....

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A Pessoa Que Vinha

Para Mírian, André e Bebê.
O que será que seria
Como seria e ia ser
Se ela tivesse nascido viva
A pessoa que vinha vindo

Mas ela parou de vir
simplesmente
houve seu nascer prematuro
Florescida, antes de nós

Vida vivida toda em algumas semanas
Toda a vida dela e a nossa com ela

Não há justificativa ou nexo causal
é casual, casuística

É crime sem autor

E eu
que ia indo comprar um monstrinho
ia indo escrever uma coisa especial
ia indo me preparar pra nascer outra
(porque nascemos a cada encontro)
ia indo, mas não fui
(amanhã eu ia)
ainda esperava para começar

Aprendi com a pessoa que parou de vir vindo
e veio
que quem espera não alcança
que eu esperava pra começar
eu vi com ela que viver não dá chance pra esperar
perdi a chance

Querida pessoa,
um beijo meu pra ti
sou uma feliz dos dias que vivemos juntas.

A Pessoa Que Vinha

Para Mírian, André e Bebê.
O que será que seria
Como seria e ia ser
Se ela tivesse nascido viva
A pessoa que vinha vindo

Mas ela parou de vir
simplesmente
houve seu nascer prematuro
Florescida, antes de nós

Vida vivida toda em algumas semanas
Toda a vida dela e a nossa com ela

Não há justificativa ou nexo causal
é casual, casuística

É crime sem autor

E eu
que ia indo comprar um monstrinho
ia indo escrever uma coisa especial
ia indo me preparar pra nascer outra
(porque nascemos a cada encontro)
ia indo, mas não fui
(amanhã eu ia)
ainda esperava para começar

Aprendi com a pessoa que parou de vir vindo
e veio
que quem espera não alcança
que eu esperava pra começar
eu vi com ela que viver não dá chance pra esperar
perdi a chance

Querida pessoa,
um beijo meu pra ti
sou uma feliz dos dias que vivemos juntas.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Leonardo Raposa







Baseado neste original:

procurei o autor da foto,
mas não achei.
Se alguém souber, avise-me por favor.
Quero dar créditos ao fotógrafo.

sábado, 25 de outubro de 2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A Viabilização do Amor

E dentre as coisas difíceis da vida, que são todas as boas,
a mais de todas é relacionar-se.
O outro, com sua vida própria, age-se todo em acordo consigo
e nós, conosco (quando dá).
De modo geral é um desencontro.
O outro modo, o específico,
dá-se apenas, e tão somente,
com o cultivo intensivo.
Não um cultivosinho, uma meia-tigela
um tijolaço, com toda delicadeza,
mas uma hecatombe.
Chamo hecatombe não apenas pelo apelo sonoro incrível do termo,
mas porque o sacrifício é exigido
não como sacrifício sofrido, mas o que se faz viabilizando o amor
Amor, aliás,
o estado contínuo de contradição natural
expressão legítima das trocas hecatômbicas
que para a divina graça, dávamos 100 bois.
Assim, também na relação,
para a divina graça, damos 100 moedas nossas.
Em troca de minutos com a pessoa amada,
engolimos 100 minutos de filme de ação no cinema
ou aceitamos a televisão
O estado contínuo de contrariedade viabilizante da relação amorosa continua
por dentro da casa, do piso, da geladeira
principalmente por dentro de nós
quando nos botamos calados, aguardando
como um olho que seca esperando o piscar.

Isso não aparece, não é a maior evidência
mas cabe a cada um cuidar da própria nutrição
pra que o estado de viabilização do amor não nos definhe.
Não termine, por fim, liquidando a paixão
(ou será que era isso que se queria, afinal??)

