....

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Todo carnaval tem seu fim.


Hadesha´s Venetian Fantasy - at Deviant Art


Existe todo o tipo de fantasia erótica. Tarados por tenistas, por enfermeiras, por professoras. Excentricidades dirigem o afeto. Funciona como um tipo de fetiche, um ponto de convulsão, um botão de liga e desliga que empresta a ilusão de controle sobre o sexo. É um Viagra imaginário. A simples alusão ao saiote e já está – pronto para o ataque.

Tem gente que sonha em transar viajando. Eu broxo só em pensar. A medicina produz um nervosismo extra no avião. No ônibus. No trem. Quando testemunho um acidente. Quando assisto uma criança acendendo um rojão na calçada. Porque não existe folga, só omissão de socorro. Seria obrigada a juntar os dedinhos do pirralho, acomodá-los num isoporzinho, embalar em um paninho para que não queimasse a pele no gelo e conduzi-lo gentilmente ao colega de plantão mais próximo.

Não estava de plantão, mas viajando em meu carro com o namorado. Vínhamos na estrada em direção a Porto Alegre. Passou por nós um desses descontrolados psicóticos sobre duas rodas e, infelizmente, assisti o desgraçado voando com a força centrífuga na curva. Depois de trabalhar no Pronto Socorro, ficou claro para mim que moto é uma plataforma para o suicídio. Sem noção nenhuma de física a pessoa que imprime aquela velocidade. Ou, no mínimo, nunca imaginou o que seria energia cinética até que ela espancasse sua cabeça em movimento de chicote. Atendi o bêbado de capacete que pousou fofamente na grama. Esperamos a ambulância, eu lá, impotente, com luvinhas de látex, com estetoscópio no pescoço – minha coleira particular.

O namorado achou bacanérrimo. Sério. Não achou só bonito e corajoso. Achou super. Contou para todos a minha façanha.

Meu próprio roteiro de E. R. - Plantão Médico, ou de Grey´s Anatomy, ou de Scrubs. Tudo subitamente compensava o compromisso interno de viver em sobreaviso. Mais que glamour - seus olhinhos brilhando, admirados. Sua boca umedecendo, a língua estalando a alegria de namorar alguém que surpreende.

Eu que sonhava em ser Kate Marrone, a policial machona dos anos oitenta, ou Mata Hari. Almejava um codinome secreto, a capacidade de defender e proteger. Era o mais perto disso que chegava.

Minha fama se espalhou pela família dele. Vinte tias, trinta primos, os quatro avós, tio-avôs e até a nona.

Ganhei um fã clube. E uma carta solene de pacientes.

Dali em diante, surgiu a obsessão do namorado. Aparecia na clínica, para me ver de jaleco. Queria me comer a todo pano no consultório. Queria que eu medisse a febre à noite. Tinha dores de barriga, dor de cabeça, dor nas pernas, dor nos pés, rangidos no joelho ou nos ombros, coceiras, bolinhas, manchas na pele. Manchas na visão. Chiados no peito, estalos nos ouvidos, pulsação na garganta. Formigamentos e amortecimentos.

Trinta e seis graus, não ouço nada, não tem nada, é mosquito. Toma um buscopan. Toma paracetamol. Ah não tem? Então, toma aspirina. Toma água que passa, é soluço.

Aquilo crescendo em progressão geométrica. Minha agenda não sustentava os encaixes dos parentes inventados.

Almoçávamos. Do outro lado da rua, um grande estardalhaço. Uma mulher gritava: tinha caído. Urrava com toda a força, ah, me ajuda, ah que horror. Estava chovendo. Eu não movi um dedo, exceto a mão do garfo para a boca. Ele, pasmo:

- Não vai fazer nada?

- Não. Quando a pessoa tem tanta força para escândalo é porque tem força para se levantar.

- Mas e você não vai lá nem espiar?

- Não. Estou em horário de almoço.

Pela janela era possível enxergar a mulher já acudida pelos transeuntes, um caso típico de vergonha disfarçada.

Ele ficou arrasado. Sua heroína foi desmascarada.

- Optou pelo almoço a ir salvar uma vida?

Deixei assim. Optei por salvar a pele: minha profissão não é uma fantasia. A fábula precisa de dois para acontecer.

Todo carnaval tem seu fim.


Hadesha´s Venetian Fantasy - at Deviant Art


Existe todo o tipo de fantasia erótica. Tarados por tenistas, por enfermeiras, por professoras. Excentricidades dirigem o afeto. Funciona como um tipo de fetiche, um ponto de convulsão, um botão de liga e desliga que empresta a ilusão de controle sobre o sexo. É um Viagra imaginário. A simples alusão ao saiote e já está – pronto para o ataque.

Tem gente que sonha em transar viajando. Eu broxo só em pensar. A medicina produz um nervosismo extra no avião. No ônibus. No trem. Quando testemunho um acidente. Quando assisto uma criança acendendo um rojão na calçada. Porque não existe folga, só omissão de socorro. Seria obrigada a juntar os dedinhos do pirralho, acomodá-los num isoporzinho, embalar em um paninho para que não queimasse a pele no gelo e conduzi-lo gentilmente ao colega de plantão mais próximo.

Não estava de plantão, mas viajando em meu carro com o namorado. Vínhamos na estrada em direção a Porto Alegre. Passou por nós um desses descontrolados psicóticos sobre duas rodas e, infelizmente, assisti o desgraçado voando com a força centrífuga na curva. Depois de trabalhar no Pronto Socorro, ficou claro para mim que moto é uma plataforma para o suicídio. Sem noção nenhuma de física a pessoa que imprime aquela velocidade. Ou, no mínimo, nunca imaginou o que seria energia cinética até que ela espancasse sua cabeça em movimento de chicote. Atendi o bêbado de capacete que pousou fofamente na grama. Esperamos a ambulância, eu lá, impotente, com luvinhas de látex, com estetoscópio no pescoço – minha coleira particular.

