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sábado, 29 de novembro de 2008

Irmão de Miss

Disse que estava de irmão de miss. Achei graça:
- é usual sentir a graça com ele.
É companhia tão apetitosa.

Nós dois juntos:
pra mim,
é a prova de que intimidade pode ser a coisa mais aprazível da vida.
A leveza que ele empresta aos eventos tira o ene da tensão.
Mágico
Que honra é para mim,
faço caso,
minha demanda para que sigamos irmãos.

*nós ouvindo o Phonique
- bom demais esse alemão!

Irmão de Miss

Disse que estava de irmão de miss. Achei graça:
- é usual sentir a graça com ele.
É companhia tão apetitosa.

Nós dois juntos:
pra mim,
é a prova de que intimidade pode ser a coisa mais aprazível da vida.
A leveza que ele empresta aos eventos tira o ene da tensão.
Mágico
Que honra é para mim,
faço caso,
minha demanda para que sigamos irmãos.

*nós ouvindo o Phonique
- bom demais esse alemão!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Carboxiterapia para Dor: no Consenso Mundial de Terapias com Anidro Carbônico Medicinal

Olha o preview da minha palestra, achei que ficou linda.
Veremos um pouco sobre como andam os colegas pelo mundo e os colegas verão um pouco de como andamos aqui na clínica.
A barca parte hoje de Porto Alegre e aporta lá em Sampa.
Mande suas boas vibrações para:
Cínthya Verri, Novotel Jaraguá, Sexta-feira, 28 de novembro de 2008, às 16h.
;)

Carboxiterapia para Dor: no Consenso Mundial de Terapias com Anidro Carbônico Medicinal

Olha o preview da minha palestra, achei que ficou linda.
Veremos um pouco sobre como andam os colegas pelo mundo e os colegas verão um pouco de como andamos aqui na clínica.
A barca parte hoje de Porto Alegre e aporta lá em Sampa.
Mande suas boas vibrações para:
Cínthya Verri, Novotel Jaraguá, Sexta-feira, 28 de novembro de 2008, às 16h.
;)

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Colcha All-sense



Fortune Cookie: The course of love never runs smooth.
(gei) arte
(sha) pessoa
柳界 (karyūkai ) flor e mundo de salgueiro

Depois de 3 anos que a aquarelei (vide foto da aquarela no varal acima)
Depois de voar na linda porcelana presenteada por outra vivente karyūkai.
A Geisha entra em minha vida com nome de Aya.



Minha mãe não me ensinou a ser mulher para um homem.
Ela tinha uma boneca quando menina a quem chamou Diana. Diana é a Artemis grega, deusa da lua e da caça. Meu nome é Cínthya - título em hebraico para a deusa da lua e da caça. E minha mãe não sabia disso.
O homem com quem ela se casou, meu pai, foi quem sugeriu meu nome Cínthya.
Ela escolheu o Carina que também me acompanha.
Vê que minha mãe me empresta doçura e carezza ao nome. Mas foi meu pai quem trouxe, quem me presenteou, quem deu palavra ao título da menina-diana de quem ela desejava ser mãe.
Durante os anos em que vivemos juntos, meu pai sinalizava e pedia muito pela minha doçura, pela meninice, pelos penteados e saias.
Minha mãe estimulava o conhecimento, exemplava as respostas prontas, a caligrafia primorosa, a elegância, a trotamundice.

Quando nasci, publicaram nota no jornal que nascera "a Panterinha dos Pampas, que vinha para ser a companheirinha da mãe". O publicado ainda alertava que meu pai e meus irmãos estariam de prontidão para 'cuidar' dos candidatos.
Imagino eu, bebê, recém-chegada ao samba do criolo doido, feijoada com pé de porco.
Fico feliz por me ser.

Enfim, não fui conduzida a ser mulher para um homem.

Recebi instrução Maiko da pior qualidade. Digo da pior qualidade e Maiko porque nasci Geiko ocidental. E isso não se escolhe.

Quando, na faculdade, conheci uma irmã Artemis é que aprendi. No tempo de doutorandas, estreando no hospital, nós fomos de feliz ajuda uma a outra quando nos reconheceram "Inadequadas para Mais". Foi-nos ofertado o título inédito nestes termos. Sobrávamos. Em nossa competência, em nossa agilidade, em nossa persistência. Inadequadas. Porque tínhamos muita informação, muito zelo, muita dedicação. Inadequadas para mais. Com nossas observações pertinentes, atentas, agudas. Pura inadequação.
E com ela é que aprendi que essa arte estendida a nossos amores era uma vocação.
Olha que linda ela pelo mundo:


Eu vejo acontecendo uma emancipação feminina às avessas, com destino à solitude. A tentativa triste de independência, com desvalia de ser junto, de atender, de servir a quem se ama, de somar ao diferente, de apaziguar-se na diligência. Diligens é latim e significa aquele que ama. É a disposição de não se economizar para o outro.
Eu teorizo que é uma compensação feita pelas filhas de pais queixosos que não tiveram coragem de se divorciar. Meninas que nunca tentaram, mas 'viver junto não dá'.
Ouço queixas sobre a falta de cuidado de parceiros desatentos, sem uma nesga de cavalheirismo ou de quentura masculina. Mas se isso não é oferecido, se o feminino clássico não é desenvolvido, não há convite. Ficam dois andrógenos se faltando. E culpar não resolve nada.