A Viabilização do Amor

E dentre as coisas difíceis da vida, que são todas as boas,
a mais de todas é relacionar-se.
O outro, com sua vida própria, age-se todo em acordo consigo
e nós, conosco (quando dá).
De modo geral é um desencontro.
O outro modo, o específico,
dá-se apenas, e tão somente,
com o cultivo intensivo.
Não um cultivosinho, uma meia-tigela
um tijolaço, com toda delicadeza,
mas uma hecatombe.
Chamo hecatombe não apenas pelo apelo sonoro incrível do termo,
mas porque o sacrifício é exigido
não como sacrifício sofrido, mas o que se faz viabilizando o amor
Amor, aliás,
o estado contínuo de contradição natural
expressão legítima das trocas hecatômbicas
que para a divina graça, dávamos 100 bois.
Assim, também na relação,
para a divina graça, damos 100 moedas nossas.
Em troca de minutos com a pessoa amada,
engolimos 100 minutos de filme de ação no cinema
ou aceitamos a televisão
O estado contínuo de contrariedade viabilizante da relação amorosa continua
por dentro da casa, do piso, da geladeira
principalmente por dentro de nós
quando nos botamos calados, aguardando
como um olho que seca esperando o piscar.

Isso não aparece, não é a maior evidência
mas cabe a cada um cuidar da própria nutrição
pra que o estado de viabilização do amor não nos definhe.
Não termine, por fim, liquidando a paixão
(ou será que era isso que se queria, afinal??)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

ainda reverberando (quem sabe escrevendo, passa.)

a procurar por si mesmo,
por dentro das vias do corpo
como se fossem pesadelos de autodestruição
com pseudopreocupações mórbidas
exageradamente mórbidas sobre o corpo
um simples disfarce do desejo de apoderar-se

enquanto isso o corpo, vibrante, viceja

ele, como que por dentro do corpo
em febril deliramento
selecionando os eventos para o porvir
examinando-se, predizendo-se,
alicerçando-se naqueles que assim crêem também
que existe isso mesmo
a possibilidade de não adoecer
como se doença fosse uma coisa ruim
e não uma possibilidade a mais de viver.

ainda reverberando (quem sabe escrevendo, passa.)

a procurar por si mesmo,
por dentro das vias do corpo
como se fossem pesadelos de autodestruição
com pseudopreocupações mórbidas
exageradamente mórbidas sobre o corpo
um simples disfarce do desejo de apoderar-se

enquanto isso o corpo, vibrante, viceja

ele, como que por dentro do corpo
em febril deliramento
selecionando os eventos para o porvir
examinando-se, predizendo-se,
alicerçando-se naqueles que assim crêem também
que existe isso mesmo
a possibilidade de não adoecer
como se doença fosse uma coisa ruim
e não uma possibilidade a mais de viver.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

As Mãos do Meu Pai (ou Por Favor, não conte ainda para Valentyne.)

As mãos do meu pai tinham um cheiro próprio, pecúlio, misterioso
E eu sabia dele só de fechar os olhos
Um pouco cítrico, um pouco seco, um pouco mágico.
As mãos vinham cheirando, recém saídas do hospital
Frescas como folhas
Dançando ao lado das calças brancas
As mãos de que ele cortava as unhas com cortador
Sentado e com a pasta no colo se fazendo calha para a chuva ungueal
No final passava a lâmina no contorno da ceifada
E amansava a asperez.
As mãos do meu pai,
mornidão.
E as peles dos nós dos dedos têm pregas pouco frouxas.
(Naquele tempo)
Íamos à igreja e brincávamos pinçando a pele dos dorsos e balançando
(balançando, balançaandoo, balançaaaandoooo, caiu!)
E nunca cansamos de comparar as palmas
A minha e a dele têm pintas
Prova cabal da paternidade ou da filiação, na nossa opinião
Não tem muitos cabelos a mão dele
É terna, tenra, e tem cheiro da minha terra
Transpira que trabalha a medicina,
Inspira eu menina que alucina
E que um dia no acaso
distraída, como quem não queria,
encontrou na sua mão o mesmo cheiro.

(era impregnado talco da luva de látex de procedimento,
mas, por favor, não conte pra minha irmã, que ela ainda não sabe)

(Feliz dia do Médico pra nós)

As Mãos do Meu Pai (ou Por Favor, não conte ainda para Valentyne.)

