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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Webterapia

Zero Hora, 22 de maio de 2010

[O psiquiatra Nelio Tombini assume que utiliza recursos online e propõe que prática seja mais debatida entre profissionais da área]
Foto:Fernando Gomes

Webterapia: A era do divã virtual

Sem contato pessoal direto entre paciente e terapeuta, a terapia via internet ganha espaço e gera debate na área da saúde
Matéria de Maicon Bock

Sentada em uma confortável poltrona, a paciente relata suas angústias à psicoterapeuta. Faz confidências, conta problemas do dia a dia e desabafa emoções, à espera de soluções.

Seria uma sessão rotineira se paciente e terapeuta não estivessem separadas por mais de 10 mil quilômetros de distância, uma na Itália, e a outra, em Porto Alegre. E mais: elas nunca se viram pessoalmente.

A terapia online, também chamada de webterapia, é um exemplo real de uma prática que se dissemina entre psicólogos, psiquiatras e médicos psicoterapeutas gaúchos. Apesar de estar se tornando comum, o Conselho Federal de Psicologia a proíbe por não haver estudos garantindo sua eficácia (ver texto na página seguinte). A situação é considerada mais grave quando envolve a cobrança de honorários, o que ocorre na maior parte das vezes.

O Conselho Federal de Medicina, por sua vez, afirma que o contato entre médico e paciente deve ser presencial. Contudo, apesar de considerar a prática inadequada, não faz referência ao assunto em seu código de ética.

No Rio Grande do Sul, um dos poucos profissionais que admitem atender pacientes pelo computador é o psiquiatra Nelio Tombini, chefe do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa. Sem receio de falar sobre o assunto, ele diz que o assunto merece ser discutido pela classe médica como uma nova realidade da profissão.

Adepto, há um ano, de um software que permite ver e ouvir o interlocutor ao vivo pelo computador, ele enxerga um futuro promissor para a atividade:

— O atendimento pelo Skype vai se desenvolver muito. Ele tem suas limitações, não tem como ver alguns gestos da pessoa, reações, mas, se não for usado, muitos ficarão sem acesso a uma psicoterapia. O perigo, nesses casos, é a hipocrisia, os colegas que não dizem que fazem, pois pode não ser politicamente adequado.

Atualmente, Tombini tem três pacientes online. Todos começaram sendo atendidos pessoalmente, em Porto Alegre, e depois passaram para o virtual devido à distância de casa em relação ao consultório. A meta é, sempre que possível, encontrarem-se pessoalmente. Na nova empreitada, Tombini só não abre mão de uma coisa:

— Não atendo ninguém sem avaliá-lo pessoalmente. Posso passar ao Skype, mas tenho de ver a pessoa cara a cara primeiro.

Como funciona

Paciente e terapeuta acertam o horário de cada sessão, observando atentamente os fusos horários para não haver desencontros:

1) Na hora marcada, paciente e terapeuta ligam o computador para se conectar por meio do Skype. A sessão só começa quando a conexão da internet estiver boa dos dois lados, a fim de evitar interrupções nas transmissões de imagem e voz feitas por webcams e microfones acoplados aos computadores

2) Em seu computador, o terapeuta coloca a imagem do rosto do paciente, de modo a preencher toda a tela. Assim, ele pode observar com mais atenção as expressões faciais do paciente

3) Normalmente, cada encontro dura uma hora, o mesmo tempo de uma sessão presencial. Como estão despendendo seu tempo, os profissionais cobram pelo serviço

Polêmica online

A prática do atendimento pelo computador vista pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e pelo Conselho Regional de Medicina (Cremers):

O QUE PODE

- Atendimentos não psicoterapêuticos, como orientações psicológicas sobre temas como relacionamento, sexo, profissional, educação e ergonomia

- Consultorias a empresas, seleção de pessoal e testes psicológicos informatizados autorizados pelo Conselho Federal de Psicologia

- Cobrança de honorários nas situações apresentadas nos dois itens acima

- Atendimento psicoterapêutico realizado em caráter experimental, desde que faça parte de projeto de pesquisa e tenha sido aprovado por comitê de ética

- Em grupos de reflexão sobre temas psicológicos, um ou mais participantes podem participar via internet desde que não paguem por isso

- Aos médicos, orientar eventualmente pacientes

O QUE NÃO PODE

- Cobrança de honorários nos atendimentos psicoterapêuticos de caráter experimental

- Remuneração ao usuário pesquisado

- Divulgação de dados dos pacientes pesquisados

- Deixar de mencionar, em manifestações públicas, que a prática é experimental

- Nos casos em que a cobrança de honorários é autorizada (orientações psicológicas e consultorias a empresas, por exemplo), divulgar preços como forma de propaganda

- Aos médicos, prescrever medicamentos, fazer diagnósticos à distância e tratamentos que não sejam presenciais

PROGRAMA POLÊMICA - RÁDIO GAÚCHA

Convidados:

- Psicanalista, MARCELO BLAYA PERES

- Tesoureiro do CREMERS, ISAIAS LEVY

- Jaques Machado

- Chefe do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa, NÉLIO TOMBINI

- Lauro Quadros

- Conselheira do Conselho Regional de Psicologia, CLARICE MOREIRA

- Médica e psicoterapeuta CINTHYA VERRI

Ouça aqui o Polêmica sobre o tema da Webterapia:

Webterapia

Zero Hora, 22 de maio de 2010

[O psiquiatra Nelio Tombini assume que utiliza recursos online e propõe que prática seja mais debatida entre profissionais da área]
Foto:Fernando Gomes

Webterapia: A era do divã virtual

Sem contato pessoal direto entre paciente e terapeuta, a terapia via internet ganha espaço e gera debate na área da saúde
Matéria de Maicon Bock

Sentada em uma confortável poltrona, a paciente relata suas angústias à psicoterapeuta. Faz confidências, conta problemas do dia a dia e desabafa emoções, à espera de soluções.

Seria uma sessão rotineira se paciente e terapeuta não estivessem separadas por mais de 10 mil quilômetros de distância, uma na Itália, e a outra, em Porto Alegre. E mais: elas nunca se viram pessoalmente.

A terapia online, também chamada de webterapia, é um exemplo real de uma prática que se dissemina entre psicólogos, psiquiatras e médicos psicoterapeutas gaúchos. Apesar de estar se tornando comum, o Conselho Federal de Psicologia a proíbe por não haver estudos garantindo sua eficácia (ver texto na página seguinte). A situação é considerada mais grave quando envolve a cobrança de honorários, o que ocorre na maior parte das vezes.

O Conselho Federal de Medicina, por sua vez, afirma que o contato entre médico e paciente deve ser presencial. Contudo, apesar de considerar a prática inadequada, não faz referência ao assunto em seu código de ética.

No Rio Grande do Sul, um dos poucos profissionais que admitem atender pacientes pelo computador é o psiquiatra Nelio Tombini, chefe do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa. Sem receio de falar sobre o assunto, ele diz que o assunto merece ser discutido pela classe médica como uma nova realidade da profissão.

Adepto, há um ano, de um software que permite ver e ouvir o interlocutor ao vivo pelo computador, ele enxerga um futuro promissor para a atividade:

— O atendimento pelo Skype vai se desenvolver muito. Ele tem suas limitações, não tem como ver alguns gestos da pessoa, reações, mas, se não for usado, muitos ficarão sem acesso a uma psicoterapia. O perigo, nesses casos, é a hipocrisia, os colegas que não dizem que fazem, pois pode não ser politicamente adequado.

Atualmente, Tombini tem três pacientes online. Todos começaram sendo atendidos pessoalmente, em Porto Alegre, e depois passaram para o virtual devido à distância de casa em relação ao consultório. A meta é, sempre que possível, encontrarem-se pessoalmente. Na nova empreitada, Tombini só não abre mão de uma coisa:

— Não atendo ninguém sem avaliá-lo pessoalmente. Posso passar ao Skype, mas tenho de ver a pessoa cara a cara primeiro.

