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terça-feira, 28 de julho de 2009

Conserta-se aqui.




Meu namorado, por si só, pediu salada ao garçom. E não se serviu apenas de batatas – pousou uma delicada folha verde-esperança de alface, acompanhada de tomate e cenouras. Sorrindo, bem quieta para não atrapalhar, fui me congratulando: valeu a pena tanta insistência.

Mas não deu tempo de saborear a vitória. Ao temperar, meu adorável gourmet emborcou meia lata de azeite e, não satisfeito, geou sal por toda a superfície.

Iniciei um zeloso discurso: não sabe que envenenou a salada? Não acredita que o corpo morra?
Não lembra que a vida acaba? Que o coração entope?

No supermercado, a saga de ensinamentos saudáveis prossegue: vai comprar presunto gordo? Queijo amarelo? Não conhece colesterol? Nunca ouviu que isso afoga o cérebro em banha?

Meus sabereres sobre azeitamento de maquinários estendem-se para automóveis: mas pra que carro flex se não usa álcool? Não sabe que é melhor pro motor? Desconhece desenvolvimento sustentável?

Diante de minha irrefreável chatice, ele não contra argumenta. Escuta meus surtos de madre superiora com olhares beáticos.

De algum modo digere meus derrames, minhas retaliações desproporcionais.

Sabe da engrenagem da minha loucura mais do que eu. Aquece em seu sistema minha intempestividade. Ele me acode: gosto das tuas informações sobre as coisas. É bom saber que ligar o limpador de pára brisas antes da água risca o vidro. Queria ter sabido disso antes.

É longe do debate que ele me cura: não me aponta. Aprendo com ele a devolver as falhas somente quando já estão funcionando. E em sigilo.

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