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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O poder dentro de casa: Crônica Falada no Programa Camarote [27.01.2010]

Confira a Crônica Falada de Cínthya Verri (@cinthyaverri) exibida no dia 27.01.2010, Programa Camarote, TVCOM, canal 36.




Nesta crônica, novas considerações sobre poder, limites e crianças dominando os pais - apresentando Manuel Uribe, o homem mais gordo do mundo que vivia no México com sua mãe, dona Otilia.

Programa Camarote é apresentado por Katia Suman (@katiasuman.)
No musical: Oficina do Chôro

Confira Manuel Uribe no youtube:
clique aqui

O poder dentro de casa: Crônica Falada no Programa Camarote [27.01.2010]

Confira a Crônica Falada de Cínthya Verri (@cinthyaverri) exibida no dia 27.01.2010, Programa Camarote, TVCOM, canal 36.




Nesta crônica, novas considerações sobre poder, limites e crianças dominando os pais - apresentando Manuel Uribe, o homem mais gordo do mundo que vivia no México com sua mãe, dona Otilia.

Programa Camarote é apresentado por Katia Suman (@katiasuman.)
No musical: Oficina do Chôro

Confira Manuel Uribe no youtube:
clique aqui

O poder dentro de casa: Crônica Falada no Programa Camarote [27.01.2010]

Confira a Crônica Falada de Cínthya Verri (@cinthyaverri) exibida no dia 27.01.2010, Programa Camarote, TVCOM, canal 36.




Nesta crônica, novas considerações sobre poder, limites e crianças dominando os pais - apresentando Manuel Uribe, o homem mais gordo do mundo que vivia no México com sua mãe, dona Otilia.

Programa Camarote é apresentado por Katia Suman (@katiasuman.)
No musical: Oficina do Chôro

Confira Manuel Uribe no youtube:
clique aqui

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Polêmica [25.01.2010] - Quando os filhos devem sair de casa?

Foi proposto que se criasse na Itália uma nova lei: com 18 anos, tem que sair de casa.
É mais adequado morar sozinho(a) ou com os pais?
Morar sozinho(a) - 45% Morar com os pais - 55% Total de votos: 175
(Leia abaixo a notícia que saiu no jornal O Globo)


Confira o Polêmica que abriu caminhos no pensamento sobre o tema com os Convidados da esquerda para direita:

- Médica e psicoterapeuta, CÍNTHYA VERRI

- Presidenta da Sociedade de Psicologia do RS, IARA CAMARATA ANTON

- Advogado da área de família, FERNANDO MALHEIROS FILHO

- Coordenador do marketing de relacionamento do Kzuza, DIEGO MANCHA


Confira o Polêmica na íntegra no Midiática

Polêmica [25.01.2010] - Quando os filhos devem sair de casa?

Foi proposto que se criasse na Itália uma nova lei: com 18 anos, tem que sair de casa.
É mais adequado morar sozinho(a) ou com os pais?
Morar sozinho(a) - 45% Morar com os pais - 55% Total de votos: 175
(Leia abaixo a notícia que saiu no jornal O Globo)


Confira o Polêmica que abriu caminhos no pensamento sobre o tema com os Convidados da esquerda para direita:

- Médica e psicoterapeuta, CÍNTHYA VERRI

- Presidenta da Sociedade de Psicologia do RS, IARA CAMARATA ANTON

- Advogado da área de família, FERNANDO MALHEIROS FILHO

- Coordenador do marketing de relacionamento do Kzuza, DIEGO MANCHA


Confira o Polêmica na íntegra no Midiática

Polêmica [25.01.2010] - Quando os filhos devem sair de casa?

Foi proposto que se criasse na Itália uma nova lei: com 18 anos, tem que sair de casa.
É mais adequado morar sozinho(a) ou com os pais?
Morar sozinho(a) - 45% Morar com os pais - 55% Total de votos: 175
(Leia abaixo a notícia que saiu no jornal O Globo)


Confira o Polêmica que abriu caminhos no pensamento sobre o tema com os Convidados da esquerda para direita:

- Médica e psicoterapeuta, CÍNTHYA VERRI

- Presidenta da Sociedade de Psicologia do RS, IARA CAMARATA ANTON

- Advogado da área de família, FERNANDO MALHEIROS FILHO

- Coordenador do marketing de relacionamento do Kzuza, DIEGO MANCHA





Saiu no Jornal O GLOBO:

O ministro da Administração Pública da Itália, Renato Brunetta, propôs que seja criada uma nova lei para forçar filhos adultos a sair da casa dos pais.

A sugestão foi uma reação a uma decisão de um tribunal da cidade de Bergamo, que obrigou um pai - Giancarlo Casagrande, de 60 anos - a contribuir para as despesas da filha de 32 anos que ainda mora com a família, embora ela tenha concluído um curso universitário há oito anos.

Segundo Brunetta, os filhos deveriam ser obrigados a deixar a casa dos pais aos 18 anos de idade, mesmo que por força de lei.

Na Europa, os italianos estão entre aqueles que demoram mais tempo para sair da casa dos pais.

Uma pesquisa feita no ano passado pelo instituto nacional de estatísticas da Itália indica que mais de sete entre dez italianos com idades entre 18 e 39 anos ainda vivem com a família.

Polêmica

Segundo o correspondente da BBC em Milão, Mark Duff, a ideia de Brunetta foi recebida como um tanto extrema.

Para Duff, no entanto, ela colocou em evidência a tendência crescente entre jovens italianos de permanecer em casa, mesmo quando se aproximam da meia-idade.

A recessão e as dificuldades de obter empregos seguros tornaram mais difícil para os jovens italianos saírem de casa.

Apesar de sua proposta polêmica, o próprio Brunetta já admitiu que, quando saiu da casa de seus pais, aos 30 anos, não sabia sequer arrumar a própria cama.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Big Brother da Dieta: Crônica Falada no Programa Camarote [21.01.2010]

Confira a Crônica Falada de Cínthya Verri (@cinthyaverri) exibida no dia 20.01.2010, Programa Camarote, TVCOM.