Como funciona

Paciente e terapeuta acertam o horário de cada sessão, observando atentamente os fusos horários para não haver desencontros:

1) Na hora marcada, paciente e terapeuta ligam o computador para se conectar por meio do Skype. A sessão só começa quando a conexão da internet estiver boa dos dois lados, a fim de evitar interrupções nas transmissões de imagem e voz feitas por webcams e microfones acoplados aos computadores

2) Em seu computador, o terapeuta coloca a imagem do rosto do paciente, de modo a preencher toda a tela. Assim, ele pode observar com mais atenção as expressões faciais do paciente

3) Normalmente, cada encontro dura uma hora, o mesmo tempo de uma sessão presencial. Como estão despendendo seu tempo, os profissionais cobram pelo serviço

Polêmica online

A prática do atendimento pelo computador vista pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e pelo Conselho Regional de Medicina (Cremers):

O QUE PODE

- Atendimentos não psicoterapêuticos, como orientações psicológicas sobre temas como relacionamento, sexo, profissional, educação e ergonomia

- Consultorias a empresas, seleção de pessoal e testes psicológicos informatizados autorizados pelo Conselho Federal de Psicologia

- Cobrança de honorários nas situações apresentadas nos dois itens acima

- Atendimento psicoterapêutico realizado em caráter experimental, desde que faça parte de projeto de pesquisa e tenha sido aprovado por comitê de ética

- Em grupos de reflexão sobre temas psicológicos, um ou mais participantes podem participar via internet desde que não paguem por isso

- Aos médicos, orientar eventualmente pacientes

O QUE NÃO PODE

- Cobrança de honorários nos atendimentos psicoterapêuticos de caráter experimental

- Remuneração ao usuário pesquisado

- Divulgação de dados dos pacientes pesquisados

- Deixar de mencionar, em manifestações públicas, que a prática é experimental

- Nos casos em que a cobrança de honorários é autorizada (orientações psicológicas e consultorias a empresas, por exemplo), divulgar preços como forma de propaganda

- Aos médicos, prescrever medicamentos, fazer diagnósticos à distância e tratamentos que não sejam presenciais

PROGRAMA POLÊMICA - RÁDIO GAÚCHA

Convidados:

- Psicanalista, MARCELO BLAYA PERES

- Tesoureiro do CREMERS, ISAIAS LEVY

- Jaques Machado

- Chefe do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa, NÉLIO TOMBINI

- Lauro Quadros

- Conselheira do Conselho Regional de Psicologia, CLARICE MOREIRA

- Médica e psicoterapeuta CINTHYA VERRI

Ouça aqui o Polêmica sobre o tema da Webterapia:

Webterapia no Polêmica

Zero Hora, 22 de maio de 2010

[O psiquiatra Nelio Tombini assume que utiliza recursos online e propõe que prática seja mais debatida entre profissionais da área]
Foto:Fernando Gomes

Webterapia: A era do divã virtual

Sem contato pessoal direto entre paciente e terapeuta, a terapia via internet ganha espaço e gera debate na área da saúde
Matéria de Maicon Bock

Sentada em uma confortável poltrona, a paciente relata suas angústias à psicoterapeuta. Faz confidências, conta problemas do dia a dia e desabafa emoções, à espera de soluções.

Seria uma sessão rotineira se paciente e terapeuta não estivessem separadas por mais de 10 mil quilômetros de distância, uma na Itália, e a outra, em Porto Alegre. E mais: elas nunca se viram pessoalmente.

A terapia online, também chamada de webterapia, é um exemplo real de uma prática que se dissemina entre psicólogos, psiquiatras e médicos psicoterapeutas gaúchos. Apesar de estar se tornando comum, o Conselho Federal de Psicologia a proíbe por não haver estudos garantindo sua eficácia (ver texto na página seguinte). A situação é considerada mais grave quando envolve a cobrança de honorários, o que ocorre na maior parte das vezes.

O Conselho Federal de Medicina, por sua vez, afirma que o contato entre médico e paciente deve ser presencial. Contudo, apesar de considerar a prática inadequada, não faz referência ao assunto em seu código de ética.

No Rio Grande do Sul, um dos poucos profissionais que admitem atender pacientes pelo computador é o psiquiatra Nelio Tombini, chefe do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa. Sem receio de falar sobre o assunto, ele diz que o assunto merece ser discutido pela classe médica como uma nova realidade da profissão.

Adepto, há um ano, de um software que permite ver e ouvir o interlocutor ao vivo pelo computador, ele enxerga um futuro promissor para a atividade:

— O atendimento pelo Skype vai se desenvolver muito. Ele tem suas limitações, não tem como ver alguns gestos da pessoa, reações, mas, se não for usado, muitos ficarão sem acesso a uma psicoterapia. O perigo, nesses casos, é a hipocrisia, os colegas que não dizem que fazem, pois pode não ser politicamente adequado.

Atualmente, Tombini tem três pacientes online. Todos começaram sendo atendidos pessoalmente, em Porto Alegre, e depois passaram para o virtual devido à distância de casa em relação ao consultório. A meta é, sempre que possível, encontrarem-se pessoalmente. Na nova empreitada, Tombini só não abre mão de uma coisa:

— Não atendo ninguém sem avaliá-lo pessoalmente. Posso passar ao Skype, mas tenho de ver a pessoa cara a cara primeiro.

Como funciona

Paciente e terapeuta acertam o horário de cada sessão, observando atentamente os fusos horários para não haver desencontros:

1) Na hora marcada, paciente e terapeuta ligam o computador para se conectar por meio do Skype. A sessão só começa quando a conexão da internet estiver boa dos dois lados, a fim de evitar interrupções nas transmissões de imagem e voz feitas por webcams e microfones acoplados aos computadores

2) Em seu computador, o terapeuta coloca a imagem do rosto do paciente, de modo a preencher toda a tela. Assim, ele pode observar com mais atenção as expressões faciais do paciente

3) Normalmente, cada encontro dura uma hora, o mesmo tempo de uma sessão presencial. Como estão despendendo seu tempo, os profissionais cobram pelo serviço

Polêmica online

A prática do atendimento pelo computador vista pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e pelo Conselho Regional de Medicina (Cremers):

O QUE PODE

- Atendimentos não psicoterapêuticos, como orientações psicológicas sobre temas como relacionamento, sexo, profissional, educação e ergonomia

- Consultorias a empresas, seleção de pessoal e testes psicológicos informatizados autorizados pelo Conselho Federal de Psicologia

- Cobrança de honorários nas situações apresentadas nos dois itens acima

- Atendimento psicoterapêutico realizado em caráter experimental, desde que faça parte de projeto de pesquisa e tenha sido aprovado por comitê de ética

- Em grupos de reflexão sobre temas psicológicos, um ou mais participantes podem participar via internet desde que não paguem por isso

- Aos médicos, orientar eventualmente pacientes

O QUE NÃO PODE

- Cobrança de honorários nos atendimentos psicoterapêuticos de caráter experimental

- Remuneração ao usuário pesquisado

- Divulgação de dados dos pacientes pesquisados

- Deixar de mencionar, em manifestações públicas, que a prática é experimental

- Nos casos em que a cobrança de honorários é autorizada (orientações psicológicas e consultorias a empresas, por exemplo), divulgar preços como forma de propaganda

- Aos médicos, prescrever medicamentos, fazer diagnósticos à distância e tratamentos que não sejam presenciais

PROGRAMA POLÊMICA - RÁDIO GAÚCHA

Convidados:

- Psicanalista, MARCELO BLAYA PERES

- Tesoureiro do CREMERS, ISAIAS LEVY

- Jaques Machado

- Chefe do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa, NÉLIO TOMBINI

- Lauro Quadros

- Conselheira do Conselho Regional de Psicologia, CLARICE MOREIRA

- Médica e psicoterapeuta CINTHYA VERRI

Ouça aqui o Polêmica sobre o tema da Webterapia:

terça-feira, 25 de maio de 2010

Bullying da Magreza [Crônica Falada na Itapema FM]

Velazquez, "As Meninas".

Sábado estive em um magnífico jantar de aniversário. A melhor paella da minha vida. Tudo soberbo, no ponto, incrível. Realmente admirável como é possível cozinhar arroz e frutos do mar e alcançar a perfeição. Um milagre calórico. Razão mais que suficiente pra acabar com a dieta no mesmo instante. Só o perfume já valeria os 10km de esteira equivalentes.

No jantar, uma única criança estava presente. Uma menina de nove anos. Ela, naturalmente alegre, como a maioria dos que ainda estão inaugurando quase tudo, comia despreocupada.
Começou com uma tia que a puxou para o cantinho e começou a sabatina para o “bem”dela.

- Você precisa emagrecer agora, antes dos dez anos é mais fácil! Depois fica cada vez mais difícil. A tia fala isso pra te ajudar.

A menina, silenciosa, baixa os olhos, segue adiante.

Na mesa, pede uma coca normal. Mas não tinha normal, só light ou zero, enfim. Alguém retruca:

- Mas você de açúcar não precisa mais nem um pouco! Tá bom de açúcar já!

O comentário não se referia à doçura do caráter dela.

Fui teletransportada aos meus dez anos, a minha cintura quadrada e à cara bolachuda. Junto, saiu do baú a sensação contínua de vergonha de meu corpo. Minha mãe insistia que eu “guardava nozes para o inverno”. Eu não entendia. Só sofria vendo que, de magricela ágil, eu tinha passado a ser um peso de papéis. Pensava que era uma maldição. Parecia que tinha batido o anel com um super irmão gêmeo e gritado: em forma de barril! Em forma de bola de gude! Em forma de câmara de pneu de caminhão!

