Meu pai armazenou o vinho espumante de sua formatura para quando seus fihos se formassem. Quando chegou a hora, não tinha bolhinhas: só vinagre.
Minha sogra protegeu uma garrafa portuguesa de safra ano 1900 por mais de três décadas. O mesmo final cítrico foi reservado para ela.
Essa semana descobri que guardei meu vestido Ronaldo Fraga para as traças. As pestilentas minhoquinhas escavaram túneis no tecido. Um crime que deixei acontecer. Que vontade de chorar por todas as ocasiões que julguei inferiores. Não voltarão mais.
Mas não é só isso: a perda fatal da roupa predileta precisa ser honrada. Ao menos que me lembre de que aguardar não significa ter para depois.
Ficamos com a ilusão de que o melhor pode ficar para em seguida. A viagem tão sonhada, a cirurgia plástica. Aquilo que adiamos incessantemente: idiomas, pintura, escultura. Tudo o que espalhamos que era nossa verdadeira vocação e que estava impedida pelas necessidades financeiras. A vida que um dia iríamos viver.
Nada disso está sendo adiado. “Um dia” é sinônimo de nunca.
Converso com alguns aposentados que proclamam, num primeiro momento, sua liberdade:
- Não imagina como estou bem! Finalmente tenho tempo para mim.
São pessoas que não transformaram a rotina, mas sim, abandonaram seus ofícios. Não produzem mais que folhinhas verdes na horta. Depois de trinta minutos, revelam suas fundas mágoas:
- Me sinto tão sozinho!
- Me sinto tão frustrado!
O sonho da vida ideal de paz e tranquilidade está longe de ser verdade. Um tempo largo e ocioso é desagradável. Principalmente depois da aposentadoria, onde inutilidade tem cheiro de morte.
Férias infindáveis são um pesadelo. O bom das férias é saber que são transitórias. O mais bonito no entardecer é a tristeza da passagem.
Informar o cérebro de que não temos mais função no mundo é aposentar também o pensamento. Famosa é a história dos peixes no Japão que para serem mantidos frescos, são transportados com um tubarão no tanque. Nada mais rejuvenescedor que um desafio pela sobrevivência.
>>Assista esta Crônica Falada
Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM.
Apresentação @lerina
Crônica de @cinthyaverri exibida em 28/07/10
Simplesmente amei saber sobre essa história dos peixes no Japão. Faz pensar e muito. Vou levar comigo. Beijão queridona
ResponderExcluirQue bonita sua crônica, bem introspectiva, gosto disso.
ResponderExcluirHein, por que não vem com o Carpinejar para Curitiba dia 10?? =D
beijo
Lu,
ResponderExcluirque bem que leve contigo. Eu vou dentro também! beijo beijo
Laís,
ResponderExcluiradoraria. É difícil com a agenda, mas, quem sabe?
Beijooo
Cínthya,
ResponderExcluirE para Brasília? Quando vem?
beijinhos.
Cínthya,
ResponderExcluirBela crônica, capaz de nos fazer refletir sobre a importância de vivermos o hoje, mesmo que seja invitável nos preocuparmos com o amanhã. Refletir sempre vale a pena.
PS: bem que o Fabro podia vir a sua cidade natal para uma sessão de autógrafos do Mulher Perdigueira e você podia acompanhá-lo.
Oi, sister sis, estou aí. Bisus
ResponderExcluirLis,
ResponderExcluirquando chamarem o Fabro ou a mim para palestra!!
:) Beijo!
Fábio,
ResponderExcluircertamente. Não vejo a hora de ir para Caxias!! :) beijo!
Sis,
ResponderExcluirtb estou.
bjk!