On the other hand
, eu me habilito em muito do que eu preciso - abro potes, troco lâmpadas, gás, programo qualquer equipamento eletrônico, troco pneus, resistência de chuveiro, spots de luz, faço furos com furadeira, monto móveis, dirijo. Uma vez instalei uma torneira.
Isso não tem rigorosamente nada que ver com o quanto preciso de um homem.

Eu canto Ella Fitzgerald - It´s so nice to have a man around the house. A house is not a home without a man around the house.

Enfim, vejo a tradição Geiko em mim ocidentalizada - afinal, não durmo com madeiras ao pescoço para proteger o penteado (gosto é do descabelamento) - porque eu me arborizo. Me transverso. Horizontalizo, é verdade. Sou um pampa. Cantarolo, desenho, embalo com violão, uma pitadinha no piano, arrisco na cozinha, costuro pele humana e tecidos de roupa, tenho conhecimento geral, entendo sarcasmo, falo três línguas, sou educada à mesa, não iria conhecer a sogra usando blusa transparente. Ah, sim, fiz medicina também, incursões e submersões em psiquiatria, em outras alquimias e por aí vou. Deixo fora o resto dada a preguiça e o desgosto pela síntese.
Também gosto de ser guarnição. Adoraria ser amora decorando festivamente a aparição de meu homem. Adoro: mas é raro homem verdadeiro e aparecido.

De qualquer modo, não tenho vergonha de ver em mim que, como as gueixas, tudo o que produzo e tudo no que me produzo é para eu-outro. Sem outro a quem amar, perco o sentido, não existo, não sou eu. A dureza nisso (o que também estrutura) é que não serve um qualquer.
E descubro, ao final do texto, que (tá bem) me gosto assim.


Esse texto é uma declaração de amor ao gênero,
uma ode à vocação Geiko multitalentosa e
o acolhimento da existência plenamente possível de uma Geisha Diana.
Meio espalhafatosa, mas geisha.

Colcha All-sense



Fortune Cookie: The course of love never runs smooth.
(gei) arte
(sha) pessoa
柳界 (karyūkai ) flor e mundo de salgueiro

Depois de 3 anos que a aquarelei (vide foto da aquarela no varal acima)
Depois de voar na linda porcelana presenteada por outra vivente karyūkai.
A Geisha entra em minha vida com nome de Aya.



Minha mãe não me ensinou a ser mulher para um homem.
Ela tinha uma boneca quando menina a quem chamou Diana. Diana é a Artemis grega, deusa da lua e da caça. Meu nome é Cínthya - título em hebraico para a deusa da lua e da caça. E minha mãe não sabia disso.
O homem com quem ela se casou, meu pai, foi quem sugeriu meu nome Cínthya.
Ela escolheu o Carina que também me acompanha.
Vê que minha mãe me empresta doçura e carezza ao nome. Mas foi meu pai quem trouxe, quem me presenteou, quem deu palavra ao título da menina-diana de quem ela desejava ser mãe.
Durante os anos em que vivemos juntos, meu pai sinalizava e pedia muito pela minha doçura, pela meninice, pelos penteados e saias.
Minha mãe estimulava o conhecimento, exemplava as respostas prontas, a caligrafia primorosa, a elegância, a trotamundice.

Quando nasci, publicaram nota no jornal que nascera "a Panterinha dos Pampas, que vinha para ser a companheirinha da mãe". O publicado ainda alertava que meu pai e meus irmãos estariam de prontidão para 'cuidar' dos candidatos.
Imagino eu, bebê, recém-chegada ao samba do criolo doido, feijoada com pé de porco.
Fico feliz por me ser.

Enfim, não fui conduzida a ser mulher para um homem.

Recebi instrução Maiko da pior qualidade. Digo da pior qualidade e Maiko porque nasci Geiko ocidental. E isso não se escolhe.

Quando, na faculdade, conheci uma irmã Artemis é que aprendi. No tempo de doutorandas, estreando no hospital, nós fomos de feliz ajuda uma a outra quando nos reconheceram "Inadequadas para Mais". Foi-nos ofertado o título inédito nestes termos. Sobrávamos. Em nossa competência, em nossa agilidade, em nossa persistência. Inadequadas. Porque tínhamos muita informação, muito zelo, muita dedicação. Inadequadas para mais. Com nossas observações pertinentes, atentas, agudas. Pura inadequação.
E com ela é que aprendi que essa arte estendida a nossos amores era uma vocação.
Olha que linda ela pelo mundo:


Eu vejo acontecendo uma emancipação feminina às avessas, com destino à solitude. A tentativa triste de independência, com desvalia de ser junto, de atender, de servir a quem se ama, de somar ao diferente, de apaziguar-se na diligência. Diligens é latim e significa aquele que ama. É a disposição de não se economizar para o outro.
Eu teorizo que é uma compensação feita pelas filhas de pais queixosos que não tiveram coragem de se divorciar. Meninas que nunca tentaram, mas 'viver junto não dá'.
Ouço queixas sobre a falta de cuidado de parceiros desatentos, sem uma nesga de cavalheirismo ou de quentura masculina. Mas se isso não é oferecido, se o feminino clássico não é desenvolvido, não há convite. Ficam dois andrógenos se faltando. E culpar não resolve nada.

