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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Pequena Morte

Num espaço silencioso, dentro,
uma espera contínua, por dentro da pele,
aguardando a vertência,
a minunciosa saída que acontece sempre que me toca.
Existe uma conexão com a pele tua, um segredo que se revela, um estado diferenciado de consciência, uma sub-existência que também é superior: prova de que nada existe fora que não dentro.
A agudeza que dói quando não está,
quando lembro que não sei se voltará.
Volta pela qual não deixo de ser espera.
A essência feminina em mim, calada, querendo
- que o ventre crie ou que se recheie,
que me preencha,
que me neutralize,
que me penetre
(dome, doutrine, castigue,
reúna, mastigue, lave,
acuda),

que me mate.

Porque depois eu sairei viva, mais viva, e ainda mais só.

Pequena Morte

Num espaço silencioso, dentro,
uma espera contínua, por dentro da pele,
aguardando a vertência,
a minunciosa saída que acontece sempre que me toca.
Existe uma conexão com a pele tua, um segredo que se revela, um estado diferenciado de consciência, uma sub-existência que também é superior: prova de que nada existe fora que não dentro.
A agudeza que dói quando não está,
quando lembro que não sei se voltará.
Volta pela qual não deixo de ser espera.
A essência feminina em mim, calada, querendo
- que o ventre crie ou que se recheie,
que me preencha,
que me neutralize,
que me penetre
(dome, doutrine, castigue,
reúna, mastigue, lave,
acuda),

que me mate.

Porque depois eu sairei viva, mais viva, e ainda mais só.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

SuperBem

Newsletter do SuperBem
(o Blog da Clínica Verri)
Aproveita:





*se não abrir, copie e cole o código abaixo no seu browser:

http://www.mailermailer.com/x?oid=1008471L

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terça-feira, 24 de junho de 2008

Mateus Rodrigues Alves

Por dentro da imagem
se pulsar viva a presença
Por dentro do visto
se pulsar o vivo
Por dentro do homem
se pulsar o desejo
Por dentro da palavra
se pulsar o contido

Passa a ser incontido o desejo vivo da presença.

'Veja mais por dentro'

é o convite das imagens do meu amigo.

Acho que nem ele pensa às vezes,
mas ele sabe, por dentro dele.
E ele dá, na arte dele, o que arde nele.

Mateus Rodrigues Alves :
Link para album Flickr
Link para seus albuns no Orkut

Mateus Rodrigues Alves

Por dentro da imagem
se pulsar viva a presença
Por dentro do visto
se pulsar o vivo
Por dentro do homem
se pulsar o desejo
Por dentro da palavra
se pulsar o contido

Passa a ser incontido o desejo vivo da presença.

'Veja mais por dentro'

é o convite das imagens do meu amigo.

Acho que nem ele pensa às vezes,
mas ele sabe, por dentro dele.
E ele dá, na arte dele, o que arde nele.

Mateus Rodrigues Alves :
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sexta-feira, 20 de junho de 2008

Default

Termina o dia.
Eu, a esmo.
Subitamente desocupada.
Uma liberdade tão ensurdecedora
Que nem me ouço.
Acabaram os compromissos, de repente.
De repente, vejo porque sou tão compromissada.
Eu lido tão mal com o vazio súbito
Parece que desperdiço a vida
(O nome disso não é TAG (ansiedade generalizada), que saco!)
É uma fome de viver
Uma consciência quase permanente da presença definitiva da morte
A morte que talvez, seja o segredo dessa vida (diz Raul)
Não que me interesse por ela
(às vezes, sim, claro)
Mas, hoje, particularmente
Um movimento em estalo de buraco
...

É a ausência tua
Logo vejo

(ai, que me cago en el amor)

É um rombo
Da falta que fazem as coisas minhas que só existem contigo
Que unicamente assim as tenho
Que só quando estou com-igo-tigo
Que só quando nós
.
Como pode o peixe vivo
viver fora d´água fria
Como poderei viver
Sem a tua companhia?

