O Brasil tem a segunda maior população de cachorros, com 30 milhões. Somente atrás dos Estados Unidos. Porto Alegre é uma das capitais mais cachorreiras do país. Todo mundo que passeia pelas praças encontra o lado solar do afeto, donos dedicados, todo tipo de raça, animais brincando e até dispensers de sacos nas esquinas para recolher o cocô.
Para ver o fenômeno, basta sair do prédio e pisar na calçada: sempre terá um dono puxando coleira.
A pet shop tem sido um dos negócios mais rentáveis. Só no meu quarteirão, na Bela Vista, tem três lojas.
Por detrás da civilização, há sempre a doença. Debaixo da doença, a bizarrice. A primeira delas é a edição de abril da revista Void. Parecia brincadeira, mas era verdade. Uma das principais reportagens ensinava a ter relações sexuais com seu animal de estimação. Inclusive, com dicas e o passo-a-passo. O que significa: qual produto passar na genitália para o animal lamber.
Marques de Sade é fichinha.
Não é meu objetivo a crucificação de quem escreveu ou publicou, nem mesmo acredito que uma revista pode agravar as estatísticas das perversões sexuais.
O fato é que o texto legitima o desvio, autoriza a acharmos normal o que é patológico.
Não é que o bestialismo não exista ou precise de linchamentos e condenações morais. Kinsey, um cientista norteamericano, entrevistou 20 mil conterrâneos a respeito de sua sexualidade. Descobriu que 8% dos homens e 3,5% das mulheres tiveram algum tipo de experiência com animais. Na área rural, o índice alcançou 50% de positividade.
Considerando a fauna doméstica brasileira, os dados de Kinsey acenam com algo em torno de 300 mil pessoas com este tipo de transtorno da preferência sexual: uma população doente que passa a ser autorizada, confortada e estimulada pelo artigo a seguir silenciosa com suas práticas.
A Void insinua uma tendência através do modo fetichista com que apresentou a matéria. Emprestou charme e bom humor ao que deveria receber uma atenção terapêutica.
Nem estou falando das exceções, dos atos movidos pela desinformação, pela curiosidade infantil ou induzidos culturalmente.
O problema é dar informação para aperfeiçoar a atitude.
Na reportagem, é citada uma corrente filosófica como referência bibliográfica, a defesa dos animais praticada por Peter Singer.
Não está aqui em questão a tradição judaico-cristã, onde somos separados dos animais por termos semelhança a deus; não está em pauta a superioridade suposta pelo homem sobre os bichos: é o contrário. Por termos um intelecto privilegiado é que precisamos protegê-los.
Afirmar que o animal aceita o prazer oferecido pelo humano é o mesmo que concluir que a criança molestada também está apta a consentir.
Sabemos que no abuso sexual, o ofensor, na maioria dos casos, alega estar apenas proporcionando uma coisa boa, sensações prazerosas e carícias.
Semelhança aqui não é coincidência.
Seduzir um animal é um sintoma. Quem vive desse prazer precisa de ajuda especializada. O resto é folia irresponsável para aumentar o número de leitores.
Para ver o fenômeno, basta sair do prédio e pisar na calçada: sempre terá um dono puxando coleira.
A pet shop tem sido um dos negócios mais rentáveis. Só no meu quarteirão, na Bela Vista, tem três lojas.
Por detrás da civilização, há sempre a doença. Debaixo da doença, a bizarrice. A primeira delas é a edição de abril da revista Void. Parecia brincadeira, mas era verdade. Uma das principais reportagens ensinava a ter relações sexuais com seu animal de estimação. Inclusive, com dicas e o passo-a-passo. O que significa: qual produto passar na genitália para o animal lamber.
Marques de Sade é fichinha.
Não é meu objetivo a crucificação de quem escreveu ou publicou, nem mesmo acredito que uma revista pode agravar as estatísticas das perversões sexuais.
O fato é que o texto legitima o desvio, autoriza a acharmos normal o que é patológico.
Não é que o bestialismo não exista ou precise de linchamentos e condenações morais. Kinsey, um cientista norteamericano, entrevistou 20 mil conterrâneos a respeito de sua sexualidade. Descobriu que 8% dos homens e 3,5% das mulheres tiveram algum tipo de experiência com animais. Na área rural, o índice alcançou 50% de positividade.
Considerando a fauna doméstica brasileira, os dados de Kinsey acenam com algo em torno de 300 mil pessoas com este tipo de transtorno da preferência sexual: uma população doente que passa a ser autorizada, confortada e estimulada pelo artigo a seguir silenciosa com suas práticas.
A Void insinua uma tendência através do modo fetichista com que apresentou a matéria. Emprestou charme e bom humor ao que deveria receber uma atenção terapêutica.
Nem estou falando das exceções, dos atos movidos pela desinformação, pela curiosidade infantil ou induzidos culturalmente.
O problema é dar informação para aperfeiçoar a atitude.
Na reportagem, é citada uma corrente filosófica como referência bibliográfica, a defesa dos animais praticada por Peter Singer.
Não está aqui em questão a tradição judaico-cristã, onde somos separados dos animais por termos semelhança a deus; não está em pauta a superioridade suposta pelo homem sobre os bichos: é o contrário. Por termos um intelecto privilegiado é que precisamos protegê-los.
Afirmar que o animal aceita o prazer oferecido pelo humano é o mesmo que concluir que a criança molestada também está apta a consentir.
Sabemos que no abuso sexual, o ofensor, na maioria dos casos, alega estar apenas proporcionando uma coisa boa, sensações prazerosas e carícias.
Semelhança aqui não é coincidência.
Seduzir um animal é um sintoma. Quem vive desse prazer precisa de ajuda especializada. O resto é folia irresponsável para aumentar o número de leitores.
Confira a Crônica Falada:
Quer ler a matéria em questão?
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Quer ler Peter Singer?
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