Ouço a voz,
a secreta voz.
Por trás dos ruídos da televisão e do microondas e das ondas eletroestáticas e das vozes da rua e da família no vizinho e dos carros e motos e ônibus e caminhões e camionetas com mudanças e das mudanças e dos móveis todos arrastando e das faxineiras com seus rádios na AM e dos homens com seus rádios na AM e das bicicletas e dos jornaleiros e da água da chuva e do vento e da água dos banhos e dos chuveiros e das louças sendo lavadas e das comidas sendo comidas e dos jogos no estádio ao longe e das torcidas e das brigas distorcidas e da estrada que zune e dos faróis trocando as cores e das árvores caindo e do telefone tocando e do som de dentro dele e uma infinidade de sons que se somam e se confluem numa onda espiralada que vai afunilando-se pelo meu canal auditivo e vibrando o tambor que conta pro cérebro o que passa lá fora.
Mas ouço a voz,
a secreta voz.
Que me conta a minha verdade; e se posso filtrar tudo lá fora (lá fora nos sons que nem sei, lá fora no céu dos pensamentos) eu consigo ouvir.
Meu desejos sussurrados e secretos - esses que não conto pra ninguém. Esses que sou eu mais do que tudo que aparento, do que digo. São os não ditos - nem benditos, nem malditos.
Ouço a voz, a secreta voz, que sussurra: vai.
Como uma brisa rasteira e do sul, vento terral, baixo, úmido. Vai - ela diz. Com o 'a' bem vocalizado, espichado e comprido: vaaai... Com reticências ao fim. Depois, seguem-se uma infinidade de pedidos, todos muito válidos e vivos. E todos os quereres vão-se interpondo como num bordado ou num crochê. Vai...
Essa é a secreta voz. Cantou-a Vinícius. Personificou-a Vinícius. Viveu-a Vinícius. E Carlos - que foi ser gauche na vida.
E eu, agora que a ouço, compreendo. Não há como não me atender. O sussuro é doce.
E Vou.
a secreta voz.
Por trás dos ruídos da televisão e do microondas e das ondas eletroestáticas e das vozes da rua e da família no vizinho e dos carros e motos e ônibus e caminhões e camionetas com mudanças e das mudanças e dos móveis todos arrastando e das faxineiras com seus rádios na AM e dos homens com seus rádios na AM e das bicicletas e dos jornaleiros e da água da chuva e do vento e da água dos banhos e dos chuveiros e das louças sendo lavadas e das comidas sendo comidas e dos jogos no estádio ao longe e das torcidas e das brigas distorcidas e da estrada que zune e dos faróis trocando as cores e das árvores caindo e do telefone tocando e do som de dentro dele e uma infinidade de sons que se somam e se confluem numa onda espiralada que vai afunilando-se pelo meu canal auditivo e vibrando o tambor que conta pro cérebro o que passa lá fora.
Mas ouço a voz,
a secreta voz.
Que me conta a minha verdade; e se posso filtrar tudo lá fora (lá fora nos sons que nem sei, lá fora no céu dos pensamentos) eu consigo ouvir.
Meu desejos sussurrados e secretos - esses que não conto pra ninguém. Esses que sou eu mais do que tudo que aparento, do que digo. São os não ditos - nem benditos, nem malditos.
Ouço a voz, a secreta voz, que sussurra: vai.
Como uma brisa rasteira e do sul, vento terral, baixo, úmido. Vai - ela diz. Com o 'a' bem vocalizado, espichado e comprido: vaaai... Com reticências ao fim. Depois, seguem-se uma infinidade de pedidos, todos muito válidos e vivos. E todos os quereres vão-se interpondo como num bordado ou num crochê. Vai...
Essa é a secreta voz. Cantou-a Vinícius. Personificou-a Vinícius. Viveu-a Vinícius. E Carlos - que foi ser gauche na vida.
E eu, agora que a ouço, compreendo. Não há como não me atender. O sussuro é doce.
E Vou.
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