Programa Camarote apresentado por Katia Suman (@katiasuman), contou também com as presenças de Cláudia Tajes e Nora Goulart.
No musical: Solon Fishbone (@guitar_garage).



Confira o Estudo de Minnesota do Professor Ancel Keys:

They Starved So That Others Be Better Fed: Remembering Ancel Keys and the Minnesota Experiment
Artigo de Leah M. Kalm and Richard D. Semba

Big Brother da Dieta: Crônica Falada no Programa Camarote [21.01.2010]

Confira a minha Crônica Falada exibida no dia 20.01.2010, Programa Camarote, TVCOM.

Programa Camarote apresentado por Katia Suman (@katiasuman), contou também com as presenças de Cláudia Tajes e Nora Goulart.
No musical: Solon Fishbone (@guitar_garage).



Confira o Estudo de Minnesota do Professor Ancel Keys:

They Starved So That Others Be Better Fed: Remembering Ancel Keys and the Minnesota Experiment
Artigo de Leah M. Kalm and Richard D. Semba

Big Brother da Dieta: Crônica Falada no Programa Camarote [21.01.2010]

Confira a minha Crônica Falada exibida no dia 20.01.2010, Programa Camarote, TVCOM.

Programa Camarote apresentado por Katia Suman (@katiasuman), contou também com as presenças de Cláudia Tajes e Nora Goulart.
No musical: Solon Fishbone (@guitar_garage).



Confira o Estudo de Minnesota do Professor Ancel Keys:

They Starved So That Others Be Better Fed: Remembering Ancel Keys and the Minnesota Experiment
Artigo de Leah M. Kalm and Richard D. Semba

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Paternagem

Constanze Moll´s artwork


Quando cheguei, já estava.
Não latia a não ser para avisar
de movimentos estranhos nos roseirais.

Não gemeu jamais nunca
nem mesmo com anzol fisgando as carnes,
nem mesmo com ovas, larvas, bernes,
nem mesmo na fome da tigela ensebe,
nem mesmo no sufoco tinto do pátio.

Podia andar nele como um cavalo,
um camelo negro, orfeu
de minha infância

Suportava aos pêlos
Até que puseram
seu filho no mundo.

Desengonçado, cria arredia:
fugia, atacava, mordia,
sangrava bergamotas,
colhia gritos nervosos dos passantes,
sofria pontapés e chuva de coices.

O pastor pagava tudo no corpo.
Não teve crédito
para a dor fora de si.

Meu cachorro morreu de paternidade.

Paternagem

Constanze Moll´s artwork


Quando cheguei, já estava.
Não latia a não ser para avisar
de movimentos estranhos nos roseirais.

Não gemeu jamais nunca
nem mesmo com anzol fisgando as carnes,
nem mesmo com ovas, larvas, bernes,
nem mesmo na fome da tigela ensebe,
nem mesmo no sufoco tinto do pátio.

Podia andar nele como um cavalo,
um camelo negro, orfeu
de minha infância

Suportava aos pêlos
Até que puseram
seu filho no mundo.

Desengonçado, cria arredia:
fugia, atacava, mordia,
sangrava bergamotas,
colhia gritos nervosos dos passantes,
sofria pontapés e chuva de coices.

O pastor pagava tudo no corpo.
Não teve crédito
para a dor fora de si.

Meu cachorro morreu de paternidade.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sex and Kisses in front of Grandma´s

Eu e Mari agora somos também uma dupla musical.
Criamos a Sex and Kisses in front of Grandma´s e fizemos um single.
Confira nosso cornypop style:

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Para assar pão de queijo


Chelsea Greene Lewyta´s amazing artwork



Aos vinte,
acendo a superfície,
está crua.

Aos vinte e cinco,
acaricio a face.
Avanço a forma,
é cedo ainda.

Aos trinta,
cresço o calor do forno,
pareço cruel no trato.

Aos quarenta,
apresso o andar do fogo,
Queimo o tato.
A lâmina raspa o fundo.

Aos cinqüenta,
um halo escurece a base,
esfria o centro.
Persisto. Provo mesmo assim.

Nada prodigioso.
Quando pronta,
já estou farta.

Para assar pão de queijo


Chelsea Greene Lewyta´s amazing artwork



Aos vinte,
acendo a superfície,
está crua.

Aos vinte e cinco,
acaricio a face.
Avanço a forma,
é cedo ainda.

Aos trinta,
cresço o calor do forno,
pareço cruel no trato.

Aos quarenta,
apresso o andar do fogo,
Queimo o tato.
A lâmina raspa o fundo.

Aos cinqüenta,
um halo escurece a base,
esfria o centro.
Persisto. Provo mesmo assim.

Nada prodigioso.
Quando pronta,
já estou farta.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

STAND UP DRAMA - Ou Porque o Bob é corajoso e desafia os formatos.



Espetáculo: Stand Up Drama

Data: 15, 16 e 17 de Janeiro (sex, sáb, dom) – 21h

Local: Sala Álvaro Moreyra (Centro Municipal de Cultura, Av. Érico Veríssimo, 307) capacidade: 110 Lugares – Ingressos a venda dentro do Porto Verão Alegre.

Direção e texto: Bob Bahlis

Elenco: Léo Ferlauto, Margarida Leoni Peixoto, Clóvis Massa e Patsy Cecato.

Fotos: Marcelo Nunes

STAND UP DRAMA - Ou Porque o Bob é corajoso e desafia os formatos.



Espetáculo: Stand Up Drama

Data: 15, 16 e 17 de Janeiro (sex, sáb, dom) – 21h

Local: Sala Álvaro Moreyra (Centro Municipal de Cultura, Av. Érico Veríssimo, 307) capacidade: 110 Lugares – Ingressos a venda dentro do Porto Verão Alegre.

Direção e texto: Bob Bahlis

Elenco: Léo Ferlauto, Margarida Leoni Peixoto, Clóvis Massa e Patsy Cecato.

Fotos: Marcelo Nunes

sábado, 9 de janeiro de 2010

Crônica Falada no Programa Camarote

Fui convidada para fazer parte da equipe fixa de colunistas do Programa Camarote, da TVCOM.
Minha participação será semanal, sempre às quartas-feiras, às 21h.