On the other hand
, eu me habilito em muito do que eu preciso - abro potes, troco lâmpadas, gás, programo qualquer equipamento eletrônico, troco pneus, resistência de chuveiro, spots de luz, faço furos com furadeira, monto móveis, dirijo. Uma vez instalei uma torneira.
Isso não tem rigorosamente nada que ver com o quanto preciso de um homem.

Eu canto Ella Fitzgerald - It´s so nice to have a man around the house. A house is not a home without a man around the house.

Enfim, vejo a tradição Geiko em mim ocidentalizada - afinal, não durmo com madeiras ao pescoço para proteger o penteado (gosto é do descabelamento) - porque eu me arborizo. Me transverso. Horizontalizo, é verdade. Sou um pampa. Cantarolo, desenho, embalo com violão, uma pitadinha no piano, arrisco na cozinha, costuro pele humana e tecidos de roupa, tenho conhecimento geral, entendo sarcasmo, falo três línguas, sou educada à mesa, não iria conhecer a sogra usando blusa transparente. Ah, sim, fiz medicina também, incursões e submersões em psiquiatria, em outras alquimias e por aí vou. Deixo fora o resto dada a preguiça e o desgosto pela síntese.
Também gosto de ser guarnição. Adoraria ser amora decorando festivamente a aparição de meu homem. Adoro: mas é raro homem verdadeiro e aparecido.

De qualquer modo, não tenho vergonha de ver em mim que, como as gueixas, tudo o que produzo e tudo no que me produzo é para eu-outro. Sem outro a quem amar, perco o sentido, não existo, não sou eu. A dureza nisso (o que também estrutura) é que não serve um qualquer.
E descubro, ao final do texto, que (tá bem) me gosto assim.


Esse texto é uma declaração de amor ao gênero,
uma ode à vocação Geiko multitalentosa e
o acolhimento da existência plenamente possível de uma Geisha Diana.
Meio espalhafatosa, mas geisha.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Uma vela para a Santa Hebe



É um favor também que presta o amante ao partir súbito (como chegou)
Assim que,
inacabada,
a pessoa vê-se compelida a buscar a si.


Que tanto bem-me-quer-me retirar a palavra?
Para fins de desnudar-me mais, despir a pele também,
não basta testemunhar o enxágue de desejo, o corpo além de falante, adornado de fluidez.

Eu, obedeço.
Sou uma encarnecida sobre a fúria do momento.
E, assim, a voz minha aparece estridecendo no silêncio que era pautado pelo sussurro teu.

A fala minha te aquece?
Eu que falo tanto, calo tão mais fundo.
A presença irretocável de nós dois, o exato sincronismo, o silêncio meu e as intervenções airosas da tua voz.
Para que mais?

Minha voz vem quando preciso dela. Quando urge em mim avisar curvas imprevistas por ti, dobraduras, saliências.
Ou quando piroclástica.
De resto,
é tão sábia a desenvoltura de tua investigação.
Inspirada pelo não saber, ela é tão infundida de mim que parece que me respiras.

A busca instintiva em si me interessa mais:
- só assim pode me encontrar antes mesmo de meu pensamento.

Acho graça na caça.

Uma vela para a Santa Hebe



É um favor também que presta o amante ao partir súbito (como chegou)
Assim que,
inacabada,
a pessoa vê-se compelida a buscar a si.


Que tanto bem-me-quer-me retirar a palavra?
Para fins de desnudar-me mais, despir a pele também,
não basta testemunhar o enxágue de desejo, o corpo além de falante, adornado de fluidez.

Eu, obedeço.
Sou uma encarnecida sobre a fúria do momento.
E, assim, a voz minha aparece estridecendo no silêncio que era pautado pelo sussurro teu.

A fala minha te aquece?
Eu que falo tanto, calo tão mais fundo.
A presença irretocável de nós dois, o exato sincronismo, o silêncio meu e as intervenções airosas da tua voz.
Para que mais?

Minha voz vem quando preciso dela. Quando urge em mim avisar curvas imprevistas por ti, dobraduras, saliências.
Ou quando piroclástica.
De resto,
é tão sábia a desenvoltura de tua investigação.
Inspirada pelo não saber, ela é tão infundida de mim que parece que me respiras.

A busca instintiva em si me interessa mais:
- só assim pode me encontrar antes mesmo de meu pensamento.

Acho graça na caça.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mulher para Fabrício Carpinejar









Baseado neste original:

campanha "me amarro nesta idéia"
vendendo cadarços para a ADD
Era uma vez, ela sentada na platéia do teatro.
Apoiou as mãos no colo e sentiu o ventre vibrar. Por um segundo, imaginou que fosse ele ao telefone.
Não era.
O corpo dela era que chamava por ele.