O namorado achou bacanérrimo. Sério. Não achou só bonito e corajoso. Achou super. Contou para todos a minha façanha.

Meu próprio roteiro de E. R. - Plantão Médico, ou de Grey´s Anatomy, ou de Scrubs. Tudo subitamente compensava o compromisso interno de viver em sobreaviso. Mais que glamour - seus olhinhos brilhando, admirados. Sua boca umedecendo, a língua estalando a alegria de namorar alguém que surpreende.

Eu que sonhava em ser Kate Marrone, a policial machona dos anos oitenta, ou Mata Hari. Almejava um codinome secreto, a capacidade de defender e proteger. Era o mais perto disso que chegava.

Minha fama se espalhou pela família dele. Vinte tias, trinta primos, os quatro avós, tio-avôs e até a nona.

Ganhei um fã clube. E uma carta solene de pacientes.

Dali em diante, surgiu a obsessão do namorado. Aparecia na clínica, para me ver de jaleco. Queria me comer a todo pano no consultório. Queria que eu medisse a febre à noite. Tinha dores de barriga, dor de cabeça, dor nas pernas, dor nos pés, rangidos no joelho ou nos ombros, coceiras, bolinhas, manchas na pele. Manchas na visão. Chiados no peito, estalos nos ouvidos, pulsação na garganta. Formigamentos e amortecimentos.

Trinta e seis graus, não ouço nada, não tem nada, é mosquito. Toma um buscopan. Toma paracetamol. Ah não tem? Então, toma aspirina. Toma água que passa, é soluço.

Aquilo crescendo em progressão geométrica. Minha agenda não sustentava os encaixes dos parentes inventados.

Almoçávamos. Do outro lado da rua, um grande estardalhaço. Uma mulher gritava: tinha caído. Urrava com toda a força, ah, me ajuda, ah que horror. Estava chovendo. Eu não movi um dedo, exceto a mão do garfo para a boca. Ele, pasmo:

- Não vai fazer nada?

- Não. Quando a pessoa tem tanta força para escândalo é porque tem força para se levantar.

- Mas e você não vai lá nem espiar?

- Não. Estou em horário de almoço.

Pela janela era possível enxergar a mulher já acudida pelos transeuntes, um caso típico de vergonha disfarçada.

Ele ficou arrasado. Sua heroína foi desmascarada.

- Optou pelo almoço a ir salvar uma vida?

Deixei assim. Optei por salvar a pele: minha profissão não é uma fantasia. A fábula precisa de dois para acontecer.

Mari-de-Sol






Inspirada neste original
Foto de Mariana Carpinejar,
por ela mesma.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Cora Zeezee Coralina




Vicente, menino lindo, autor do blog [Eu] [Vi] [Bichos] e manequim.





Inspirada neste original,
Cora Coralina no aniversário
de 1 aninho,
com seu pai biológico.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Meio Céu


M. C. Escher´s Sky and Water I, 1938



Estávamos em uma festa no Ocidente. O calor, tipicamente infernal; lotação similar a do presídio central. Eu me esgueirando até o bar para pedir uma vodka, só com gelo, por favor. Acenava pateticamente o dinheiro como uma caneca entre as grades. Alguns minutos naquele moedor de carne foram mais do que pude suportar. Desisti.

Encarei a fila em direção à pista de dança, algo como andar atrás do trio elétrico em Salvador sem abadá. Alcancei minhas amigas, aliviadíssima. Quando aquela tortura ia terminar? Meu sofrimento devia estar exposto, saindo pelos poros, porque um cara chegou assim:

- Não agüenta mais?

Eu fui obrigada a retribuir sorrindo, admito que me pegou com a guarda baixa.

- Trouxe tua vodka só com gelo.

Agora, aquilo sim não era comum. Não no Ocidente. Não com a multidão da corrida de São Silvestre reunida em uma casa noturna de quase trinta anos de idade. Fiquei pálida; senti o sangue fugir da pele. Olhei atônita. Ele me alcançou o famigerado copinho plástico.

Como se não bastasse a aparição suspeita de perseguidor, o rapaz entabulou a conversa assim:

- É de Peixes, né?

- Não, de onde que tirou esta informação?

- Desculpa, quis dizer que seu ascendente é em Peixes.

Tremi um pouco a base, o gelo havia derretido, o álcool vinha mais puro. Gente, era uma maldição paranormal, o sujeito.

Fiz um ar blasé tentando não aparentar surpresa. Tipo presa que se finge de morta. Após acertar a segunda tentativa, acho que o cara ganhou confiança. Continuou um discurso sobre como era sutil aquilo sobre mim, teceu rápido diagnóstico de que minha lua residia em Gêmeos pelas expressões atordoadas e isso disfarçava muito a influência de virgem como signo solar.

Quase gozei sozinha.

Certo, certo. Odeio cantada zodiacal, mas esse cara era diferente, ele tinha me conseguido o Santo Graal da vodka, afinal de contas. Naquele buraco, o Santo Graal estava mais para Santo Daime: e começava a bater. A carência aceita tudo.

Voltando um pouco a fita, fui parar no Ocidente para curar uma dor de cotovelo das mais terríveis: meu ex já desfilava um novo amor enquanto eu não tinha sequer encaixotado suas fotos. O pretenso guru tabajara caía como um jato d'água naquele carnaval fora de época. E era bem bonitinho.

