Isabelle Caro, em campanha para Nolita
Eu descobri que estava sofrendo de transtorno alimentar quando procurei na embalagem o quadradinho com as informações nutricionais. Até aí, tudo bem, mas a caixinha em questão era de sabonete.
A neurose é converter a composição de alimentos em bulas de remédios. Catar calorias em uma barra de sabão parece bizarro, mas não é uma atitude isolada e exclusiva.
Avançamos na fiscalização, além do controle do excesso. São atitudes fóbicas à comida mais do que preventivas. Atualmente, a normalidade é a restrição alimentar. Não se enxerga naturalidade feminina em relação ao alimento. Ela tem medo da comida, pânico de engordar. Ao sobrepeso, prefere cigarro, vomitar após a refeição ou exercícios físicos para punir a sobremesa. Cada vez mais corriqueiro como subir na balança do supermercado.
Talvez o surgimento do velho-do-saco da gula tenha sido na cozinha, quando a mãe fazia chantagem: oferecia o sorvete se a filha comesse o bife. O simples ato hipervalorizava o doce e inventava o salgado como castigo. Na época, entrávamos no terreno das proibições.
Nas festas de aniversário podemos comer “tudo o que queremos”. Essa tradição subentende a necessidade de polícia aos desejos em todos os outros dias. Não é à toa que temos tanto medo de atender ao apetite. A fome é o fantasma das adultas.
Personalidades adeptas aos movimentos anti-anorexia ainda são escassas, o debate é pequeno perto dos anúncios, dos outdoors, das atrizes ossudas, das modelos sem saboneteiras, das revistas enviesadas. Emagrecemos a verdade, desidratamos a inteligência, recebemos soro com imagens alteradas por photoshop. A moda é corrigir fotos de bebê no perfil do facebook antes de exibir aos amigos.
Eu descobri que estava recuperada no momento em que não sabia dizer a um amigo se o creme de leite que usamos no molho tinha sido “normal” ou “light”. Doença é quando perdemos o direito de nos distrair.
Somos o velho-do-saco. Ele não está debaixo da cama, mas debaixo da mesa.
A neurose é converter a composição de alimentos em bulas de remédios. Catar calorias em uma barra de sabão parece bizarro, mas não é uma atitude isolada e exclusiva.
Avançamos na fiscalização, além do controle do excesso. São atitudes fóbicas à comida mais do que preventivas. Atualmente, a normalidade é a restrição alimentar. Não se enxerga naturalidade feminina em relação ao alimento. Ela tem medo da comida, pânico de engordar. Ao sobrepeso, prefere cigarro, vomitar após a refeição ou exercícios físicos para punir a sobremesa. Cada vez mais corriqueiro como subir na balança do supermercado.
Talvez o surgimento do velho-do-saco da gula tenha sido na cozinha, quando a mãe fazia chantagem: oferecia o sorvete se a filha comesse o bife. O simples ato hipervalorizava o doce e inventava o salgado como castigo. Na época, entrávamos no terreno das proibições.
Nas festas de aniversário podemos comer “tudo o que queremos”. Essa tradição subentende a necessidade de polícia aos desejos em todos os outros dias. Não é à toa que temos tanto medo de atender ao apetite. A fome é o fantasma das adultas.
Personalidades adeptas aos movimentos anti-anorexia ainda são escassas, o debate é pequeno perto dos anúncios, dos outdoors, das atrizes ossudas, das modelos sem saboneteiras, das revistas enviesadas. Emagrecemos a verdade, desidratamos a inteligência, recebemos soro com imagens alteradas por photoshop. A moda é corrigir fotos de bebê no perfil do facebook antes de exibir aos amigos.
Eu descobri que estava recuperada no momento em que não sabia dizer a um amigo se o creme de leite que usamos no molho tinha sido “normal” ou “light”. Doença é quando perdemos o direito de nos distrair.
Somos o velho-do-saco. Ele não está debaixo da cama, mas debaixo da mesa.
>>Assista esta Crônica Falada
Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM.
Apresentação @katiasuman
Crônica de @cinthyaverri exibida em 20/08/10
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