Era uma vez, ela sentada, deitada, imprimida, constrangida ao corpo de um outro numa invenção de passar o tempo, com o tempo que não tem volta. Araram a terra um do outro para cultivar o solo. Mas ela já tinha, já era fecunda, já tinha árvore dentro dela crescendo. Ela nem sabia ainda. Isso era antes.

Era uma vez, ela chorando enquanto escrevia.
Não chorava desesperada:
- pura pobreza de alternativa para expressão.
A mensagem, recém chegada à segunda-feira, era lenço e convite ao choro.
Mulheres que, como ela, esperam, sabem. Pode-se contar como é ansiar sem alívio, descrever que é o querer, dizer como é confiar no deságue, entupir-se de tempo, os minutos enfileirados, sangue congesto na veia cava a dilatar o fígado, o horror de plasma e líquido enchendo a barriga (e o choro, meu deus, o choro paracentésico que não vem), mas o sentimento envolvido é solidão de sonho.

Era uma vez, ela se sentindo um planeta em que mudou a força do campo gravitacional.
Ela, vendo estranheza ad continuum.
Tentando em vão se reconhecer.
Partiu pra aceitação e choro (falta de opção, como vês).

Era uma vez, ela lendo tão logo escrevia para ouvir o eco.
Era uma vez, ela em prece: quero te ouvir de novo dizendo que conversar comigo faz eco.

Era uma vez, ela sem poder dar outro nome: sentia pavor.
Não era mais ela mesma, nem era ainda quem seria.
Flutuava na possibilidade: uma instabilidade que não (re)conhecia.

Era uma vez, uma única vez que era de novo. Um instante dentro dela em looping.
Era uma vez, o dia em que ele lavou seu rosto.
Deslizou a mão e, como se fosse mágica, fez espuma de tudo que era ela.
Era uma vez, ela sentada na platéia do teatro.
Apoiou as mãos no colo e sentiu o ventre vibrar. Por um segundo, imaginou que fosse ele ao telefone.
Não era.
O corpo dela era que chamava por ele.

Era uma vez, ela sentada, deitada, imprimida, constrangida ao corpo de um outro numa invenção de passar o tempo, com o tempo que não tem volta. Araram a terra um do outro para cultivar o solo. Mas ela já tinha, já era fecunda, já tinha árvore dentro dela crescendo. Ela nem sabia ainda. Isso era antes.

Era uma vez, ela chorando enquanto escrevia.
Não chorava desesperada:
- pura pobreza de alternativa para expressão.
A mensagem, recém chegada à segunda-feira, era lenço e convite ao choro.
Mulheres que, como ela, esperam, sabem. Pode-se contar como é ansiar sem alívio, descrever que é o querer, dizer como é confiar no deságue, entupir-se de tempo, os minutos enfileirados, sangue congesto na veia cava a dilatar o fígado, o horror de plasma e líquido enchendo a barriga (e o choro, meu deus, o choro paracentésico que não vem), mas o sentimento envolvido é solidão de sonho.

Era uma vez, ela se sentindo um planeta em que mudou a força do campo gravitacional.
Ela, vendo estranheza ad continuum.
Tentando em vão se reconhecer.
Partiu pra aceitação e choro (falta de opção, como vês).

Era uma vez, ela lendo tão logo escrevia para ouvir o eco.
Era uma vez, ela em prece: quero te ouvir de novo dizendo que conversar comigo faz eco.

Era uma vez, ela sem poder dar outro nome: sentia pavor.
Não era mais ela mesma, nem era ainda quem seria.
Flutuava na possibilidade: uma instabilidade que não (re)conhecia.

Era uma vez, uma única vez que era de novo. Um instante dentro dela em looping.
Era uma vez, o dia em que ele lavou seu rosto.
Deslizou a mão e, como se fosse mágica, fez espuma de tudo que era ela.

Fabrício Carpinejar em: 'Sou uma Dona-de-casa no Amor '


"Querida,

Meus sapatos sujos conversaram comigo.

Antes de sair para vê-la, botei o par no meu colo e passei um minucioso pano em suas bordas, lustrei e escovei a lâmina preta de couro. Quando soprei os cadarços, recuperei um pouco da véspera das reuniões dançantes da adolescência. Alegre véspera em que me enamorava desde casa. Colocava uma fita-cassete e, de banho tomado, inspecionava minhas roupas dormindo na cama (as roupas eram irmãos menores que tinha a obrigação de acordar).

Talvez devesse usar mais sapato.

No amor, fiquei sempre entre o adiamento (evitar o encontro) e a antecipação (não pensar em outra coisa). Eu sofro mais na antecipação, mas o adiamento é mais triste.

O que me põe a sofrer, portanto, não é triste. Sofro seu preenchimento ou sua carência ou os dois juntos: uma ausência transbordada de mim.

Exercito a falta de domínio. Aliás, não sei por quem vai se apaixonar se estou me despersonalizando cada vez mais, perigosamente perto da extinção dos meus gostos e do meu estilo.

Engano pensar que o que mais dói é o que nos incomoda. O que mais dói é o que desejamos. O desejo é uma dor sem pouso. Não arrebenta na pele para repetirmos seu trajeto.

