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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Artificação

O único que posso é artificar
Fazer disso tudo o que puder de mais bonito
Já que tristeza é árvore que florifica se a gente deixar.


Entendia que se matar é um direito que se tem
Entendia que desviver assim era também
Mas a dureza era tanta da escolha alheia
Do outro, com sua vida toda própria (sim, é própria dele)
Que cortava o ar.
O ar cortava, ele também, a pele e o pescoço
E tudo se fechando dentro dela em nós apertados
As tripas deram nó
E agora acreditava até que o útero podia mesmo subir pra garganta.
Nesse misto de raiva e aceitação, ia imediatamente já negociando
(era mediadora de si mesma nessa hora)
Versando baixinho, aos poucos se despindo também.
Por fim, deu-se banho e acolheu seu choro.
Que faz bem chorar assim.

Tudo aquilo era como ver uma morte bem de perto.
Uma morte bem inodora e insípida, um congelamento.

Escreveu uma carta bem assim:
- Que fará, amor meu, quando degelar?
Eu já não estarei, nem nada mais estará:
Apenas encontrará a dor do não vivido.
Quem sabe então, do alto do conforto adquirido
Possa ver que pobre o tempo todo era o adentro
(que renunciar a si mesmo é miséria na certa!)
Sozinho, quem sabe, descubra que a gente uma hora vê
Que sob pena de morte, melhor se entregar à paixão
Caso contrário é acabar querendo voltar pra ser o que deixou.
Está bem pra mim assim. Eu não discuto com a realidade.

Afinal, existe arrogância maior que achar melhor?
Que saber como deve ser o próprio querer?

É o mesmo que amordaçar uma criança
Deixar ela bem quieta, quieta, quieta
(shhhhhhhhhhhh!)
Quietinha... (com letras bem miudinhas)
Até ela parar de inventar moda.
Que história é essa de pensar nela o tempo todo?
E mais um compromisso, além dos outros tantos...
E pior: aquele ser o único compromisso ao qual se quer comparecer.

- Péssimo pros negócios.

Disse alto bem assim, pra ilustrar melhor a covardia.

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