Default

Termina o dia.
Eu, a esmo.
Subitamente desocupada.
Uma liberdade tão ensurdecedora
Que nem me ouço.
Acabaram os compromissos, de repente.
De repente, vejo porque sou tão compromissada.
Eu lido tão mal com o vazio súbito
Parece que desperdiço a vida
(O nome disso não é TAG (ansiedade generalizada), que saco!)
É uma fome de viver
Uma consciência quase permanente da presença definitiva da morte
A morte que talvez, seja o segredo dessa vida (diz Raul)
Não que me interesse por ela
(às vezes, sim, claro)
Mas, hoje, particularmente
Um movimento em estalo de buraco
...

É a ausência tua
Logo vejo

(ai, que me cago en el amor)

É um rombo
Da falta que fazem as coisas minhas que só existem contigo
Que unicamente assim as tenho
Que só quando estou com-igo-tigo
Que só quando nós
.
Como pode o peixe vivo
viver fora d´água fria
Como poderei viver
Sem a tua companhia?

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Blog da Clínica

Fiz um blog pra Clínica,
é outro espaço de estar,
como um outro cômodo de mim.

Podemos sentar lá pra conversar,
também é bonito, mas não tem carpete, porque precisa limpar fácil.
Não é pra se acobertar, mas também é aquecido.

Blog Clínica Verri


Blog da Clínica

Fiz um blog pra Clínica,
é outro espaço de estar,
como um outro cômodo de mim.

Podemos sentar lá pra conversar,
também é bonito, mas não tem carpete, porque precisa limpar fácil.
Não é pra se acobertar, mas também é aquecido.

Blog Clínica Verri


segunda-feira, 16 de junho de 2008

Circulares

esperando a tua
minha boca é

uma solidão
esperando a outra

pedra
papel
tesoura
Somos de brincadeira
(mas não somos)

Ciranda, cirandinha
Volta e meia chega aqui
Volta e meia;
Volta
Eu, envolta e meia, espero
Côncava
(sou um útero, um cesto, um balde)
Sou paciência, o bordado, o trigo, o pão

Espano, enquanto isso, meus vértices
Preciso estar em pé quando você chegar.

Circulares

esperando a tua
minha boca é

uma solidão
esperando a outra

pedra
papel
tesoura
Somos de brincadeira
(mas não somos)

Ciranda, cirandinha
Volta e meia chega aqui
Volta e meia;
Volta
Eu, envolta e meia, espero
Côncava
(sou um útero, um cesto, um balde)
Sou paciência, o bordado, o trigo, o pão

Espano, enquanto isso, meus vértices
Preciso estar em pé quando você chegar.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

É somente folhear e usar (já diria Tom Zé)

E vale a pena?
Claro que vale.

Um trabalho completamente servil a si mesmo é o viver.
Não te entrega, querido, não te entrega (mas sê entregue a ti mesmo).
Que a vida está, mas não é pra qualquer um. Muito menos a paixão.

Não confunde realidade com gestos.

As coisas são diferentes do que se pensa, a gente comprova a todo momento.
Nunca é como dizem - nunca.

Se tiveres coragem - vale a pena. Queira ver.

Não pisa apenas para provar que é errado pisar na grama. Pisa porque queres, somente - e usa a criatividade. Que dê errado porque deu e não porque deixaste.
Se não quiseres ir, podem te carregar, mas vai arrastado.
Vai com tua vontade amarrada pela força alheia, mas nunca vencida.
Não te abandona, querido, apenas isso.
Não te dá em troca de coisa tão oca quanto os princípios.

Um amigo me contou que chegou em casa e disse o seguinte:
- morreu meu pai e eu arranjei um amigo ainda melhor.
A família, atônita. Quem?
E ele:
-Eu.

Simples, não é?
Não. Não mesmo.
Mas a gente dá um jeito.

É somente folhear e usar (já diria Tom Zé)

E vale a pena?
Claro que vale.

Um trabalho completamente servil a si mesmo é o viver.
Não te entrega, querido, não te entrega (mas sê entregue a ti mesmo).
Que a vida está, mas não é pra qualquer um. Muito menos a paixão.

Não confunde realidade com gestos.

As coisas são diferentes do que se pensa, a gente comprova a todo momento.
Nunca é como dizem - nunca.

Se tiveres coragem - vale a pena. Queira ver.

Não pisa apenas para provar que é errado pisar na grama. Pisa porque queres, somente - e usa a criatividade. Que dê errado porque deu e não porque deixaste.
Se não quiseres ir, podem te carregar, mas vai arrastado.
Vai com tua vontade amarrada pela força alheia, mas nunca vencida.
Não te abandona, querido, apenas isso.
Não te dá em troca de coisa tão oca quanto os princípios.