As mãos do meu pai tinham um cheiro próprio, pecúlio, misterioso
E eu sabia dele só de fechar os olhos
Um pouco cítrico, um pouco seco, um pouco mágico.
As mãos vinham cheirando, recém saídas do hospital
Frescas como folhas
Dançando ao lado das calças brancas
As mãos de que ele cortava as unhas com cortador
Sentado e com a pasta no colo se fazendo calha para a chuva ungueal
No final passava a lâmina no contorno da ceifada
E amansava a asperez.
As mãos do meu pai,
mornidão.
E as peles dos nós dos dedos têm pregas pouco frouxas.
(Naquele tempo)
Íamos à igreja e brincávamos pinçando a pele dos dorsos e balançando
(balançando, balançaandoo, balançaaaandoooo, caiu!)
E nunca cansamos de comparar as palmas
A minha e a dele têm pintas
Prova cabal da paternidade ou da filiação, na nossa opinião
Não tem muitos cabelos a mão dele
É terna, tenra, e tem cheiro da minha terra
Transpira que trabalha a medicina,
Inspira eu menina que alucina
E que um dia no acaso
distraída, como quem não queria,
encontrou na sua mão o mesmo cheiro.

(era impregnado talco da luva de látex de procedimento,
mas, por favor, não conte pra minha irmã, que ela ainda não sabe)

(Feliz dia do Médico pra nós)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Das Coisas que Aprendi com Minha Mãe

Fazer as unhas deve ser às quartas-feiras,
para que estejam bem durante a semana também;
Anil vem num saquinho e a gente usa pra clarear as roupas brancas;
"E" e "M" são duas letras que podemos colocar do lado de fora do envelope:
rabuscadas, ficam bonitas e significam "Em Mãos";
Podemos secar camisas penduradas em cabides, ficam mais fáceis de passar;
O chimarrão pode ser tomado 24h ao dia;
Leite com ovomaltine antes de dormir pode ser ótimo,
também na versão aquecido no microondas
ficam as partículas de chocolate se dissolvendo e decantando;
Nata ou creme de leite com leite moça cozido é ótima sobremesa;
Esquentar bolinhos de saquinho do tipo "Ana Maria" no microondas e comer com sorvete é uma delícia;
Farinha de rosca pode ser feita de pão velho torrado no forno e batido no liquidificador;
Tomate para sanduíche deve ser cortado bem fininho;
Vestidos de festa devem ser guardados dentro de fronhas com sabonetes - ficam cheirosos e pouco amassados;
Devemos dormir com uma roupa bonita. Caso incendeie a casa, sairemos bem à rua;
É melhor não nos entregarmos aos cuidados de alguém completamente;
É melhor não confiar em alguém completamente;
Fazer isso é prejuízo certo para si mesmo - e no fim das contas, fazê-lo é preguiça mesmo.
Ninguém cuida melhor de mim do que eu.

Das Coisas que Aprendi com Minha Mãe

Fazer as unhas deve ser às quartas-feiras,
para que estejam bem durante a semana também;
Anil vem num saquinho e a gente usa pra clarear as roupas brancas;
"E" e "M" são duas letras que podemos colocar do lado de fora do envelope:
rabuscadas, ficam bonitas e significam "Em Mãos";
Podemos secar camisas penduradas em cabides, ficam mais fáceis de passar;
O chimarrão pode ser tomado 24h ao dia;
Leite com ovomaltine antes de dormir pode ser ótimo,
também na versão aquecido no microondas
ficam as partículas de chocolate se dissolvendo e decantando;
Nata ou creme de leite com leite moça cozido é ótima sobremesa;
Esquentar bolinhos de saquinho do tipo "Ana Maria" no microondas e comer com sorvete é uma delícia;
Farinha de rosca pode ser feita de pão velho torrado no forno e batido no liquidificador;
Tomate para sanduíche deve ser cortado bem fininho;
Vestidos de festa devem ser guardados dentro de fronhas com sabonetes - ficam cheirosos e pouco amassados;
Devemos dormir com uma roupa bonita. Caso incendeie a casa, sairemos bem à rua;
É melhor não nos entregarmos aos cuidados de alguém completamente;
É melhor não confiar em alguém completamente;
Fazer isso é prejuízo certo para si mesmo - e no fim das contas, fazê-lo é preguiça mesmo.
Ninguém cuida melhor de mim do que eu.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A Imaginação Hidrata - Fabro para Lorenzo