E beijava bem. Beijava bem mesmo. E dançava gostoso. Quer uma carona, quero sim, enfim, fomos embora e eu estava livre daquele bacanal em que tinha me enfiado.

E foi assim que começou nosso caso escrito nas estrelas.

Marcão. Não é bem nome de cigano, eu sei, mas o superlativo caía bem com seus ombros amplos de natação para curar asma desde pequenininho. Foi uma paixão fulminante. Demorei uns três meses para começar a ouvir o que Marcão falava. Quando a alocução ficou inteligível, percebi que o gigantão tentava ser o Mestre dos Magos.

Sabia que a Marcela ia fazer aquilo. Bem coisa de geminiana com ascendente em Peixes. Ah, só podia, típico Áries com lua em Capricórnio. Ele é de Aquário? Tem que ser Aquário.
Como se não bastasse o horóscopo contínuo em relação aos outros, o morenaço me puxava pela cintura murmurando, vem aqui minha vênus em escorpião. Fui suspirando para aliviar a breguice. Mirava o triângulo das bermudas e me perdia em suas costas largas.

E eu que achei que a cantada já era de mau gosto?

Tentava calar a boca do Marcão, mas ele insistia em me revelar os mistérios do universo. Fim de semana ele me levou no planetário. Achei muito legal, não ia lá desde os nove anos, eu acho. Mas no outro mês, ele queria ir de novo.

Ele me presenteou, quando fizemos quatro meses, com um inesperado e imprescindível Mapa Astral.

Pensei: última chance; em homenagem aos dois metros de peitoral onde adorava dormir, eu iria.

Cheguei na casa do Walter Mercado de Porto Alegre. No hall de entrada, coletaram meus dados fundamentais: data, hora e local de nascimento. Ali, meu nome não servia para nada.

Terminada a sessão adivinhatória da minha personalidade e algumas previsões meteorológicas para o trabalho, o profeta entregou o dito desenho da influência planetária em meu destino e um envelope para que eu alcançasse ao Marcão.

- Que é isso?

- Uma sinastria.

Ele explicou que sinastria é a combinação de dois mapas, um exame de compatibilidade genética, astral para ver se éramos almas gêmeas. Nem abri o patuá do vidente. Fui direto atrás do requerente.

Porra, Marcão, que presente cavalo de tróia foi esse? Ele foi argumentando, calma amor, achei que ia gostar e tal e tal. Entreguei o envelope. Fui para a sala.

Foi partindo meu coração pensar na saudade que sentiria das suas carnes divinas, mas tinha chegado ao limite daquela vida adivinhada. Respirei fundo o silêncio da verdade inadiável. Não dá mais, Marcão. Ensaiei.

- A gente precisa conversar.

- O que houve? Mas já entramos no teu inferno astral?

- Não, Marcão. É retorno de saturno.

Meio Céu


M. C. Escher´s Sky and Water I, 1938



Estávamos em uma festa no Ocidente. O calor, tipicamente infernal; lotação similar a do presídio central. Eu me esgueirando até o bar para pedir uma vodka, só com gelo, por favor. Acenava pateticamente o dinheiro como uma caneca entre as grades. Alguns minutos naquele moedor de carne foram mais do que pude suportar. Desisti.

Encarei a fila em direção à pista de dança, algo como andar atrás do trio elétrico em Salvador sem abadá. Alcancei minhas amigas, aliviadíssima. Quando aquela tortura ia terminar? Meu sofrimento devia estar exposto, saindo pelos poros, porque um cara chegou assim:

- Não agüenta mais?

Eu fui obrigada a retribuir sorrindo, admito que me pegou com a guarda baixa.

- Trouxe tua vodka só com gelo.

Agora, aquilo sim não era comum. Não no Ocidente. Não com a multidão da corrida de São Silvestre reunida em uma casa noturna de quase trinta anos de idade. Fiquei pálida; senti o sangue fugir da pele. Olhei atônita. Ele me alcançou o famigerado copinho plástico.

Como se não bastasse a aparição suspeita de perseguidor, o rapaz entabulou a conversa assim:

- É de Peixes, né?

- Não, de onde que tirou esta informação?

- Desculpa, quis dizer que seu ascendente é em Peixes.

Tremi um pouco a base, o gelo havia derretido, o álcool vinha mais puro. Gente, era uma maldição paranormal, o sujeito.

Fiz um ar blasé tentando não aparentar surpresa. Tipo presa que se finge de morta. Após acertar a segunda tentativa, acho que o cara ganhou confiança. Continuou um discurso sobre como era sutil aquilo sobre mim, teceu rápido diagnóstico de que minha lua residia em Gêmeos pelas expressões atordoadas e isso disfarçava muito a influência de virgem como signo solar.

Quase gozei sozinha.

Certo, certo. Odeio cantada zodiacal, mas esse cara era diferente, ele tinha me conseguido o Santo Graal da vodka, afinal de contas. Naquele buraco, o Santo Graal estava mais para Santo Daime: e começava a bater. A carência aceita tudo.

Voltando um pouco a fita, fui parar no Ocidente para curar uma dor de cotovelo das mais terríveis: meu ex já desfilava um novo amor enquanto eu não tinha sequer encaixotado suas fotos. O pretenso guru tabajara caía como um jato d'água naquele carnaval fora de época. E era bem bonitinho.

E beijava bem. Beijava bem mesmo. E dançava gostoso. Quer uma carona, quero sim, enfim, fomos embora e eu estava livre daquele bacanal em que tinha me enfiado.

E foi assim que começou nosso caso escrito nas estrelas.

Marcão. Não é bem nome de cigano, eu sei, mas o superlativo caía bem com seus ombros amplos de natação para curar asma desde pequenininho. Foi uma paixão fulminante. Demorei uns três meses para começar a ouvir o que Marcão falava. Quando a alocução ficou inteligível, percebi que o gigantão tentava ser o Mestre dos Magos.

