domingo, 15 de agosto de 2010
Corpo são, mente sã.
Fabrício machucou as costas. Na hora de entrar no carro, de manhã, meu namorado girou o tronco sobre a cintura. Os músculos resultaram mais curtos que a ideia: puxaram a vértebra como uma roupa torcida. A dor lancinante veio na hora.
Depois de destrancar os ossos com o osteopata, de tratar o machucado com medicação, ele sobrecarregou os ombros. A vida sobre o teclado pode ser muito perigosa. Embora tenha grande preparo físico para mouse e digitação profissional, como do escritor, desabilitou as costas exigindo mais e mais do pescoço e dos membros superiores. Resultado: tendinites agudas. E dor.
Dois dias, mais tarde, durante o almoço, viu-se supreso:
- Não sei de onde apareceu esta irritação. Eu me sinto irado! Não parece que vem de mim. É uma sensação diferente. Minha paciência se esgotou. Vontade de arrebentar tudo.
- Sério que não faz ideia?, perguntei.
Era sério. Para ele, tudo o que aconteceu, o padecimento dos braços e dos tendões nada tinha que ver com seu nervosismo.
Foi com Fernando Pessoa que aprendi que “quando estou doente, estou doente, ideias e tudo. Não estou doente para outra coisa”. Ao deixar o cigarro, por exemplo, chorava noites a fio - jurava que não passava por abstinência. Com sinusite, quase acabei o namoro. Fui salva pelo antibiótico.
Temos um erro de crença: achamos que o pensamento vale mais que a sensação ou o sentimento. Mas é o corpo que decide. Ele interage primeiro, sinaliza, dita o ambiente, o cenário e o tom do raciocínio. É assim desde criança. Na infância ficamos chatos quando temos sono. Somos incapazes de perceber que aquele incômodo não passa de cansaço. Por mais que os pais indiquem a cama como solução ao choro, teimamos em ficar acordados.
O fenômeno da intolerância pela exaustão jamais termina. Ao contrário: fica especializado, ramificado e melhor distribuído. A regência do humor depende da afinação física.
Gripados, devemos contar com a constipação nasal e do discernimento; com a falta de forças nas pernas e no riso. Ao sofrermos contusões, precisamos esperar o baque no espírito.
Meu namorado reclamava da velhice antecipada. Não era. É infância malcurada.
>> Ouça esta Crônica Falada
Crônica Falada é um quadro do programa TalkRadio
Na rádio Itapema FM
Apresentação Katia Suman [@katiasuman]
Para ouvir o TalkRadio do dia 10.08.2010 - Clique aqui
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário