de coisa alguma.
A rejeição não acontece por menosvalia do rejeitado, mas sim pelo interesse em outras coisas.
"O ser humano é um vaso ruim de quebrar. O ser humano é duro e brutal e qualquer um, para ele, é substituível" - diz Petra Von Kant.
Somos substituíveis, claro que sim. Melhor ainda é o termo em inglês: replaceable - able to be replaced - passível de ser realocado, de mudar de posição, de lugar.
Isso não nos faz menos válidos.
Somos, desse modo, livres.
Podemos, inclusive, morrer. Dada nossa pouca importância, melhor é viver apenas como queremos.
Amar fica sendo, assim, uma habilidade que precisa ter como precursora essa informação.
Somos perfeitamente realocáveis e, se ficamos juntos, é apenas porque queremos.
Não há garantias - ainda bem.
Ain´t it something?
Fui assistir a peça
As Lágrimas Amargas de de Petra Von Kant
Texto de Rainer Werner Fassbinder:
Homem que sequer acreditava possível que uma relação amorosa fosse norteada por uma ética que não a do poder.
Jogos de dominação são apresentados com resultados dramáticos intensos de dor.
É o único resultado possível - esse da dor - em se tratando de gangorras entre as pessoas.
Outra noite conversávamos sobre a retaliação que ouvimos quando nosso pensamento se vai autônomo durante o cenário de um encontro. Ou seja, quando estávamos ouvindo alguém e nosso pensamento trouxe outra imagem. Vendo isso, o locutor reage com fúria porque não estávamos mais prestando a atenção que ele julgava necessária - sentindo-se menosprezado.
Ora, muito pouco tem que ver com o amor que sentimos. Isso fala somente da vaidade.
Mostra que é desejada uma posição supra-humana de quem escuta, como se isso fosse possível. Não comandamos o pensamento e isso não é denegridor de coisa alguma.
A rejeição não acontece por menosvalia do rejeitado, mas sim pelo interesse em outras coisas.
"O ser humano é um vaso ruim de quebrar. O ser humano é duro e brutal e qualquer um, para ele, é substituível" - diz Petra Von Kant.
Somos substituíveis, claro que sim. Melhor ainda é o termo em inglês: replaceable - able to be replaced - passível de ser realocado, de mudar de posição, de lugar.
Isso não nos faz menos válidos.
Somos, desse modo, livres.
Podemos, inclusive, morrer. Dada nossa pouca importância, melhor é viver apenas como queremos.
Amar fica sendo, assim, uma habilidade que precisa ter como precursora essa informação.
Somos perfeitamente realocáveis e, se ficamos juntos, é apenas porque queremos.
Não há garantias - ainda bem.
terça-feira, 4 de setembro de 2007
Post it Para Mim
Não precisa ficar severa, nem nada disso.
Chora - que é melhor
Ficar triste com a pequenez
Ou com a impotência
Que se sobrepõe
Às vezes, quando
Mesmo com toda a criatividade que dispôs
Ainda não foi suficiente.
Tentaremos de novo
E de novo, e de novo
Se quisermos muito.
Se não quisermos tanto assim,
Partiremos para outra coisa.
Vamos juntas ver no que dá
Aí, então, decidiremos
Sem decisão pensada
Seja lá então o que for.
Post it Para Mim
Não precisa ficar severa, nem nada disso.
Chora - que é melhor
Ficar triste com a pequenez
Ou com a impotência
Que se sobrepõe
Às vezes, quando
Mesmo com toda a criatividade que dispôs
Ainda não foi suficiente.
Tentaremos de novo
E de novo, e de novo
Se quisermos muito.
Se não quisermos tanto assim,
Partiremos para outra coisa.
Vamos juntas ver no que dá
Aí, então, decidiremos
Sem decisão pensada
Seja lá então o que for.
domingo, 2 de setembro de 2007
De Novo Aniversário
Combinou com o frio, que esse ano está marcante e bonito: um dia nublado, um pouco chuvoso e intenso.
Teve presença enólica (inventei o termo) e isso também sintoniza. Teve trabalho, também, que é uma grande presença em minha vida.
Teve meu pai, com sua companheira e minha irmã to be.
Teve pensamentos também, anuviantes. Depois passaram. Ficou melhor ainda à noite, com o amor presente em minha vida, com rostos diferentes. Teve palhaço e bolo.
Teve presentes, conversas variadas, espalhadas alma adentro. Teve mudanças. Principalmente, mudanças. Isso é o que faz de qualquer dia, um dia vivo.
Recebi mensagens de tempos-distâncias. Recebi mensagens de agora.
A delícia é saber-me dentro de mim.
Os pesares ficam menores vistos assim. Pouco importantes. Vividos ainda, embora na sua miudez. Fica melhor o de mais valor pra mim. E é assim que eu vejo que preciso ser; e isso é bom.
Abro os olhos no meu momento - e é real, por isso é certo.
O resto fica na poeira do universo paralelo do 'e se' - que eu não conheço, nem nunca saberei.
E tudo bem.
De Novo Aniversário
Combinou com o frio, que esse ano está marcante e bonito: um dia nublado, um pouco chuvoso e intenso.
Teve presença enólica (inventei o termo) e isso também sintoniza. Teve trabalho, também, que é uma grande presença em minha vida.
Teve meu pai, com sua companheira e minha irmã to be.
Teve pensamentos também, anuviantes. Depois passaram. Ficou melhor ainda à noite, com o amor presente em minha vida, com rostos diferentes. Teve palhaço e bolo.
Teve presentes, conversas variadas, espalhadas alma adentro. Teve mudanças. Principalmente, mudanças. Isso é o que faz de qualquer dia, um dia vivo.
Recebi mensagens de tempos-distâncias. Recebi mensagens de agora.
A delícia é saber-me dentro de mim.
Os pesares ficam menores vistos assim. Pouco importantes. Vividos ainda, embora na sua miudez. Fica melhor o de mais valor pra mim. E é assim que eu vejo que preciso ser; e isso é bom.
Abro os olhos no meu momento - e é real, por isso é certo.
O resto fica na poeira do universo paralelo do 'e se' - que eu não conheço, nem nunca saberei.
E tudo bem.