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terça-feira, 14 de junho de 2011

Doutor Spot

EPITÁFIO

Dizia, pois,
Ouvir estrelas.





Duas coisas são impressionantes: o carinho das fãs do Bitols e o carinho do Bitols com suas admiradoras.

Alguns exageram dizendo que não existe relação entre obra e adorador, que não passa de ilusão. Estes céticos afirmam que o leitor vê com a lente de suas próprias coisas, da história pessoal e projeta em quem escreve o que bem entender.

Acontece que o Bitols dedica a vida para gerar, escreve pensando em quem vai receber, em proporcionar um tempo de experiência, uma aproximação. Tudo o que ele quer é que se identifiquem.

Ou seja: sim, é de propósito e, ao mesmo tempo, é sincero.

Eu mesma lia Carpinejar. Classifiquei O Amor Esquece de Começar como “maravilha”. Fiquei impressionada com a abundância de frases fortes, com o pensamento estruturado e inteligente. Gostei que ele visse as coisas pequenas com humor e sensibilidade. Mas, de resto, achei meio meloso, não fazia muito meu estilo de homem.

Algumas mulheres, ao contrário de mim, descobrem nele a bíblia de si mesmas.

E que beleza! Pensa quanta terapia economizam! Alguém traduzindo o que a gente se embaralha?

— Genial.

Eu entendo: é como um amigo íntimo. Daí elas pedem fotos e abraçam e nada me incomoda ou constrange.

Só tem uma coisa que eu detesto: quando ELE não se dá conta. Sério. As moças eu acho dez. Não, vinte. Acho super lindo e bacana.

Nunca fui de ter ídolos, exceto o Mike Patton. Se bem que não era beeeem um ídolo, quero dizer, era mais um tipo de vontade de ficar com ele. E não me deixaram ir no Rock in Rio que ele veio. Pior: meus pais me levaram para passar o verão na barragem onde nem TV pegava direito, quanto mais pegar o Mike Patton.

Enfim, se eu fosse ver o Mike Patton, não ia querer que a mulher dele ficasse por ali (ele não tinha mulher, mas enfim, se tivesse hipoteticamente). Ia ficar envergonhada de abraçar e tals. Pensando nisso, há uns tempos decidi que sair de perto é melhor, fica todo mundo mais à vontade. Claro, contando que ele VAI ter noção.

As senhoras e senhoritas carpinejáricas estão em seu direito irrevogável de tietes, certo? Ele é quem tem que manter a porra da compostura.

Acontece que o Bitols é muuuuuuito gentil. Muuuuuito legal. Muuuuuuuuuito cavalheiro. Isso pode ser confundido, já conversamos eu e ele sobre este comportamento e, para dizer bem a verdade, que saco ser governanta da etiqueta! E depois, é tudo problema meu — ele não tem problema com isso.

Quando a gente saiu de um show esses tempos, as garotas já estavam eriçadas, né? Pelo show, quero dizer. No saguão, viram o Bitols e fizeram gritedo, alguns grupos vieram, elas vêm em geral em mais de uma. Aí, eu fui saindo, como eu disse que faço, para eles se curtirem. Ficaram fazendo fotos. Eu dei a volta, desci as escadas indo ao estacionamento buscar o carro.

Ah, também! Eu que não me virasse para trás — assim não virava estátua de sal de fúria mortífera:

— Lá estava Bitols descendo uma de suas apreciadoras da mureta. Sabe? Aquele estilo Dirty Dancing, pegando pelo sovaco e baixando pertinho do corpo, apoiando com o tórax.

Patrick Swayze tupiniquim.

Uuui, que ódio. Vai ser gentil assim no inferno.

domingo, 12 de junho de 2011

Sinais

Para Eduardo Nasi

Alex Cross' Julia | Oil on paper | 17" x 23" | 2006

Não leio horóscopo, mas a secretária lê em voz alta. Todos os dias, Martina grita de sua mesa as influências ou grandes predições. Quando saio viajar, Martina manda mensagem para meu celular. Já disse que isso não me interessa, mas ela segue:

— Doutor Eduardo, o senhor fique atento, hein? Olha só: Urano continua pedindo abertura e trazendo novidades em sua carreira e vida profissional.

— Doutor Eduardo, o senhor não vai acreditar! Olha só: Plutão vibrando! Construção e criatividade fazem parte desse período. Bom dia pra reunião com o Doutor Marcos, né?

Martina encontra coincidências em tudo.

Hoje pela manhã, ela registrou o seguinte: “Doutor Eduardo, o senhor abra os olhos, hein? Em uma viagem ou em uma reunião com amigos você pode conhecer alguém que vai mexer com seu coração”.

Não discuto com Martina porque ela sobra. Por exemplo, ela me conseguiu hotel mesmo nesse horror que está a cidade. Olha, impressionante o efeito de uma conferência mundial, fico imaginando como será na Copa.

Pensava nisso justamente na hora da entrada, quando assino o papel de registro do hóspede. Dispenso o carregador e subo ao quarto com minha mínima bagagem.

No elevador observo que está escrito 72 no cartão.

— 72. — não percebo, mas digo em voz alta.

— Como, senhor? — replica o ascensorista.

— Ano do meu nascimento. Aqui, escrito na chave.

— Boa sorte, hein?

— Ah, se você diz, deve ser.

Encerro o diálogo estilo Martina com um sorriso forçado.

Atravesso o corredor já com o rosto exausto das conexões. Assim que abro a porta, deparo-me com uma senhora de rolos no cabelo. Penso primeiro que: minha nossa, ainda usam essas coisas na cabeça. Depois é que realizo: a dona está mesmo é no meu aposento. Confiro o número na chave, recuo e avisto a sinalização no marco. Confere: 72.