Sabia que a Marcela ia fazer aquilo. Bem coisa de geminiana com ascendente em Peixes. Ah, só podia, típico Áries com lua em Capricórnio. Ele é de Aquário? Tem que ser Aquário.
Como se não bastasse o horóscopo contínuo em relação aos outros, o morenaço me puxava pela cintura murmurando, vem aqui minha vênus em escorpião. Fui suspirando para aliviar a breguice. Mirava o triângulo das bermudas e me perdia em suas costas largas.

E eu que achei que a cantada já era de mau gosto?

Tentava calar a boca do Marcão, mas ele insistia em me revelar os mistérios do universo. Fim de semana ele me levou no planetário. Achei muito legal, não ia lá desde os nove anos, eu acho. Mas no outro mês, ele queria ir de novo.

Ele me presenteou, quando fizemos quatro meses, com um inesperado e imprescindível Mapa Astral.

Pensei: última chance; em homenagem aos dois metros de peitoral onde adorava dormir, eu iria.

Cheguei na casa do Walter Mercado de Porto Alegre. No hall de entrada, coletaram meus dados fundamentais: data, hora e local de nascimento. Ali, meu nome não servia para nada.

Terminada a sessão adivinhatória da minha personalidade e algumas previsões meteorológicas para o trabalho, o profeta entregou o dito desenho da influência planetária em meu destino e um envelope para que eu alcançasse ao Marcão.

- Que é isso?

- Uma sinastria.

Ele explicou que sinastria é a combinação de dois mapas, um exame de compatibilidade genética, astral para ver se éramos almas gêmeas. Nem abri o patuá do vidente. Fui direto atrás do requerente.

Porra, Marcão, que presente cavalo de tróia foi esse? Ele foi argumentando, calma amor, achei que ia gostar e tal e tal. Entreguei o envelope. Fui para a sala.

Foi partindo meu coração pensar na saudade que sentiria das suas carnes divinas, mas tinha chegado ao limite daquela vida adivinhada. Respirei fundo o silêncio da verdade inadiável. Não dá mais, Marcão. Ensaiei.

- A gente precisa conversar.

- O que houve? Mas já entramos no teu inferno astral?

- Não, Marcão. É retorno de saturno.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Fala: YOU - TUBE.

Há alguns anos, a gente gostava mesmo era de ver um filme. Não estou falando de idas ao cinema, mas do ritual demodê alugar para assistir. Sim, porque, naquele tempo, baixar um longa-metragem significava Napster. Enfim, uma utopia na internet discada.

Reuníamos os amigos em casa, umas pipocas, um sofá derramado. Às vezes, a noite seguia elegante: David Lynch, Almodóvar, Ingmar Bergman, Woody Allen. Conforme o grupo, os títulos tinham pretensões menores: Cova Rasa, X-Men, Homem Aranha. O mais baixo que chegamos foi Velozes e Furiosos – democracia às vezes é sacal.

Não vi quando aconteceu, mas sei que, de repente, a tela do computador ficou maior que a da televisão. Conectamos o hometheater à CPU e a atração central virou o Youtube. Youtube?

- Tube, como em tubo da TV.

E pasmamos: o acesso era totalmente gratuito. Com a alimentação em tempo real, insaciável, do banco de dados.

Noites seguidas de outras tardes, dias, navegando e conferindo as ofertas do mundo com duração máxima de dez minutos.

O conhecimento emigrou. A seleção dos vídeos favoritos, saber O QUE buscar recebeu suma importância As indicações viraram moeda forte. Eram clássicos repentinos, criações contemporâneas, reprises da era analógica: você já viu aquele das nozes, as árveres somos nozes. E a alegria vinha antes dos dentes, interrompendo o diálogo.



Você lembra da Heleninha Roitman, não, como era, pois era o máximo, e risos como reticências.




A riqueza de trocas durante as conversas estava multiplicada: ganhamos a multimídia. Reincorporamos um novo idioma. Quando queríamos falar sobre uma peça de teatro, um cantor, um clipe, uma música, uma piada, uma fofoca, o nascimento da irmã caçula, uma gafe célebre - tudo estaria a um clique.

Se a imaginação parece prejudicada pelo invento, nunca a mentira esteve mais acanhada. Nosso grupo se acostumou a falar e mostrar. Adotamos a imagem como a palavra mais fiel, a prova mais contundente.

Além disso, tinha a questão da identificação.

Uma vez diante do inegável, do irreprimível, do sólido audiovisual, a reação, concordar ou discordar entre si significava pertencer. A coragem de rir com preconceito é uma intimidade que não se dá para qualquer um. É um voto supremo de confiança.

Foi assim que resolvi ampliar um namoro.

Saíamos há um par de meses, boa cumplicidade na cama, boas trocas na mesa, boa conversa no banho. A hora de avançar a base tinha chegado.

Tudo começou quando assistimos o tal Quem quer ser um milionário.



Ri muito na hora dos créditos; teci um paralelo com Rivaldo sai desse lago.

Ele não entendeu .

Eu achei estranho tanto desconhecimento para a idade, tinha trinta e poucos! Afinal, é praticamente o mesmo que piadas mencionando Jean Paul Belmondo para alguém com mais de cinqüenta.



Deixei para lá a impressão e fomos para meu apartamento. Disse-lhe que ia apresentar o tal vídeo de Bollywood com legenda fonética. Estava plena de esperança que ele fosse rir muito; imaginei seus olhos molhados de lágrimas, gargalhando, as têmporas comprimidas. Esperei que me agradecesse emocionado pelo momento inaugural.