Baseado neste original:

provável foto de Renata Stoduto
(mas não tenho certeza)

tentativa

Interessa-me às vezes manter essas conversas com outro que eu acho que está entendendo tudo o que digo nas entrelinhas. Isso me interessa tanto que às vezes me iludo de que isso realmente aconteça. E isso quando acontece é paixão. Esse é o estado curativo de não estar sozinho, de estar junto - que para estar junto ao outro, é preciso estar junto de si. A vontade de chegar junto do outro, a saudade do que seria ser com o outro é que me puxa.
Eu, se me largo, sou uma desolada. Uma desconsuelo. Eu vivo da fome que tenho do outro. Sem ele não existo. Chame-me dependente, carente, essas coisas todas que soam elogiosas. Ao menos com a tela, com o papel, com as teclas.
E não é qualquer um, não.
Apesar da intensa e urgente necessidade, isso não DÁ com qualquer um. É uma trabalheira. Daí que é uma festa quando isso é facilitado e uma tortura quando vemos o outro acabando com tuuuudooooooo - aí, é ruína.
E tem mais: não é só despejar palavreado, não... Precisa de muito cuidado pra não derramar as palavras, mesmo quando a pressão de dentro é um orgasmo retido (sabe orgasmo retido, né? quando o desgraçado termina e a gente fica pendurada como toalha no gancho).
Respira e segura mais um pouco.
Quando me sinto assim, eu vejo a loucura propriamente dita querendo vomitar-se de mim. A questão é: eu a vejo e ela me dá vontade de rir. Pronto - já não é mais loucura, é piada.
Saída eu não sei bem qual é, mas sei que é via tentativa.

tentativa

Interessa-me às vezes manter essas conversas com outro que eu acho que está entendendo tudo o que digo nas entrelinhas. Isso me interessa tanto que às vezes me iludo de que isso realmente aconteça. E isso quando acontece é paixão. Esse é o estado curativo de não estar sozinho, de estar junto - que para estar junto ao outro, é preciso estar junto de si. A vontade de chegar junto do outro, a saudade do que seria ser com o outro é que me puxa.
Eu, se me largo, sou uma desolada. Uma desconsuelo. Eu vivo da fome que tenho do outro. Sem ele não existo. Chame-me dependente, carente, essas coisas todas que soam elogiosas. Ao menos com a tela, com o papel, com as teclas.
E não é qualquer um, não.
Apesar da intensa e urgente necessidade, isso não DÁ com qualquer um. É uma trabalheira. Daí que é uma festa quando isso é facilitado e uma tortura quando vemos o outro acabando com tuuuudooooooo - aí, é ruína.
E tem mais: não é só despejar palavreado, não... Precisa de muito cuidado pra não derramar as palavras, mesmo quando a pressão de dentro é um orgasmo retido (sabe orgasmo retido, né? quando o desgraçado termina e a gente fica pendurada como toalha no gancho).
Respira e segura mais um pouco.
Quando me sinto assim, eu vejo a loucura propriamente dita querendo vomitar-se de mim. A questão é: eu a vejo e ela me dá vontade de rir. Pronto - já não é mais loucura, é piada.
Saída eu não sei bem qual é, mas sei que é via tentativa.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Compromisso e/ou Envolvimento

e existe o tipo que se compromete sem se envolver

são dimensões muito diversas uma da outra
a presença não significa a presença
dar-se na presença exige muito mais
envolver-se demanda a coragem que o compromisso não quer
imaginar-se e ir-se fazendo
participar
que é a sílaba mais bonita do amor
o requesito da participação
é ser partícipe da ação

ver-se com e volver-se a
quem está

ser com o outro

tanto faz interagir com terceiros
(as peças, os filmes, as leituras, as músicas)
é legítimo

viver com atenção empregada ao viver

(é difícil não sair do evento
embarcando no tapete mágico do discurso
difícil que só vendo)

Compromisso e/ou Envolvimento

e existe o tipo que se compromete sem se envolver

são dimensões muito diversas uma da outra
a presença não significa a presença
dar-se na presença exige muito mais
envolver-se demanda a coragem que o compromisso não quer
imaginar-se e ir-se fazendo
participar
que é a sílaba mais bonita do amor
o requesito da participação
é ser partícipe da ação

ver-se com e volver-se a
quem está

ser com o outro

tanto faz interagir com terceiros
(as peças, os filmes, as leituras, as músicas)
é legítimo

viver com atenção empregada ao viver

(é difícil não sair do evento
embarcando no tapete mágico do discurso
difícil que só vendo)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Ode ao Suzzane Marie

Chego na casa aos correrios.
Espio diretamente para a sala de comer, esperançosa da vaga na mesa que faz quina com duas janelas. As cortinas se embalam no vento, tem crisântemos roxos no balde de lata.