O quadro Crônica Falada é idealizado pela Katia Suman. Apresentado desde seus tempos de rádio, agora ganha a roupagem televisiva.

Vou priorizar curiosidades e excentricidades da rede, pelo viés da saúde emocional.
Podem sugerir pelo meu email: cinthya@clinicaverri.com.br
ou pelo twitter @cinthyaverri.

Confira um trecho da estreia.

Crônica Falada no Programa Camarote

Fui convidada para fazer parte da equipe fixa de colunistas do Programa Camarote, da TVCOM.
Minha participação será semanal, sempre às quartas-feiras, às 21h.

O quadro Crônica Falada é idealizado pela Katia Suman. Apresentado desde seus tempos de rádio, agora ganha a roupagem televisiva.

Vou priorizar curiosidades e excentricidades da rede, pelo viés da saúde emocional.
Podem sugerir pelo meu email: cinthya@clinicaverri.com.br
ou pelo twitter @cinthyaverri.

Confira um trecho da estreia.

Estreia da Crônica Falada no Programa Camarote

Todas as quartas-feiras, às 21h, no Programa Camarote da TVCOM, apresentado por Katia Suman, confira a Crônica Falada de Cínthya Verri.

Assita um trecho da estreia do quadro:


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O vidro é um cristal mais amável.


Ilustration by L. Filipe dos Santos aka Corcoise


Quando cheguei à sala, vi uma cristaleira. Pensei: que tipo de homem mora sozinho e tem uma cristaleira? Não era um armário embutido, nem prateleiras faça-você-mesmo ou qualquer móvel mais consagrado: tratava-se de um universitário, jovem rapaz solteiro que vivia sozinho. Feita em madeira maciça, com vidro e espelho. Lotada de copos e taças elegantes. E não estava sozinha: a peça combinava com o sofá aristocrático francês, com as telas do impressionismo alemão, com a sacada minimalista belga e revistas de montanhismo em inglês espalhadas pela mesa. Clima agradável europeu em um apartamento bem localizado na cidade. E ainda com sacada para sentir saudade de voltar para dentro. Típica cena depois de um crime: não dava para mexer em nada.

Ah, se fosse meu irmão.

Ele cozinhou o jantar; bem temperado, no ponto, molho espesso. E apresentou a sobremesa: papaya com licor de cassis. Enogastronomia, outro dom do moço, o vinho casou com perfeição. Tentei acabar no tapete, ele pediu o quarto. Acabei com o tapete: derramei a taça do encorpado cabernet ao tentar conter sua fuga para a tradicional cama.

Como o caso progredia, tive chance de ver a mancha bordô várias vezes.

Bem que tentei esquecer. Recebi croissants quentes no café da manhã. Emprestou seu jipe importado e foi de bicicleta. Gentilmente, aconselhou que eu desligasse a torneira enquanto escovava os dentes, ensinou a usar detergente biodegradável, a reciclar resíduos. Nunca mais joguei uma pilha em qualquer lixo, seria o equivalente a assassinar um golfinho ou algo assim.
Naquele tempo, eu fumava. Ele nunca soou uma única palavra a respeito. Seu silêncio era pior que um alarme. Eu escovava os dentes neuroticamente, lavava as mãos, passei a carregar cremes na bolsa e álcool gel – o que era bizarro antes da gripe suína. Tomava banho com obsessão. Ele, cavalheiro, comprou mais cinzeiros. Tinha pacotes de meu cigarro junto ao macarrão na despensa.

Ah, se fosse meu pai.

Organizou uma viagem de camping para nós. Fomos no jipe, ele dirigindo suave, um ás no volante, é claro. Não senti uma curva sequer da serra. Tomou a rota romântica, fui bebendo a paisagem. A barraca montada costeando uma corredeira, sacos acolchoadíssimos de dormir, água fresca, jantar silvestre e o companheiro detergente biodegradável. Não movi um palito de fósforo. Tentei ajudar com uns cordeletes, mas para amarrar um, levei o tempo de três. Ele, delicado, afastou-me de toda tarefa potencialmente perigosa, desagradável, perturbadora.

Aliás, de volta à casa, notei que ele me afastava de qualquer tarefa potencialmente qualquer coisa: não precisava guardar a louça; ele mesmo arrumava as colheres do (faqueiro impecável) aconchegadas umas às outras; não precisava ir ao supermercado, ele já tinha pensado em tudo.

Ah, se fosse meu melhor amigo.

Eu não me conformo facilmente. Quis fazer um brigadeiro; impediu argumentando uma receita familiar. E o docinho dele ficou mais divino do que o meu reles pretinho básico poderia sonhar. Quis comprar um presente e, depois de investigação criteriosa, descobri que nada faltava. Prova de minha monumental incompetência: comprei um enfeite.

Sentava na banqueta perto da janela da cozinha. Sentava no banco alto do bar. Sentava no sofá. Passeava até o lavabo. Reparei que aquela ampla área residencial não passava de uma enorme sala de espera. Decorei as revistas de montanhismo. Sentava na varanda e fumava, fumava, fumava. Questionava minha infelicidade: não era isso que tinha sonhado toda a vida? Não era esse o príncipe encantado impossível de irritar? Infalível? Incrível? Indefectível?

Não fiquei entorpecida de tédio. Eu me sentia cada vez mais medíocre. E invisível. Era incapaz de me adiantar ao cara! Não sabia oferecer nada a ele, nunca pude ser necessária. Ele cuidava tanto e tão bem de tudo. Atencioso, independente, carinhoso, genial. Bom companheiro, bom amigo, bom irmão e até bom pai. Não me deu chance, nunca recebi um agradecimento. Acho que ele tinha medo era de ficar devendo.

Quer se engradecer, ajude aos pobres.

Não tinha o dom de namorar comigo. Prefiro o vidro que se quebra ao cristal que se mantém distante.

O vidro é um cristal mais amável.


Ilustration by L. Filipe dos Santos aka Corcoise


Quando cheguei à sala, vi uma cristaleira. Pensei: que tipo de homem mora sozinho e tem uma cristaleira? Não era um armário embutido, nem prateleiras faça-você-mesmo ou qualquer móvel mais consagrado: tratava-se de um universitário, jovem rapaz solteiro que vivia sozinho. Feita em madeira maciça, com vidro e espelho. Lotada de copos e taças elegantes. E não estava sozinha: a peça combinava com o sofá aristocrático francês, com as telas do impressionismo alemão, com a sacada minimalista belga e revistas de montanhismo em inglês espalhadas pela mesa. Clima agradável europeu em um apartamento bem localizado na cidade. E ainda com sacada para sentir saudade de voltar para dentro. Típica cena depois de um crime: não dava para mexer em nada.

Ah, se fosse meu irmão.

Ele cozinhou o jantar; bem temperado, no ponto, molho espesso. E apresentou a sobremesa: papaya com licor de cassis. Enogastronomia, outro dom do moço, o vinho casou com perfeição. Tentei acabar no tapete, ele pediu o quarto. Acabei com o tapete: derramei a taça do encorpado cabernet ao tentar conter sua fuga para a tradicional cama.

Como o caso progredia, tive chance de ver a mancha bordô várias vezes.

Bem que tentei esquecer. Recebi croissants quentes no café da manhã. Emprestou seu jipe importado e foi de bicicleta. Gentilmente, aconselhou que eu desligasse a torneira enquanto escovava os dentes, ensinou a usar detergente biodegradável, a reciclar resíduos. Nunca mais joguei uma pilha em qualquer lixo, seria o equivalente a assassinar um golfinho ou algo assim.
Naquele tempo, eu fumava. Ele nunca soou uma única palavra a respeito. Seu silêncio era pior que um alarme. Eu escovava os dentes neuroticamente, lavava as mãos, passei a carregar cremes na bolsa e álcool gel – o que era bizarro antes da gripe suína. Tomava banho com obsessão. Ele, cavalheiro, comprou mais cinzeiros. Tinha pacotes de meu cigarro junto ao macarrão na despensa.

Ah, se fosse meu pai.

Organizou uma viagem de camping para nós. Fomos no jipe, ele dirigindo suave, um ás no volante, é claro. Não senti uma curva sequer da serra. Tomou a rota romântica, fui bebendo a paisagem. A barraca montada costeando uma corredeira, sacos acolchoadíssimos de dormir, água fresca, jantar silvestre e o companheiro detergente biodegradável. Não movi um palito de fósforo. Tentei ajudar com uns cordeletes, mas para amarrar um, levei o tempo de três. Ele, delicado, afastou-me de toda tarefa potencialmente perigosa, desagradável, perturbadora.

Aliás, de volta à casa, notei que ele me afastava de qualquer tarefa potencialmente qualquer coisa: não precisava guardar a louça; ele mesmo arrumava as colheres do (faqueiro impecável) aconchegadas umas às outras; não precisava ir ao supermercado, ele já tinha pensado em tudo.

Ah, se fosse meu melhor amigo.

Eu não me conformo facilmente. Quis fazer um brigadeiro; impediu argumentando uma receita familiar. E o docinho dele ficou mais divino do que o meu reles pretinho básico poderia sonhar. Quis comprar um presente e, depois de investigação criteriosa, descobri que nada faltava. Prova de minha monumental incompetência: comprei um enfeite.

Sentava na banqueta perto da janela da cozinha. Sentava no banco alto do bar. Sentava no sofá. Passeava até o lavabo. Reparei que aquela ampla área residencial não passava de uma enorme sala de espera. Decorei as revistas de montanhismo. Sentava na varanda e fumava, fumava, fumava. Questionava minha infelicidade: não era isso que tinha sonhado toda a vida? Não era esse o príncipe encantado impossível de irritar? Infalível? Incrível? Indefectível?

Não fiquei entorpecida de tédio. Eu me sentia cada vez mais medíocre. E invisível. Era incapaz de me adiantar ao cara! Não sabia oferecer nada a ele, nunca pude ser necessária. Ele cuidava tanto e tão bem de tudo. Atencioso, independente, carinhoso, genial. Bom companheiro, bom amigo, bom irmão e até bom pai. Não me deu chance, nunca recebi um agradecimento. Acho que ele tinha medo era de ficar devendo.

Quer se engradecer, ajude aos pobres.

Não tinha o dom de namorar comigo. Prefiro o vidro que se quebra ao cristal que se mantém distante.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Oficina de Blog Literário com Carpinejar



Seis encontros
Quartas e quintas
Dias: 20, 21, 27 e 28/1 e 3 e 4/2
Das 20h30 às 22h30

Valor: R$ 300,00


OBJETIVOS
Trabalhar a literatura em blogs, com postagem de textos, revisão e criação de perfil. Valorizar o cuidado com a linguagem, a necessidade do foco e do envolvimento com a história. Mostrar as diferenças entre os gêneros e discutir as experiências que podem render boas tramas e assuntos. Preocupar-se com a sequência de textos e o amadurecimento do estilo. A partir da conversa em grupo, vencer o medo da exposição, fortalecer a solidão criadora e superar tabus e o senso comum.

POR QUÊ
O blog é um laboratório de escrita criativa. Perdeu seu estigma de catarse e escrita sentimental para adquirir o status de uma janela fundamental para a comunicação com os leitores. Muitos autores passaram a ter chance numa editora a partir do que publicavam na rede, do exercício laborioso e continuado de ficção.

CASE
O blog virou uma vitrine para a descoberta de talentos pelas editoras. É o caso da paulistana Fal Azevedo. Após dois livros independentes, e de mandar originais para as editoras sem resposta ou recusados, terminou descoberta pela Rocco e recebeu convite para publicação em função do estilo carismático desenvolvido no Drops da Fal. Pelo selo, editou o romance "Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite", uma narrativa fragmentada e híbrida, carregando traços característicos da internet.

O PROFESSOR
Fabrício Carpinejar, 37, publicou quatorze livros, venceu prêmios como o Jabuti 2009, por Canalha!, e Olavo Bilac 2003, da Academia Brasileira de Letras, por "Biografia de uma árvore". Representa um dos mais antigos blogueiros em atividade ininterrupta no Brasil, postando crônicas desde 2003. Seu novo lançamento www.twitter.com/carpinejar (Bertrand Brasil) reúne aforismos publicados no twitter.

INSCRIÇÕES
E-mail: atendimento@clinicaverri.com.br
Telefone: (51) 3022.4444
Clínica Verri
Rua Tobias da Silva, 267/506, Moinhos de Vento, Porto Alegre)

EPÍSTOLA AOS BLOGUEIROS

Fabrício Carpinejar

Nunca invejei Santo Agostinho pela sua salvação. Não conseguiria repeti-lo. Guarda-se a impressão de que ele quis se livrar da danação no ombro do Pai. Olhando de perto, ele foi mais corajoso do que conformista. Antecipou o inferno. Não esperou para sofrer na outra dimensão. Pagou à vista o inferno. Converter não é encontrar Deus, é encontrar o inferno.

Blog é prova de resistência. Um big brother ao avesso dos gêneros literários. Em vez de ser conhecido, corresponde a mergulho no anonimato. Distinto da noção do senso comum de que se trata de um lugar para aparecer. O resultado final (a possível badalação de um endereço virtual) não expõe a realidade. Os exibidos foram antes tímidos, os extrovertidos foram antes introvertidos. É a mais dolorida experiência editorial. O mais severo teste vocacional. Uma ferramenta do diabo, capaz de sugar sua vida ou sua aspiração.

Indica a fronteira entre o amador e o escritor, entre o diletante e o renitente, entre o curioso e quem não consegue se afastar da compulsão narrativa. O amador cansará nos primeiros meses. Vai deduzir que não vale a pena o trabalho, que ninguém lê. Uma tortura postar textos durante três meses e não receber nenhum comentário. São os 40 dias do deserto, com as tentações sobrevoando o teclado. "Então Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo demônio e, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome" (Evangelho de Mateus, capítulo 4, versículo 1).

Você pensou que aquilo seria a glória instantânea. Caprichou na redação, no humor e nas perspectivas singulares de captura do cotidiano. Mas o único que entra no site é você. Chega a esbarrar consigo entre tantos acessos e atualizações. Uma miragem. Cada texto é um quarto vago. Procura contornar o drama. Manda um aviso de postagens para os amigos; manda um aviso de postagens para os desconhecidos, catando endereços aleatórios. Nada mais o separa de um Spam. Recebe avisos ásperos: "não o conheço" ou "favor me excluir da lista". A humilhação não começou. O desespero o obriga a fazer atos impensáveis: entrar de computadores diversos para fazer com que o contador se mexa de alguma forma. Assim como um atacante chuta a bola para as redes alheio à marcação do impedimento. Para se livrar do azar. Ainda que esteja quebrando uma das regras básicas do jogo e leve um cartão amarelo. Não há nem juiz para lhe dar cartão amarelo.

Percebe que lançou um texto com um erro gravíssimo de português. Estava na rua quando lembrou a indecisão ortográfica, longe de qualquer terminal. Corre para uma lan house, consome seu suspiro sem sentir o gosto, arruma e conclui que tampouco alguém reparou.Decide escrever qualquer coisa que continuará sendo qualquer coisa. O isolamento do blog produz alucinações. O contador de visitas parece uma bomba-relógio: anda para trás. Mas tortura é quando finalmente recebe um comentário. Alegria aflita para abrir a janela, quem será? quem será?, descobre que partiu do pai ou da mãe, solidário com sua desgraça.

Sua personalidade passará a se dividir, e não multiplicar como desejava. Sede de laranjas. Laranjas! Sem pudor, cria pseudônimos para deixar comentários (o blog, pelo menos, obriga que seja seu próprio leitor). Diverte-se no sofrimento ao inventar formas de agradecimento pelos textos. Não economiza elogios ao estilo. Estará perto da internação quando se convence de que aqueles comentários não são seus e ainda responde aos e-mails falsos. Hora do soro!

Escrever na rede é uma tentativa de suicídio. Um aviso escandaloso da nossa fragilidade. Pensando bem: publicar é um suicídio frustrado. Quando o ímpeto de sair da vida é usado para entender a própria vida e as dificuldades enfrentadas pelos demais autores.

Uma das virtudes do blog é sua provação. Agüentar os contratempos no osso. Ver que não é um elogio que o fará continuar, muito menos uma crítica que o fará desistir. Que nascer para a letra é amar a insuficiência. O escritor se sucede progressivamente. Melhora. Estar sozinho é ainda estar povoado. Povoado por dentro. Pelos personagens, pelas histórias familiares, pela observação aprofundada dos seus arredores. Só quem foi fantasma um dia poderá alimentar seus fantasmas. Procura-se um reconhecimento externo e encontra-se algo mais preciso: a afirmação pessoal na persistência. Procura-se lá fora o que já se tinha. Como diz Santo Agostinho: "Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim."

O esforço de sair da solidão ajuda curiosamente a fortalecê-la. Compreende que não escreve para completar um diário, ou para repetir sua história, se fosse assim não contaria com assunto para atualização semanal, mesmo que desfrutasse uma trajetória acidentada e heróica como a de Hemingway. Escreve para duvidar e se banhar na luminosidade da confusão biográfica.

Um texto postado é como um texto impresso. Mais fácil para localizar os erros, os tropeços, formar distanciamento. Confere uma maioridade na escrita, reforça uma postura profissional de jardinar e cuidar do verbo, de alterar a prosa e a poesia em nome da transparência e da fluidez. Há a formação gradual de uma assinatura, transmitindo uma visão de ser responsável por aquilo que se diz, de assumir honestamente as dívidas da boca. Organiza-se o rascunho, que é bem mais duro do que redigi-lo.

Não é fácil a rotina da blogosfera. Terá que superar vários fins, várias negativas, várias mortes. Superar a expectativa de fama pelo prazer do texto. Por isso, o prazer necessita ser mais forte do que a dor. O masoquista é o que gosta mais do sofrimento do que da carícia. O blogueiro é o que esquece a ferida pela alegria. A diferença entre guardar o inédito no blog e na gaveta: o blog é uma gaveta aberta.

Oficina de Blog Literário com Carpinejar



Seis encontros
Quartas e quintas
Dias: 20, 21, 27 e 28/1 e 3 e 4/2
Das 20h30 às 22h30

Valor: R$ 300,00


OBJETIVOS
Trabalhar a literatura em blogs, com postagem de textos, revisão e criação de perfil. Valorizar o cuidado com a linguagem, a necessidade do foco e do envolvimento com a história. Mostrar as diferenças entre os gêneros e discutir as experiências que podem render boas tramas e assuntos. Preocupar-se com a sequência de textos e o amadurecimento do estilo. A partir da conversa em grupo, vencer o medo da exposição, fortalecer a solidão criadora e superar tabus e o senso comum.

POR QUÊ
O blog é um laboratório de escrita criativa. Perdeu seu estigma de catarse e escrita sentimental para adquirir o status de uma janela fundamental para a comunicação com os leitores. Muitos autores passaram a ter chance numa editora a partir do que publicavam na rede, do exercício laborioso e continuado de ficção.

CASE
O blog virou uma vitrine para a descoberta de talentos pelas editoras. É o caso da paulistana Fal Azevedo. Após dois livros independentes, e de mandar originais para as editoras sem resposta ou recusados, terminou descoberta pela Rocco e recebeu convite para publicação em função do estilo carismático desenvolvido no Drops da Fal. Pelo selo, editou o romance "Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite", uma narrativa fragmentada e híbrida, carregando traços característicos da internet.

O PROFESSOR
Fabrício Carpinejar, 37, publicou quatorze livros, venceu prêmios como o Jabuti 2009, por Canalha!, e Olavo Bilac 2003, da Academia Brasileira de Letras, por "Biografia de uma árvore". Representa um dos mais antigos blogueiros em atividade ininterrupta no Brasil, postando crônicas desde 2003. Seu novo lançamento www.twitter.com/carpinejar (Bertrand Brasil) reúne aforismos publicados no twitter.

INSCRIÇÕES
E-mail: atendimento@clinicaverri.com.br
Telefone: (51) 3022.4444
Clínica Verri
Rua Tobias da Silva, 267/506, Moinhos de Vento, Porto Alegre)

EPÍSTOLA AOS BLOGUEIROS

Fabrício Carpinejar

Nunca invejei Santo Agostinho pela sua salvação. Não conseguiria repeti-lo. Guarda-se a impressão de que ele quis se livrar da danação no ombro do Pai. Olhando de perto, ele foi mais corajoso do que conformista. Antecipou o inferno. Não esperou para sofrer na outra dimensão. Pagou à vista o inferno. Converter não é encontrar Deus, é encontrar o inferno.

Blog é prova de resistência. Um big brother ao avesso dos gêneros literários. Em vez de ser conhecido, corresponde a mergulho no anonimato. Distinto da noção do senso comum de que se trata de um lugar para aparecer. O resultado final (a possível badalação de um endereço virtual) não expõe a realidade. Os exibidos foram antes tímidos, os extrovertidos foram antes introvertidos. É a mais dolorida experiência editorial. O mais severo teste vocacional. Uma ferramenta do diabo, capaz de sugar sua vida ou sua aspiração.

Indica a fronteira entre o amador e o escritor, entre o diletante e o renitente, entre o curioso e quem não consegue se afastar da compulsão narrativa. O amador cansará nos primeiros meses. Vai deduzir que não vale a pena o trabalho, que ninguém lê. Uma tortura postar textos durante três meses e não receber nenhum comentário. São os 40 dias do deserto, com as tentações sobrevoando o teclado. "Então Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo demônio e, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome" (Evangelho de Mateus, capítulo 4, versículo 1).

Você pensou que aquilo seria a glória instantânea. Caprichou na redação, no humor e nas perspectivas singulares de captura do cotidiano. Mas o único que entra no site é você. Chega a esbarrar consigo entre tantos acessos e atualizações. Uma miragem. Cada texto é um quarto vago. Procura contornar o drama. Manda um aviso de postagens para os amigos; manda um aviso de postagens para os desconhecidos, catando endereços aleatórios. Nada mais o separa de um Spam. Recebe avisos ásperos: "não o conheço" ou "favor me excluir da lista". A humilhação não começou. O desespero o obriga a fazer atos impensáveis: entrar de computadores diversos para fazer com que o contador se mexa de alguma forma. Assim como um atacante chuta a bola para as redes alheio à marcação do impedimento. Para se livrar do azar. Ainda que esteja quebrando uma das regras básicas do jogo e leve um cartão amarelo. Não há nem juiz para lhe dar cartão amarelo.

Percebe que lançou um texto com um erro gravíssimo de português. Estava na rua quando lembrou a indecisão ortográfica, longe de qualquer terminal. Corre para uma lan house, consome seu suspiro sem sentir o gosto, arruma e conclui que tampouco alguém reparou.Decide escrever qualquer coisa que continuará sendo qualquer coisa. O isolamento do blog produz alucinações. O contador de visitas parece uma bomba-relógio: anda para trás. Mas tortura é quando finalmente recebe um comentário. Alegria aflita para abrir a janela, quem será? quem será?, descobre que partiu do pai ou da mãe, solidário com sua desgraça.

Sua personalidade passará a se dividir, e não multiplicar como desejava. Sede de laranjas. Laranjas! Sem pudor, cria pseudônimos para deixar comentários (o blog, pelo menos, obriga que seja seu próprio leitor). Diverte-se no sofrimento ao inventar formas de agradecimento pelos textos. Não economiza elogios ao estilo. Estará perto da internação quando se convence de que aqueles comentários não são seus e ainda responde aos e-mails falsos. Hora do soro!

Escrever na rede é uma tentativa de suicídio. Um aviso escandaloso da nossa fragilidade. Pensando bem: publicar é um suicídio frustrado. Quando o ímpeto de sair da vida é usado para entender a própria vida e as dificuldades enfrentadas pelos demais autores.

Uma das virtudes do blog é sua provação. Agüentar os contratempos no osso. Ver que não é um elogio que o fará continuar, muito menos uma crítica que o fará desistir. Que nascer para a letra é amar a insuficiência. O escritor se sucede progressivamente. Melhora. Estar sozinho é ainda estar povoado. Povoado por dentro. Pelos personagens, pelas histórias familiares, pela observação aprofundada dos seus arredores. Só quem foi fantasma um dia poderá alimentar seus fantasmas. Procura-se um reconhecimento externo e encontra-se algo mais preciso: a afirmação pessoal na persistência. Procura-se lá fora o que já se tinha. Como diz Santo Agostinho: "Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim."

O esforço de sair da solidão ajuda curiosamente a fortalecê-la. Compreende que não escreve para completar um diário, ou para repetir sua história, se fosse assim não contaria com assunto para atualização semanal, mesmo que desfrutasse uma trajetória acidentada e heróica como a de Hemingway. Escreve para duvidar e se banhar na luminosidade da confusão biográfica.

Um texto postado é como um texto impresso. Mais fácil para localizar os erros, os tropeços, formar distanciamento. Confere uma maioridade na escrita, reforça uma postura profissional de jardinar e cuidar do verbo, de alterar a prosa e a poesia em nome da transparência e da fluidez. Há a formação gradual de uma assinatura, transmitindo uma visão de ser responsável por aquilo que se diz, de assumir honestamente as dívidas da boca. Organiza-se o rascunho, que é bem mais duro do que redigi-lo.

Não é fácil a rotina da blogosfera. Terá que superar vários fins, várias negativas, várias mortes. Superar a expectativa de fama pelo prazer do texto. Por isso, o prazer necessita ser mais forte do que a dor. O masoquista é o que gosta mais do sofrimento do que da carícia. O blogueiro é o que esquece a ferida pela alegria. A diferença entre guardar o inédito no blog e na gaveta: o blog é uma gaveta aberta.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Estreia no Programa Camarote

Hoje, a partir das 21h, acompanhe o Programa Camarote, com Katia Suman, na TV COM, canal 36.

Ou para acessar Ao Vivo clique aqui

Cínthya Verri participa no quadro Crônica Falada:

hoje, sobre Meu Pênis e Eu, documentário de Lawrence Barraclough.

Acesse aqui o Vídeo sobre o documentário

Estreia no Programa Camarote

Hoje, a partir das 21h, acompanhe o Programa Camarote, com Katia Suman, na TV COM, canal 36.

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Cínthya Verri participa no quadro Crônica Falada:

hoje, sobre Meu Pênis e Eu, documentário de Lawrence Barraclough.

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domingo, 3 de janeiro de 2010

Show de Bolas

















Adam Beane´s Paolo di Canio


Na infância, meu pai tinha um aparelho de som onde acoplava um microfone. Temos registros de nossas vozes em formação cantando, falando e disputando a vaga. Ele gravou uma fita cassete para a posteridade. É possível ouvir cada um de meus irmãos respondendo em escadinha para que time torciam: Sport Club Internacional. A seguir, chega minha vez:

- Filha, de que time tu é? Falava a voz de trovão do pai.

- Do Mazzaropi – cantarolei

- De que time tu é?, insistiu o pai, mais tenso.

- Do Mazzaropi.

- Minha filha, de que time tu é? Afirmou o pai, em tom elevado, com a ameaça nas sílabas.

-Ah! Do Inter, do Inter.

O goleiro do Grêmio exercia um fascínio inexplicável. Riam e acusavam a farsa de que era o único nome que eu sabia. Sei que tinha pouca idade, mas assim como Ritchie, o cantor, eu tinha paixões bem definidas. E a fixação vingou porque o pai, cônsul do Internacional na minha cidade, encontrou Mazzaropi em um vôo. Não sei se pesou mais a culpa ou o amor, mas engoliu o asco, pediu o autógrafo e me trouxe.

Depois do Mazza, não me apaixonei por outro profissional da bola. Nem pela televisão.

Nunca namorei goleiro nem boleiro de outra posição. Se bem que, homem que não tem tara por futebol, para mim, ainda é meio homem. Eu perderia a força de vontade para exercitar as séries para glúteo em quatro apoios. Porque homem que não ama futebol, não olha bunda.

Uma vez eu me relacionei com ex-futuro jogador profissional. Isso conta? Quando menino, chegou ao Juvenil do colorado de meu coração.

Tínhamos uma vida sexual plena e feliz. Até que o futebol reinventou a rotina. Não é que eu perdesse o namorado porque saía de casa para assistir os jogos e voltava na alta madrugada. Não é que meu namorado ficou alcoólatra de tanto chopinho da vitória. Não é que ele disputava campeonatos intermináveis com os amigos

Foi fruto do acaso. Uma noite, depois do jogo, começamos um longo beijo na cozinha. As coisas foram se intensificando e rolou ali mesmo, na bancada, ele devidamente fardado com a camisa do Internacional.

É incrível como o aleatório rege nossa vida. Se não usasse a camisa, se não tivesse bancada, se não houvesse o passado de atleta promissor que trocou a chuteira por outra vocação, se não fosse domingo.

O fato é que o futebolista amador achou um novo campo de batalha. Teve a ideia de me comer com toda sua coleção de camisas de clube. Não é divertido? É, sim, amor.

Claro que era.

Apareceu com a camisa da Seleção Camaronesa de Futebol, toda pano verde com rubra gola em vê. Teve um desempenho à altura de primeiro time africano. Eu ouvi tambores, quis pintar o rosto e me perder na savana. Enxerguei zebras, hipopótamos, hienas. Encarnou o clima de habilidade e alegria no jogo. Comecei a acreditar que a geografia poderia ter alguma influência na inspiração dele.

Experimentamos a cor-de-rosa do Parma FC. Desde a queda da multinacional de laticínios que sustentava as finanças, o time sobrevive às dificuldades. Anda pela série B. A cidade está resumida ao parmesão. Não foi diferente no campo de lençóis. Dos rugidos de leões africanos da noite anterior, decaímos para a pelúcia dos mamíferos Parmalat. Aquele vudu das fardas começou a me arrepiar.

O Manchester United é o atual campeão da Premier League, um dos mais bem sucedidos da história do futebol inglês. Assisti a performance digna de red devil. Os demônios vermelhos urravam nas arquibancadas de nosso quarto. A pressão estonteante ao ganhar o jogo de virada. Um esplêndido 6X9.