Quando amamos não somos suficientes como no dia anterior. Somos terrivelmente dependentes, confusos, mudamos os nossos horários para uma fresta, não queremos nos ocupar para permanecermos livres em caso de uma surpresa. Mexemos o braço de um corpo que já não é nosso. Atendemos ao telefone em reunião, despertamos o interesse pelos ralos e bordas e paredes manchadas.

Somos aquilo que vivíamos criticando em nossos amigos: a espera resignada por alguém. A submissão.

Só posso concluir que o amante não é tapete da sala, é capacho. Estamos mais na porta do que dentro de alguma palavra.

No amor, todos são donas-de-casa. Donas-de-casa limpando a sala, recolhendo os farelos e encerando as janelas pela transparência. Donas-de-casa disponíveis a preparar a comida, arrumar a cama, atender caprichos insanos. Vou hoje preparar biscoitos, eu que nunca ligo o fogão e não gosto deles. Para somente manter a mão funcionando e untar lentamente a fôrma. E esperar algo que não seja você. Ou esperar você de outro modo, quando finjo não esperar.

Amar é a mais grave ausência de democracia. Amar é exploração. Amar é trabalho-escravo. Não recomendo a ninguém, tampouco condeno.

Não me importo de ranger os cotovelos na mesa e de reparar os cantos com obstinação, como se fosse surgir por milagre na esquina de meu quarto. Não inspiro pena, estou agonizando com toda a saúde.

Mas o que me faria realmente sofrer é a falta de sofrimento do adiamento. Prefiro sofrer agora o que nem entendo do que entender meu sofrimento. É melhor, muito melhor.

Dependo de seu retorno para acreditar que a primeira vez - de tão perfeita - não foi minha invenção.

Beijo
F. ”

Fabrício Carpinejar em: 'Sou uma Dona-de-casa no Amor '


"Querida,

Meus sapatos sujos conversaram comigo.

Antes de sair para vê-la, botei o par no meu colo e passei um minucioso pano em suas bordas, lustrei e escovei a lâmina preta de couro. Quando soprei os cadarços, recuperei um pouco da véspera das reuniões dançantes da adolescência. Alegre véspera em que me enamorava desde casa. Colocava uma fita-cassete e, de banho tomado, inspecionava minhas roupas dormindo na cama (as roupas eram irmãos menores que tinha a obrigação de acordar).

Talvez devesse usar mais sapato.

No amor, fiquei sempre entre o adiamento (evitar o encontro) e a antecipação (não pensar em outra coisa). Eu sofro mais na antecipação, mas o adiamento é mais triste.

O que me põe a sofrer, portanto, não é triste. Sofro seu preenchimento ou sua carência ou os dois juntos: uma ausência transbordada de mim.

Exercito a falta de domínio. Aliás, não sei por quem vai se apaixonar se estou me despersonalizando cada vez mais, perigosamente perto da extinção dos meus gostos e do meu estilo.

Engano pensar que o que mais dói é o que nos incomoda. O que mais dói é o que desejamos. O desejo é uma dor sem pouso. Não arrebenta na pele para repetirmos seu trajeto.

Quando amamos não somos suficientes como no dia anterior. Somos terrivelmente dependentes, confusos, mudamos os nossos horários para uma fresta, não queremos nos ocupar para permanecermos livres em caso de uma surpresa. Mexemos o braço de um corpo que já não é nosso. Atendemos ao telefone em reunião, despertamos o interesse pelos ralos e bordas e paredes manchadas.

Somos aquilo que vivíamos criticando em nossos amigos: a espera resignada por alguém. A submissão.

Só posso concluir que o amante não é tapete da sala, é capacho. Estamos mais na porta do que dentro de alguma palavra.

No amor, todos são donas-de-casa. Donas-de-casa limpando a sala, recolhendo os farelos e encerando as janelas pela transparência. Donas-de-casa disponíveis a preparar a comida, arrumar a cama, atender caprichos insanos. Vou hoje preparar biscoitos, eu que nunca ligo o fogão e não gosto deles. Para somente manter a mão funcionando e untar lentamente a fôrma. E esperar algo que não seja você. Ou esperar você de outro modo, quando finjo não esperar.

Amar é a mais grave ausência de democracia. Amar é exploração. Amar é trabalho-escravo. Não recomendo a ninguém, tampouco condeno.

Não me importo de ranger os cotovelos na mesa e de reparar os cantos com obstinação, como se fosse surgir por milagre na esquina de meu quarto. Não inspiro pena, estou agonizando com toda a saúde.

Mas o que me faria realmente sofrer é a falta de sofrimento do adiamento. Prefiro sofrer agora o que nem entendo do que entender meu sofrimento. É melhor, muito melhor.

Dependo de seu retorno para acreditar que a primeira vez - de tão perfeita - não foi minha invenção.

Beijo
F. ”

sábado, 22 de novembro de 2008

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Fabro pra Márcia O.








Baseado neste original:

provável foto de Renata Stoduto
(mas não tenho certeza)

Cabalismo

A alma manifesta
presença
por dentro do encontro
traduz-se em corporação
faz-me acompanhada
maciça
no tempo em que existo
no espaço em que transcorro

basta e não contenta
recheia e não preenche
atesta e não completa

Resto em estado de suave riso
brisa, teia, aura, sopro,
favônio,
viração.