Na época eu nada sabia sobre o estirão do adolescente, não imaginava que a menstruação significava tanto para a forma física. Se eu imaginasse que a menarca ia salvar meu corpo daquele cubo vexatório, estaria bem mais tranquila.

Mas meus irmãos providenciavam o pânico diariamente. Aproveitavam a fragilidade dos meus ouvidos e ferviam com altíssima criatividade ofensas, impropérios, xingamentos e desqualificações variadíssimas. Lavavam a baia, como se diz.

Eu chorava e me sentia horrível.

Aos vinte e poucos anos tive anorexia, até hoje tenho ranhuras pra aceitar que sou bonita. Sou bonita?

Não é uma queixa total, fiz um bom uso da minha suposta feiúra, acabei sendo inteligente e meio nerd. Depois da guerra fraterna, bulling na escola era fichinha. Tem suas vantagens.

Não proponho que se poupem as crianças dos embates sociais, das ofensas nas ruas, dos constrangimentos públicos. Proponho é o fim do bulling da magreza dentro de casa. É a fase de aprender a ter um corpor e a gostar dele.

Deixa a criança comer em paz.


Ouça a Crônica Falada que foi ao ar na Itapema FM
(arraste aos 30´20´´ do programa)



Porque o tema deu muita repercussão, decidimos, eu e a Katia, repetir a dose na TV
Assista a essa Crônica na TVCOM, Programa Camarote:

Bullying da Magreza

Velazquez, "As Meninas".

Sábado estive em um magnífico jantar de aniversário. A melhor paella da minha vida. Tudo soberbo, no ponto, incrível. Realmente admirável como é possível cozinhar arroz e frutos do mar e alcançar a perfeição. Um milagre calórico. Razão mais que suficiente pra acabar com a dieta no mesmo instante. Só o perfume já valeria os 10km de esteira equivalentes.

No jantar, uma única criança estava presente. Uma menina de nove anos. Ela, naturalmente alegre, como a maioria dos que ainda estão inaugurando quase tudo, comia despreocupada.
Começou com uma tia que a puxou para o cantinho e começou a sabatina para o “bem”dela.

- Você precisa emagrecer agora, antes dos dez anos é mais fácil! Depois fica cada vez mais difícil. A tia fala isso pra te ajudar.

A menina, silenciosa, baixa os olhos, segue adiante.

Na mesa, pede uma coca normal. Mas não tinha normal, só light ou zero, enfim. Alguém retruca:

- Mas você de açúcar não precisa mais nem um pouco! Tá bom de açúcar já!

O comentário não se referia à doçura do caráter dela.

Fui teletransportada aos meus dez anos, a minha cintura quadrada e à cara bolachuda. Junto, saiu do baú a sensação contínua de vergonha de meu corpo. Minha mãe insistia que eu “guardava nozes para o inverno”. Eu não entendia. Só sofria vendo que, de magricela ágil, eu tinha passado a ser um peso de papéis. Pensava que era uma maldição. Parecia que tinha batido o anel com um super irmão gêmeo e gritado: em forma de barril! Em forma de bola de gude! Em forma de câmara de pneu de caminhão!

Na época eu nada sabia sobre o estirão do adolescente, não imaginava que a menstruação significava tanto para a forma física. Se eu imaginasse que a menarca ia salvar meu corpo daquele cubo vexatório, estaria bem mais tranquila.

Mas meus irmãos providenciavam o pânico diariamente. Aproveitavam a fragilidade dos meus ouvidos e ferviam com altíssima criatividade ofensas, impropérios, xingamentos e desqualificações variadíssimas. Lavavam a baia, como se diz.

Eu chorava e me sentia horrível.

Aos vinte e poucos anos tive anorexia, até hoje tenho ranhuras pra aceitar que sou bonita. Sou bonita?

Não é uma queixa total, fiz um bom uso da minha suposta feiúra, acabei sendo inteligente e meio nerd. Depois da guerra fraterna, bulling na escola era fichinha. Tem suas vantagens.

Não proponho que se poupem as crianças dos embates sociais, das ofensas nas ruas, dos constrangimentos públicos. Proponho é o fim do bulling da magreza dentro de casa. É a fase de aprender a ter um corpor e a gostar dele.

Deixa a criança comer em paz.


Ouça a Crônica Falada que foi ao ar na Itapema FM
(arraste aos 30´20´´ do programa)



Porque o tema deu muita repercussão, decidimos, eu e a Katia, repetir a dose na TV
Assista a essa Crônica na TVCOM, Programa Camarote:

Bullying da Magreza

Velazquez, "As Meninas".

Sábado estive em um magnífico jantar de aniversário. A melhor paella da minha vida. Tudo soberbo, no ponto, incrível. Realmente admirável como é possível cozinhar arroz e frutos do mar e alcançar a perfeição. Um milagre calórico. Razão mais que suficiente pra acabar com a dieta no mesmo instante. Só o perfume já valeria os 10km de esteira equivalentes.

No jantar, uma única criança estava presente. Uma menina de nove anos. Ela, naturalmente alegre, como a maioria dos que ainda estão inaugurando quase tudo, comia despreocupada.
Começou com uma tia que a puxou para o cantinho e começou a sabatina para o “bem”dela.

- Você precisa emagrecer agora, antes dos dez anos é mais fácil! Depois fica cada vez mais difícil. A tia fala isso pra te ajudar.

A menina, silenciosa, baixa os olhos, segue adiante.

Na mesa, pede uma coca normal. Mas não tinha normal, só light ou zero, enfim. Alguém retruca:

- Mas você de açúcar não precisa mais nem um pouco! Tá bom de açúcar já!

O comentário não se referia à doçura do caráter dela.

Fui teletransportada aos meus dez anos, a minha cintura quadrada e à cara bolachuda. Junto, saiu do baú a sensação contínua de vergonha de meu corpo. Minha mãe insistia que eu “guardava nozes para o inverno”. Eu não entendia. Só sofria vendo que, de magricela ágil, eu tinha passado a ser um peso de papéis. Pensava que era uma maldição. Parecia que tinha batido o anel com um super irmão gêmeo e gritado: em forma de barril! Em forma de bola de gude! Em forma de câmara de pneu de caminhão!

Na época eu nada sabia sobre o estirão do adolescente, não imaginava que a menstruação significava tanto para a forma física. Se eu imaginasse que a menarca ia salvar meu corpo daquele cubo vexatório, estaria bem mais tranquila.

Mas meus irmãos providenciavam o pânico diariamente. Aproveitavam a fragilidade dos meus ouvidos e ferviam com altíssima criatividade ofensas, impropérios, xingamentos e desqualificações variadíssimas. Lavavam a baia, como se diz.

Eu chorava e me sentia horrível.

Aos vinte e poucos anos tive anorexia, até hoje tenho ranhuras pra aceitar que sou bonita. Sou bonita?

Não é uma queixa total, fiz um bom uso da minha suposta feiúra, acabei sendo inteligente e meio nerd. Depois da guerra fraterna, bulling na escola era fichinha. Tem suas vantagens.

Não proponho que se poupem as crianças dos embates sociais, das ofensas nas ruas, dos constrangimentos públicos. Proponho é o fim do bulling da magreza dentro de casa. É a fase de aprender a ter um corpor e a gostar dele.

Deixa a criança comer em paz.


Ouça a Crônica Falada que foi ao ar na Itapema FM
(arraste aos 30´20´´ do programa)



Porque o tema deu muita repercussão, decidimos, eu e a Katia, repetir a dose na TV
Assista a essa Crônica na TVCOM, Programa Camarote:

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Homem Perdigueiro

EPITÁFIO
Imperava sobre os sentidos.



Toda a vida tratei de ser mulher independente, moderna, destemida.

Em casa, o pai oferecia espaço na cozinha e na área de serviço; eu exigia aulas de espanhol. A mãe me inscrevia para cursos de modelo e manequim; eu queria dirigir motos, ter carrinhos com controle remoto, sair em viagens com a escola, jogar basquetebol. Eu venho de uma casa machista, onde valia mais o “o”. As calças eram do homem.

Minha alternativa foi querer ser melhor que ELES no campo inimigo, assim quem sabe, passaria a valer alguma coisa. Psicanalistas chamam de inveja do pênis. A mim pouco me toca o nome que dão, foi a melhor coisa que pude fazer.

Depois da análise e da vida, nada disso importava mais, queria mesmo era ser feliz no amor.

Trabalhei muito o ciúme: treinei os modos com ele. Tornei-me educada, polida, fina, quando enciumada. Não acho que tenho o direito de espremer a vítima com minhas suspeitas. Aguento no osso.