Ampliamos o armário para acolher os troféus: azulão do Boca Juniores, com letra amarelo ovo em destaque. Terno do Caxias, estilo retrô, bordô com brasão em forma de engrenagem inaugurando a ala nacional: São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Botafogo, Fluminense, Flamengo e Avaí.

Voltamos às escalas internacionais e na rixa Barcelona versus Real Madrid, deu Real Madrid, para minha alegria. Fiz até uma loteria esportiva íntima. Não largava o vestiário.

Até que um dia ele veio de peito nu, querendo amistoso. Achei quase ofensivo. Fiz escândalo.

- Lá sou mulher de confundir de que lado estou?

- Mas amor, está um calorão...

- O quê? Não tem jogo acima de trinta graus? E tem mais, é um desperdício de oportunidade, daria problema com as estatísticas. E a tabela do campeonato? Como fica?

- Está bem, ele se resignou.

Partiu para as gavetas e sacou a brilhante e laranjérrima camisa da Holanda.

Afinal de contas jogo é jogo. Treino é treino.

Meu artilheiro só não permaneceu porque não quis pagar a multa contratual. Terminou o empréstimo e o passe era do Paraná.

Show de Bolas

















Adam Beane´s Paolo di Canio


Na infância, meu pai tinha um aparelho de som onde acoplava um microfone. Temos registros de nossas vozes em formação cantando, falando e disputando a vaga. Ele gravou uma fita cassete para a posteridade. É possível ouvir cada um de meus irmãos respondendo em escadinha para que time torciam: Sport Club Internacional. A seguir, chega minha vez:

- Filha, de que time tu é? Falava a voz de trovão do pai.

- Do Mazzaropi – cantarolei

- De que time tu é?, insistiu o pai, mais tenso.

- Do Mazzaropi.

- Minha filha, de que time tu é? Afirmou o pai, em tom elevado, com a ameaça nas sílabas.

-Ah! Do Inter, do Inter.

O goleiro do Grêmio exercia um fascínio inexplicável. Riam e acusavam a farsa de que era o único nome que eu sabia. Sei que tinha pouca idade, mas assim como Ritchie, o cantor, eu tinha paixões bem definidas. E a fixação vingou porque o pai, cônsul do Internacional na minha cidade, encontrou Mazzaropi em um vôo. Não sei se pesou mais a culpa ou o amor, mas engoliu o asco, pediu o autógrafo e me trouxe.

Depois do Mazza, não me apaixonei por outro profissional da bola. Nem pela televisão.

Nunca namorei goleiro nem boleiro de outra posição. Se bem que, homem que não tem tara por futebol, para mim, ainda é meio homem. Eu perderia a força de vontade para exercitar as séries para glúteo em quatro apoios. Porque homem que não ama futebol, não olha bunda.

Uma vez eu me relacionei com ex-futuro jogador profissional. Isso conta? Quando menino, chegou ao Juvenil do colorado de meu coração.

Tínhamos uma vida sexual plena e feliz. Até que o futebol reinventou a rotina. Não é que eu perdesse o namorado porque saía de casa para assistir os jogos e voltava na alta madrugada. Não é que meu namorado ficou alcoólatra de tanto chopinho da vitória. Não é que ele disputava campeonatos intermináveis com os amigos

Foi fruto do acaso. Uma noite, depois do jogo, começamos um longo beijo na cozinha. As coisas foram se intensificando e rolou ali mesmo, na bancada, ele devidamente fardado com a camisa do Internacional.

É incrível como o aleatório rege nossa vida. Se não usasse a camisa, se não tivesse bancada, se não houvesse o passado de atleta promissor que trocou a chuteira por outra vocação, se não fosse domingo.

O fato é que o futebolista amador achou um novo campo de batalha. Teve a ideia de me comer com toda sua coleção de camisas de clube. Não é divertido? É, sim, amor.

Claro que era.

Apareceu com a camisa da Seleção Camaronesa de Futebol, toda pano verde com rubra gola em vê. Teve um desempenho à altura de primeiro time africano. Eu ouvi tambores, quis pintar o rosto e me perder na savana. Enxerguei zebras, hipopótamos, hienas. Encarnou o clima de habilidade e alegria no jogo. Comecei a acreditar que a geografia poderia ter alguma influência na inspiração dele.

Experimentamos a cor-de-rosa do Parma FC. Desde a queda da multinacional de laticínios que sustentava as finanças, o time sobrevive às dificuldades. Anda pela série B. A cidade está resumida ao parmesão. Não foi diferente no campo de lençóis. Dos rugidos de leões africanos da noite anterior, decaímos para a pelúcia dos mamíferos Parmalat. Aquele vudu das fardas começou a me arrepiar.

O Manchester United é o atual campeão da Premier League, um dos mais bem sucedidos da história do futebol inglês. Assisti a performance digna de red devil. Os demônios vermelhos urravam nas arquibancadas de nosso quarto. A pressão estonteante ao ganhar o jogo de virada. Um esplêndido 6X9.

Ampliamos o armário para acolher os troféus: azulão do Boca Juniores, com letra amarelo ovo em destaque. Terno do Caxias, estilo retrô, bordô com brasão em forma de engrenagem inaugurando a ala nacional: São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Botafogo, Fluminense, Flamengo e Avaí.

Voltamos às escalas internacionais e na rixa Barcelona versus Real Madrid, deu Real Madrid, para minha alegria. Fiz até uma loteria esportiva íntima. Não largava o vestiário.

Até que um dia ele veio de peito nu, querendo amistoso. Achei quase ofensivo. Fiz escândalo.

- Lá sou mulher de confundir de que lado estou?

- Mas amor, está um calorão...

- O quê? Não tem jogo acima de trinta graus? E tem mais, é um desperdício de oportunidade, daria problema com as estatísticas. E a tabela do campeonato? Como fica?

- Está bem, ele se resignou.

Partiu para as gavetas e sacou a brilhante e laranjérrima camisa da Holanda.

Afinal de contas jogo é jogo. Treino é treino.

Meu artilheiro só não permaneceu porque não quis pagar a multa contratual. Terminou o empréstimo e o passe era do Paraná.