Me beijo terna,
fico macia e velha
renitente, ritornelo,
monotemática,
friável,
bonita.

Não tem resumo
faltam provas
sobram relevos
(m)e é evidente.

Cabalismo

A alma manifesta
presença
por dentro do encontro
traduz-se em corporação
faz-me acompanhada
maciça
no tempo em que existo
no espaço em que transcorro

basta e não contenta
recheia e não preenche
atesta e não completa

Resto em estado de suave riso
brisa, teia, aura, sopro,
favônio,
viração.

Me beijo terna,
fico macia e velha
renitente, ritornelo,
monotemática,
friável,
bonita.

Não tem resumo
faltam provas
sobram relevos
(m)e é evidente.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Auto-cuidados

Minha alma me prepara
é minha ama, a alma.
Enquanto durmo,
pinga brilho nos meus olhos,
veste sorriso na boca,
clareia a sombra dos olhos,
relaxa os cabelos,
amansa os ombros.

Minha alma me retribui com afagos
os afagos que ganhamos.
Ela me presenteia pela coragem de aceitar (-nos)
e celebra viver o perigo
que é andar à beira dos milagres.

Auto-cuidados

Minha alma me prepara
é minha ama, a alma.
Enquanto durmo,
pinga brilho nos meus olhos,
veste sorriso na boca,
clareia a sombra dos olhos,
relaxa os cabelos,
amansa os ombros.

Minha alma me retribui com afagos
os afagos que ganhamos.
Ela me presenteia pela coragem de aceitar (-nos)
e celebra viver o perigo
que é andar à beira dos milagres.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Fabro pra Márcia R.








Baseado neste original:

provável foto de Renata Stoduto
(mas não tenho certeza)

{D}e(n)cantamento

(...)
Meio dia.

Eu me demoro

Sou partículas suspensas.

Será que so(o)u eco?



Minha alma chegou em casa

Encontrou tudo revirado.

Já era hora.

(disse a alma)
(...)

{D}e(n)cantamento

(...)
Meio dia.

Eu me demoro

Sou partículas suspensas.

Será que so(o)u eco?



Minha alma chegou em casa

Encontrou tudo revirado.

Já era hora.

(disse a alma)
(...)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

No braço

Meu tecido emocional é cheio de remendos
Patchwork dos mais requintados
Santas horas reavendo os pedacinhos
E, quando preciso, reparo.
Mas não urge a costura
Por mais que larga cisura
(solução de continuidade)
Não me aflijo com hemorragia
Apenas faço o que precisa ser feito.
Viver como é: não enjeito
Machuca e me nutre,
Me entre-tem.
Pago pra ver,
Pode vir, que convém.
Eu recebo, deixa pra mim a conta
Dou nó, Amarro as pontas
Me desdobro a violar
E redescubro em Mi menor.
(assim caminha
minha
humanidade)

No braço

Meu tecido emocional é cheio de remendos
Patchwork dos mais requintados
Santas horas reavendo os pedacinhos
E, quando preciso, reparo.
Mas não urge a costura
Por mais que larga cisura
(solução de continuidade)
Não me aflijo com hemorragia
Apenas faço o que precisa ser feito.
Viver como é: não enjeito
Machuca e me nutre,
Me entre-tem.
Pago pra ver,
Pode vir, que convém.
Eu recebo, deixa pra mim a conta
Dou nó, Amarro as pontas
Me desdobro a violar
E redescubro em Mi menor.
(assim caminha
minha
humanidade)

Diana para Odon





Baseado neste original
(brasão de quem desconheço
a autoria):

Fabro pra Carol

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Bem-vindo (ou Alea Jacta est)



a viver com sentidos,
eu convido,
a soltar os motivos, os partidos, os princípios,
os particípios,
eu in-vito,
afora do tubo de ensaio: um experimento duplo cego
(evidentemente)
uma prova real, com larga escala de vieses possíveis presentes,
todas as versões,
e fértil imaginação.

a gastar a vida, a não esperar pelas bodas,
a não comer pelas bordas,
a andar sem guarda-chuva.

a descobrir em si a coragem, o valor único de estar,
a única preciosidade, o único motivo:
a possibilidade.

Penso em Fritz Pearls:
e se nos encontrarmos,
será lindo.
Se não, nada há a fazer.

Bem-vindo (ou Alea Jacta est)



a viver com sentidos,
eu convido,
a soltar os motivos, os partidos, os princípios,
os particípios,
eu in-vito,
afora do tubo de ensaio: um experimento duplo cego
(evidentemente)
uma prova real, com larga escala de vieses possíveis presentes,
todas as versões,
e fértil imaginação.

a gastar a vida, a não esperar pelas bodas,
a não comer pelas bordas,
a andar sem guarda-chuva.

a descobrir em si a coragem, o valor único de estar,
a única preciosidade, o único motivo:
a possibilidade.

