Laranja Mecânica |
Nunca gostei de falar com taxistas. Meus hábitos são: sentar no banco de trás dando instruções específicas para não incentivar a aproximação; e virar uma múmia hipnotizada pela luz do telefone. Mas hoje, foi o Seu Nilo quem me levou. Um senhor carismático, sem ser bajulador. Um tesouro de papo ao volante. Nada de excepcional, falava despretensiosamente sobre como o dia se parecia domingo graças à derrota do Brasil na Copa; que tinha sido a única partida que acompanhou em todo o campeonato.
Então, me interessei — nos reconhecemos: calculava ser a única alienada completa ao tópico mais falado no país, praticamente uma analfabeta funcional da atualidade. Identificação é quando a gente se encontra dentro do outro. Confiei e nos ajustamos em uma conferência sobre corrupção. Achei que tinha perdido o parceiro por causa assunto escolhido que, em geral, termina naquele palanfrório sobre o governo. Só que Seu Nilo se incluiu. Quem fala de si como referência não está jogando conversa fora.
Não estou falando de outros: a corrupção começa aqui, disse, no táxi — apontando o painel. Esse aplicativo de celular chegou para mudar o mercado, mas porteiros de hotel recebem dois reais dos motoristas para serem os eleitos. Caso eu busque algum turista que peça para ir ao ‘Dominó’, por exemplo, questiono a escolha, pergunto: por que não vão ao Gruta Azul, que é uma casa de nome? Ou, melhor, por que não vão a certa casa com nome de mulher que tem na cidade? Sabe, a casa da tia Fulana (não vou citar para não acusar)? Ela paga sessenta reais para cada passageiro que eu desembarcar lá.
Continuou: se eu elaborar uma camiseta de ótima malha, excelente costura e levar a uma rede de lojas e pedir para mostrar o artigo, ninguém quer nem ouvir. Agora, se eu oferecer 5% das vendas em comissão, ah, isso promove meu produto!, faz com que se interessem. Não é a qualidade que vende, nem o preço: é a propina. E mais grave: nas escolas, os professores passam os alunos apenas para garantir a rematrícula. Não é a nota, é a “nota”. E todos reclamam juntos dos políticos. A firma de um colarinho branco vale milhares de reais, mas dez centavos já podem ser corrupção. É o valor da assinatura que muda, não a atitude.
Paguei cinco reais a mais pela corrida incentivando Seu Nilo a continuar em colóquios com quem anda em sua companhia. Pode ser que seu nome tenha encantado minha tumba — acabei convencida de que perdi muito nesses anos todos de preconceito. Ah, se todos escutassem o Seu Nilo.
Então, me interessei — nos reconhecemos: calculava ser a única alienada completa ao tópico mais falado no país, praticamente uma analfabeta funcional da atualidade. Identificação é quando a gente se encontra dentro do outro. Confiei e nos ajustamos em uma conferência sobre corrupção. Achei que tinha perdido o parceiro por causa assunto escolhido que, em geral, termina naquele palanfrório sobre o governo. Só que Seu Nilo se incluiu. Quem fala de si como referência não está jogando conversa fora.
Não estou falando de outros: a corrupção começa aqui, disse, no táxi — apontando o painel. Esse aplicativo de celular chegou para mudar o mercado, mas porteiros de hotel recebem dois reais dos motoristas para serem os eleitos. Caso eu busque algum turista que peça para ir ao ‘Dominó’, por exemplo, questiono a escolha, pergunto: por que não vão ao Gruta Azul, que é uma casa de nome? Ou, melhor, por que não vão a certa casa com nome de mulher que tem na cidade? Sabe, a casa da tia Fulana (não vou citar para não acusar)? Ela paga sessenta reais para cada passageiro que eu desembarcar lá.
Continuou: se eu elaborar uma camiseta de ótima malha, excelente costura e levar a uma rede de lojas e pedir para mostrar o artigo, ninguém quer nem ouvir. Agora, se eu oferecer 5% das vendas em comissão, ah, isso promove meu produto!, faz com que se interessem. Não é a qualidade que vende, nem o preço: é a propina. E mais grave: nas escolas, os professores passam os alunos apenas para garantir a rematrícula. Não é a nota, é a “nota”. E todos reclamam juntos dos políticos. A firma de um colarinho branco vale milhares de reais, mas dez centavos já podem ser corrupção. É o valor da assinatura que muda, não a atitude.
Paguei cinco reais a mais pela corrida incentivando Seu Nilo a continuar em colóquios com quem anda em sua companhia. Pode ser que seu nome tenha encantado minha tumba — acabei convencida de que perdi muito nesses anos todos de preconceito. Ah, se todos escutassem o Seu Nilo.
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