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sexta-feira, 6 de junho de 2008

Vestida de paixão ela anda. Não pode nada mais, nem nada menos. É isso que pode. Andar vestida de paixão. É fulminante. O arder é contínuo. O arrasamento é total. Tudo fica verde, espesso, espinafrado e borbulhante - quase preto. É terra fértil.
Cheirando a chuva e araucária, o céu abrindo e as nuvens na colina. O mato cobre todo o corpo dela, ela não se defende. Não se coça. Não se atrapalha. Fica ali - olhando. O seu corpo vai virando mato, a seiva deslizando do seu ventre verde-escuro e indo, indo. Ela se coliquando. Ela se desfazendo em seu pensar natural. Ela se escorrendo de paixão. E ela era agora um Boitatá. Com um rastro de fogo atrás queimando. Ela indo, indo. Depois ela era o negrinho. E pastoreava o pensamento todo:
- píripíripíripíripíri
chamando as galinhas em Juvenalês. E foi tirar o leite. Ela, toda flor.
Depois ela é um corpo évico sobre o pelego. E ele é um polvo de línguas. Um povo todo sobre ela. E ela a rir e gargalhar chorando e indo, indo.
Depois era uma cabeça jogada para frente, de olhos fechados, cavalgando. Os cabelos estirados adelante e cobrindo a cabeça dele. Ela espia e ele está dentro da cascata dos cabelos dela. Ele ri. Ela também.
Depois ela é um quadrúpede e ele seu comandante. E ela marcha como ele diz pra ser. E depois ela é uma platéia hipnotizada e feliz na comédia. E ele tinha olhinhos bem pretos de ônix.
Então ele é um cardume dentro dela. E ela é um pelego atirado - um couro bovino no chão. E os pelos dele estão nela e no rosto dela estão as linhas da barba desenhadas. E nele estão a seiva e os cabelos dela. E eles indo, indo.

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