Eu me disciplinei a não telefonar perseguindo, a não mexer em gavetas, emails e carteira alheias, a não exigir que me ligue, que me escreva, que me dê atenção. Sempre fui de deixar quieto. Óbvio que falhava de vez em quando, mas tentava meu melhor. Aprendi a cuidar do que precisava. Se o outro compunha comigo era lucro.

Nunca acreditei em rédea curta.

Eu vinha felizmente arrogante com minha competência em ter e dar liberdade.

Quando comecei a namorar o Bitols, isso mudou. Primeiro, ele veio com uma proposta de sermos dependentes um do outro:

- Quê?

- Claro, olha que lindo se tu me ligasse durante toda a tarde e fosse me contando as tuas coisas. Sem essa de guardar tudo pro jantar! Ainda vou te transformar numa perdigueira.

No início, foi muito estressante. Às três da tarde recebia torpedos enfurecidos cobrando porque é que não tinha dado notícias desde o almoço, afinal, toda a tarde já tinha passado.

Toda a tarde?

- Mas Bitols, eu tava atendendo.

- Não consegue mandar um torpedinho? É assim que tu cuida de mim? Ainda vou te transformar numa perdigueira.

O homem era um vesúvio.

- Esqueceu o celular em casa? O quê?! Mas tu não pensa em mim de manhã? Não pensa que ia ficar sem falar comigo?

- Mas Bitols, eu saí correndo atrasada...

- É assim que cuida do nosso amor? Ainda vou te transformar numa perdigueira.

Tudo para mim era novidade. E eu que me achava na medida certa do equilíbrio? Como admitir minha aspereza e falta de romantismo? Juro que acreditava que indiferença era modernidade. Difícil entender o que ele queria. Foi quando Bitols fez um texto: quero uma mulher perdigueira.

Quero uma mulher perdigueira, possessiva, que me ligue a cada quinze minutos para contar de uma ideia ou de uma nova invenção para salvar as finanças, quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu. Que seja escandalosa na briga e me amaldiçoe se abandoná-la. Que faça trabalhos em terreiro para me assustar e me banhe de noite com o sal grosso de sua nudez. Que feche meu corpo quando sair de casa, que descosture meu corpo quando voltar. Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar. Que peça desculpa depois do desespero e me beije chorando.
(...)
Quero uma mulher que esqueça o nome de seu pai e de sua mãe para nascer em meus olhos. Em todo momento. A toda hora. Incansavelmente. E que eu esteja apaixonado para nunca desmerecê-la, que esteja apaixonado para não diminuí-la aos amigos.

Afinal, caiu a ficha. Achei até justo, mas impossível pra mim.

Venho me esforçando para aumentar a superfície de contato ao longo do dia e ele, para diminuir a urgência.

Com o tempo, sabemos mais um do outro. Ficou mais fácil ao perceber que ele não escolhia ansiar tanto; era da natureza dele tanto quanto era da minha a estranheza e a solidão.

Na infância do Bitols, apenas o feminino tinha valor: homem não prestava, homem abandonava, partia sem olhar para trás.

Corremos mundos opostos em direção ao centro. Nos achamos na praça para brincar de gangorra.

De março do ano passado, quando fez a crônica, para junho deste ano, muita coisa mudou. O lançamento do seu novo livro de crônicas, Mulher Perdigueira, está acontecendo.

Essa semana, amigos me disseram que não sabiam que eu era tão ciumenta. Tinham lido crônicas do Fabrício supostamente feitas sobre mim.

- Quem diria, hein? Cínthya, uma mulher perdigueira! Como tu engana bem...

Adianta gritar que "É LITERATURA! Ele inventa coisas!" Adianta?
Uh! Que ódio! Todo mundo pensa que sou EU a mulher perdigueira! Justo eu?
Não posso acusá-lo de não ter me avisado.
Mas posso usar a asma e matar o bastardo sufocado (de tanto amor).


AUTÓGRAFOS DE MULHER PERDIGUEIRA

4/6 (sexta), 19h30 - Rio de Janeiro (RJ)
Debate com a cantora Ana Carolina
Sessão de autógrafos do livro de crônicas
Mulher Perdigueira (Bertrand Brasil, 336 páginas)

Livraria Argumento
(Rua Dias Ferreira, 417)
21 2239-5294
_________________________________
7/6 (segunda), 19h30 - Porto Alegre (RS)

Debate "O AMOR É SIMPLES",
com Martha Medeiros e José Pedro Goulart
Sessão de autógrafos do livro de crônicas
Mulher Perdigueira (Bertrand Brasil, 336 páginas)

Livraria Cultura
Bourbon Shopping Country
(Av. Túlio de Rose, 80 - Loja 302)
51 3028-4033

sábado, 22 de maio de 2010

Eu Não Entendo


Eu Não Entendo
Diz que fez a coisa certa/ quando não quis ficar/ Eu, que entendo de escolhas? Nada./ Diz que se partiu por dentro/ quando não quis ficar/ Eu, que entendo de novela? nada./ Eu não entendo/ eu não entendo/ não justifica/ não tem retorno/ não se explica/ não tem consolo/ eu não entendo/ eu não entendo/ eu não esqueço/ não tem socorro/ eu não consigo/ não te perdoo/ eu não entendo/ Sabe de cor cada hora/ do que a gente passou/ eu, que entendo de escola? nada./ Diz que foi muita coragem/ quando não quis ficar/ eu, que entendo de covardes? nada./Eu não entendo/ eu não entendo/ não justifica/ não tem retorno/ não se explica/ não tem consolo/ eu não entendo/ eu não entendo/ eu não esqueço/ não tem socorro/ eu não consigo/ não te perdoo/ eu não entendo.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Mãe Pródiga


Éramos três crianças proibidas de usar a sala de visitas. Se bem que ninguém usava a sala de visitas. Onde os pais escondiam os presentes de natal.

A faxineira começava a limpeza por lá, para garantir logo. O resto era lucro.

O aposento ficava na parte solene, na entrada, era a porta à esquerda no hall. Sofás contornavam as paredes, esculturas descansavam longe das boladas, o tapete mais nobre aquecia o piso, as cortinas imitavam as santas da igreja.

Em frente, estava a sala de TV. A sala de TV estava para a sala de visita como o inferno está para o paraíso. No inferno a gente pode mexer. O paraíso a gente só imagina.

Uma marca digital nas mesas envidraçadas e a mãe já encaminhava a prova para investigação. Não se ia ao porão porque era sujo, não se ia para a saleta porque era limpa demais. As crianças surgiam como parasitas da decoração.

A sala de visita é a casa como deveria ser e não é. O delírio de grandeza do lar. A aspiração platônica da residência. É o sonho de hotel dentro de casa. Lembro que a empregada somente colocava avental para entrar em seu domínio - virava governanta no ato.

O espaço mantém a ilusão de que casa boa é casa intacta; ou ainda, a casa seria boa se pessoas não a habitassem. As pessoas estragam ao inventar de existir.

O problema da sala de visitas é que queremos o mesmo para o que somos: queríamos antes ser como a sala de visita: sem pensamentos que não comandamos, sem raiva, sem inveja. Queríamos ser como espelhos sem poeira, estantes com livros vazios.

Achamos por princípio que a falta de pose não pode ser mostrada, permanecer à vontade é faltar com educação. Daremos motivos à difamação caso não tenhamos postura ereta, almofadas hindus e tapetes persas.

E mais: já que não somos como a sala de visita, então proibimos sua frequência. A paranóia é o disfarce da vergonha.

Fui visitar minha mãe. Ela me convidou para sentar na sala de visita. Não é que ela não me enxerga mais como filha. Queria esnobar, provar o quanto minha vida seria diferente se fosse organizada.

______________________________________________________________
Confira esta Crônica Falada na rádio Itapema FM:
(arraste a rolagem para os 28min do programa TalkRadio)
Apresentação Katia Suman (@katiasuman).

Mãe Pródiga


Éramos três crianças proibidas de usar a sala de visitas. Se bem que ninguém usava a sala de visitas. Onde os pais escondiam os presentes de natal.

A faxineira começava a limpeza por lá, para garantir logo. O resto era lucro.

O aposento ficava na parte solene, na entrada, era a porta à esquerda no hall. Sofás contornavam as paredes, esculturas descansavam longe das boladas, o tapete mais nobre aquecia o piso, as cortinas imitavam as santas da igreja.

Em frente, estava a sala de TV. A sala de TV estava para a sala de visita como o inferno está para o paraíso. No inferno a gente pode mexer. O paraíso a gente só imagina.

Uma marca digital nas mesas envidraçadas e a mãe já encaminhava a prova para investigação. Não se ia ao porão porque era sujo, não se ia para a saleta porque era limpa demais. As crianças surgiam como parasitas da decoração.