- Mãe aguardente no meio desse lago...
E nada.

- I Love you, linda, yeah!
E nada.

Naquela hora eu já poderia ter percebido que algo estava muito errado. Mas contemporizei - talvez clipes musicais não fossem de seu apetite, já tive amigos assim. Desisti de Ken Lee.




Apelei para o clássico dos clássicos. Cogitei que seria pouco provável, mas decidi perguntar:

- Tapa na Pantera tu conhece, né?.

Não, respondeu piscando inocente.

Suspirei fingindo calma. Planejei buscar uma bolsa morna para aliviar a cãimbra de riso que ele certamente teria.




- Fuma aqui, toma um chá, fuma aqui, toma um chá.

E nada?

Olhou-me cético, é uma atriz?

Confirmei, é claro que sim, não adiantou. Seria ele incapaz de se divertir? Sofreria de Distimia? Um filiado ao partido dos Desgraçados?

Ao mesmo tempo, eu suspeitava de minha sensibilidade. Quem sabe ele preferiria um humor mais refinado. Tentei a Irmã Selma.



- Cuidar de criança relaaaaaaaaaxa a gente.

E nada!!

Ok, você venceu, batatas fritas. Vamos lá. Última chance: Fala Sônia?

Pois o cara não conhecia nem o Fala Sônia. Tive certeza de que era um alienado digital. Mas era jovem, futuro promissor, pensei na cama, na mesa e no banho.
Respirei fundo: ele encontraria a cura naquela noite. Comigo. Eu me convenci. Seria como um debut, uma iniciação. Eu seria catequista e ele, o coroinha profundamente grato. Eu tinha certeza.

Armei a cerimônia.
Como maestro, dei o play.




O cara ficou chocado. Bradou a incredulidade. Questionou a minha índole. Resmungou que isso não se faz, é maldade com um ser humano, gravar uma coisa assim, realmente terrível, onde já se viu!, a pobre criatura, mas pior ainda era eu estar rindo junto com milhões de inescrupulosos.

Uma horda!

Tudo bem, eu falei. Tem razão, é claro que isso não se faz, fico até envergonhada, me desculpe.

Não há problema, ele disse.

Afirmei que tinha muito problema sim, que aquilo era um vexame, que eu precisava descansar, que ele me desculpasse e fosse embora.

A ignorância digital não era nada perto daquilo. A reação dele nem mesmo representava conflito de gerações. Menos ainda que o cara não tivesse humor.

Mas eu não estava arrependida. Não, não tinha perdido a esperança.

Eu fiquei com medo dele.

São as pequenas maldades que nos salvam das grandes.

Fala: YOU - TUBE.

Há alguns anos, a gente gostava mesmo era de ver um filme. Não estou falando de idas ao cinema, mas do ritual demodê alugar para assistir. Sim, porque, naquele tempo, baixar um longa-metragem significava Napster. Enfim, uma utopia na internet discada.

Reuníamos os amigos em casa, umas pipocas, um sofá derramado. Às vezes, a noite seguia elegante: David Lynch, Almodóvar, Ingmar Bergman, Woody Allen. Conforme o grupo, os títulos tinham pretensões menores: Cova Rasa, X-Men, Homem Aranha. O mais baixo que chegamos foi Velozes e Furiosos – democracia às vezes é sacal.

Não vi quando aconteceu, mas sei que, de repente, a tela do computador ficou maior que a da televisão. Conectamos o hometheater à CPU e a atração central virou o Youtube. Youtube?

- Tube, como em tubo da TV.

E pasmamos: o acesso era totalmente gratuito. Com a alimentação em tempo real, insaciável, do banco de dados.

Noites seguidas de outras tardes, dias, navegando e conferindo as ofertas do mundo com duração máxima de dez minutos.

O conhecimento emigrou. A seleção dos vídeos favoritos, saber O QUE buscar recebeu suma importância As indicações viraram moeda forte. Eram clássicos repentinos, criações contemporâneas, reprises da era analógica: você já viu aquele das nozes, as árveres somos nozes. E a alegria vinha antes dos dentes, interrompendo o diálogo.



Você lembra da Heleninha Roitman, não, como era, pois era o máximo, e risos como reticências.




A riqueza de trocas durante as conversas estava multiplicada: ganhamos a multimídia. Reincorporamos um novo idioma. Quando queríamos falar sobre uma peça de teatro, um cantor, um clipe, uma música, uma piada, uma fofoca, o nascimento da irmã caçula, uma gafe célebre - tudo estaria a um clique.

Se a imaginação parece prejudicada pelo invento, nunca a mentira esteve mais acanhada. Nosso grupo se acostumou a falar e mostrar. Adotamos a imagem como a palavra mais fiel, a prova mais contundente.

Além disso, tinha a questão da identificação.

Uma vez diante do inegável, do irreprimível, do sólido audiovisual, a reação, concordar ou discordar entre si significava pertencer. A coragem de rir com preconceito é uma intimidade que não se dá para qualquer um. É um voto supremo de confiança.

Foi assim que resolvi ampliar um namoro.

Saíamos há um par de meses, boa cumplicidade na cama, boas trocas na mesa, boa conversa no banho. A hora de avançar a base tinha chegado.

Tudo começou quando assistimos o tal Quem quer ser um milionário.



Ri muito na hora dos créditos; teci um paralelo com Rivaldo sai desse lago.

Ele não entendeu .

Eu achei estranho tanto desconhecimento para a idade, tinha trinta e poucos! Afinal, é praticamente o mesmo que piadas mencionando Jean Paul Belmondo para alguém com mais de cinqüenta.