Um amigo me contou que chegou em casa e disse o seguinte:
- morreu meu pai e eu arranjei um amigo ainda melhor.
A família, atônita. Quem?
E ele:
-Eu.

Simples, não é?
Não. Não mesmo.
Mas a gente dá um jeito.

13, sexta-feira.

Que tal?
Acredito em sorte (ou azar, tanto faz). Acho que muita coisa é sorte e talento. Praticamente tudo:
- uma balançando com o outro.

Ouvi contarem uma história sobre um empresário que queria contratar alguém para um cargo de confiança. Ele recebeu currículos de 30 candidatos. Então, quando a secretária se ofereceu para fazer uma primeira triagem, o empresário pegou a pilha, separou 10 e entregou 20 para ela dizendo:
- Esses você joga fora.
E ela, horrorizada, disse:
- Não faça isso, senhor. Tem muita gente boa aqui nessa pilha!
Ao que ele respondeu:
- Quero trabalhar com alguém que tenha sorte.

Adorei a história. Quis compartilhar. Não sei de quem é.

Enfim, se não der sorte, quem acredita em seu talento, tenta de novo.

13, sexta-feira.

Que tal?
Acredito em sorte (ou azar, tanto faz). Acho que muita coisa é sorte e talento. Praticamente tudo:
- uma balançando com o outro.

Ouvi contarem uma história sobre um empresário que queria contratar alguém para um cargo de confiança. Ele recebeu currículos de 30 candidatos. Então, quando a secretária se ofereceu para fazer uma primeira triagem, o empresário pegou a pilha, separou 10 e entregou 20 para ela dizendo:
- Esses você joga fora.
E ela, horrorizada, disse:
- Não faça isso, senhor. Tem muita gente boa aqui nessa pilha!
Ao que ele respondeu:
- Quero trabalhar com alguém que tenha sorte.

Adorei a história. Quis compartilhar. Não sei de quem é.

Enfim, se não der sorte, quem acredita em seu talento, tenta de novo.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Arte

Por dentro de mim, caminho
Vou a passeio
Quase assovio
Fica melhor
- quando recebo as notícias das estupidices do caos, apenas vejo as alterações climáticas.
- quando recebo as notícias das delícias, chego mais perto pra sentir o cheiro, o gosto, a flor.
E, quando me aflijo, eu me desacelero, eu me embalo.
Adoro dias como hoje, em que até o momento presente
estou só e amor comigo.
Assim, por mais que apertem, esmaguem - não saio! Não saio, não saio.
E nem bato pé - eu danço.
E não é que não sinta tristeza; sinto. E ela é boa também.

Sabe? Entende o que eu digo?

O nome disso não é hipomania.
É arte.

Arte

Por dentro de mim, caminho
Vou a passeio
Quase assovio
Fica melhor
- quando recebo as notícias das estupidices do caos, apenas vejo as alterações climáticas.
- quando recebo as notícias das delícias, chego mais perto pra sentir o cheiro, o gosto, a flor.
E, quando me aflijo, eu me desacelero, eu me embalo.
Adoro dias como hoje, em que até o momento presente
estou só e amor comigo.
Assim, por mais que apertem, esmaguem - não saio! Não saio, não saio.
E nem bato pé - eu danço.
E não é que não sinta tristeza; sinto. E ela é boa também.

Sabe? Entende o que eu digo?

O nome disso não é hipomania.
É arte.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Anulares, arciformes,
corimbiformes
Lenticulares, serpiginosas, numulares
Reniformes, circinadas
Policíclicas
Discóides, figuradas
Pontuadas, gutatas
Zosteriformes

Eu, girata

A classificar tuas cores dermatológicas
Tuas exclusividades pictóricas

Meu modo de me iludir que domino
O inominável

O abstrato que faz vibrar meu corpo

(Se nem nome, domínio?)
Daí, eu a buscar o nome que se dá aos lindos desenhos naturais que te adornam.
E daí?
Tudo bem, faço sorrindo
Como uma brincadeira suave comigo.

