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quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Parreira


(Oscar Capeche - Bodegón con Uvas)
Minhas irmãs e eu.
Colocamo-nos em uma parreira. Penduramos os nossos cachos de suculentas uvas de palavras. As palavras são envolvidas em delicadas cascas transparentes, prontas a serem sorvidas, com ou sem sementes.
Costumamos temer engolir as sementes das uvas. É porque as sementes, quando engolidas junto com o doce da polpa, na hora de serem digeridas, podem causar inflamação. Essa inflamação será na ponta inútil e, por isso mesmo, misteriosa do intestino: o apêndice. O apêndice também tem um pouco o formato de um cachinho. Um cachinho de intestino. Que inflamado, dói. Em geral, precisa de operação para retirada.
As sementes das nossas uvas não vão pro intestino. Vão ao coração. Também ele pode ficar um pouco inflamado. Mas se inflamar, será de paixão. O coração pega fogo às vezes. Nossas uvas de palavras aos cachos, têm sementes flamejantes. Delas nascem pequenos calores do bem. Esses focos calorentos chamam a atenção do portador pra região inflamada. Será preciso fazer algo a respeito. Em geral, a operação necessária não será de retirada. O foco que inflama precisará de cuidados - que pode resultar em reavivamento de partes mortas.
Nossos cachos têm forma de púbis, de tripa, de balão, de árvore. São como nuvens pras quais se imagina uma forma e um nome.
São beijos de fruta, de trato amoroso e consumo indicado em abundância.

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