Deixei para lá a impressão e fomos para meu apartamento. Disse-lhe que ia apresentar o tal vídeo de Bollywood com legenda fonética. Estava plena de esperança que ele fosse rir muito; imaginei seus olhos molhados de lágrimas, gargalhando, as têmporas comprimidas. Esperei que me agradecesse emocionado pelo momento inaugural.



- Mãe aguardente no meio desse lago...
E nada.

- I Love you, linda, yeah!
E nada.

Naquela hora eu já poderia ter percebido que algo estava muito errado. Mas contemporizei - talvez clipes musicais não fossem de seu apetite, já tive amigos assim. Desisti de Ken Lee.




Apelei para o clássico dos clássicos. Cogitei que seria pouco provável, mas decidi perguntar:

- Tapa na Pantera tu conhece, né?.

Não, respondeu piscando inocente.

Suspirei fingindo calma. Planejei buscar uma bolsa morna para aliviar a cãimbra de riso que ele certamente teria.




- Fuma aqui, toma um chá, fuma aqui, toma um chá.

E nada?

Olhou-me cético, é uma atriz?

Confirmei, é claro que sim, não adiantou. Seria ele incapaz de se divertir? Sofreria de Distimia? Um filiado ao partido dos Desgraçados?

Ao mesmo tempo, eu suspeitava de minha sensibilidade. Quem sabe ele preferiria um humor mais refinado. Tentei a Irmã Selma.



- Cuidar de criança relaaaaaaaaaxa a gente.

E nada!!

Ok, você venceu, batatas fritas. Vamos lá. Última chance: Fala Sônia?

Pois o cara não conhecia nem o Fala Sônia. Tive certeza de que era um alienado digital. Mas era jovem, futuro promissor, pensei na cama, na mesa e no banho.
Respirei fundo: ele encontraria a cura naquela noite. Comigo. Eu me convenci. Seria como um debut, uma iniciação. Eu seria catequista e ele, o coroinha profundamente grato. Eu tinha certeza.

Armei a cerimônia.
Como maestro, dei o play.




O cara ficou chocado. Bradou a incredulidade. Questionou a minha índole. Resmungou que isso não se faz, é maldade com um ser humano, gravar uma coisa assim, realmente terrível, onde já se viu!, a pobre criatura, mas pior ainda era eu estar rindo junto com milhões de inescrupulosos.

Uma horda!

Tudo bem, eu falei. Tem razão, é claro que isso não se faz, fico até envergonhada, me desculpe.

Não há problema, ele disse.

Afirmei que tinha muito problema sim, que aquilo era um vexame, que eu precisava descansar, que ele me desculpasse e fosse embora.

A ignorância digital não era nada perto daquilo. A reação dele nem mesmo representava conflito de gerações. Menos ainda que o cara não tivesse humor.

Mas eu não estava arrependida. Não, não tinha perdido a esperança.

Eu fiquei com medo dele.

São as pequenas maldades que nos salvam das grandes.

Camisa XIII para Bitols






Inspirada na capa de Banalogias,
livro de Francisco Bosco,
arte de Silvana Mattievich.

Tunnis para Arthur









Baseado neste original:
foto de Mírian Fontoura Moreira
featuring Keith Christina e Chuck
(Os Tunnis)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Mulher-melão



Não tivemos um primeiro encontro. Quando saímos pela primeira vez, não foi sequer com exclusividade. Não veio me buscar em casa. Não pude conferir se era do tipo que buzinava ou vinha até a porta. Não ligou antes para marcar e garantir a disponibilidade. Não agendou com a sorte. Quando saímos pela primeira vez, eu estava era chegando em casa.

Recebi um torpedinho dele dizendo assim: estou com um amigo em um bar. Interessa? Respondi que interessava, sim. Onde era? E fui para lá, praticamente uma colisão casual, alguém com quem topamos na esquina, como-vai-tudo-bem, vamos tomar alguma coisa e botar o papo em dia.

Não fui armada, nem montada, nada. Usava tênis e calça jeans. Não mascarei nem os cílios. É porque não era um Encontro, assim, com letra capital.

Cheguei lá em alguns minutos. Os rapazes estavam sentados em uma mesa perto do bar, bem descontraídos. Cerimônia zero: praticamente não levantaram quando cheguei.

Foi contando que recém saiu da aula logo ali na frente. Eu achei tudo muito divertido e solto. Tomavam um bourbon. O tal amigo pareceu muito gentil, até mais simpático do que o próprio autor do convite.

Aliás, para dizer bem a verdade, meu anfitrião, se é que posso chamá-lo assim, parecia de pouco caso comigo.

Riu a plenos pulmões só porque eu disse que gostava de Maria Bethânia. A troça teve até direito a careta e explicação professoral sobre um tal bethanismo de que nunca tinha ouvido nem o cheiro. Ficou bufando de riso quando eu reafirmei minha fé no Diamante Verdadeiro e confessei minha emoção com Vinícius.

A seguir, debochou com gorduras só porque eu seguro o brinco às vezes para falar. O encadeamento da conversa parecia mais a implicância de meu colega Thomas na escola, aquele que me chamava de nerd e teimava que eu mordia toda a tampinha da caneta.

Perto das onze horas, o amigo levantou já saindo, tchau e prazer até mais. Eu fiquei estaqueada na cadeira do bar, afinal, meu plano de sair à francesa tinha acabado de sofrer seu dia D. Danou-se.

Pensava em como poderia continuar falando com o cara, afinal, já estava me sentido a mais debilóide bethanista, ridícula, insegura, que não consegue controlar as mãos com a voz. Era pra ser filosofia de balcão, ou um flerte modesto, quem sabe. Alguém para eu ser fã por uma noite. Eu via meus oito anos de análise ameaçados – o troço estava acabando com minha auto-estima.

