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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Deus e o Diabo na Terra [Crônica Falada]


Raphael Vicenzi at his own http://www.mydeadpony.com/


Estávamos no balcão comendo uma carninha, de frente para a grelha. Ambiente mais que apropriado para uma conversa informal. Quando distraídos, esquecemos de mentir.

- Mas é claro que eu rezo!

- Sério? Você reza mesmo, de verdade?

- Sim! Eu me benzo antes de dirigir, faço oração antes de dormir...

- E o que você reza?

- Peço a Deus pra proteger você, meus filhos, cuidar enquanto estou fora, por exemplo, se estiver viajando, dar saúde, paz. Essas coisas.

- Ih, só falta benzer o cigarro.

Ok. Eu sabia que Fabrício era religioso, mas de alguma forma, duvidava que ele realmente acreditasse no poder da prece.

Não é que eu seja contra religião, quer dizer, eu tenho certo receio com religiosos, em geral são pessoas preconceituosas e moralistas que se disfarçam de santos para melhor julgar seu semelhante.

Enfim, como eu ia dizendo, não sou exatamente contra quem reza pedindo: eu não gosto é de quem se isenta ao pedir. Explico: quem reza pra Deus proteger o carro, anda com adesivo de Jesus, mas bebe e não passa a chave adiante.

Não gosto de quem ora implorando proteção aos filhos e nem conversa com eles, não sabe de seus amigos, não conhece seus gostos, não chega perto para ver, não abre os próprios medos e exige que o filho confesse os seus.

Não tolero quem se benze pedindo saúde e come qualquer porcaria, não faz nem uma caminhadinha matinal, toma leite integral e remédio para baixar o colesterol. Não aguento.

Não simpatizo com quem ajoelha no rosário pedindo pela união da família e insiste em fofocar e maldizer a esposa do fulano, a conduta da beltrana: jura que sabe mais que todo mundo. Só não sabe conviver.

Não guardo estima por quem faz promessa pra emagrecer comendo pizza à noite; quem aplica mandinga pelo amor de alguém que partiu ao invés de virar a página e cuidar da própria vida.

Desconsidero aquele que despacha para Deus a tarefa de guardar seu corpo, seu dinheiro ou sua alma. Viver bem depende exclusivamente da própria autoria.

Avisei o Fabrício que os padres poderiam processá-lo pelo mau uso da igreja: afinal, vai reclamar que Deus não cumpriu a promessa de livrá-lo do mal, amém.

Prometeu largar o cigarro para poder seguir rezando.


Assista esta Crônica Falada
Crônica de @cinthyaverri exibida em 29.12.2010
Crônica Falada é um quadro do programa Camarote TVCOM
(segunda a sexta, 18h30, na TVCOM - Canal 36 UHF/NET).
Apresentação @katiasuman




2 comentários:

  1. Mas e os que não rezam? Têm, estes, direito a fumar seu cigarro? Tenho que largar as preces...

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