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quarta-feira, 30 de julho de 2014

LINDOS ERROS QUE DEIXEI DE COMETER

Meus 15 Anos

Eu debutei. Aos quinze anos, como todas as meninas que passam por isso. E, igual a elas, escolhi meu vestido junto com a mãe. Fui debutante: ensaiei no salão; planejei convidados nas mesas; madrinha; e livro preferido? O Pequeno Príncipe, mas citação de Fernando Pessoa — que achei que era da Vandeca, colega de minha mãe na faculdade que recitara os versos mentindo ser sua a autoria. Fraude em debut deve valer uns cem pai-nossos e vinte ave-marias. Mas ficou tudo certo, ninguém ouviu mesmo. 

O par. Ah, o par. Sonhei dias e noites como iria convidar o rapaz aquele, amigo de meu irmão mais velho. Moço guapíssimo, modelo profissional nas horas vagas, artilheiro do futebol nos fins de semana, estudante de engenharia. Coisa máscula, sempre achei, é um engenheiro. Tem um quê de testosterona a mais aquele que faz cálculos matemáticos de cabeça em voz alta e jamais erra o troco. Dá uma sensação de proteção para a conta bancária, uma rede de segurança para o cartão de crédito. Pode ser tudo mentira, mas acho um tesão.

Imaginava que ele ficaria lisonjeado e finalmente olharia para mim. E mais: nas fotografias, eu estaria de braços dados com o corpo que inspirou Michelangelo — seria a própria Pietá, mas eu em seus braços.

Só tive um probleminha. Diferente das colegas de baile, não pude eleger o príncipe. Nem pequeno, muito menos grande. Meus pais definiram que eu dançaria meia valsa com cada irmão, para que não cometesse nenhuma injustiça. O principal motivo? Porque eu não saberia escolher, iria me arrepender no álbum e nas filmagens muitos anos mais tarde.

Verdade seja dita: meu eleito estava mais para sapo no desdobramento dos eventos, mas não é disso que se trata a adolescência? De errar feio? Ou, melhor dizendo, de errar bonito? São os tropeços magistrais que nos trazem as melhores histórias. 

De qualquer forma, vejo as famílias repelindo pretendentes com a maior pretensão: não serve porque não tem futuro, não serve porque não tem genética, não serve porque não tem passado. Não serve, e pronto. 

O serviço do erro é esse mesmo — não funcionaria se fosse acerto. 

Se eu soubesse, na época, teria avisado: escuta, se não quer que eu namore ninguém de fora da família, terminarei em um escandaloso ménage à troi com os manos, tem certeza?

Não entendia esse problema de tendência à máfia em que eu estava metida e que, por algum motivo nefasto, segue na moda aqui no sul. Vai saber? Talvez o pessoal ache ridículo esse papo de crossing over e imagine que boa é a pureza dos genes. 

Quero aproveitar para informar que a ciência veio para ficar e que todo vira-latas melhora a espécie. Antes de repelir o candidato a genro, pense de novo. A outra opção seria Caim e Abel se matando campo a fora. Vou dizer e é duro para os ouvidos: a família é contra o amor. Quem não trai os seus, não faz os próprios.

[ http://cinthyaverri.com.br ]

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