Eu pensava nisso e olhava os lábios dele se movendo enquanto falava quando, de repente, ofereceu o dedo indicador e disse assim: morde.

- Como é?

- Morde. Não tem coragem?

Que doido. Está bem, mordi. Ele disse que eu mordesse mais, como se fosse a fruta preferida, aliás, qual era minha fruta preferida, eu disse melão. Ele fez uma cara de quem tinha achado algum sentido oculto nesse fato, um ar de eu sou o primeiro, eu sou mais leve, eu sou mais eu.

E foi aí, justamente aí que a ficha caiu. Morder dedo? Bem estratégia de galã de rodoviária. Faz isso com todas: pega a moça na saída do trabalho com sua CG 125 consorciada. Para livrar a garupa, apenas remove a caixa do China in Box. No caminho, encoxa a menina no muro da sorveteria e manda morder o indicador como se fosse um eskibon.

Tudo tinha sido um esquema muito bem bolado. O cara me chama, faz de conta que é uma coisa menor, um clima Jair Rodrigues de chega aí, passa a noite minando minha autoconfiança, o canalha, para de repente levantar minha estima e me fazer provar que era bem melhor do que ele – algo que não era difícil.

Ah é? Deixei ele dar o show. Fiz de conta que nem percebi. Ele era apenas um ator. Mulher gosta mesmo é de amadores.

Mulher-melão



Não tivemos um primeiro encontro. Quando saímos pela primeira vez, não foi sequer com exclusividade. Não veio me buscar em casa. Não pude conferir se era do tipo que buzinava ou vinha até a porta. Não ligou antes para marcar e garantir a disponibilidade. Não agendou com a sorte. Quando saímos pela primeira vez, eu estava era chegando em casa.

Recebi um torpedinho dele dizendo assim: estou com um amigo em um bar. Interessa? Respondi que interessava, sim. Onde era? E fui para lá, praticamente uma colisão casual, alguém com quem topamos na esquina, como-vai-tudo-bem, vamos tomar alguma coisa e botar o papo em dia.

Não fui armada, nem montada, nada. Usava tênis e calça jeans. Não mascarei nem os cílios. É porque não era um Encontro, assim, com letra capital.

Cheguei lá em alguns minutos. Os rapazes estavam sentados em uma mesa perto do bar, bem descontraídos. Cerimônia zero: praticamente não levantaram quando cheguei.

Foi contando que recém saiu da aula logo ali na frente. Eu achei tudo muito divertido e solto. Tomavam um bourbon. O tal amigo pareceu muito gentil, até mais simpático do que o próprio autor do convite.

Aliás, para dizer bem a verdade, meu anfitrião, se é que posso chamá-lo assim, parecia de pouco caso comigo.

Riu a plenos pulmões só porque eu disse que gostava de Maria Bethânia. A troça teve até direito a careta e explicação professoral sobre um tal bethanismo de que nunca tinha ouvido nem o cheiro. Ficou bufando de riso quando eu reafirmei minha fé no Diamante Verdadeiro e confessei minha emoção com Vinícius.

A seguir, debochou com gorduras só porque eu seguro o brinco às vezes para falar. O encadeamento da conversa parecia mais a implicância de meu colega Thomas na escola, aquele que me chamava de nerd e teimava que eu mordia toda a tampinha da caneta.

Perto das onze horas, o amigo levantou já saindo, tchau e prazer até mais. Eu fiquei estaqueada na cadeira do bar, afinal, meu plano de sair à francesa tinha acabado de sofrer seu dia D. Danou-se.

Pensava em como poderia continuar falando com o cara, afinal, já estava me sentido a mais debilóide bethanista, ridícula, insegura, que não consegue controlar as mãos com a voz. Era pra ser filosofia de balcão, ou um flerte modesto, quem sabe. Alguém para eu ser fã por uma noite. Eu via meus oito anos de análise ameaçados – o troço estava acabando com minha auto-estima.

Eu pensava nisso e olhava os lábios dele se movendo enquanto falava quando, de repente, ofereceu o dedo indicador e disse assim: morde.

- Como é?

- Morde. Não tem coragem?

Que doido. Está bem, mordi. Ele disse que eu mordesse mais, como se fosse a fruta preferida, aliás, qual era minha fruta preferida, eu disse melão. Ele fez uma cara de quem tinha achado algum sentido oculto nesse fato, um ar de eu sou o primeiro, eu sou mais leve, eu sou mais eu.

E foi aí, justamente aí que a ficha caiu. Morder dedo? Bem estratégia de galã de rodoviária. Faz isso com todas: pega a moça na saída do trabalho com sua CG 125 consorciada. Para livrar a garupa, apenas remove a caixa do China in Box. No caminho, encoxa a menina no muro da sorveteria e manda morder o indicador como se fosse um eskibon.

Tudo tinha sido um esquema muito bem bolado. O cara me chama, faz de conta que é uma coisa menor, um clima Jair Rodrigues de chega aí, passa a noite minando minha autoconfiança, o canalha, para de repente levantar minha estima e me fazer provar que era bem melhor do que ele – algo que não era difícil.

Ah é? Deixei ele dar o show. Fiz de conta que nem percebi. Ele era apenas um ator. Mulher gosta mesmo é de amadores.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Brasil na Madrugada - 11/12/2009



Cínthya Verri e Marco Azevedo conversaram com a Sarah no programa Brasil na Madrugada, da Rádio Gaúcha.
Saiba porque quem odeia a segunda-feira acaba descobrindo que odeia todos os dias de sua vida.

