EPITÁFIO
O Fogo não depende
de roupas de baixo.
O Fogo não depende
de roupas de baixo.
Acordou sábado e gritou do quarto. Como uma urgência no closet, um infarto nas prateleiras:
- Preciso comprar cuecas!
Primeiro, não dei bola e continuei o café. Mas ele deu sequência:
- Não tenho mais! Não sei onde estão as cuecas. Acabaram? Sumiram?
- Sei lá, Bitols.
- Já vasculhei na casa da mãe. Minha esperança estava nas tuas gavetas.
- Tá bem. Que drama. A gente compra cuecas.
Como não dei importância, saiu à cata de meu irmão. Achou um compadre. Discorreram sobre o tema das cuecas velhas, que gastavam, que sumiam. Filosofaram sobre o sinal de maturidade masculina que é poder comprar as próprias roupas íntimas, debateram sobre as grifes e os modelos. Relembraram a infância das sungas, a jovialidade das boxers e trocaram minúncias acerca dos tecidos sintéticos.
Logo mais, antes do almoço, fomos aos salão. Chegando na manicure, pedi:
- Bitols, vai comigo no posto fazer minha vacina?
- Tá, mas eu preciso ir comprar cuecas.
Mas que merda de história de precisar urgentemente de calçolas era aquela? Comecei a desconfiar. Por que não foi no mês passado? Por que não pensou nisso antes? Por que não lembrou nem no auge do verão? Um pouco mais de meditação e concluí:
- Ah, sim, o senhor vai viajar a partir da próxima semana e pelo mês todo! Quer fazer um tour cuequístico pelo Brasil. Canalha!
- Como assim, amor?
- Mas é óbvio! Como não vi de cara? Tu quer motivo pra tirar as calças com orgulho. Escuta aqui, Fabrício, eu, quando sabia que ninguém ia ver, não combinava calcinha e sutiã, não. Ia de time misto. Time misto é a prova da boa intenção. Cueca velha é o time misto do homem!
- Não é isso, amor, são para ti.
- Pra mim? Pois se é assim, de cueca eu tô legal. Quanto mais velhas e mais descoloridas, mais me sentirei amada.
Ele riu, afirmou-me paranóica e assumiu que poderia deixar para a volta, tudo bem.
- É, pode ser.
- Tu tem as calcinhas mais bonitas sempre, nunca te acusei por usá-las fora da cidade!
- É, pode ser.
Eu fui me acalmando. Terminei rindo com a Val enquanto ela esmaltava as unhas e me apoiava. Cochichou:
- Não deixa viajar de cueca nova jamais!
Confessou que seu o marido não recebia essa liberdade. No minuto final, ela abria a mala e fazia a troca. Tinha um fundo falso de peças íntimas puídas e manchadas só para o caso.
Voltamos em casa para resgatar meu irmão e fomos comer. Dentro do carro, a comédia voltou a baila. Bitols quis garantir o apoio machístico para a desforra final da minha suposta vã desconfiança. Meu irmão, fanzoca de um deixa disso como poucos, saiu com a pérola:
- É claro! Imagina, muito pior seria ele voltando de São Paulo com as cuecas novas.
- Claro, imagina. – apoiou Bitols.
É claro. Mas pra que imaginar se a gente pode lembrar do moço em questão CHEGANDO com várias cuecas novas da última viagem.
- Preciso comprar cuecas!
Primeiro, não dei bola e continuei o café. Mas ele deu sequência:
- Não tenho mais! Não sei onde estão as cuecas. Acabaram? Sumiram?
- Sei lá, Bitols.
- Já vasculhei na casa da mãe. Minha esperança estava nas tuas gavetas.
- Tá bem. Que drama. A gente compra cuecas.
Como não dei importância, saiu à cata de meu irmão. Achou um compadre. Discorreram sobre o tema das cuecas velhas, que gastavam, que sumiam. Filosofaram sobre o sinal de maturidade masculina que é poder comprar as próprias roupas íntimas, debateram sobre as grifes e os modelos. Relembraram a infância das sungas, a jovialidade das boxers e trocaram minúncias acerca dos tecidos sintéticos.
Logo mais, antes do almoço, fomos aos salão. Chegando na manicure, pedi:
- Bitols, vai comigo no posto fazer minha vacina?
- Tá, mas eu preciso ir comprar cuecas.
Mas que merda de história de precisar urgentemente de calçolas era aquela? Comecei a desconfiar. Por que não foi no mês passado? Por que não pensou nisso antes? Por que não lembrou nem no auge do verão? Um pouco mais de meditação e concluí:
- Ah, sim, o senhor vai viajar a partir da próxima semana e pelo mês todo! Quer fazer um tour cuequístico pelo Brasil. Canalha!
- Como assim, amor?
- Mas é óbvio! Como não vi de cara? Tu quer motivo pra tirar as calças com orgulho. Escuta aqui, Fabrício, eu, quando sabia que ninguém ia ver, não combinava calcinha e sutiã, não. Ia de time misto. Time misto é a prova da boa intenção. Cueca velha é o time misto do homem!
- Não é isso, amor, são para ti.
- Pra mim? Pois se é assim, de cueca eu tô legal. Quanto mais velhas e mais descoloridas, mais me sentirei amada.
Ele riu, afirmou-me paranóica e assumiu que poderia deixar para a volta, tudo bem.
- É, pode ser.
- Tu tem as calcinhas mais bonitas sempre, nunca te acusei por usá-las fora da cidade!
- É, pode ser.
Eu fui me acalmando. Terminei rindo com a Val enquanto ela esmaltava as unhas e me apoiava. Cochichou:
- Não deixa viajar de cueca nova jamais!
Confessou que seu o marido não recebia essa liberdade. No minuto final, ela abria a mala e fazia a troca. Tinha um fundo falso de peças íntimas puídas e manchadas só para o caso.
Voltamos em casa para resgatar meu irmão e fomos comer. Dentro do carro, a comédia voltou a baila. Bitols quis garantir o apoio machístico para a desforra final da minha suposta vã desconfiança. Meu irmão, fanzoca de um deixa disso como poucos, saiu com a pérola:
- É claro! Imagina, muito pior seria ele voltando de São Paulo com as cuecas novas.
- Claro, imagina. – apoiou Bitols.
É claro. Mas pra que imaginar se a gente pode lembrar do moço em questão CHEGANDO com várias cuecas novas da última viagem.
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