EPITÁFIO
"Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram.
Amanhã também te vais".
"Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram.
Amanhã também te vais".
Disse o corvo:
"Nunca mais"*
"Nunca mais"*
A filha mais velha de Bitols mora em Brasília. O filho mais novo, em São Leopoldo. São meio-irmãos que são mais-irmãos. Adoram um tête-à-tête. Têm assuntos fabulosos, piadas, projetos em comum. Mantêm blogs, trocam músicas, enfim, eles se amam.
Resultado: contas astronáuticas de celular.
- Bitols, pelamordedeus, pede pra eles desligarem!
- Mas é o único contato deles! É um crime. Prefiro pagar.
- Mas porque eles não usam o Skype?
- Skype?
E foi assim que instalamos no micro de um e de outro o programa gratuito de vídeo e voz em tempo real. O primeiro domingo aconteceu: quase um milgare. Instalados na cozinha, aproveitamos horas e horas conversando com Mariana. Não só hablando: ela mostrou até a música nova! Vicente apresentou o álbum completo da copa e ela achou que a Coréia fosse o time do Inter. Quanto rir! Os irmãos agora eram mais perto de casa. Cora, a cachorra, também caiu nas graças da câmera.
E mais: o software recriou o ambiente familiar. Passamos a cozinhar com a Mariana em cima da geladeira, a debater em mesa redonda seus casos amorosos, suas questões escolares.
E mais: os avós entraram na ciranda. Carlos Nejar, desde o Rio de Janeiro, tomou café conosco na livraria em Gramado. Interações impossíveis que começaram a fazer parte do dia-a-dia.
E mais: eu e Bitols, que já usávamos Nextel para falar via rádio e estar juntos, ganhamos uma ponte a mais. Que ganho secundário maravilhoso. Bitols, quando viaja, me mostra o quarto do hotel, os presentes que ganhou nas feiras, conta tudo com detalhes, desenhos e gestos. É um teatro de dois, uma alegria de namorar. Às vezes, falamos desde a estrada. Me chama do carro, apresenta o motorista. A imagem e a voz chegam antes. Mostro pequenezas, curtas do youtube, twitters, textos. Trocamos carinhos quase tocados. Já dormi com ele lendo pra mim: cabeça em um travesseiro e a tela no outro. A saudade já é companhia. Jamais interrompemos o assunto nosso.
E mais? Sim, também tem a diversão privê, as piadinhas pornográficas, as promessas para logo mais, o aquecimento de deixar no ponto. Pronto para o abraço. E eu achando o Skype tudo de bom.
Santa ingenuidade, Batman!
Vamos do céu ao inferno em três segundos:
- Triiiiimmmmm, triiiimmmmm... – Faz o micro online.
- Pai, quem é Cristiana?
Na mesa de centro da sala, o Vicente anunciou com seus cílios marotos abanando. Chamando no Skype, umazinha, em pleno gozo de fim de semana. Espio a tela:
- Hum, quantas amigas no Skype, hein, Bitols? Rosana, Sílvia, Márcia, Letícia, Camila...
- É que me adicionaram. Não sei quem são. Achei rude não aceitar. Mas eu nunca atendo! Juro!
- Uhum. Sei.
Resultado: contas astronáuticas de celular.
- Bitols, pelamordedeus, pede pra eles desligarem!
- Mas é o único contato deles! É um crime. Prefiro pagar.
- Mas porque eles não usam o Skype?
- Skype?
E foi assim que instalamos no micro de um e de outro o programa gratuito de vídeo e voz em tempo real. O primeiro domingo aconteceu: quase um milgare. Instalados na cozinha, aproveitamos horas e horas conversando com Mariana. Não só hablando: ela mostrou até a música nova! Vicente apresentou o álbum completo da copa e ela achou que a Coréia fosse o time do Inter. Quanto rir! Os irmãos agora eram mais perto de casa. Cora, a cachorra, também caiu nas graças da câmera.
E mais: o software recriou o ambiente familiar. Passamos a cozinhar com a Mariana em cima da geladeira, a debater em mesa redonda seus casos amorosos, suas questões escolares.
E mais: os avós entraram na ciranda. Carlos Nejar, desde o Rio de Janeiro, tomou café conosco na livraria em Gramado. Interações impossíveis que começaram a fazer parte do dia-a-dia.
E mais: eu e Bitols, que já usávamos Nextel para falar via rádio e estar juntos, ganhamos uma ponte a mais. Que ganho secundário maravilhoso. Bitols, quando viaja, me mostra o quarto do hotel, os presentes que ganhou nas feiras, conta tudo com detalhes, desenhos e gestos. É um teatro de dois, uma alegria de namorar. Às vezes, falamos desde a estrada. Me chama do carro, apresenta o motorista. A imagem e a voz chegam antes. Mostro pequenezas, curtas do youtube, twitters, textos. Trocamos carinhos quase tocados. Já dormi com ele lendo pra mim: cabeça em um travesseiro e a tela no outro. A saudade já é companhia. Jamais interrompemos o assunto nosso.
E mais? Sim, também tem a diversão privê, as piadinhas pornográficas, as promessas para logo mais, o aquecimento de deixar no ponto. Pronto para o abraço. E eu achando o Skype tudo de bom.
Santa ingenuidade, Batman!
Vamos do céu ao inferno em três segundos:
- Triiiiimmmmm, triiiimmmmm... – Faz o micro online.
- Pai, quem é Cristiana?
Na mesa de centro da sala, o Vicente anunciou com seus cílios marotos abanando. Chamando no Skype, umazinha, em pleno gozo de fim de semana. Espio a tela:
- Hum, quantas amigas no Skype, hein, Bitols? Rosana, Sílvia, Márcia, Letícia, Camila...
- É que me adicionaram. Não sei quem são. Achei rude não aceitar. Mas eu nunca atendo! Juro!
- Uhum. Sei.
*Edgar Allan Poe
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