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terça-feira, 30 de outubro de 2007

Porque (entre outros porquês) amo a Clarice Lispector

1947 Berna - Suiça
"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...
Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo.
Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força.
Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver.
Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão.
Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma.
Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma".

Porque (entre outros porquês) amo a Clarice Lispector

1947 Berna - Suiça
"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...
Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo.
Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força.
Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver.
Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão.
Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma.
Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma".

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Colorética

Dia de mudez ou dia de nudez
Tanto faz a cor
Interessa é estar a meu lado [no meu time]
(como gosto tanto de dizer)
Sou meu apoio
E suporto muito pouco o resto
De tanto suporte a mim que sou.
E sou, antes de tudo, amiga mia e gaiata.
Sou aquarela
Bordeaux ventre mênstruo
Branco lunar, amarelo solar
Ciano, gris e anil do céu
Prata estelar
e todas tonalidades mais
Que se fizerem necessárias.
Sou eu
cardíaca colérica retorcida
passional pacífica e pessoal
Sou eu
polimorfomulticolorida (e nucleada).

Colorética

Dia de mudez ou dia de nudez
Tanto faz a cor
Interessa é estar a meu lado [no meu time]
(como gosto tanto de dizer)
Sou meu apoio
E suporto muito pouco o resto
De tanto suporte a mim que sou.
E sou, antes de tudo, amiga mia e gaiata.
Sou aquarela
Bordeaux ventre mênstruo
Branco lunar, amarelo solar
Ciano, gris e anil do céu
Prata estelar
e todas tonalidades mais
Que se fizerem necessárias.
Sou eu
cardíaca colérica retorcida
passional pacífica e pessoal
Sou eu
polimorfomulticolorida (e nucleada).

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Caminhoneira

Ia ela na estrada. Dirigindo, dirigindo sem fim.
Começou a chorar. Pensou que era um caminhoneiro.
Caminhoneiros, segundo sua própria concepção, eram pessoas românticas, sensíveis, que choravam sozinhas na estrada - como ela, caminhoneira.
Depois achou que era mesmo caminho-neira: a dirigir seu sem-fim.
Sem-fim porque ela não morreria - é que, para quem morre, a morte não acontece. Ela acontece para quem não morreu.
Pensou tudo isso e chorando ligou para ele.
Ele disse que estava fazendo isso e aquilo, mas que estava disposto a ouvi-la.
Ali, já se sentiu reconfortada e nova.
Pensou, depois de desligar, se aquilo de ser recebida por ele era uma bênção. Pensou na palavra "bênção". Achou útil ter feito catequese (uma rara ocasião esta).
Então, "bênção", na catequese, lembrava algo dado por deus a cada um.
Então achou que não era bênção coisíssima nenhuma ( e de novo a catequese perdera a fugaz utilidade).
Ser recebida por ele era amor. Direto. Simples assim.

Caminhoneira

Ia ela na estrada. Dirigindo, dirigindo sem fim.
Começou a chorar. Pensou que era um caminhoneiro.
Caminhoneiros, segundo sua própria concepção, eram pessoas românticas, sensíveis, que choravam sozinhas na estrada - como ela, caminhoneira.
Depois achou que era mesmo caminho-neira: a dirigir seu sem-fim.
Sem-fim porque ela não morreria - é que, para quem morre, a morte não acontece. Ela acontece para quem não morreu.
Pensou tudo isso e chorando ligou para ele.
Ele disse que estava fazendo isso e aquilo, mas que estava disposto a ouvi-la.
Ali, já se sentiu reconfortada e nova.
Pensou, depois de desligar, se aquilo de ser recebida por ele era uma bênção. Pensou na palavra "bênção". Achou útil ter feito catequese (uma rara ocasião esta).
Então, "bênção", na catequese, lembrava algo dado por deus a cada um.
Então achou que não era bênção coisíssima nenhuma ( e de novo a catequese perdera a fugaz utilidade).
Ser recebida por ele era amor. Direto. Simples assim.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Tarde, que seja!

Tinha certa tendência à servilidade, diziam da moça. Mas não desde sempre, sabe? Quem dizia o contrário, era a vó. A avozinha contava uma história que era assim:
- A moça devia ter uns 5 anos. Eu estava lavando a louça quando ela passou. Pedi pra ela: "ei, mocinha! Não quer varrer, pra vovó, a cozinha?" ao que ela respondeu: "ai, vovó, eu queria te ajudar, mas não posso varrer porque eu sofro da coluna!".
A avozinha ria muito quando contava a história, imitando a moça, na época mocinha, colocando a mão sobre a lombar e fazendo expressão de dor.
A moça não lembrava desse episódio, mas acreditava nele, tantas foram as vezes que a avó contara.
A moça acha, como os outros, que tem mesmo tendência a ser servil. Talvez apenas para se desocupar de si e ocupar-se de qualquer outra coisa. Quando faz isso, sente-se fazendo o necessário, fazendo algo de útil de sua existência - dando sentido ao que não tem sentido.
O que a moça não sabe é que a vida só tem mesmo o sentido que damos.
Outro sentido, um sentido em si, a vida não tem.
Melhor que a moça reencontre a mocinha, antes tarde do que nunca.

Tarde, que seja!