A beterraba é despetalada como a flor que era e eu nem sabia. O mesmo acontece com a cenoura e a manga. Tem amoras junto aos morangos. As folhas recém saídas do banho brilham verde. Tem pastel de camarão e cestinha de queijo. Tem feijão e frango vestido de folhinhas cheirosas. Tem geleinhas pra acobertar as carnes, tem farofinha crocante pra guarnir.

Sento no sofazinho, almofadas de flores se debruçam. Ouço Yann Tiersen em estéreo.
Que mais eu poderia querer?
Ah, sim, suco de laranja com morango.

E tem arroz-doce, quente e com canela, pra mergulhar a alma na doçura de viver.

Pois assim abre-se o portal de meu almoço para outra dimensão.

Na saída, é nominal o desejo de boa tarde.
Com esse berço,
a tarde nasce para ser boa.

Ode ao Suzzane Marie

Chego na casa aos correrios.
Espio diretamente para a sala de comer, esperançosa da vaga na mesa que faz quina com duas janelas. As cortinas se embalam no vento, tem crisântemos roxos no balde de lata.

A beterraba é despetalada como a flor que era e eu nem sabia. O mesmo acontece com a cenoura e a manga. Tem amoras junto aos morangos. As folhas recém saídas do banho brilham verde. Tem pastel de camarão e cestinha de queijo. Tem feijão e frango vestido de folhinhas cheirosas. Tem geleinhas pra acobertar as carnes, tem farofinha crocante pra guarnir.

Sento no sofazinho, almofadas de flores se debruçam. Ouço Yann Tiersen em estéreo.
Que mais eu poderia querer?
Ah, sim, suco de laranja com morango.

E tem arroz-doce, quente e com canela, pra mergulhar a alma na doçura de viver.

Pois assim abre-se o portal de meu almoço para outra dimensão.

Na saída, é nominal o desejo de boa tarde.
Com esse berço,
a tarde nasce para ser boa.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

o verso e a bula

passeio num vai e vem típico de procrastinar
abro uma janela e outra do computador,
mexo nas trabéculas das cortinas pra ver mudar a luz,
entre uma pessoa e outra
o piscar de um acontecimento para outro
vou e venho
como quem se embalança
que é pra amansar a espera em mim.

cada vez que me encontro com a qualidade de esperar
vejo que tão pouco sei de meu conforto ainda

(parece que saberei pouco para sempre
afinal, sou uma mutância)

mas sem ser sonoro
sem ser um artefato, um cobre, uma coisa
o ato de esperar é uma atividade
do tipo passiva, é verdade, mas uma atividade
assim como é o esquecer

e entre a espera e o esquecimento
entre esperar e enlutar-se
entre ainda esperar e desistir
existe a distância de um suspiro.

(cuida, meu bem,
que cada partitura tem seu ritmo)

o verso e a bula

passeio num vai e vem típico de procrastinar
abro uma janela e outra do computador,
mexo nas trabéculas das cortinas pra ver mudar a luz,
entre uma pessoa e outra
o piscar de um acontecimento para outro
vou e venho
como quem se embalança
que é pra amansar a espera em mim.

cada vez que me encontro com a qualidade de esperar
vejo que tão pouco sei de meu conforto ainda

(parece que saberei pouco para sempre
afinal, sou uma mutância)

mas sem ser sonoro
sem ser um artefato, um cobre, uma coisa
o ato de esperar é uma atividade
do tipo passiva, é verdade, mas uma atividade
assim como é o esquecer

e entre a espera e o esquecimento
entre esperar e enlutar-se
entre ainda esperar e desistir
existe a distância de um suspiro.