Brasil na Madrugada - 11/12/2009



Cínthya Verri e Marco Azevedo conversaram com a Sarah no programa Brasil na Madrugada, da Rádio Gaúcha.
Saiba porque quem odeia a segunda-feira acaba descobrindo que odeia todos os dias de sua vida.

Brasil na Madrugada - 11/12/2009



Cínthya Verri e Marco Azevedo conversaram com a Sarah no programa Brasil na Madrugada, da Rádio Gaúcha.
Descubra porque quem odeia a segunda-feira acaba descobrindo que odeia todos os dias de sua vida.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Um Fôlego



Ontem, separando os textos para o Sarau, escolhi alguns poemas. Mandei para o Fabrício ver em quais daqueles ele votava. Devolveu um email com quatro deles em ordem.
Descobrimos que eu escrevo como se num único fôlego. Olha como ficou:


Sarau


luzes, lanternas, lisuras
nada sabe
a saudade é sinistra.

chegue um pouco mais
vem ver o corpo por dentro
a sujeira tem temperatura

olha a selvageira explícita
meu riso histérico
lavava todo o oriente médio.

Não dormem esses duendes?

Planejo mirabolâncias sangrentas
Raspar, esfolar, desmembrar os mínimos

Nenhum será poupado

Corvos de roubar córneas,
Coragem e rins.

Nunca mais não existe
Diante da minha própria finitude.

Durmo de corpo tomado
O que mais invejo é o que não invento

Me descalço de graça
Preciso sangrar os pés
Finos e magros,
Vejo as vidraças da pele.

Eu me desfaço a pedradas
entre as veias.

meus músicos reunidos
no poço do palco

só a música me enxerga

meus mortos reunidos
na música

gostar de quem
crer em deus
faltas que não sinto
da mãe, do irmão

meus quartos com as camas desfeitas
gente que partiu de mim
gente que mandei embora
sem me despedir dos ouvidos.

Um Fôlego



Ontem, separando os textos para o Sarau, escolhi alguns poemas. Mandei para o Fabrício ver em quais daqueles ele votava. Devolveu um email com quatro deles em ordem.
Descobrimos que eu escrevo como se num único fôlego. Olha como ficou:


Sarau


luzes, lanternas, lisuras
nada sabe
a saudade é sinistra.

chegue um pouco mais
vem ver o corpo por dentro
a sujeira tem temperatura

olha a selvageira explícita
meu riso histérico
lavava todo o oriente médio.

Não dormem esses duendes?

Planejo mirabolâncias sangrentas
Raspar, esfolar, desmembrar os mínimos

Nenhum será poupado

Corvos de roubar córneas,
Coragem e rins.

Nunca mais não existe
Diante da minha própria finitude.

Durmo de corpo tomado
O que mais invejo é o que não invento

Me descalço de graça
Preciso sangrar os pés
Finos e magros,
Vejo as vidraças da pele.

Eu me desfaço a pedradas
entre as veias.

meus músicos reunidos
no poço do palco

só a música me enxerga

meus mortos reunidos
na música

gostar de quem
crer em deus
faltas que não sinto
da mãe, do irmão

meus quartos com as camas desfeitas
gente que partiu de mim
gente que mandei embora
sem me despedir dos ouvidos.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Curação - A Arte de Bem Cuidar-se

É HOJE!!



O novo livro de Christiane Ganzo e Denise Aerts vem seguir o baile dia 08 de dezembro, no VELEIROS DO SUL, às 20h, na Av. Guaíba, 2941, Porto Alegre.

CURAÇÃO - a arte de bem cuidar-se, o livro mais esperado de agora, apresenta a tecnologia para o bem-viver na perspectiva da saúde, que só a Bororó25 tem!

Curação - A Arte de Bem Cuidar-se

É HOJE!!



O novo livro de Christiane Ganzo e Denise Aerts vem seguir o baile dia 08 de dezembro, no VELEIROS DO SUL, às 20h, na Av. Guaíba, 2941, Porto Alegre.

CURAÇÃO - a arte de bem cuidar-se, o livro mais esperado de agora, apresenta a tecnologia para o bem-viver na perspectiva da saúde, que só a Bororó25 tem!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Sarau Elétrico - 08/12



Nessa terça, o professor MORENO terá que pedir ajuda a Zeus para vencer a batalha. Para substituir o professor FISCHER, que estará viajando, o SARAU ELÉTRICO vai contar com o reforço da médica, blogueira e grande leitora CINTHYA VERRI
para falar de MULHERES NA LITERATURA.
Uma rara noite de supremacia feminina na bancada, com as leituras confirmadas de CLAUDIA TAJES e KATIA SUMAN. SARAU DAS MULHERES.
O MORENO não é o Hércules, mas vai passar trabalho.

Canja da cantora e compositora MIDIAN ALMEIDA

SARAU DAS MULHERES – TERÇA 08.12.09
OCIDENTE – 21h – 10 pilas

Apoio etílico – CHAMPANHARIA OVELHA NEGRA

Sarau Elétrico - 08/12



Nessa terça, o professor MORENO terá que pedir ajuda a Zeus para vencer a batalha. Para substituir o professor FISCHER, que estará viajando, o SARAU ELÉTRICO vai contar com o reforço da médica, blogueira e grande leitora CINTHYA VERRI
para falar de MULHERES NA LITERATURA.
Uma rara noite de supremacia feminina na bancada, com as leituras confirmadas de CLAUDIA TAJES e KATIA SUMAN. SARAU DAS MULHERES.
O MORENO não é o Hércules, mas vai passar trabalho.

Canja da cantora e compositora MIDIAN ALMEIDA

SARAU DAS MULHERES – TERÇA 08.12.09
OCIDENTE – 21h – 10 pilas

Apoio etílico – CHAMPANHARIA OVELHA NEGRA