A sala de visita é a casa como deveria ser e não é. O delírio de grandeza do lar. A aspiração platônica da residência. É o sonho de hotel dentro de casa. Lembro que a empregada somente colocava avental para entrar em seu domínio - virava governanta no ato.

O espaço mantém a ilusão de que casa boa é casa intacta; ou ainda, a casa seria boa se pessoas não a habitassem. As pessoas estragam ao inventar de existir.

O problema da sala de visitas é que queremos o mesmo para o que somos: queríamos antes ser como a sala de visita: sem pensamentos que não comandamos, sem raiva, sem inveja. Queríamos ser como espelhos sem poeira, estantes com livros vazios.

Achamos por princípio que a falta de pose não pode ser mostrada, permanecer à vontade é faltar com educação. Daremos motivos à difamação caso não tenhamos postura ereta, almofadas hindus e tapetes persas.

E mais: já que não somos como a sala de visita, então proibimos sua frequência. A paranóia é o disfarce da vergonha.

Fui visitar minha mãe. Ela me convidou para sentar na sala de visita. Não é que ela não me enxerga mais como filha. Queria esnobar, provar o quanto minha vida seria diferente se fosse organizada.

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Confira esta Crônica Falada na rádio Itapema FM:
(arraste a rolagem para os 28min do programa TalkRadio)
Apresentação Katia Suman (@katiasuman).

Olha a gente aí no Galera de Atitude - TVE

Eu e o Fabrício no programa da TVE Galera de Atitude falando sobre relacionamento.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Crônica Falada: Chatroulette [19.05.2010]


Olha eu no Chatroulette

O moço Andrey Ternovskiy criou o Chatroulette (www.chatroulette.com)que é, conforme a Wikipedia, "um site onde duplas de desconhecidos interagem tendo como base principal a webcam. Dois usuários comunicam-se por um chat de conversa online (podendo usar o vídeo, áudio e textos). A qualquer momento, um dos dois usuários poderá trocar de pessoa com quem está interagindo, iniciando nova comunicação com outro usuário de forma aleatória".


Tive uma experiência vespertina, a foto acima mostra o Chatroulette Map no horário da minha conexão. Levei a média de 15s até carregar o próximo usuário, o que encontrei foi o seguinte:

2 garotos com óculos espelhados;
1 homem nu se masturbando me escreve: "hi";
1 homem se masturbando;
1 homem barrigudo semi nu pede para eu não sair por favor;
1 jovem sentado com aparência saudável, olhos castanhos: não disse nada;
1 jovem sentado com aparência saudável e olhos azuis: não disse nada;
tela negra
1 foto de uma mulher fazendo sexo oral e o endereço de um site: www.womenofchatroulette.com;
1 bermuda azul com flores;
tela negra;
2 meninas jovens que me deram skip imediato;
a sala de uma casa no escuro;
1 jovem que parece o Ewan Mcgregor diz: "hi". Imóvel
1 gato (de verdade) olhando a câmera;
1 mulher com um cartaz dizendo “making friends”;
1 rapaz com óculos escuros;
tela negra;
1 garoto entediado com a mão no queixo;
2 meninas de uniforme escolar;
1 senhor batata com uma frase passando e dizendo: "olá garotas me mostrem seu corpo";
1 jovem de gravata no trabalho diz "hi", com badeirinha da argentina no casaco;
1 jovem sentado em cadeira no escuro diz: "hey sweetye";
fotos de mulheres nuas randomicamente;
1 bolsa escrotal depilada;
1 homem se masturbando;
1 menino sentado;
2 meninos deitados de bruços;
câmera tapada com pano branco;
câmera tapada e voz masculina dizendo: "hello? Can u hear me?";
Rapaz tocando guitarra;
Menino sentado – diz "hey yo"; e
Homem tapando parcialmente a camera com a mão.

A experiência durou, mais ou menos, dez minutos. Achei divertidíssimo o voyeurismo assumido e permitido. Preocupei-me com as crianças que vi online.

Lembro o Mário Corso que diz: "a criança no quarto, usando o computador, não está em casa: está na rua".

É bom que se tenha atenção e liberdade para que as coisas sejam conversadas.
Com cuidado, tudo fica melhor.

Confira a Crônica Falada:

Crônica Falada: Chatroulette [19.05.2010]


Olha eu no Chatroulette

O moço Andrey Ternovskiy criou o Chatroulette (www.chatroulette.com)que é, conforme a Wikipedia, "um site onde duplas de desconhecidos interagem tendo como base principal a webcam. Dois usuários comunicam-se por um chat de conversa online (podendo usar o vídeo, áudio e textos). A qualquer momento, um dos dois usuários poderá trocar de pessoa com quem está interagindo, iniciando nova comunicação com outro usuário de forma aleatória".


Tive uma experiência vespertina, a foto acima mostra o Chatroulette Map no horário da minha conexão. Levei a média de 15s até carregar o próximo usuário, o que encontrei foi o seguinte:

2 garotos com óculos espelhados;
1 homem nu se masturbando me escreve: "hi";
1 homem se masturbando;
1 homem barrigudo semi nu pede para eu não sair por favor;
1 jovem sentado com aparência saudável, olhos castanhos: não disse nada;
1 jovem sentado com aparência saudável e olhos azuis: não disse nada;
tela negra
1 foto de uma mulher fazendo sexo oral e o endereço de um site: www.womenofchatroulette.com;
1 bermuda azul com flores;
tela negra;
2 meninas jovens que me deram skip imediato;
a sala de uma casa no escuro;
1 jovem que parece o Ewan Mcgregor diz: "hi". Imóvel
1 gato (de verdade) olhando a câmera;
1 mulher com um cartaz dizendo “making friends”;
1 rapaz com óculos escuros;
tela negra;
1 garoto entediado com a mão no queixo;
2 meninas de uniforme escolar;
1 senhor batata com uma frase passando e dizendo: "olá garotas me mostrem seu corpo";
1 jovem de gravata no trabalho diz "hi", com badeirinha da argentina no casaco;
1 jovem sentado em cadeira no escuro diz: "hey sweetye";
fotos de mulheres nuas randomicamente;
1 bolsa escrotal depilada;
1 homem se masturbando;
1 menino sentado;
2 meninos deitados de bruços;
câmera tapada com pano branco;
câmera tapada e voz masculina dizendo: "hello? Can u hear me?";
Rapaz tocando guitarra;
Menino sentado – diz "hey yo"; e
Homem tapando parcialmente a camera com a mão.

A experiência durou, mais ou menos, dez minutos. Achei divertidíssimo o voyeurismo assumido e permitido. Preocupei-me com as crianças que vi online.

Lembro o Mário Corso que diz: "a criança no quarto, usando o computador, não está em casa: está na rua".

É bom que se tenha atenção e liberdade para que as coisas sejam conversadas.
Com cuidado, tudo fica melhor.

Confira a Crônica Falada:

Crônica Falada: Chatroulette [19.05.2010]


Olha eu no Chatroulette

O moço Andrey Ternovskiy criou o Chatroulette (www.chatroulette.com)que é, conforme a Wikipedia, "um site onde duplas de desconhecidos interagem tendo como base principal a webcam. Dois usuários comunicam-se por um chat de conversa online (podendo usar o vídeo, áudio e textos). A qualquer momento, um dos dois usuários poderá trocar de pessoa com quem está interagindo, iniciando nova comunicação com outro usuário de forma aleatória".


Tive uma experiência vespertina, a foto acima mostra o Chatroulette Map no horário da minha conexão. Levei a média de 15s até carregar o próximo usuário, o que encontrei foi o seguinte:

2 garotos com óculos espelhados;
1 homem nu se masturbando me escreve: "hi";
1 homem se masturbando;
1 homem barrigudo semi nu pede para eu não sair por favor;
1 jovem sentado com aparência saudável, olhos castanhos: não disse nada;
1 jovem sentado com aparência saudável e olhos azuis: não disse nada;
tela negra
1 foto de uma mulher fazendo sexo oral e o endereço de um site: www.womenofchatroulette.com;
1 bermuda azul com flores;
tela negra;
2 meninas jovens que me deram skip imediato;
a sala de uma casa no escuro;
1 jovem que parece o Ewan Mcgregor diz: "hi". Imóvel
1 gato (de verdade) olhando a câmera;
1 mulher com um cartaz dizendo “making friends”;
1 rapaz com óculos escuros;
tela negra;
1 garoto entediado com a mão no queixo;
2 meninas de uniforme escolar;
1 senhor batata com uma frase passando e dizendo: "olá garotas me mostrem seu corpo";
1 jovem de gravata no trabalho diz "hi", com badeirinha da argentina no casaco;
1 jovem sentado em cadeira no escuro diz: "hey sweetye";
fotos de mulheres nuas randomicamente;
1 bolsa escrotal depilada;
1 homem se masturbando;
1 menino sentado;
2 meninos deitados de bruços;
câmera tapada com pano branco;
câmera tapada e voz masculina dizendo: "hello? Can u hear me?";
Rapaz tocando guitarra;
Menino sentado – diz "hey yo"; e
Homem tapando parcialmente a camera com a mão.