"72, e ela poderia ser minha mãe mesmo".

— O senhor não se preocupe, estou de saída. Mudei de quarto.

— Ah, sim, pois é. Achei estranho, mas...

Ela arasta sua mala devagar.

— Precisa de ajuda?

— Não, pode deixar, a vida é um parto sozinho.

— O quê?

— Nada, nada.

Ela conseguiu aumentar sua lentidão. O penhoir cor-de-rosa de gueixa aposentada.

A despedida nem virou livro porque tocaram a campainha. O rapaz da manutenção também parecia lento, era coxo, o que deveria aumentar o valor da sua gorjeta:

— Senhor, vim arrumar o banheiro.

— O banheiro?

— Sim.

Banheiro estragado. Aproveito a deixa e desço à recepção para que me troquem de quarto.

— Ah, pois não, senhor, sentimos pelo inconveniente.

O Recepcionista me entrega o novo salvo conduto, eu estava quase triste por abandonar meu nascimento.

Mas a indicação recente apontava 39, 3° andar. Engasguei. Agora era o ano de nascimento de minha mãe morta. Martina ficaria louca com os sinais.

Quando abro a porta encontro novamente a mulher de bobes, agora já sem bobes, totalmente nua, ainda de rosa, de quatro.

Freud não existe.

Sinais

Para Eduardo Nasi

Alex Cross' Julia | Oil on paper | 17" x 23" | 2006

Não leio horóscopo, mas a secretária lê em voz alta. Todos os dias, Martina grita de sua mesa as influências ou grandes predições. Quando saio viajar, Martina manda mensagem para meu celular. Já disse que isso não me interessa, mas ela segue:

— Doutor Eduardo, o senhor fique atento, hein? Olha só: Urano continua pedindo abertura e trazendo novidades em sua carreira e vida profissional.

— Doutor Eduardo, o senhor não vai acreditar! Olha só: Plutão vibrando! Construção e criatividade fazem parte desse período. Bom dia pra reunião com o Doutor Marcos, né?

Martina encontra coincidências em tudo.

Hoje pela manhã, ela registrou o seguinte: “Doutor Eduardo, o senhor abra os olhos, hein? Em uma viagem ou em uma reunião com amigos você pode conhecer alguém que vai mexer com seu coração”.

Não discuto com Martina porque ela sobra. Por exemplo, ela me conseguiu hotel mesmo nesse horror que está a cidade. Olha, impressionante o efeito de uma conferência mundial, fico imaginando como será na Copa.

Pensava nisso justamente na hora da entrada, quando assino o papel de registro do hóspede. Dispenso o carregador e subo ao quarto com minha mínima bagagem.

No elevador observo que está escrito 72 no cartão.

— 72. — não percebo, mas digo em voz alta.

— Como, senhor? — replica o ascensorista.

— Ano do meu nascimento. Aqui, escrito na chave.

— Boa sorte, hein?

— Ah, se você diz, deve ser.

Encerro o diálogo estilo Martina com um sorriso forçado.

Atravesso o corredor já com o rosto exausto das conexões. Assim que abro a porta, deparo-me com uma senhora de rolos no cabelo. Penso primeiro que: minha nossa, ainda usam essas coisas na cabeça. Depois é que realizo: a dona está mesmo é no meu aposento. Confiro o número na chave, recuo e avisto a sinalização no marco. Confere: 72.

"72, e ela poderia ser minha mãe mesmo".

— O senhor não se preocupe, estou de saída. Mudei de quarto.

— Ah, sim, pois é. Achei estranho, mas...

Ela arasta sua mala devagar.

— Precisa de ajuda?

— Não, pode deixar, a vida é um parto sozinho.

— O quê?

— Nada, nada.

Ela conseguiu aumentar sua lentidão. O penhoir cor-de-rosa de gueixa aposentada.

A despedida nem virou livro porque tocaram a campainha. O rapaz da manutenção também parecia lento, era coxo, o que deveria aumentar o valor da sua gorjeta:

— Senhor, vim arrumar o banheiro.

— O banheiro?

— Sim.

Banheiro estragado. Aproveito a deixa e desço à recepção para que me troquem de quarto.

— Ah, pois não, senhor, sentimos pelo inconveniente.

O Recepcionista me entrega o novo salvo conduto, eu estava quase triste por abandonar meu nascimento.

Mas a indicação recente apontava 39, 3° andar. Engasguei. Agora era o ano de nascimento de minha mãe morta. Martina ficaria louca com os sinais.

Quando abro a porta encontro novamente a mulher de bobes, agora já sem bobes, totalmente nua, ainda de rosa, de quatro.

Freud não existe.

Penduradas

Frente

Costas

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Programa Polêmica [07.06.2011]

O dia dos namorados vem aí. Qual o seu critério de escolha? Beleza física, inteligência ou conta bancária?

Beleza física - 25%
Inteligência - 45%
Conta bancária - 30%
Total de votos: 185»




No estúdio:

** Psicóloga e terapeuta sexual, LAURA MEYER DA SILVA;

** Escritor e poeta, FABRÍCIO CARPINEJAR;

** Advogado, especialista em Direito de Família, FERNANDO MALHEIROS FILHO;

** Médica e psicoterapeuta, CINTHYA VERRI.

Ouça aqui:




ou no Click RBS: http://mediacenter.clicrbs.com.br/radio-gaucha-player/232/player/188084/polemica-07-06-2011-9h30/1/index.htm

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mentiras Sinceras [Crônica Falada]

Assista esta Crônica Falada
Crônica de @cinthyaverri exibida em 01.06.2011
Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM
(segunda a sexta, 18h30, na TVCOM - Canal 36 UHF/NET).
Apresentação @katiasuman