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segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

O Grito I



(Fors Ferro, Mujer Bien parada)

O telefone me grita
Mas não quero
Não quero atender
Quem quer que seja
Mesmo que seja você
Não quero
Especialmente se lá dentro dele
Estiver sua voz

O telefone me grita
(Griiiiiita, Griiiiiiita)
Como eu gritava
Ainda agora, com Bethânia
Gritávamos eu, Bethânia e o telefone

Teus beijos nunca mais

Ah! Como eu queria a certeza
De que nunca mais

A certeza
Certeza como chuva quase caindo
Como carro quase partindo
Como sol quase nascido
Estrela que quasímoda

(E nem nada disso é certeza)

Uma certeza
Dessas que se inventa que é certo
Que se está fazendo o certo

Mesmo que desejo arda tanto
Mais que sol sagarana
Que ferida nua ao sal

Me arde o desejo
E sofro a alegria
De tanto sentir

De tanto amar
De gostar demais
De ter coração tão destroçado
Velho
Apertado
Coração
Que diz que tudo está
Ainda tão lá dentro
Que se espremem as coisas todas

Em tão pouco tempo
(por tão pouco temo)
Que será do resto
Que medo me dá
De fixar-me assim
Só de medo

Pra que não exploda
E o nó não aperte ainda mais
O nó do peito

De tanto amar

Um comentário:

  1. ...e eu gritava (mudo) do lado de cá...A vida é a arte do encontro apesar de tantos desencontros dessa vida... saudade e nenhuma certeza...

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