(cuida, meu bem,
que cada partitura tem seu ritmo)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Under Pressure


Why can't we give love that one more chance
Why can't we give love give love give love give love
give love give love give love give love give love
'Cause love's such an old fashioned word
And love dares you to care for
The people on the edge of the night
And loves dares you to change our way of
Caring about ourselves
This is our last dance
This is our last dance
This is ourselves
Under pressure
Under pressure

Under Pressure



Why can't we give love that one more chance
Why can't we give love give love give love give love
give love give love give love give love give love
'Cause love's such an old fashioned word
And love dares you to care for
The people on the edge of the night
And loves dares you to change our way of
Caring about ourselves
This is our last dance
This is our last dance
This is ourselves
Under pressure
Under pressure


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Me ao Máximo (ou Ouço o Tempo Todo)

(Não adianta
É de cada um a hora de ser humano
Ainda que seja a necessidade primeira)

Mas o tarefário, tão mais atraente
Tão mais premente
A agenda, as contas
Prontas
Cumpríveis
Compráveis
Compridas
Se nos alijam da vida
Endireitam, aprumam
E na ruína,
Mais arrumada e linear,
Não preciso de mim, meu mar
Com tanto mais me suplicando
Fico-me enorme, generosa teta
Ainda que no adentro seca
E crua, mal passada
Mas com pose empertigada (de parada a ruminar)
Me iludo na mais-valia
Me tiro da dor de viver
(aquela que se me ocorre)
Arranjo-me um harto sofrer
(aquele onde eu ocorro)
Um delírio delicado, translúcido
e
Ancoro
e
Num poço plácido,
Infinito flácido
Deslizando logo ao lado de minha vida verdadeira
Ando ao passo a corredeira
E não me canso.
Sou a lupa, auto-escárnio, sou a dulce, mea culpa
Dia-a-dia eu rezo:
Detesto, mas acordo cedo
Trabalho, é mal necessário
Chatice, são ossos do ofício
Vida não está fácil pra ninguém
Mas eu casei, fazer o quê?
O dinheiro não dá pra essas coisas
Eu até queria, mas não é pra mim
Veja bem, não fica bem
Até pensei, melhor não dizer
Não queria, mas comi.
Não sentia, mas falei.
Queria era ser Feliz
Mas isso não podia ter acontecido.
Afinal, por mim, eu nem estava aqui.

(Não adianta
É de cada um a hora de ser humano
Ainda que seja a necessidade primeira)

Me ao Máximo (ou Ouço o Tempo Todo)

(Não adianta
É de cada um a hora de ser humano
Ainda que seja a necessidade primeira)

Mas o tarefário, tão mais atraente
Tão mais premente
A agenda, as contas
Prontas
Cumpríveis
Compráveis
Compridas
Se nos alijam da vida
Endireitam, aprumam
E na ruína,
Mais arrumada e linear,
Não preciso de mim, meu mar
Com tanto mais me suplicando
Fico-me enorme, generosa teta
Ainda que no adentro seca
E crua, mal passada
Mas com pose empertigada (de parada a ruminar)
Me iludo na mais-valia
Me tiro da dor de viver
(aquela que se me ocorre)
Arranjo-me um harto sofrer
(aquele onde eu ocorro)
Um delírio delicado, translúcido
e
Ancoro
e
Num poço plácido,
Infinito flácido
Deslizando logo ao lado de minha vida verdadeira
Ando ao passo a corredeira
E não me canso.
Sou a lupa, auto-escárnio, sou a dulce, mea culpa
Dia-a-dia eu rezo:
Detesto, mas acordo cedo
Trabalho, é mal necessário
Chatice, são ossos do ofício
Vida não está fácil pra ninguém
Mas eu casei, fazer o quê?
O dinheiro não dá pra essas coisas
Eu até queria, mas não é pra mim
Veja bem, não fica bem
Até pensei, melhor não dizer
Não queria, mas comi.
Não sentia, mas falei.
Queria era ser Feliz
Mas isso não podia ter acontecido.
Afinal, por mim, eu nem estava aqui.

