Somos as famosas melhores amigas. Aquelas do pai xingar a demora ao telefone e de até suspeitar que fôssemos namoradas. Melhores amigas de se ver assim que desse, sempre que desse; de dormir uma na casa da outra; de contar tudo, tudo mesmo. Temos segredos partilhados e até segredos pela metade.
Adivinhávamos uma à outra e já queríamos saber das coisas e das gentes. Decorávamos horóscopos, lâminas de Tarot e agilizávamos a matemática da numerologia. Estávamos previstas. Éramos bruxas em irmandade e ritual. Éramos gêmeas absolutamente distintas. Nunca nos parecemos.
Tivemos nossas loucuras e brigas, porque amizade precisa passar por dentro da noite para amanhecer.
Pertencemos uma à outra na mesma vaga: sócias remidas. Temos o registro permanente de sermos da vida inteira.
Quando conheci o marido dela, sabia que seria o marido dela. Apresentei. Casaram. Fui eu quem rezou a cerimônia. Mais homenagem que isso nenhuma melhor amiga aguenta. Achei que ia morrer sacerdotisa.
Quando a Mírian engravidou, foi engraçado. Porque ela sempre disse que não queria ter filhos.
- Eca! Imagina se mexendo por dentro da barriga!
A gente ria. Eu argumentava o contrário:
- Eu quero ter uns três!
Ela achava a perspectiva pavorosa.
- Bah, não teria coragem.
Hoje eu não tenho vontade de ter filhos. Ela ganhou o Arthur.
O Arthur é filho dela com o André.
- Como que ele pode ser tão lindo?
- Que retórica.
- É uma emoção, guria. Tu não imagina. E a gente não consegue parar de olhar pra ele.
- Vai dar quebranto no guri.
- É como se a nossa vida fosse seguindo carreira, como se outro capítulo aparecesse de repente. O Arthur parece que já estava escrito para nós.
- Não exagera!
- Voltamos a acreditar nos astros e nos números. O sorriso dele parece um destino.
- Tá. E agora, Miroca, tu está amamentando?
- Ai, eu sim, guria. Tenho leite que sobrou para doação. O pessoal do banco vem buscar amanhã.
Bem coisa da Mica, mesmo. Eu jamais seria filantrópica com leite. Mania de ser messias. Agora é messias do Arthur também.
- E o parto, Mica?
- O Arthur não encaixava para nascer. É que eu fazia massagem nas costas dele todas às noites, antes de dormir. A barriga estava em “s” e pesava. A bolsa rompeu e nada do Arthur.
- Também! Com aquele carinho bom, quando ele iria querer abandonar a posição?
- Bah e tu não vai acreditar: assim que saiu, eu fiz o carinho nas costas igual que quando na barriga. Os olhinhos dele aprofundaram o foco e entraram direto em mim. Eles me reconheceram.
Crônica Falada no Programa Camarote TVCOM:
meu sorriso não cabe aqui.
ResponderExcluirque alegria, que orgulho das minhas amigas.
saudades.
bjos do Jaci.