A experiência durou, mais ou menos, dez minutos. Achei divertidíssimo o voyeurismo assumido e permitido. Preocupei-me com as crianças que vi online.

Lembro o Mário Corso que diz: "a criança no quarto, usando o computador, não está em casa: está na rua".

É bom que se tenha atenção e liberdade para que as coisas sejam conversadas.
Com cuidado, tudo fica melhor.

Confira a Crônica Falada:

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Talk Radio: Crônica Falada da Sala de Visitas

Confira a Crônica Falada sobre a Sala de Visita em nossas vidas.
(aos 28min)
Apresentação Katia Suman (@katiasuman).



Quer Ler?
Veja a original aqui.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Massa de dois: a mãe e o bebê. - Crônica Falada [12.05.2010]


Arthur, no banho.

Somos as famosas melhores amigas. Aquelas do pai xingar a demora ao telefone e de até suspeitar que fôssemos namoradas. Melhores amigas de se ver assim que desse, sempre que desse; de dormir uma na casa da outra; de contar tudo, tudo mesmo. Temos segredos partilhados e até segredos pela metade.

Adivinhávamos uma à outra e já queríamos saber das coisas e das gentes. Decorávamos horóscopos, lâminas de Tarot e agilizávamos a matemática da numerologia. Estávamos previstas. Éramos bruxas em irmandade e ritual. Éramos gêmeas absolutamente distintas. Nunca nos parecemos.

Tivemos nossas loucuras e brigas, porque amizade precisa passar por dentro da noite para amanhecer.

Pertencemos uma à outra na mesma vaga: sócias remidas. Temos o registro permanente de sermos da vida inteira.

Quando conheci o marido dela, sabia que seria o marido dela. Apresentei. Casaram. Fui eu quem rezou a cerimônia. Mais homenagem que isso nenhuma melhor amiga aguenta. Achei que ia morrer sacerdotisa.

Quando a Mírian engravidou, foi engraçado. Porque ela sempre disse que não queria ter filhos.
- Eca! Imagina se mexendo por dentro da barriga!

A gente ria. Eu argumentava o contrário:
- Eu quero ter uns três!

Ela achava a perspectiva pavorosa.
- Bah, não teria coragem.

Hoje eu não tenho vontade de ter filhos. Ela ganhou o Arthur.
O Arthur é filho dela com o André.

- Como que ele pode ser tão lindo?
- Que retórica.
- É uma emoção, guria. Tu não imagina. E a gente não consegue parar de olhar pra ele.
- Vai dar quebranto no guri.
- É como se a nossa vida fosse seguindo carreira, como se outro capítulo aparecesse de repente. O Arthur parece que já estava escrito para nós.
- Não exagera!
- Voltamos a acreditar nos astros e nos números. O sorriso dele parece um destino.

- Tá. E agora, Miroca, tu está amamentando?
- Ai, eu sim, guria. Tenho leite que sobrou para doação. O pessoal do banco vem buscar amanhã.

Bem coisa da Mica, mesmo. Eu jamais seria filantrópica com leite. Mania de ser messias. Agora é messias do Arthur também.

- E o parto, Mica?

- O Arthur não encaixava para nascer. É que eu fazia massagem nas costas dele todas às noites, antes de dormir. A barriga estava em “s” e pesava. A bolsa rompeu e nada do Arthur.

- Também! Com aquele carinho bom, quando ele iria querer abandonar a posição?

- Bah e tu não vai acreditar: assim que saiu, eu fiz o carinho nas costas igual que quando na barriga. Os olhinhos dele aprofundaram o foco e entraram direto em mim. Eles me reconheceram.

Crônica Falada no Programa Camarote TVCOM:






Confira a programação da

XI SEMANA DO BEBÊ
Canela, RS
www.semanadobebe.com.br

Massa de dois: a mãe e o bebê. - Crônica Falada [12.05.2010]


Arthur, no banho.

Somos as famosas melhores amigas. Aquelas do pai xingar a demora ao telefone e de até suspeitar que fôssemos namoradas. Melhores amigas de se ver assim que desse, sempre que desse; de dormir uma na casa da outra; de contar tudo, tudo mesmo. Temos segredos partilhados e até segredos pela metade.

Adivinhávamos uma à outra e já queríamos saber das coisas e das gentes. Decorávamos horóscopos, lâminas de Tarot e agilizávamos a matemática da numerologia. Estávamos previstas. Éramos bruxas em irmandade e ritual. Éramos gêmeas absolutamente distintas. Nunca nos parecemos.

Tivemos nossas loucuras e brigas, porque amizade precisa passar por dentro da noite para amanhecer.

Pertencemos uma à outra na mesma vaga: sócias remidas. Temos o registro permanente de sermos da vida inteira.

Quando conheci o marido dela, sabia que seria o marido dela. Apresentei. Casaram. Fui eu quem rezou a cerimônia. Mais homenagem que isso nenhuma melhor amiga aguenta. Achei que ia morrer sacerdotisa.

Quando a Mírian engravidou, foi engraçado. Porque ela sempre disse que não queria ter filhos.
- Eca! Imagina se mexendo por dentro da barriga!

A gente ria. Eu argumentava o contrário:
- Eu quero ter uns três!

Ela achava a perspectiva pavorosa.
- Bah, não teria coragem.

Hoje eu não tenho vontade de ter filhos. Ela ganhou o Arthur.
O Arthur é filho dela com o André.

- Como que ele pode ser tão lindo?
- Que retórica.
- É uma emoção, guria. Tu não imagina. E a gente não consegue parar de olhar pra ele.
- Vai dar quebranto no guri.
- É como se a nossa vida fosse seguindo carreira, como se outro capítulo aparecesse de repente. O Arthur parece que já estava escrito para nós.
- Não exagera!
- Voltamos a acreditar nos astros e nos números. O sorriso dele parece um destino.

- Tá. E agora, Miroca, tu está amamentando?
- Ai, eu sim, guria. Tenho leite que sobrou para doação. O pessoal do banco vem buscar amanhã.

Bem coisa da Mica, mesmo. Eu jamais seria filantrópica com leite. Mania de ser messias. Agora é messias do Arthur também.

- E o parto, Mica?

- O Arthur não encaixava para nascer. É que eu fazia massagem nas costas dele todas às noites, antes de dormir. A barriga estava em “s” e pesava. A bolsa rompeu e nada do Arthur.

- Também! Com aquele carinho bom, quando ele iria querer abandonar a posição?

- Bah e tu não vai acreditar: assim que saiu, eu fiz o carinho nas costas igual que quando na barriga. Os olhinhos dele aprofundaram o foco e entraram direto em mim. Eles me reconheceram.

Crônica Falada no Programa Camarote TVCOM:






Confira a programação da

XI SEMANA DO BEBÊ
Canela, RS
www.semanadobebe.com.br

Massa de dois: a mãe e o bebê. - Crônica Falada [12.05.2010]


Arthur, no banho.

Somos as famosas melhores amigas. Aquelas do pai xingar a demora ao telefone e de até suspeitar que fôssemos namoradas. Melhores amigas de se ver assim que desse, sempre que desse; de dormir uma na casa da outra; de contar tudo, tudo mesmo. Temos segredos partilhados e até segredos pela metade.

Adivinhávamos uma à outra e já queríamos saber das coisas e das gentes. Decorávamos horóscopos, lâminas de Tarot e agilizávamos a matemática da numerologia. Estávamos previstas. Éramos bruxas em irmandade e ritual. Éramos gêmeas absolutamente distintas. Nunca nos parecemos.

Tivemos nossas loucuras e brigas, porque amizade precisa passar por dentro da noite para amanhecer.

Pertencemos uma à outra na mesma vaga: sócias remidas. Temos o registro permanente de sermos da vida inteira.

Quando conheci o marido dela, sabia que seria o marido dela. Apresentei. Casaram. Fui eu quem rezou a cerimônia. Mais homenagem que isso nenhuma melhor amiga aguenta. Achei que ia morrer sacerdotisa.

Quando a Mírian engravidou, foi engraçado. Porque ela sempre disse que não queria ter filhos.
- Eca! Imagina se mexendo por dentro da barriga!

A gente ria. Eu argumentava o contrário:
- Eu quero ter uns três!

Ela achava a perspectiva pavorosa.
- Bah, não teria coragem.