De lambuja, descubro que semiologia também é poesia.
Anulares, arciformes,
corimbiformes
Lenticulares, serpiginosas, numulares
Reniformes, circinadas
Policíclicas
Discóides, figuradas
Pontuadas, gutatas
Zosteriformes

Eu, girata

A classificar tuas cores dermatológicas
Tuas exclusividades pictóricas

Meu modo de me iludir que domino
O inominável

O abstrato que faz vibrar meu corpo

(Se nem nome, domínio?)
Daí, eu a buscar o nome que se dá aos lindos desenhos naturais que te adornam.
E daí?
Tudo bem, faço sorrindo
Como uma brincadeira suave comigo.

De lambuja, descubro que semiologia também é poesia.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Trouxe o consultório da Taquara pra Tobias.
Durante o processo de carregamento dos móveis de um lugar para outro (porque usar 'mudança' é descabimento: uma palavra vasta demais para esse evento), percebi que adoraria ter um grupo de homens fortes à disposição constantemente. Um pensamento deliciosamente nababesco esse meu. Aliás, um prazer essa palavra: nababesco. Uma palavra rococó. Enfim. Mas queria mesmo esse séquito de homens forçudos, trabalhadores e disponíveis. Uma beleza. Carregaram todas as minhas coisas e içaram por fora do prédio, na chuva, com cordas. Um feito fantástico. Então se deslocaram pelo espaço da clínica organizando o cacaredo, as malas, os ferros, as madeiras, sei lá mais o que. E eu, olhando, nem suava.
E depois eu tentava donzelicamente tirar um arame de duas madeiras e um dos homenzarrões veio e se ofereceu. Que cena maravilhosa. Nem precisei pedir. Tirou o arame com o alicate num gesto único. Meus Hércules partiram deixando saudade. Fiquei vazia depois que se foram. Senti até que tinha diminuído...

Há algumas trocas de endereço atrás, eu ainda fazia praticamente sozinha os carregamentos todos, as montagens e desmontagens, os arrastamentos e etc. Aos poucos fui juntando mais trecos, como um magneto potente. E precisei de mais ajuda para os transportes.

Como dizem, a cada três mudanças, um incêndio.
De fato, o número de coisas perdidas nos câmbios locais era muito, mas o magneto aumentava a potência em progressão geométrica e logo eu já tinha a maior bagagem possível - o mobiliário de uma casa.

Os Hércules me ajudando formaram uma delícia - uma orgia pessoal e silenciosa foi o acontecimento de não acontecer de precisar carregar nenhuma mala.

Recomendo.
Trouxe o consultório da Taquara pra Tobias.
Durante o processo de carregamento dos móveis de um lugar para outro (porque usar 'mudança' é descabimento: uma palavra vasta demais para esse evento), percebi que adoraria ter um grupo de homens fortes à disposição constantemente. Um pensamento deliciosamente nababesco esse meu. Aliás, um prazer essa palavra: nababesco. Uma palavra rococó. Enfim. Mas queria mesmo esse séquito de homens forçudos, trabalhadores e disponíveis. Uma beleza. Carregaram todas as minhas coisas e içaram por fora do prédio, na chuva, com cordas. Um feito fantástico. Então se deslocaram pelo espaço da clínica organizando o cacaredo, as malas, os ferros, as madeiras, sei lá mais o que. E eu, olhando, nem suava.
E depois eu tentava donzelicamente tirar um arame de duas madeiras e um dos homenzarrões veio e se ofereceu. Que cena maravilhosa. Nem precisei pedir. Tirou o arame com o alicate num gesto único. Meus Hércules partiram deixando saudade. Fiquei vazia depois que se foram. Senti até que tinha diminuído...

Há algumas trocas de endereço atrás, eu ainda fazia praticamente sozinha os carregamentos todos, as montagens e desmontagens, os arrastamentos e etc. Aos poucos fui juntando mais trecos, como um magneto potente. E precisei de mais ajuda para os transportes.

Como dizem, a cada três mudanças, um incêndio.
De fato, o número de coisas perdidas nos câmbios locais era muito, mas o magneto aumentava a potência em progressão geométrica e logo eu já tinha a maior bagagem possível - o mobiliário de uma casa.

Os Hércules me ajudando formaram uma delícia - uma orgia pessoal e silenciosa foi o acontecimento de não acontecer de precisar carregar nenhuma mala.