(Não adianta
É de cada um a hora de ser humano
Ainda que seja a necessidade primeira)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Artificação

O único que posso é artificar
Fazer disso tudo o que puder de mais bonito
Já que tristeza é árvore que florifica se a gente deixar.


Entendia que se matar é um direito que se tem
Entendia que desviver assim era também
Mas a dureza era tanta da escolha alheia
Do outro, com sua vida toda própria (sim, é própria dele)
Que cortava o ar.
O ar cortava, ele também, a pele e o pescoço
E tudo se fechando dentro dela em nós apertados
As tripas deram nó
E agora acreditava até que o útero podia mesmo subir pra garganta.
Nesse misto de raiva e aceitação, ia imediatamente já negociando
(era mediadora de si mesma nessa hora)
Versando baixinho, aos poucos se despindo também.
Por fim, deu-se banho e acolheu seu choro.
Que faz bem chorar assim.

Tudo aquilo era como ver uma morte bem de perto.
Uma morte bem inodora e insípida, um congelamento.

Escreveu uma carta bem assim:
- Que fará, amor meu, quando degelar?
Eu já não estarei, nem nada mais estará:
Apenas encontrará a dor do não vivido.
Quem sabe então, do alto do conforto adquirido
Possa ver que pobre o tempo todo era o adentro
(que renunciar a si mesmo é miséria na certa!)
Sozinho, quem sabe, descubra que a gente uma hora vê
Que sob pena de morte, melhor se entregar à paixão
Caso contrário é acabar querendo voltar pra ser o que deixou.
Está bem pra mim assim. Eu não discuto com a realidade.

Afinal, existe arrogância maior que achar melhor?
Que saber como deve ser o próprio querer?

É o mesmo que amordaçar uma criança
Deixar ela bem quieta, quieta, quieta
(shhhhhhhhhhhh!)
Quietinha... (com letras bem miudinhas)
Até ela parar de inventar moda.
Que história é essa de pensar nela o tempo todo?
E mais um compromisso, além dos outros tantos...
E pior: aquele ser o único compromisso ao qual se quer comparecer.

- Péssimo pros negócios.

Disse alto bem assim, pra ilustrar melhor a covardia.

Artificação

O único que posso é artificar
Fazer disso tudo o que puder de mais bonito
Já que tristeza é árvore que florifica se a gente deixar.


Entendia que se matar é um direito que se tem
Entendia que desviver assim era também
Mas a dureza era tanta da escolha alheia
Do outro, com sua vida toda própria (sim, é própria dele)
Que cortava o ar.
O ar cortava, ele também, a pele e o pescoço
E tudo se fechando dentro dela em nós apertados
As tripas deram nó
E agora acreditava até que o útero podia mesmo subir pra garganta.
Nesse misto de raiva e aceitação, ia imediatamente já negociando
(era mediadora de si mesma nessa hora)
Versando baixinho, aos poucos se despindo também.
Por fim, deu-se banho e acolheu seu choro.
Que faz bem chorar assim.

Tudo aquilo era como ver uma morte bem de perto.
Uma morte bem inodora e insípida, um congelamento.

Escreveu uma carta bem assim:
- Que fará, amor meu, quando degelar?
Eu já não estarei, nem nada mais estará:
Apenas encontrará a dor do não vivido.
Quem sabe então, do alto do conforto adquirido
Possa ver que pobre o tempo todo era o adentro
(que renunciar a si mesmo é miséria na certa!)
Sozinho, quem sabe, descubra que a gente uma hora vê
Que sob pena de morte, melhor se entregar à paixão
Caso contrário é acabar querendo voltar pra ser o que deixou.
Está bem pra mim assim. Eu não discuto com a realidade.

Afinal, existe arrogância maior que achar melhor?
Que saber como deve ser o próprio querer?

É o mesmo que amordaçar uma criança
Deixar ela bem quieta, quieta, quieta
(shhhhhhhhhhhh!)
Quietinha... (com letras bem miudinhas)
Até ela parar de inventar moda.
Que história é essa de pensar nela o tempo todo?
E mais um compromisso, além dos outros tantos...
E pior: aquele ser o único compromisso ao qual se quer comparecer.

- Péssimo pros negócios.

Disse alto bem assim, pra ilustrar melhor a covardia.