Penso em Fritz Pearls:
e se nos encontrarmos,
será lindo.
Se não, nada há a fazer.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A Camiseta do Fabrício


Fiz uma camiseta para o Lorenzo, no seu aniversário.
Enviei para o Fabrício Carpinejar conhecer, afinal, ele é a inspiração.
Ele publicou no blog dele, fiquei honradíssima.
Agora criei uma Vila em BoucheVille que é Vila Las Remeras
E lá estão algumas coisas expostas.
Bom passeio...

A Camiseta do Fabrício


Fiz uma camiseta para o Lorenzo, no seu aniversário.
Enviei para o Fabrício Carpinejar conhecer, afinal, ele é a inspiração.
Ele publicou no blog dele, fiquei honradíssima.
Agora criei uma Vila em BoucheVille que é Vila Las Remeras
E lá estão algumas coisas expostas.
Bom passeio...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Band(alh)eira é Remédio

vagando
a alma ainda amanhecendo

meu corpo vibra-som é imatérico,
mas já começa a ver:
a poeira da noite é um móbile matinal.

o café me faz sóbria das sobras
e elas são todas carícias
(e as pernas são ainda tremores)

me reconstruo com a ajuda tua
que me dá de beber e de colar
em teu agudo instinto amoroso
que (tu) tão pouco ainda reconhece:
anônimo pra ti
balsâmico pra mim

e (muito) penso em Manuel Bandeira:
se as almas não se entendem
deixe que os corpos falem.

Band(alh)eira é Remédio

vagando
a alma ainda amanhecendo

meu corpo vibra-som é imatérico,
mas já começa a ver:
a poeira da noite é um móbile matinal.

o café me faz sóbria das sobras
e elas são todas carícias
(e as pernas são ainda tremores)

me reconstruo com a ajuda tua
que me dá de beber e de colar
em teu agudo instinto amoroso
que (tu) tão pouco ainda reconhece:
anônimo pra ti
balsâmico pra mim

e (muito) penso em Manuel Bandeira:
se as almas não se entendem
deixe que os corpos falem.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Espanta-olhos

Limbo
Umbral
(etc e tal)

Ainda que não se atenda espaço público,
Ainda que só me mova o privado, privativo e principal.

Ele: apnéia, os olhos crispados, o dorso encolhido

Eu, a pedidos,
Nem tinha visto, vai saber?

Mas me apontaram: era tarde demais
Me fui indo ali, 5 passos atrás

Era espanto, será?

No espelho da vista
que será, que será?
Será que exaspera
(Será que exagero?)

Eu
fui de feliz
voltei meio assim
pode ser um pouco
que talvez, quem sabe?
(etc e tal)

Espanta-olhos

Limbo
Umbral
(etc e tal)

Ainda que não se atenda espaço público,
Ainda que só me mova o privado, privativo e principal.

Ele: apnéia, os olhos crispados, o dorso encolhido

Eu, a pedidos,
Nem tinha visto, vai saber?

Mas me apontaram: era tarde demais
Me fui indo ali, 5 passos atrás

Era espanto, será?

No espelho da vista
que será, que será?
Será que exaspera
(Será que exagero?)

Eu
fui de feliz
voltei meio assim
pode ser um pouco
que talvez, quem sabe?
(etc e tal)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

articulação

eu imagino que você espia
de dentro e através do respiro
imagino que você transpira

teu achego encorpando em meus dias
eu vejo e deixo e deleito
dou leito, queijo, quermesse
pressinto a presença
espero que saia daí

tem uma certa avareza
você
com os termos internos
(justo com os que interessam)
não tem o exercício de comunicar
como se eu fosse desinteressada
das confissões, das fofocas
ora bolas

o que eu quero ouvir
é o inédito pra nós dois
saindo de ti não previamente pensado
muito menos repetido, ensaiado
quero o fresco, despudorado
que eu já te vi sendo
(quero dizendo)
e quero a síncope, o colapso, os lapsos!
sim, lapsos, atos falhos, defeitos
a ansiedade tua que às vezes deságua em mim
por não dares vazão
(que razão ela já não tem)

que só assim não me sinto só
na desorientação

desarticula, por favor não,
por amor,
desarticula
(eu os aguardo)

articulação

eu imagino que você espia
de dentro e através do respiro
imagino que você transpira

teu achego encorpando em meus dias
eu vejo e deixo e deleito
dou leito, queijo, quermesse
pressinto a presença
espero que saia daí

tem uma certa avareza
você
com os termos internos
(justo com os que interessam)
não tem o exercício de comunicar
como se eu fosse desinteressada
das confissões, das fofocas
ora bolas

o que eu quero ouvir
é o inédito pra nós dois
saindo de ti não previamente pensado
muito menos repetido, ensaiado
quero o fresco, despudorado
que eu já te vi sendo
(quero dizendo)
e quero a síncope, o colapso, os lapsos!
sim, lapsos, atos falhos, defeitos
a ansiedade tua que às vezes deságua em mim
por não dares vazão
(que razão ela já não tem)

que só assim não me sinto só
na desorientação

desarticula, por favor não,
por amor,
desarticula
(eu os aguardo)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ouvidoria

laudo para João
carta para Nodo
45.609.875 envelopes com picote
serrilhados nas laterais
(e meu nome impresso no destinatário)
3.498.345.676 telefonemas pra dar
345.609.876 telefonemas pra atender
450.986.567 contas pra pagar
1 telegrama fonado

e 1 gripe

quando fico doente
eu me exagero toda
sou toda um desgaste
um drama

meus braços pesando 50kg cada
e faz calor na rua
a comida toda tem gosto de soja
eu me sinto derreter na cadeira
e sei que dormir não adianta
a garganta respira após a lixa deglutida
e os pensamentos também estão envidraçados
só me resta escrever uns versos