Hoje eu não tenho vontade de ter filhos. Ela ganhou o Arthur.
O Arthur é filho dela com o André.

- Como que ele pode ser tão lindo?
- Que retórica.
- É uma emoção, guria. Tu não imagina. E a gente não consegue parar de olhar pra ele.
- Vai dar quebranto no guri.
- É como se a nossa vida fosse seguindo carreira, como se outro capítulo aparecesse de repente. O Arthur parece que já estava escrito para nós.
- Não exagera!
- Voltamos a acreditar nos astros e nos números. O sorriso dele parece um destino.

- Tá. E agora, Miroca, tu está amamentando?
- Ai, eu sim, guria. Tenho leite que sobrou para doação. O pessoal do banco vem buscar amanhã.

Bem coisa da Mica, mesmo. Eu jamais seria filantrópica com leite. Mania de ser messias. Agora é messias do Arthur também.

- E o parto, Mica?

- O Arthur não encaixava para nascer. É que eu fazia massagem nas costas dele todas às noites, antes de dormir. A barriga estava em “s” e pesava. A bolsa rompeu e nada do Arthur.

- Também! Com aquele carinho bom, quando ele iria querer abandonar a posição?

- Bah e tu não vai acreditar: assim que saiu, eu fiz o carinho nas costas igual que quando na barriga. Os olhinhos dele aprofundaram o foco e entraram direto em mim. Eles me reconheceram.

Crônica Falada no Programa Camarote TVCOM:






Confira a programação da

XI SEMANA DO BEBÊ
Canela, RS
www.semanadobebe.com.br

terça-feira, 11 de maio de 2010

Crônica Falada no Talk Radio [11.05.2010]

Confira aqui a Crônica Falada sobre a pseudofutilidade feminina.
Apresentação: Katia Suman (@katiasuman).
Crônica de Cínthya Verri (@cinthyaverri) no Talk Radio, todas às terças, ao meio-dia.

Aos 31 minutos de programa, ouça a crônica falada:
arraste a rolagem e clique duas vezes.

Crônica Falada no Talk Radio [11.05.2010]

Confira aqui a Crônica Falada sobre a pseudofutilidade feminina.
Apresentação: Katia Suman (@katiasuman).
Crônica de Cínthya Verri (@cinthyaverri) no Talk Radio, todas às terças, ao meio-dia.

Aos 31 minutos de programa, ouça a crônica falada:
arraste a rolagem e clique duas vezes.

Crônica Falada no Talk Radio 11.05.2010

Confira aqui a Crônica Falada sobre a pseudofutilidade feminina.
Apresentação: Katia Suman (@katiasuman).
Crônica de Cínthya Verri (@cinthyaverri) no Talk Radio, todas às terças, ao meio-dia.

Aos 31 minutos de programa, ouça a crônica falada:
arraste a rolagem e clique duas vezes.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O Caso do Gato


Miou toda a manhã todinha
Miou como se piasse
Enfiado na minha cabeça

À tarde na calçada
Houve um só silêncio

O cachorro veio,
E se debruçou
Sobre a presa
E não fez nada.

À noite ele voltou
acompanhado.

Não sabia que cães premeditavam.

O Caso do Gato


Miou toda a manhã todinha
Miou como se piasse
Enfiado na minha cabeça

À tarde na calçada
Houve um só silêncio

O cachorro veio,
E se debruçou
Sobre a presa
E não fez nada.

À noite ele voltou
acompanhado.

Não sabia que cães premeditavam.

Tudo menos fútil. [Crônica Falada - 05.05.2010]

Já falei que minha família é masculina? Óbvio que “masculina” é um disfarce para machismo. O que tinha mais inveja dos meus dois irmãos não era poder mijar em qualquer canto, mas dos intermináveis álbuns de figurinhas. A casa vivia cheia para os guris. O pai comprava pacotinhos, os amigos disputavam os saldos, havia até o divertido jogo do bafo. Eu era obrigada a ficar sozinha colecionando papel de carta. Porque menina colecionava papel de carta. Meu passatempo não tinha objetivo. Nunca completaria a coleção e parecia, agora vejo, uma cilada romântica: aguardar alguém com quem merecesse gastá-la.

Os meninos são convidados a explorar gentes e mundos. O álbum da Copa, por exemplo, é uma tradição entre machos de qualquer idade. As figurinhas emolduram homens que jogam bola, homens como eles. São fotografias adesivas. Qualquer um poderia estar lá. O álbum de figurinhas pretende ser o antecessor do passaporte.

Papéis de carta não inspiram ninguém à briga. Pacificam o ânimo como chá de camomila às três da tarde. É incentivo para a domesticação fofa e cor-de-rosa da Hello Kitty: uma graciosa gatinha muda.

A mulher é conhecida como fútil. A mulher é tudo menos fútil.

Até na frivolidade a mulher quer a importância, almeja a maturidade: escolhe como hobby as roupas, os acessórios decorativos e as miudezas. Tudo isso serve também para enfeitar, para seduzir. Cada ato carrega duplo sentido e serventia.

A mulher desiste fácil da fantasia. Na verdade, descobre que nunca brincou: treinava para quando crescesse. Sai do faz-de-conta e passa direto a dar conta dos filhos, do marido, da casa, do trabalho.

A mulher, nas horas vagas, é mãe ou dona de casa.

O homem usa a infânica por toda a vida. Nas horas vagas, a maioria deixa de lado a sobriedade e parte para a brincadeira. O homem desfruta da adega e da caixa de brinquedos. Não perde nada ao virar adulto.

O homem joga bola quando criança, joga bola quando adolescente, joga bola quando adulto e enquanto as articulações permitirem.

Talvez essa seja nossa maior frustração: descobrir que desde o início já éramos adultas: embalávamos as bonecas, montávamos casinhas, brincávamos de maquiagem.

A cultura do fútil é a atitude que mais nos falta: atividades com o corpo que não sejam para emagrecer, comidas boas que não sejam só para fugir da dieta, trabalhos que não sejam essencialmente pelo dinheiro, viagens que não sejam para exibir aos outros, orações que não sejam para causas impossíveis, roupas que não sejam para impressionar, sapatos que não sejam para rebolar mais.

Dei-me o direito à procrastinação. É óbvio que é um disfarce para liberdade. As aventuras da Pucca foram meu primeiro álbum. Fiz no ano passado, aos 29 anos. Não tive com quem trocar figurinhas. Para completar, ofereço meus papéis de carta.

Confira esta Crônica Falada:


Tudo menos fútil. [Crônica Falada - 05.05.2010]

Já falei que minha família é masculina? Óbvio que “masculina” é um disfarce para machismo. O que tinha mais inveja dos meus dois irmãos não era poder mijar em qualquer canto, mas dos intermináveis álbuns de figurinhas. A casa vivia cheia para os guris. O pai comprava pacotinhos, os amigos disputavam os saldos, havia até o divertido jogo do bafo. Eu era obrigada a ficar sozinha colecionando papel de carta. Porque menina colecionava papel de carta. Meu passatempo não tinha objetivo. Nunca completaria a coleção e parecia, agora vejo, uma cilada romântica: aguardar alguém com quem merecesse gastá-la.

Os meninos são convidados a explorar gentes e mundos. O álbum da Copa, por exemplo, é uma tradição entre machos de qualquer idade. As figurinhas emolduram homens que jogam bola, homens como eles. São fotografias adesivas. Qualquer um poderia estar lá. O álbum de figurinhas pretende ser o antecessor do passaporte.

Papéis de carta não inspiram ninguém à briga. Pacificam o ânimo como chá de camomila às três da tarde. É incentivo para a domesticação fofa e cor-de-rosa da Hello Kitty: uma graciosa gatinha muda.

A mulher é conhecida como fútil. A mulher é tudo menos fútil.

Até na frivolidade a mulher quer a importância, almeja a maturidade: escolhe como hobby as roupas, os acessórios decorativos e as miudezas. Tudo isso serve também para enfeitar, para seduzir. Cada ato carrega duplo sentido e serventia.

A mulher desiste fácil da fantasia. Na verdade, descobre que nunca brincou: treinava para quando crescesse. Sai do faz-de-conta e passa direto a dar conta dos filhos, do marido, da casa, do trabalho.

A mulher, nas horas vagas, é mãe ou dona de casa.

O homem usa a infânica por toda a vida. Nas horas vagas, a maioria deixa de lado a sobriedade e parte para a brincadeira. O homem desfruta da adega e da caixa de brinquedos. Não perde nada ao virar adulto.

O homem joga bola quando criança, joga bola quando adolescente, joga bola quando adulto e enquanto as articulações permitirem.

Talvez essa seja nossa maior frustração: descobrir que desde o início já éramos adultas: embalávamos as bonecas, montávamos casinhas, brincávamos de maquiagem.