Recomendo.

domingo, 8 de junho de 2008

Honestamente, não sei o que acontece comigo. Vejo muitas pessoas com flexibilidade para conversas e grosserias descabidas. Eu não sou assim. Não é uma crítica pessoal - mais uma constatação. Eu sou absolutamente sensível. Se é que existe isso do absoluto. A questão toda resta em mim em pendulário: sou-me tão feliz por ser quem sou muitas vezes; dias como hoje, por exemplo, de manhã sou puro amor e gratidão por minha força de vontade e dedicação tão longevas. À tarde, mais por agora, sou um naufrágio. Não sei lidar com as distorções que o outro faz. Isso, claro, do meu ponto de vista, faço questão de frisar isso para mim. Mas, não sei lidar, parece um descabimento, um ataque, um troço tão rude e eu tão papel vegetal. Um atrito asfáltico desgastante. Dói tanto, tanto. Ai, como dói isso em mim. Aí eu choro um pouco pra aliviar o ardume.
Sei que já passa, mas me dou direito ao meu chororô.
Daí, se ainda me desacomodo com o acontecimento, vez e outra venho passear nas palavras, a ver se me consolo e me explico que a vida é esse tornado caótico e que às vezes um bule voador me acerta no peito em cheio...

...vem, querida, vamos à vida que ela nos precisa.
Honestamente, não sei o que acontece comigo. Vejo muitas pessoas com flexibilidade para conversas e grosserias descabidas. Eu não sou assim. Não é uma crítica pessoal - mais uma constatação. Eu sou absolutamente sensível. Se é que existe isso do absoluto. A questão toda resta em mim em pendulário: sou-me tão feliz por ser quem sou muitas vezes; dias como hoje, por exemplo, de manhã sou puro amor e gratidão por minha força de vontade e dedicação tão longevas. À tarde, mais por agora, sou um naufrágio. Não sei lidar com as distorções que o outro faz. Isso, claro, do meu ponto de vista, faço questão de frisar isso para mim. Mas, não sei lidar, parece um descabimento, um ataque, um troço tão rude e eu tão papel vegetal. Um atrito asfáltico desgastante. Dói tanto, tanto. Ai, como dói isso em mim. Aí eu choro um pouco pra aliviar o ardume.
Sei que já passa, mas me dou direito ao meu chororô.
Daí, se ainda me desacomodo com o acontecimento, vez e outra venho passear nas palavras, a ver se me consolo e me explico que a vida é esse tornado caótico e que às vezes um bule voador me acerta no peito em cheio...

...vem, querida, vamos à vida que ela nos precisa.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Vestida de paixão ela anda. Não pode nada mais, nem nada menos. É isso que pode. Andar vestida de paixão. É fulminante. O arder é contínuo. O arrasamento é total. Tudo fica verde, espesso, espinafrado e borbulhante - quase preto. É terra fértil.
Cheirando a chuva e araucária, o céu abrindo e as nuvens na colina. O mato cobre todo o corpo dela, ela não se defende. Não se coça. Não se atrapalha. Fica ali - olhando. O seu corpo vai virando mato, a seiva deslizando do seu ventre verde-escuro e indo, indo. Ela se coliquando. Ela se desfazendo em seu pensar natural. Ela se escorrendo de paixão. E ela era agora um Boitatá. Com um rastro de fogo atrás queimando. Ela indo, indo. Depois ela era o negrinho. E pastoreava o pensamento todo:
- píripíripíripíripíri
chamando as galinhas em Juvenalês. E foi tirar o leite. Ela, toda flor.
Depois ela é um corpo évico sobre o pelego. E ele é um polvo de línguas. Um povo todo sobre ela. E ela a rir e gargalhar chorando e indo, indo.
Depois era uma cabeça jogada para frente, de olhos fechados, cavalgando. Os cabelos estirados adelante e cobrindo a cabeça dele. Ela espia e ele está dentro da cascata dos cabelos dela. Ele ri. Ela também.
Depois ela é um quadrúpede e ele seu comandante. E ela marcha como ele diz pra ser. E depois ela é uma platéia hipnotizada e feliz na comédia. E ele tinha olhinhos bem pretos de ônix.
Então ele é um cardume dentro dela. E ela é um pelego atirado - um couro bovino no chão. E os pelos dele estão nela e no rosto dela estão as linhas da barba desenhadas. E nele estão a seiva e os cabelos dela. E eles indo, indo.
Vestida de paixão ela anda. Não pode nada mais, nem nada menos. É isso que pode. Andar vestida de paixão. É fulminante. O arder é contínuo. O arrasamento é total. Tudo fica verde, espesso, espinafrado e borbulhante - quase preto. É terra fértil.
Cheirando a chuva e araucária, o céu abrindo e as nuvens na colina. O mato cobre todo o corpo dela, ela não se defende. Não se coça. Não se atrapalha. Fica ali - olhando. O seu corpo vai virando mato, a seiva deslizando do seu ventre verde-escuro e indo, indo. Ela se coliquando. Ela se desfazendo em seu pensar natural. Ela se escorrendo de paixão. E ela era agora um Boitatá. Com um rastro de fogo atrás queimando. Ela indo, indo. Depois ela era o negrinho. E pastoreava o pensamento todo:
- píripíripíripíripíri
chamando as galinhas em Juvenalês. E foi tirar o leite. Ela, toda flor.
Depois ela é um corpo évico sobre o pelego. E ele é um polvo de línguas. Um povo todo sobre ela. E ela a rir e gargalhar chorando e indo, indo.
Depois era uma cabeça jogada para frente, de olhos fechados, cavalgando. Os cabelos estirados adelante e cobrindo a cabeça dele. Ela espia e ele está dentro da cascata dos cabelos dela. Ele ri. Ela também.
Depois ela é um quadrúpede e ele seu comandante. E ela marcha como ele diz pra ser. E depois ela é uma platéia hipnotizada e feliz na comédia. E ele tinha olhinhos bem pretos de ônix.
Então ele é um cardume dentro dela. E ela é um pelego atirado - um couro bovino no chão. E os pelos dele estão nela e no rosto dela estão as linhas da barba desenhadas. E nele estão a seiva e os cabelos dela. E eles indo, indo.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

