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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Redesignação Sexual [Crônica Falada - 22.12.2010]


Totem de Irina Vinnik - http://www.behance.net/IrinaVinnik


O Rio Grande do Sul é o estado com maior número de transexuais do Brasil. A incidência também é resultante do pioneirismo do ambulatório de Redesignação Sexual, especializado e rigoroso, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

É evidente que a transformação de Mário em Marina, uma professora da rede estadual, foi apenas questão de tempo – é a manifestação de uma realidade social.

Mas é com cuidado que precisamos não banalizar o acesso.

Examinemos o caso do britânico Charles Kane, nascido Sam Hashimi, que se submeteu à cirurgia de mudança de sexo duas vezes.

Charles relata que se sentiu inspirado à cirurgia por transexuais com quem convivia e que faziam propaganda de suas escolhas: estavam mais felizes e mais completos como mulheres. Charles viu na cirurgia a possibilidade de um milagre e achou na mudança de sexo a solução de sua angústia.

Não é assim que acontece. A intervenção apenas atende a uma necessidade de mudança de gênero, não resolve nem parcialmente as ambições emocionais de uma pessoa.

Depois de sete anos vivendo como Samantha Kane, ele se submeteu a nova cirurgia, desta vez, reconstruindo os órgãos genitais masculinos.

O processo de redesignação sexual exige uma decisão madura. Uma das diretrizes médicas indica que o candidato deve receber acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico – no mínimo - dois anos antes do procedimento cirúrgico.

Marina é uma grande inspiração, por sua competência ao reinventar a própria vida e o ensino público. Não pode ser confundida com um ídolo a ser copiado, mas sim reconhecida como uma coragem a inspirar individualidade.

A escola é um ambiente de bullying. Como Marina lidará com os ataques será determinante. Certamente tem prática e humor, visto que deve ter sofrido preconceito a maior parte de sua trajetória. Também nisso poderá ser mestra.

Ainda, recomenda-se alto grau de atenção na hora de atender à curiosidade dos alunos: nada de saciar a ansiedade com mínimos detalhes. O senso de medida ajudará que ela não seja folclórica, uma figura inofensiva capaz de perder o respeito da classe. Sua escolha biográfica não pode resultar nunca em facilidade pedagógica.

A maneira como os jovens reagirão à troca inédita de professor pela mesma professora será ensinada pelos próprios alunos, os primeiros a testemunhar a metamorfose cultural. A chance de aproveitarem bem a convivência com ela dependerá principalmente de um fator: quanto mais verdadeiros, melhor.


Assista esta Crônica Falada
Crônica de @cinthyaverri exibida em 22.12.2010
Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM
(segunda a sexta, 18h30, na TVCOM - Canal 36 UHF/NET).
Apresentação @katiasuman

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