(é bom pra eu lembrar a minha fragilidade extrema
e sentir saudade de mim)

por fim!
dou-me conta do que se me passa
é a partida da minha querida Fernanda
que se fez olhos, ouvidos e braços pra mim
a ajuda aos mais diversos,
seus passinhos inquietos,
sua intuição aquariana,
seus comentários deliciosamente ferinos,
a brabeza mais divertida de se conviver,
na roda de chimarrão

que me chega trazendo uma sacola linda de presente
(imagino que seja pra eu carregar a saudade)

e é o nosso final feliz
que em si é outro recomeço
reconheço na saída dela o seu impulso genuíno
sua ânsia e paixão de viver o novo
aperta meu coraçao e o dela (eu sei)
ela afivela o cinto no avião

(canta Tom Jobim:
Rio de sol, de céu, de mar,
Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão.
Cristo Redentor,
Braços abertos sobre a Guanabara.
Aperte o cinto, vamos chegar,
Água brilhando, olha a pista chegando,
E vamos nós
aterrar)


boa viagem, Fê.
(a gente se vê)

Ouvidoria

laudo para João
carta para Nodo
45.609.875 envelopes com picote
serrilhados nas laterais
(e meu nome impresso no destinatário)
3.498.345.676 telefonemas pra dar
345.609.876 telefonemas pra atender
450.986.567 contas pra pagar
1 telegrama fonado

e 1 gripe

quando fico doente
eu me exagero toda
sou toda um desgaste
um drama

meus braços pesando 50kg cada
e faz calor na rua
a comida toda tem gosto de soja
eu me sinto derreter na cadeira
e sei que dormir não adianta
a garganta respira após a lixa deglutida
e os pensamentos também estão envidraçados
só me resta escrever uns versos

(é bom pra eu lembrar a minha fragilidade extrema
e sentir saudade de mim)

por fim!
dou-me conta do que se me passa
é a partida da minha querida Fernanda
que se fez olhos, ouvidos e braços pra mim
a ajuda aos mais diversos,
seus passinhos inquietos,
sua intuição aquariana,
seus comentários deliciosamente ferinos,
a brabeza mais divertida de se conviver,
na roda de chimarrão

que me chega trazendo uma sacola linda de presente
(imagino que seja pra eu carregar a saudade)

e é o nosso final feliz
que em si é outro recomeço
reconheço na saída dela o seu impulso genuíno
sua ânsia e paixão de viver o novo
aperta meu coraçao e o dela (eu sei)
ela afivela o cinto no avião

(canta Tom Jobim:
Rio de sol, de céu, de mar,
Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão.
Cristo Redentor,
Braços abertos sobre a Guanabara.
Aperte o cinto, vamos chegar,
Água brilhando, olha a pista chegando,
E vamos nós
aterrar)


boa viagem, Fê.
(a gente se vê)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Dentrófora

De qualquer maneira não é possível.

Fazer possível exige colocar-se a mais do visível
o que vai além, um pouco mais ali
adiante
e derramar-se
como líquido que sai do bule, ruflando, quente
revolvendo no recipiente aos giros
e descobrindo depois
a possibilidade feita
percebida indiretamente
pelos sentidos.

Recobrar a ciência,
construir a ciência,
é arte também
e puro relativismo
e disso preciso lembrar-me
a bem de viver melhor.

Aos poucos, bebo com os sentidos
e chamo real o que entra.
Com toda delicadeza
leio o que digo
vou dando e recebendo-lhe o corpo
o concebimento próprio de Dentrófora
o nome que dou pra realidade.

Dentrófora é muita solidão
a solidão conjunta, conjugada e debatida
é a entrega
a partir do então que me admito
cega de braços estendidos
e me recebo aos abraços bem sentidos
me recolhendo da chuva
e não me deixo mais sozinha.

Dentrófora

De qualquer maneira não é possível.

Fazer possível exige colocar-se a mais do visível
o que vai além, um pouco mais ali
adiante
e derramar-se
como líquido que sai do bule, ruflando, quente
revolvendo no recipiente aos giros
e descobrindo depois
a possibilidade feita
percebida indiretamente
pelos sentidos.

Recobrar a ciência,
construir a ciência,
é arte também
e puro relativismo
e disso preciso lembrar-me
a bem de viver melhor.

Aos poucos, bebo com os sentidos
e chamo real o que entra.
Com toda delicadeza
leio o que digo
vou dando e recebendo-lhe o corpo
o concebimento próprio de Dentrófora
o nome que dou pra realidade.

Dentrófora é muita solidão
a solidão conjunta, conjugada e debatida
é a entrega
a partir do então que me admito
cega de braços estendidos
e me recebo aos abraços bem sentidos
me recolhendo da chuva
e não me deixo mais sozinha.