Tinha certa tendência à servilidade, diziam da moça. Mas não desde sempre, sabe? Quem dizia o contrário, era a vó. A avozinha contava uma história que era assim:
- A moça devia ter uns 5 anos. Eu estava lavando a louça quando ela passou. Pedi pra ela: "ei, mocinha! Não quer varrer, pra vovó, a cozinha?" ao que ela respondeu: "ai, vovó, eu queria te ajudar, mas não posso varrer porque eu sofro da coluna!".
A avozinha ria muito quando contava a história, imitando a moça, na época mocinha, colocando a mão sobre a lombar e fazendo expressão de dor.
A moça não lembrava desse episódio, mas acreditava nele, tantas foram as vezes que a avó contara.
A moça acha, como os outros, que tem mesmo tendência a ser servil. Talvez apenas para se desocupar de si e ocupar-se de qualquer outra coisa. Quando faz isso, sente-se fazendo o necessário, fazendo algo de útil de sua existência - dando sentido ao que não tem sentido.
O que a moça não sabe é que a vida só tem mesmo o sentido que damos.
Outro sentido, um sentido em si, a vida não tem.
Melhor que a moça reencontre a mocinha, antes tarde do que nunca.

sábado, 13 de outubro de 2007

Paulo Paquet Autran

Neneca lembrou-se de mim e mandou o Paulo Autran que se lembrou de Drummond que se lembrava e a nós todos de nós mesmos.

Paulo Paquet Autran

Neneca lembrou-se de mim e mandou o Paulo Autran que se lembrou de Drummond que se lembrava e a nós todos de nós mesmos.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Ensinamento Vs Aprendizagem

Ela pede.
Não, ela mais que pede: implora.
Não, não. Não é bem 'implora'. É mais um 'explora' (a si mesma, a buscar o outro).
(O que é mais bem que implorar - em geral)
Mas o que ela pede, ele não entende.
Ele diz que não tem (Ela afirma que ele tem - impossível não).
Ele diz que quer, mas não consegue.
Ela suspira... Ele não entende mesmo.
Ela insiste;
ele se retorce e contorce (doloridíssimo da vida que não tem cura).
Ela explica, replica, triplica.
Piorou.
Ele se afasta, se fecha, se encerra.
Porra (pensa ela).
'Mas não existe mandar no querer' - pensa (e diz) ela.
E não pensa em mandar no dele - pensa em mandar no seu (no seu só, ela quer, nem precisa ser no dele).
Francamente.

Ah, mas é assim mesmo. Ou compreendemos, ou não.
Ninguém ensina que estar também é dar.

Ensinamento Vs Aprendizagem

Ela pede.
Não, ela mais que pede: implora.
Não, não. Não é bem 'implora'. É mais um 'explora' (a si mesma, a buscar o outro).
(O que é mais bem que implorar - em geral)
Mas o que ela pede, ele não entende.
Ele diz que não tem (Ela afirma que ele tem - impossível não).
Ele diz que quer, mas não consegue.
Ela suspira... Ele não entende mesmo.
Ela insiste;
ele se retorce e contorce (doloridíssimo da vida que não tem cura).
Ela explica, replica, triplica.
Piorou.
Ele se afasta, se fecha, se encerra.
Porra (pensa ela).
'Mas não existe mandar no querer' - pensa (e diz) ela.
E não pensa em mandar no dele - pensa em mandar no seu (no seu só, ela quer, nem precisa ser no dele).
Francamente.

Ah, mas é assim mesmo. Ou compreendemos, ou não.
Ninguém ensina que estar também é dar.

amovx

Num digo!
(xussurro, no máximo)
Exas coijas todas
xujas,
delíxias de puquear.
Num revelo, não.
Num faxo popaganda.

amovx

Num digo!
(xussurro, no máximo)
Exas coijas todas
xujas,
delíxias de puquear.
Num revelo, não.
Num faxo popaganda.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Oi amor,

eu tô bem, mas cansada. Amanhã, acordo cedinho - marquei compromisso, primeira hora, vamos ver o que acontece.
Arrumei a mala agora, joguei tudo lá dentro, espero que esteja bem pra ocasião.
A casa está linda demais. Levei algumas das revistas daqui, senti tanto a tua falta...
Mas, mais que a falta tua hoje, senti mesmo falta de ti quando me deu a primeira revista.
Acho que ainda procuro esse cara, talvez porque ele se preocupasse em me surpreender com coisas, enfim. Vai saber. Também sinto falta dos teus alôs, um qualquer assim que me lembrasse da paixão.
Mas, ok, eu entendo, não há paixão que resista há tantos meses de trabalho insano. E claro que sabemos disso.
Aí me viro pra isso e vejo que a gente não devia estar suportando essa mesma paixão.
Pouco importa o que houve. Importa que nos vejo tão tranquilos em relação a nós...
Isso não é bom presságio. Cadê o frio na barriga?
...
Ah... Achei. Bem aqui. Agora.
Ainda te amo, choro enquanto escrevo.
(e penso com medo que tu não goste mais de mim)
Tchau, amor.
Um beijo tristefeliz de mim para ti.

Oi amor,

eu tô bem, mas cansada. Amanhã, acordo cedinho - marquei compromisso, primeira hora, vamos ver o que acontece.
Arrumei a mala agora, joguei tudo lá dentro, espero que esteja bem pra ocasião.
A casa está linda demais. Levei algumas das revistas daqui, senti tanto a tua falta...
Mas, mais que a falta tua hoje, senti mesmo falta de ti quando me deu a primeira revista.
Acho que ainda procuro esse cara, talvez porque ele se preocupasse em me surpreender com coisas, enfim. Vai saber. Também sinto falta dos teus alôs, um qualquer assim que me lembrasse da paixão.
Mas, ok, eu entendo, não há paixão que resista há tantos meses de trabalho insano. E claro que sabemos disso.
Aí me viro pra isso e vejo que a gente não devia estar suportando essa mesma paixão.
Pouco importa o que houve. Importa que nos vejo tão tranquilos em relação a nós...
Isso não é bom presságio. Cadê o frio na barriga?
...
Ah... Achei. Bem aqui. Agora.
Ainda te amo, choro enquanto escrevo.
(e penso com medo que tu não goste mais de mim)
Tchau, amor.
Um beijo tristefeliz de mim para ti.