Ele tinha quase dois metros de loirice inédita porque era russo. Nunca tinha visto um russo antes. Só em provas de patinação no gelo.
Cara alto é quase sempre desengonçado ou parece jogador de basquete. Ele, não. Era grande, grande mesmo. Enorme. Coordenado. Minha amiga e eu viramos monotemáticas - só falávamos o quanto era dourado, alvo, olhos azuis, cílios quase brancos. Será que os pentelhos eram assim? E a inevitável pergunta seguinte:
- Será que era todo proporcional?
O dilema sobre o tamanho do segredo do tal semi-albino nos tirou o sono. Não podíamos sair daquele hotel sem descobrir a anatomia supostamente avantajada do sujeito. Afinal, éramos duas adolescentes de mochila pela Europa. Não fomos até lá para pouca sacanagem. O mínimo era conseguir dar uma espiada no privativo made in Moscou.
Era todo animado o moço e nossa praia era a tequila. Andávamos em altíssimo nível de preparo físico alcoólico. É fácil presumir: planejamos embriagá-lo.
- Vamos sair e tomar umas tequilas?
- Tequilas? Nunca tomei.
A comunicação foi rolando entre o inglês nível intermediário e o espanhol sofrível do recém chegado ao país. Mas entendeu “tequila”e nós entendemos o “nunca tomei”. Feito. Estava ralado.
Saiu feliz com a gente pela ronda em Madrid. Um martelinho, uma dançadinha; um martelinho, uma salsa. Já estávamos rindo pelo balcão.
- Está gostando da tequila?
- Oh, tequila “сzabui”.
- Quê?
- “Czabui”.
Mas a cara era um pouco torta. Estava achando ardida, concluímos. Ou seria forte? Só podia ser forte. Tequila ouro é forte mesmo, concordamos.
Cinco bares depois, muitos ritmos calientes, merengues e até um sambinha achamos por lá. E muita tequila. O gigantão, inteiraço; nós, olhos lacrimejantes, vertigem.
- Gostou da tequila?
- “Czabui”
- Que porra é “czabui”?
O bartender, rindo de gorjeta, dispara:
- “Czabui” é débil.
- Débil?
- É, como fraco.
Perestroika ganhou um novo sentido. Terminamos carregadas para o quarto. Sorte que era mesmo grande o tal Yuri.
Nada melhor que um intercâmbio pra curar do ensino médio.
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