cinco de junho de dois mil e oito
e dentro da manhã teve outras três manhãs
uma onde fui bem tratada num serviço público - achei tão bonito ir lá na ATP.
n´outra iniciei a mudança, mais uma no currículo
n´outra me encontrei com alguém.
Dentro da tarde teve mais umas três tardes e
à noite
umas duas noites.
completamente únicos e irrecuperáveis
também eu única e irrecuperável dentro disso tudo.

Não vejo tédio há muito tempo
me dedico inteiramente à minha vida
com muito olhar e composição

Mente quem disser que é tarefa fácil
Porque nenhuma é
dada nossa pequenez nesse mundo...
cinco de junho de dois mil e oito
e dentro da manhã teve outras três manhãs
uma onde fui bem tratada num serviço público - achei tão bonito ir lá na ATP.
n´outra iniciei a mudança, mais uma no currículo
n´outra me encontrei com alguém.
Dentro da tarde teve mais umas três tardes e
à noite
umas duas noites.
completamente únicos e irrecuperáveis
também eu única e irrecuperável dentro disso tudo.

Não vejo tédio há muito tempo
me dedico inteiramente à minha vida
com muito olhar e composição

Mente quem disser que é tarefa fácil
Porque nenhuma é
dada nossa pequenez nesse mundo...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Degravação

Referiu a ré o seguinte:
que se olhou no espelho
já (a)pela segunda vez em cinco minutos
que constatava que nada mudara
que sabia que seu corpo era um túmulo
que não podia ser diferente porque não havia arrependimento (não havia nada)
que o sofá não era o mesmo
que o chão não era o mesmo
que as paredes não eram as mesmas
que isso ninguém notava
que só ela notava isso
que quando muda quem olha, as coisas antes mudas, passam a falar.
Que então ela ouvia o burburinho todo da sala
que ela ouvia silentemente
que ela sorria (o sorriso dela).

Degravação

Referiu a ré o seguinte:
que se olhou no espelho
já (a)pela segunda vez em cinco minutos
que constatava que nada mudara
que sabia que seu corpo era um túmulo
que não podia ser diferente porque não havia arrependimento (não havia nada)
que o sofá não era o mesmo
que o chão não era o mesmo
que as paredes não eram as mesmas
que isso ninguém notava
que só ela notava isso
que quando muda quem olha, as coisas antes mudas, passam a falar.
Que então ela ouvia o burburinho todo da sala
que ela ouvia silentemente
que ela sorria (o sorriso dela).