A cultura do fútil é a atitude que mais nos falta: atividades com o corpo que não sejam para emagrecer, comidas boas que não sejam só para fugir da dieta, trabalhos que não sejam essencialmente pelo dinheiro, viagens que não sejam para exibir aos outros, orações que não sejam para causas impossíveis, roupas que não sejam para impressionar, sapatos que não sejam para rebolar mais.

Dei-me o direito à procrastinação. É óbvio que é um disfarce para liberdade. As aventuras da Pucca foram meu primeiro álbum. Fiz no ano passado, aos 29 anos. Não tive com quem trocar figurinhas. Para completar, ofereço meus papéis de carta.

Confira esta Crônica Falada:


Tudo menos fútil. [Crônica Falada - 05.05.2010]

Já falei que minha família é masculina? Óbvio que “masculina” é um disfarce para machismo. O que tinha mais inveja dos meus dois irmãos não era poder mijar em qualquer canto, mas dos intermináveis álbuns de figurinhas. A casa vivia cheia para os guris. O pai comprava pacotinhos, os amigos disputavam os saldos, havia até o divertido jogo do bafo. Eu era obrigada a ficar sozinha colecionando papel de carta. Porque menina colecionava papel de carta. Meu passatempo não tinha objetivo. Nunca completaria a coleção e parecia, agora vejo, uma cilada romântica: aguardar alguém com quem merecesse gastá-la.

Os meninos são convidados a explorar gentes e mundos. O álbum da Copa, por exemplo, é uma tradição entre machos de qualquer idade. As figurinhas emolduram homens que jogam bola, homens como eles. São fotografias adesivas. Qualquer um poderia estar lá. O álbum de figurinhas pretende ser o antecessor do passaporte.

Papéis de carta não inspiram ninguém à briga. Pacificam o ânimo como chá de camomila às três da tarde. É incentivo para a domesticação fofa e cor-de-rosa da Hello Kitty: uma graciosa gatinha muda.

A mulher é conhecida como fútil. A mulher é tudo menos fútil.

Até na frivolidade a mulher quer a importância, almeja a maturidade: escolhe como hobby as roupas, os acessórios decorativos e as miudezas. Tudo isso serve também para enfeitar, para seduzir. Cada ato carrega duplo sentido e serventia.

A mulher desiste fácil da fantasia. Na verdade, descobre que nunca brincou: treinava para quando crescesse. Sai do faz-de-conta e passa direto a dar conta dos filhos, do marido, da casa, do trabalho.

A mulher, nas horas vagas, é mãe ou dona de casa.

O homem usa a infânica por toda a vida. Nas horas vagas, a maioria deixa de lado a sobriedade e parte para a brincadeira. O homem desfruta da adega e da caixa de brinquedos. Não perde nada ao virar adulto.

O homem joga bola quando criança, joga bola quando adolescente, joga bola quando adulto e enquanto as articulações permitirem.

Talvez essa seja nossa maior frustração: descobrir que desde o início já éramos adultas: embalávamos as bonecas, montávamos casinhas, brincávamos de maquiagem.

A cultura do fútil é a atitude que mais nos falta: atividades com o corpo que não sejam para emagrecer, comidas boas que não sejam só para fugir da dieta, trabalhos que não sejam essencialmente pelo dinheiro, viagens que não sejam para exibir aos outros, orações que não sejam para causas impossíveis, roupas que não sejam para impressionar, sapatos que não sejam para rebolar mais.

Dei-me o direito à procrastinação. É óbvio que é um disfarce para liberdade. As aventuras da Pucca foram meu primeiro álbum. Fiz no ano passado, aos 29 anos. Não tive com quem trocar figurinhas. Para completar, ofereço meus papéis de carta.

Confira esta Crônica Falada:


terça-feira, 4 de maio de 2010

Crônica Falada na Itapema FM

Estreia do quadro Crônica Falada com Cínthya Verri na Itapema Fm, às terças-feiras no
Talk Radio com a Katia Suman, de segunda à sexta, meio-dia à uma.

Ouça a crônica aos 30 minutos:

Crônica Falada na Itapema FM

Estreia do quadro Crônica Falada com Cínthya Verri na Itapema Fm, às terças-feiras no
Talk Radio com a Katia Suman, de segunda à sexta, meio-dia à uma.

Ouça a crônica aos 30 minutos:

Crônica Falada na Itapema FM

Estreia do quadro Crônica Falada com Cínthya Verri na Itapema Fm, às terças-feiras no
Talk Radio com a Katia Suman, de segunda à sexta, meio-dia à uma.

Ouça a crônica aos 30 minutos:

domingo, 2 de maio de 2010

Motor me Poupa

EPITÁFIO
No Amazonas a água é verde e barrenta
e muito mais segura do que a terra.



Bitols é um caixeiro viajante da palavra. É convidado para palestrar em tudo que é lugar: de Cacimbinhas à São Paulo, de Arroio do Sal à Natal. Às vezes eu posso ir junto, fico feliz da vida.

É clichê, eu sei, mas adoro viajar. Fui um bom tanto na vida na época em que o pai sustentava. Mais um pouco no tempo da residência. Botei os pés na Europa e nos Estados Unidos. Cheguei a mais de um território latinoamericano. No país, conheci capitais e fiz considerável montante de kilômetros litorâneos. O melhor foi o ano em que morei na Amazônia.

Cada um tem uma vida paralela silenciosamente desejada, sonhos recolhidos disso ou daquilo. Eu guardo planos secretos de voltar para o Pará.

Antes de namorarmos, já quase não viajava: uma coisinha aqui e ali. Partia principalmente para empreitadas de ser a médica em rallyes, em baterias de motocross, em campeonato de vale-tudo. Portava garbosa macacão escrito SOCORRO ou RESGATE e tudo.

As raízes menos elásticas poderia atribuir ao sacerdócio que adotei na profissão, à nobreza monástica, enfim. Mas não posso culpar a medicina, é muito mais a dificuldade de quem é autônomo no Brasil. Sair à paisana significa perder duas vezes – por não ganhar trabalhando e por gastar no passeio. Cada dia conta.

O mesmo posso dizer de Bitols que nunca vi parar de produzir. É a liberdade do auto-emprego. Não tem milagre.

Certa feita, Bitols foi convidado para ir à Itacoatiara, na Amazônia. Meu coração disparou. Quase esperei que me convidasse. Acabei me atirando mesmo:

- Me leva, Bitols?
- Claro.

Que maravilha! Programei a agenda, cuidei de tudo, seria apenas um fim de semana, perfeito.

Aí começaram os detalhes: saída na madrugada, onze horas de voo em aviões separados porque a produção não arranjou passagem junto. Espera de horas solitárias no aeroporto em Manaus; depois mais 6h sacolejando em ônibus sobre estrada mista de terra e buracos dirigida ao interior do matagal. Resumo: uma indiada.

Mas estávamos juntos, a cidade era uma graça, o festival emocionante de leitura na floresta. As gentes amáveis, alegres, o calor do amazonas de que muito sentia saudade.

A palestra do Bitols foi um estouro. Adoraram. Ele é muito cativante e o discurso é animado, inteligente e bem humorado. É uma performance. Lança mão de recursos inusitados: escreve palavras com o que resta dos cabelos na nuca, pinta as unhas da mão esquerda, usa óculos coloridos com formatos estranhos de taça, de estrela, com luzinha. Adapta ao rosto dos convidados que dividem o palco. Ainda transporta perucas, algumas loiras, outras cor-de-rosa e até uma de crespos fios pink. Joga espuma na audiência que ri como quem goza. Tudo sai de uma sacola tímida carregada por ele. Um sucesso.

Fomos para o hotel, eu me sentindo a primeira-dama. Arrumadíssima, festejada pelos presentes, uma celebridade instantânea. No quarto ríamos felizes, pitadas de euforia por causa do cansaço. Tinha sido uma maratona.

Pela manhã, ajeitamos nossas malas e passamos a reorganizar os pertences da sacola de palestras. Derramei os itens pela cama e fui recolocando: perucas, óculos, latas de spray, um pacote de camisinhas.

- Isso aqui faz parte do teu Kit palestras?
- Mas amor, tá fechada. Tem mil anos aí dentro!
- Aham, sei.

Acho que vou virar caddie de palestrante. Com um macacão escrito LEÃO DE CHÁCARA.

sábado, 1 de maio de 2010

LER - Lesão de Esforço Repetitivo

A equipe da Clínica Verri foi consultada sobre Lesão de Esforço Repetitivo (LER) pelo telejornal Rio grande no Ar.

Confira as dicas do Dr. Anderson Zukowski e da Dra Cínthya Verri:




Programa exibido na TV Record, 30.04.2010.